domingo, 27 de junho de 2021

MORADORES DO MARIA IZABEL ADOTAM ÁREA ABANDONADA EM PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA.

Por Célia Ribeiro

Uma área de quase 1.000 metros quadrados, localizada estrategicamente no cruzamento das ruas Mecenas Pinto Bueno e Cláudio Manoel da Costa, no Jardim Maria Izabel, estava há anos abandonada. O mato alto tornou-se o habitat perfeito para a proliferação de insetos, roedores e todo tipo de animal peçonhento até que, alguns moradores, inconformados com a situação, foram atrás do proprietário e se surpreenderam ao saber que o terreno foi reservado à Prefeitura na época do loteamento do bairro e deveria abrigar uma área verde.

Maria e os tomatinhos

Segundo o contador Orisvaldo Quiquinato, integrante do grupo de moradores que se mobilizou, há cinco anos, nem a Prefeitura sabia da titularidade da área. Ao tomar conhecimento da iniciativa dos vizinhos em adotar a área, foi feita a regularização do terreno junto ao cartório e formalizada a parceria com a entidade constituída para este fim: a Associação dos Moradores do Bairro Jardim Maria Izabel.

“A gente passava por aqui e via o terreno abandonado”, recordou Quiquinato, citando que vários moradores do bairro tinham o desejo de ver o espaço revitalizado e utilizado pela população. Assim, foi elaborado um projeto que será apresentado e debatido com os moradores e, em seguida, será protocolado junto à prefeitura para darem início à mobilização da sociedade, através da população e empresas que queiram contribuir.

ARBORIZAÇÃO

Toda semana, os moradores se revezam nos cuidados do local em que foram plantadas árvores frutíferas (banana, amora, mamão, romã), mandioca, abóbora para conter o mato, tomate cereja e espécies nativas como pau-brasil e ipê. Os voluntários conseguiram a instalação de um poste de energia elétrica e o DAEM fez a ligação da água. Antes, os moradores improvisavam: “Eu trazia dois galões de 200 litros de água para irrigar as plantas. Uma vez, deixei aqui e roubaram”, lamentou Quiquinato. 

Área pública agora bem cuidada

E como houve outros furtos e depredação da área, os voluntários se cotizaram e fecharam o terreno que será aberto quando o projeto da área verde com equipamentos de uso comunitário estiver concluído. A ideia é manter um espaço bem arborizado, com bancos e postinhos de iluminação, playground e pergolado para que a população possa usufruir.

(Esq) Salim Margi e Orisvaldo Quiquinato

Quiquinato falou com entusiasmo do projeto elaborado por uma das voluntárias, a arquiteta e ex-secretária de Planejamento Urbano, Maria Cristina Bondezan e destacou a ajuda dos vizinhos no cuidado do espaço. E por falar em cuidado, o contador tem uma auxiliar de primeira hora: a netinha Maria que, aos seis anos, o acompanha junto com a vovó Sueli nos cuidados das terças-feiras.

Bananeira dando frutos

Quando surgem formigas, o trio dá um jeito de eliminá-las, irriga as plantas, retