domingo, 30 de junho de 2019

COSTURINHA: CRIANÇAS EXPLORAM UM NOVO MUNDO DESENVOLVENDO A CRIATIVIDADE.

Por Célia Ribeiro

As mãozinhas delicadas seguram o tecido com cuidado. Puxam aqui, esticam ali, até conseguirem posicionar a tesoura para o acabamento no trabalho. Meninas a partir de quatro anos de idade aprendem a costurar à mão e, aos oito anos, já estão prontas para a costura à máquina aonde um novo mundo se apresentará sem cerimônia.
Juliana faz lindos trabalhos à máquina
Enquanto a tecnologia alcança os pequenos cada vez mais cedo, com a oferta de smartphones e tablets até para bebês, na contramão está a crescente valorização dos trabalhos manuais que contribuem para o desenvolvimento infantil, segundo educadores. Em contato com o artesanato, meninas e meninos registram ganhos em concentração, criatividade, coordenação motora, disciplina etc.

Na Vila das Artes, que reúne escola de arte, ateliê e lojinha de artesanato, fundada pela artista plástica Patrícia Muller, há 15 anos, a monotonia passa longe. De manhã e à tarde, as crianças têm várias opções de cursos. Mas, a costurinha, que atrai meninas e alguns meninos, é uma das mais concorridas.
Patrícia acompanha as crianças na aula de artes
Segundo a artista plástica, as crianças começam com as aulas de artes. O ambiente colorido e a grande quantidade de materiais à disposição, a maior parte reciclados, desperta a curiosidade. Com o acompanhamento de uma professora para cada três alunos, os pequenos trabalham várias técnicas.
Aluna finaliza trabalhinho na costura à mão
E como não há barreiras para a imaginação, eles confeccionam os próprios brinquedos. Uma embalagem de pizza pintada com cores chamativas vira a base para o “jogo da velha” em que as pedras desiguais ganham leveza com uma pintura alegre, por exemplo.
As professoras estão sempre atentas para ajudar as alunas
LINHAS E AGULHAS

Patrícia Muller justificou a separação por faixa etária: “Para a costura à mão, pode criança a partir dos quatro anos. Para a costura à máquina tem que ter pelo menos 08 anos, que a gente considera uma idade um pouquinho mais responsável. Também deve estar um pouquinho mais madura porque o trabalho de costura requer mais atenção e dedicação. É diferente da pintura e das outras atividades que são mais tranquilas”.

Além disso, prosseguiu, “a costurinha à mão pode desmanchar, é mais fácil. Já à máquina, não. Tem que ter um comando, uma destreza, uma maturidade. Com 08 anos, fizemos essa tentativa e deu certo”. Aliás, a filha de Patrícia, hoje com 19 anos, foi uma das primeiras alunas quando a Vila iniciou as aulas de costurinha, há 10 anos.

Sobre os requisitos, ela explicou que “tem que ter muita vontade de aprender. Ficar um pouco antes na aulinha de artes, no ateliê, dá uma noção para elas. O processo é muito importante pra gente, da criança escolher e ter o domínio daquilo que ela gosta. Ajudamos a criança a chegar nisso. No curso de artes, as meninas ganham noção de como montar, como juntar os moldes e a gente faz um passo a passo”.

O divertido é que nenhum dia é como o outro: enquanto uma aluna confecciona uma bolsinha, a outra prepara um jogo americano para presentear a mãe ou a avó, e outra se aplica na criação de um estojo escolar. Na Vila tem a lojinha com estoque variado de tecidos e aviamentos que os alunos podem escolher para as aulas semanais, com duração de duas horas.
A Vila é sempre muito colorida
Patrícia Muller destacou que as crianças ficam livres para criarem seus projetos e desenvolverem os trabalhos: “Elas escolhem como querem: o formato, que tipo de tecido e os aviamentos.  A gente vai respeitando, individualmente, as facilidades e dificuldades de cada criança. Temos que ficar atentas”, frisou. À frente das aulas estão as professoras Amanda Morro e Silvana Ribeiro (Costura) e Ana Lucia Coelho (Aula de Artes).

A diretora da Vila afirmou que “a gente gosta muito da ideia do coletivo porque uma estimula a outra, uma olha e dá ideia para a outra. É muito bonitinho. Vão na lojinha pegar o tecidinho e uma ajuda a outra. É uma troca muito boa, um convívio saudável. Elas começam com almofadas, daí fazem bolsinhas, que é o universo delas, fazem projeto para a mãe, para a avó, para presentear. A criança fica o tempo todo exercitando sua criatividade”.
Jogo da velha usa pedras coloridas

DESENVOLVIMENTO

A artista plástica falou sobre alguns benefícios da atividade: “Acho que é uma brincadeira saudável porque elas vão levar para o resto da vida que elas vencem os desafios. Para uma criança que nunca costurou aprender a costurar é o máximo. Quantos adultos dizem que nunca pegaram em uma agulha e perderam a oportunidade de aprenderem em um momento em que tinham muita facilidade?”, indagou.

Conforme disse, “neste momento de tanta tecnologia, parar para exercitar a criatividade, fazendo manualmente, é uma possibilidade incrível, uma paixão que se implanta na vida da criança e que ela pode carregar para o resto da vida. Não ficar só na tecnologia pode abrir seu caminho, ter olhares para outras atividades manuais e perceber prazeres que nem sempre são oferecidos para uma criança”.

A Vila recebe várias crianças especiais cujos pais relatam mudanças positivad: “Aqui, as crianças trabalham com as cores, com as formas e com as ideias, que é o melhor de tudo. Temos muitas crianças especiais e é muito bacana ver a felicidade, o prazer delas. Acho que o maior ganho dessas atividades é o fortalecimento do ‘eu’. Eu posso, eu sou capaz, eu faço as minhas escolhas, é autonomia total, liberdade de expressão. Isso só pode fazer bem”.
Clara Caluz

Patrícia relatou um caso de criança encaminhada para o artesanato por orientação do neurologista: “Em questão de três semanas, a professora veio perguntar para a mãe o que estava acontecendo com aquela criança porque ela tinha se transformado totalmente dentro de sala de aula: de dedicação, de organização, de atenção dentro de sala de aula. Na época, ele fazia aula de artes comigo e desenhava muito. Hoje, ele tem 19 anos, mas eu lembro muito desse caso porque a mãe veio falar pra mim, emocionada, que já tinha feito tantas coisas tentando melhorar”.

A artista plástica disse que “essas atividades, como pra mim, acho que preenchem o que você está buscando e que vem te sossegar. Tem criança que nasce com esse desejo. A gente percebe no jeito que a criança vem pra ela. Tem criança que vem tranquilamente, porque é uma atividade a mais, que a amiguinha faz, que a avó gosta. Mas, tem criança que quando a gente abre o portão, sente no seu olhar que estava precisando chegar”.
Cerâmicas na lojinha da Vila: vagas esgotadas para o curso
A Vila das Artes oferece ainda cursos de desenho artístico e mangá, desenho e pintura, e para adultos crochê em fio de malha e Amigurumi, Patchwork, costura criativa, tear, entre outros. O curso de cerâmica não tem mais vagas porque a turma é formada por alunas de muitos anos, algumas com mais de 10 anos de atividade.
Patrícia Muller

Finalizando, Patrícia Muller falou sobre a evolução da Vila: “Eu sou muito orgulhosa desse trabalho porque ele começou tão despretensioso. Acho que no fundo, no fundo, eu carregava esse sonho comigo desde a faculdade. Estudei na UEL, onde tinha a cerâmica, o teatro, tudo muito junto. E aqui em Marília a gente sente que dá. É uma cidade muito grande. A coisa foi acontecendo, foi chegando gente com um curso aqui e outro ali. Eu tenho muito prazer neste trabalho e vejo que as pessoas ficam muito felizes aqui. E eu tenho muito prazer de ver as pessoas felizes aqui dentro”.

Na semana passada, entre as meninas que participavam da aula de costurinha, Juliana K. Azevedo Vieira era uma das mais animadas. Contou que faz “lindos trabalhinhos para presentear” e que adora costurar. Ao seu lado, Clara Caluz, 9 anos, disse que frequenta a Vila desde os 05 anos porque “sempre gostei de costurar e tinha vontade de aprender”. Com muito capricho, ela estava preparando uma nécessaire para presentear uma amiga de seus pais.

A Vila das Artes está localizada à Rua Atílio Gomes de Melo, 64, perto da Praça Athos Fragata. Telefone (14) 34547345.

Leia outras reportagens anteriores deste blog sobre a Vila das Artes acessando AQUI, AQUI e AQUI

Reportagem publicada na edição de 30.06.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 23 de junho de 2019

ESPAÇOS CORPORATIVOS INVESTEM NO VERDE DOS JARDINS VERTICAIS HIDROPÔNICOS.

Por Célia Ribeiro

Uma tendência mundial, presente nas metrópoles, começa a chamar a atenção de clientes corporativos no interior paulista: os jardins verticais hidropônicos que trazem mais vida e beleza aos ambientes de indústrias, lojas, condomínios, escritórios, consultórios etc. Em Marília, um casal de arquitetos, com experiência em projetos de grande porte na Capital, viu aumentar o interesse pelo paisagismo desde pequenos jardins em residências até paredões verdes de 100 a 200 metros quadrados.
Paredão verde: tendência
Cássia Dias Ribeiro e Eduardo Ribeiro deixaram a correria de São Paulo em busca da tranquilidade no interior. Natural de Marília, a arquiteta possui escritório em Moema onde ainda atende clientes que conquistou ao longo de quase 25 anos. O casal aproveitou a transferência de Eduardo, então funcionário de uma grande construtora, para criar os filhos perto da família, com mais segurança.
Arquitetos Eduardo e Cássia Ribeiro

Ao JM, ela falou sobre a paixão pelo trabalho: “Gosto muito do paisagismo urbano. Fui me especializar e fiz mestrado nesta área. Minha sócia, que era engenheira agrônoma, fez mestrado na área de arquitetura. A gente trabalhou muito com o Metrô, em São Paulo. Quando implanta uma estação, o Metrô descaracteriza uma grande área na cidade e depois tem que devolver isso. Normalmente, ele devolve isso em forma de praça, de parque. Éramos contratados para desenvolver esses projetos de reurbanização, de paisagismo”, revelou.

Há um ano residindo em Marília, o casal sente falta de áreas verdes para o lazer da população, como os parques que a família costumava frequentar nos finais de semana: “Meus filhos, quando vamos para São Paulo, querem ir no Ibirapuera, no Vila Lobos, que é a referência que eles têm de final de semana”, comentou.
Jardim vertical cabe em pequenos espaços
Cássia tem se dedicado a projetos de paisagismo residencial, enquanto Eduardo, especialista em grandes obras, foca a área corporativa. Na semana passada, ele participou de mais um curso com a equipe do Vertigarden, na ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba.

As plantas tomam conta do muro na residência
No programa, os grandes jardins verticais cada vez mais procurados pelas empresas. A Vertigarden, aliás, executou o gigantesco jardim vertical do Hospital Sírio Libanês. Agora, seus profissionais têm se dedicado a replicar a técnica desenvolvida para esses projetos que chamam a atenção nas cidades, com imensas paredes cobertas de plantas.

PLANEJAMENTO

É possível ter um jardim em pequenos espaços, sejam residências ou empresas, frisou Cássia Ribeiro: “O que a gente teve um pouco de dificuldade e acho que já estamos conseguindo superar, é que o jardim precisa de um planejamento. E, normalmente, as pessoas estão acostumadas a perguntar quanto custa para colocar a planta. É preciso fazer um projeto, nem que seja um estudo, conversar, analisar o local, saber qual planta mais gosta, para viabilizar”, frisou.
Plantas dão vida a pequenos ambientes
Ela acrescentou que “dependendo do estudo, o jardim pode ser feito em etapas, com investimento ao longo de vários meses. O que era para ter em 03 ou 06 meses, vai ter em um ano, acompanhando o jardim. Muitos clientes têm comprado essa ideia de planejar primeiro e depois viabilizar a implantação. Fazer sem planejar não é economia. Quando não se planeja tem o gasto de fazer e refazer várias vezes”.

Eduardo explicou que seu escritório utiliza a técnica de Jardim Vertical Hidropônico, sem terra, e a irrigação é automatizada: “Quando a gente instala, nos trinta primeiros dias, que são mais críticos porque exige um cuidado maior com essas plantas, se programa 04 vezes ao dia de irrigação para deixar bem úmido. Depois, a gente reconfigura e coloca o adubo líquido que, com o tempo, vai trazendo os nutrientes necessários”.
Paisagismo na empresa Wurth do Brasil
O arquiteto afirmou que, felizmente, “as pessoas têm mudado a visão em relação ao paisagismo. Com os jardins verticais, reduz-se muito a manutenção. Mas, ainda tem manutenção porque a planta é um ser vivo. Tem que adubar, tem que podar, só que o impacto disso é muito menor em relação ao jardim convencional. É tudo irrigado automaticamente. Só tem que ver se não está acabando a água. Para jardins maiores, há necessidade de bombas”.
Paisagismo com planejamento é fundamental
Ele assinalou que antigamente, “muitos não queriam ter árvore porque tinha que podar, sujava a calçada etc. Hoje, a pessoa faz questão de ter nem que seja um jardim vertical. Está mudando muito”.  Em breve, um escritório de Advocacia localizado nas imediações do Esmeralda Shopping deverá ostentar o resultado do jardim vertical projetado pelo casal.

DE VOLTA ÀS ORIGENS

Cássia observou que a mudança para Marília foi uma decisão familiar em busca de qualidade de vida para o casal e os filhos pequenos. “Em São Paulo, durante um bom tempo, parei de implantar jardins porque a demanda de projeto era muito grande. E o escritório acabou ficando mais com a parte de paisagismo urbano.”
Ibirapuera, em São Paulo

Na cidade, agora ela se dedica mais aos projetos residenciais: “Quando voltei para Marília, para eu trabalhar na área urbana teria que ter alguma ligação com a Prefeitura e isso ainda não acontece, embora eu ache que Marília tem muito o que fazer”. Ela contou que, na década de 90, o seu trabalho para a faculdade foi o projeto de um parque para a região da Cascata. “A cidade poderia ter parques com área de lazer para a população”, pontuou.

Sobre as perspectivas para o futuro, Cássia e Eduardo foram unânimes em afirmar que o paisagismo tende a se valorizar cada vez mais, tanto em ambientes residenciais quanto em espaços corporativos. E aconselharam: “Quem se interessar, deve procurar sempre um profissional. Existem excelentes paisagistas em Marília”. O planejamento, frisaram, é essencial.

Para saber mais, acesse: http://www.diasribeiroarq.com.br e www.vertigarden.com.br Contato dos arquitetos: (14) 998900282. 



*Reportagem publicada na edição de 23.06.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 16 de junho de 2019

RECANTO DO TERÇO: A FÉ UNIU APOSENTADAS QUE SE DEDICAM A AJUDAR O PRÓXIMO.

Por Célia Ribeiro

Toda segunda-feira, a partir das 14h30, o movimento de alguns veículos em uma rua tranquila do bairro Salgado Filho, na zona oeste de Marília, quebra a monotonia do lugar. No cruzamento do bairro nobre, a residência da pedagoga e professora aposentada Maria Cristina Cruz de Rezende Paoliello abriga o “Recanto do Terço” aonde, mais que exercitar sua fé, quase 20 mulheres, entre 62 e 85 anos de idade, colocam em prática um dos principais ensinamentos cristãos: a solidariedade.
Nossa Senhora em lugar de destaque


Os encontros semanais tiveram início há sete anos, explicou a anfitriã. A maioria das participantes estudou no Colégio “Sagrado Coração de Jesus” e completou 50 anos de formatura no ano passado. Em comum, as “terceiras”, como se intitulam, têm a fé em Deus e em Nossa Senhora e a vontade de fazer o bem contribuindo com instituições filantrópicas e projetos sociais.

Pontualmente, às 15h, as amigas iniciam o “Terço da Misericórdia”, seguido de cânticos religiosos, orações e estudo do Evangelho. Elas trocam impressões sobre a missa de domingo, nas diferentes igrejas que frequentam, e finalizam o momento de orações com um caloroso abraço entre todas.

A reportagem do JM acompanhou o “Terço da Misericórdia” da última segunda-feira, dia 10. E chamou muito a atenção o clima de comunhão e confraternização entre as participantes que, mesmo se encontrando toda semana, portavam-se como se não se vissem há muitos anos.
Irmã Terezinha (Madre Superiora do Colégio Sagrado), Cristina Paoliello,
Maria Cristina Campos Coppieters, e Irmã Lucília na comemoração de 50 anos de formatura.
As duas normalistas usam véu, terço, boina e gravata do tempo de colégio.
Após se abraçarem, as amigas se reuniram em torno de uma grande mesa, ao lado da imagem de Nossa Senhora, para o lanche: café, suco, chá, bolos, biscoitos, salgados, tortas etc, providenciados por uma das equipes. É que, para não sobrecarregar ninguém, elas formaram pequenos grupos que se revezam para cuidar dos comes & bebes do fim de tarde.
Fé, amizade e comunhão
ORGANIZAÇÃO

Embora o grupo seja formado por amigas que se conhecem há mais de 50 anos, tudo é feito com muito critério. Por exemplo, no papel de secretária, Amália Rosa Golemo de Brito contou que, desde 2015, resolveram colaborar com as ações sociais de maneira planejada. Por isso, são arrecadados vinte reais mensais, a fim de formar um pequeno caixa. A cada 90 dias, o valor angariado, em torno de mil reais, é utilizado em alguma ação social decidida nos encontros.
As participantes da última segunda-feira
Já foram beneficiadas as “Irmãs Clarissas”, a Comunidade São Judas Tadeu, a Associação de Ostomizados, a Associação de Apoio ao Renal Crônico, a Aurora Boreal, o GMADC, os asilos, o Hospital Materno Infantil, as crianças do Jardim Julieta, a Quermesse da Igreja Nossa Senhora de Fátima etc.

Segundo Cristina Paoliello, recentemente, com 960 reais foram adquiridos cobertores e confeccionados 210 ponches entregues em asilos e às pessoas em situação de rua para enfrentarem o inverno. Ela destacou que ao saber de alguma entidade ou projeto social passando por necessidade, as amigas levam o assunto à discussão e deliberam sobre uma forma de contribuir, após rezarem o terço.
Donativos do grupo

PRINCÍPIO

A anfitriã Maria Cristina Paoliello é uma ativista social incansável. Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília, também se dedica à contação de história em escolas e é voluntária nas tradicionais quermesses beneficentes. Católica fervorosa, contou, rindo, que costumam chama-la de “Maria Tercinho” porque onde quer que vá, inclusive nas viagens e excursões com as amigas da vida toda, leva o terço: “Já rezamos até em piscina e restaurante de hotel, chamando todo mundo para participar com a gente”.

Sempre sorridente, ela faz questão de fotografar e filmar tudo. Não é por exibicionismo, frisou. Ela posta nas redes sociais como forma de inspirar outras pessoas: “Quero que façam em prédios, em praças, em suas casas, para que todos possam ter esse momento. Vai além do simples rezar”, acrescentou.

Ela revelou que a ideia do “Recanto do Terço” surgiu em uma época difícil de sua vida: “Quando aconteceu de fazer uma cirurgia em 2009, eu tive uma graça muito grande, não só pela cura do câncer. Eu tive uma trombose e, depois de 03 dias de UTI, fui cadeirante. Fiquei mais de um mês em casa com cuidadoras. E aconteceu uma coisa: essas cuidadoras colocavam flores para essa minha Nossa Senhora. Pensei que era muito egoísta deixar só para mim, e resolvi deixa-la em um lugar da casa onde todos pudessem ver”.
(Esq) Suleima, Cristina Paoliello, Amália, Rossana e Sirley Guarezi
A escolha do espaço foi acertada: ao encerrar o ciclo de quimioterapia, Maria Cristina decidiu fechar uma área do jardim com vidro no teto e encomendou um genuflexório, que é um móvel para ajoelhar e rezar, além de uma estrutura para abrigar a imagem de Nossa Senhora em todo o seu esplendor.
“Começamos a fazer um terço”, recordou a pedagoga aposentada, assinalando que “o Espírito Santo move tudo. E ele moveu para o Terço da Misericórdia, toda segunda às 15h”. Com isso, as amigas de colégio encontraram uma forma de se reunirem, semanalmente, para exercitarem sua fé.
Após as orações, o delicioso lanche
Aos 82 anos, Suleima Primo Pimentel era uma das mais alegres no lanche da última segunda-feira. Ela destacou o clima fraterno entre as amigas e a possibilidade de exercitar a “religiosidade, que é tudo o que precisamos hoje em dia. Além disso, ajudamos os necessitados. Tem tanta gente precisando e a gente tem que acudir”, pontuou.

A fé uniu as amigas, independente de religião, como explicou Regina Marta Amaral Penteado, que segue a doutrina espírita: “Acima de tudo, somos cristãos. Seguimos o Cristo, as palavras dele. Eu faço palestras em vários centros espíritas e falo do amor de Jesus”, assinalou.

A mais jovem entre as amigas é a delegada aposentada da Delegacia da Mulher, Rossana Rossini Camacho, 62 anos. “Esse grupo de mulheres tem como eixo a religiosidade e através dela exercita a sororidade com boas práticas e ações sociais, culturais, políticas educacionais, de lazer e de autoestima, empreendedorismo e empoderamento de mulheres”, afirmou.
Os aniversários são comemorados na hora do lanche
Conforme disse, o grupo criado por Cristina Paoliello “é composto por mulheres da terceira idade, muito cultas, aposentadas e muito influentes na nossa sociedade. Já tem várias ramificações na cidade e faz também um trabalho itinerante. Eu tenho a honra de fazer parte desse seleto grupo há dois anos e com meus quase 62 anos sou a caçula das integrantes. Elas foram e são as maiores incentivadoras para eu ingressar na carreira política partidária”.

E assim terminou mais um alegre encontro no “Recanto do Terço” sob o olhar amoroso de Nossa Senhora, posicionada em local de destaque, a inspirar a amizade e o amor ao próximo manifestado em pequenos gestos de solidariedade.

domingo, 9 de junho de 2019

PROJETO DEVOLVE A AUTOESTIMA ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

Por Célia Ribeiro

Segundo uma pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança, uma em cada quatro mulheres sofreu violência no Brasil, em 2.018. Em 42 por cento dos casos, as ocorrências foram registradas no ambiente doméstico. Além de profundos traumas psicológicos, muitas vezes, a violência deixa sequelas visíveis no rosto da vítima. Por isso, ao integrar o Projeto “Apolônias do Bem”, Marília passou a oferecer um alento a essas mulheres que recebem tratamento odontológico gratuito, contribuindo para o resgate de sua autoestima.
Beralice pode sorrir à vontade
O projeto “Apolônias” da ONG “Turma do Bem” (TdB), conhecido pelo atendimento odontológico gratuito às crianças e adolescentes no Brasil e em vários países, começou em 2012 por São Paulo, explicou a cirurgiã-dentista coordenadora da entidade em Marília, Ana Carolina Massaro. Conforme disse, “a organização, vendo a situação de mulheres que passam por violência, que tinham atendimento psicológico, assistência judiciária e atendimento médico, mas não tinham atendimento odontológico na rede pública e muito menos condições de fazer no particular”, decidiu abrir uma nova frente.
Claudiane é outra mulher
O nome “Apolônias do Bem” foi cunhado em referência à Santa Apolônia, padroeira dos dentistas que, no ano 246 em Alexandria, morreu após ser presa, espancada e ter seus dentes quebrados e arrancados a sangue frio. De acordo com a ONG, o projeto “oferece tratamento odontológico integral e gratuito às mulheres que vivenciaram situações de violência e tiveram a dentição afetada durante as agressões”.
Dra. Ana Carolina em triagem de crianças


Desde 2012, foram atendidas mais de 1.000 mulheres que são selecionadas por triagens quando passam por exame oral e respondem a um questionário. A prioridade é para “mulheres com problemas odontológicos mais graves, que sustentam a família e retomaram os estudos ou estão fazendo cursos de capacitação profissional”.

As pacientes são atendidas por uma rede de dentistas voluntários. Em Marília, há 75 “Dentistas do Bem” que atendem crianças e adolescentes. Por enquanto, apenas Ana Carolina Massaro iniciou os atendimentos às Apolônias. Ela explicou que um colega se prontificou a participar e deverão ser convidados os profissionais que já fazem parte da Turma do Bem ou que ainda não são voluntários.


PRECONCEITO

Como se não bastasse a violência, as mulheres vítimas de violência doméstica têm que conviverem com o medo, a vergonha e a dificuldade de inserção no mercado de trabalho: “Muitas mulheres com baixa escolaridade trabalhavam como domésticas em casas de família e contam que, por causa dos dentes quebrados, não conseguiam mais emprego”, observou Ana Carolina.
Dani: alegria depois da mudança

Ela prosseguiu contando que “as mulheres relatam que passam anos sem se olharem no espelho porque quando elas se olham no espelho veem a consequência do ato de agressão, lembram do agressor, do fato e passam mal. Quando você faz o tratamento e devolve o sorriso, a primeira coisa que fazem é ir para a frente do espelho passar um batom. Você devolve a autoestima e a esperança de vida”.

Ela explicou que os dentistas voluntários realizam o tratamento completo nas pacientes, desde prótese até implantes nos casos em que há indicação. Para isso, o projeto “Apolônias do Bem” em Marília conta com apoiadores como a ROD (Radiologia Odontológica Digital), PC Laboratório de Prótese e Implacil (implantes).
Ruth Cristina: vida nova
Segundo Ana Carolina, para expandir o projeto há necessidade de aumentar o número de dentistas voluntários, “e a gente conseguir chegar nessas mulheres. Em Marília não tem Casa de Apoio, de Acolhimento. Mas, temos parceria com a Delegacia da Mulher e quando chega uma mulher e veem que o caso atingiu os dentes, a delegada Dra. Viviane entra em contato comigo e a gente vê se consegue encaixar”.

A coordenadora da “Turma do Bem” na cidade foi eleita embaixadora do projeto “Dentistas do Bem” por 07 anos consecutivos sendo premiada, em 2014, como “Melhor Dentista do Mundo” em solenidade que reuniu profissionais de vários países que integram a ONG.
Ana Carolina Massaro na premiação de "Melhor Dentista do Mundo"
PREFEITURA

Em contato com a Diretoria de Comunicação da Prefeitura de Marília, a respeito de ações focadas no problema da violência contra as mulheres, a assessoria enviou uma nota informando que, por meio da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, o Município “oferece como parceria, através da SADS, uma assistente social dentro da delegacia, que faz o encaminhamento das mulheres que desejam ser atendidas. O atendimento é feito no CREAS, através de grupos, atendimento da família e do indivíduo”.

A nota oficial acrescenta que “fazemos ainda encaminhamento para a justiça e saúde conforme demanda e estamos iniciando um trabalho com o agressor. Acaba de ser assinado convênio entre Prefeitura e Justiça, através de um anexo onde os fluxos serão mais efetivos.
Além disso, trabalhamos dentro dos CRAS e serviços de convivência, com a prevenção da violência, através de palestras, grupos e debates”.

ARTINA: HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO

Quem vê a morena sorridente, maquiada e exalando autoconfiança não imagina o seu passado. Artina Maria de Souza, 49 anos, moradora da zona sul, foi uma das “Apolônias” beneficiadas pelo projeto em Marília. Em 1.995, ela foi vítima de violência do ex-companheiro que atingiu seu rosto com um aparelho de rádio amador que, em meio aos graves ferimentos, comprometeu seus dentes.
Artina criou rede de apoio

“Tudo o que eu fazia para consertar era perdido porque afetou a arcada dentária”, contou ao recordar os anos que passou sofrendo com o problema. Durante quase 12 meses, em 2017, ela recebeu atendimento gratuito no consultório da Dra. Ana Carolina Mascaro resolvendo, de vez, o problema.

“Quando acabou, eu me senti outra pessoa, com a autoestima lá em cima”, afirmou ao explicar porque resolveu ajudar outras mulheres que enfrentam maus tratos. “Criei o projeto ‘Mudança de Vida’ que apoia as mulheres vítimas de violência”, acrescentou. Em sua residência, ela promove reuniões que atraem até 20 participantes, cada vez, em uma teia de acolhimento que dá suporte àquelas que vivem o mesmo problema.

Artina, que mantém um pequeno brechó na entrada de casa, arrecada roupas e brinquedos para doar às mulheres que a procuram. Ela também dá dicas de economia doméstica como, por exemplo, receitas para aproveitamento integral dos alimentos evitando o desperdício, ensina a fazer detergente, sabão etc.

Mãe de quatro filhos e com cinco netos pequenos, Artina dedica-se a apoiar as “Apolônias” que encontra pelo caminho: “Sempre digo a elas para não desistirem de seus sonhos, para denunciarem e não se calarem diante de uma agressão”. No íntimo, a ex-vítima que se tornou ativista social quer ver mais sorrisos e mulheres que consigam se olhar no espelho e gostarem da imagem refletida.

Para saber mais sobre a Turma do Bem e o projeto, acesse: turmadobem.org.br. Ligue para: (11) 50847276 ou escreva para apoloniasdobem@tdb.org.br

*Reportagem publicada na edição de 09.06.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 2 de junho de 2019

EMPREENDEDORISMO FEMININO: MULHERES CAMÉLIAS GERAM RENDA ATRAVÉS DA ARTE.

Por Célia Ribeiro

As cordas entrelaçadas, que atraem pelo colorido e originalidade, contam histórias muito além dos nós. Elas representam a concentração de energia criativa que dá origem a bijuterias e objetos de decoração carregados de simbolismo. Assim são conhecidos os trabalhos das “Mulheres Camélias” que podem ser encontrados em feiras de artesanato, como as realizadas no Espaço Cultural da Avenida Sampaio Vidal, às quintas-feiras, em Marília.
Laís Batista Santana
O nome na retaguarda do “Mulheres Camélias” atende por Mariana Batista Silva. Estudante de psicologia e agente cultural, aos 24 anos, ela ousou pensar fora da caixa, como dizem os empreendedores, ao imaginar um projeto que mesclasse a geração de renda à valorização das mulheres.

“A ideia do projeto partiu de uma necessidade pessoal na qual percebi que as mulheres ao meu redor estavam saindo de casa para completarem a renda mensal. Aí fiquei pensando na forças que essas mulheres tinham pra enfrentarem as labutas diárias e  me ocorreu a pergunta na mente: de onde elas tiram forças em meio a esta sociedade caótica que fazem elas saírem de casa, muitas da vezes sacrificando a vida junto aos filhos, em prol de sustento?”, recordou Mariana.
Mariana, fundadora das Camélias

Moradora do Jardim Cavallari, zona oeste, ela explicou que convidou uma amiga para uma sessão de fotos, “onde eu buscava inspiração tanto nas fotos como na história de vida.  E foi através  desta sensibilidade que  me encontrei na mesma posição destas mulheres, muitas das vezes passando pela mesma situação. Surgiu, então, a ideia do Camélias, colares de corda a preço popular”.

Sobre a nome do projeto, Mariana contou que “Camélias é o nome de uma flor que foi símbolo do movimento abolicionista no Quilombo do Leblon (RJ). Elas  aparecem como comunicação simbólica. Seu uso, na lapela do paletó ou no vestido, conscientemente identificava uma espécie de código secreto aos adeptos do abolicionismo. Não era uma flor comum, solta na natureza. Era uma flor em processo de adaptação, delicada e estrangeira”.

SOBREVIVÊNCIA

Como todo começo, o projeto se desenvolve em etapas: “Ainda estamos no início do ‘Mulheres Camélias’, caminhando aos poucos para não perdermos o passo e realmente fazer vingar.  A correria do dia-a-dia nos faz perder a vaidade e o poder de ser mulher e nos sentir maravilhosas para enfrentarmos o dia e matarmos todos os  leões que vierem”.
Bruna Marques Santana e Laura Alves na barraca de artes
Mariana disse que não teve dificuldade em encontrar parceiras para o projeto: “Elas estavam do meu lado. A história de vida de cada uma, as labutas diárias e a força estavam ali mostrando para mim mesma que, se eu seguisse a ideia, elas estariam comigo”, frisou a estudante.
Peças coloridas carregam simbolismo
Ela explicou que começou fotografando amigas usando as peças: “Nesta sessão, sempre peço para elas ficarem em paz. Não precisa ter uma pose certinha. Eu capturo o sorriso delas com as peças. O que elas sentem quando conto o que me inspira neste projeto, e é sempre mágico, inspirador, é que a partir deste momento elas se soltam e o elo da força vem. É a sensibilidade que temos, as angústias que dividimos em um curto espaço que fazem a força para aquela semana”.
Tainá Pedroso

Quanto ao futuro, Mariana disse esperar que “a rede de mulheres continue se formando. Inconscientemente, nós nos juntamos para sempre ajudarmos alguém colocando mais afazeres nas labutas diárias e darmos conta! Que um dia essa ajuda seja consciente para todas”.

Mariana falou do entusiasmo com o retorno recebido: “Os resultados deste trabalho são notórios. É sobre uma mensagem que recebo de alguém feliz, alguém agradecendo o carinho e atenção nas sessões de fotos, as clientes que tiram fotos durante o dia com as peças e me mandam. A ajuda mental é exatamente isso, precisamos nos enxergar”.

Desde o início do “Camélias”, a estudante experimentou mudanças internas e externas: “O projeto começou há pouco tempo e, neste processo, mudei de casa. Meu Deus, nunca achei que seria desta forma: amigas me mandando mensagem de todos os lados perguntando se eu queria ajuda, se já estava tudo certo. Tenho endometriose e estou em tratamento. Certo dia comentei com uma amiga que estava sem dinheiro para comprar um remédio e ela se prontificou a fazer uma ‘vaquinha’ das mulheres para comprar. Percebi, então, que o projeto funciona na prática, sim. Não tem problema ser sensível, forte e bonita”.
O colorido está presente em todos os trabalhos
Mariana explicou que participam do projeto mulheres de todas as idades que fazem os trabalhos em casa, como complemento da renda, e se reúnem para as sessões de fotos. As peças, com preços variando entre 12 e 25 reais, são vendidas pela internet, através de postagens nas redes sociais (Instagram: @mulherescamelias e Facebook: Camélias). Outra opção é conhecer e adquirir as peças na Exposição Cultural Artesanato e Artes, toda quinta-feira, das 18 às 22 horas no Espaço Cultural.

*Reportagem publicada na edição de 02.06.2019 do Jornal da Manhã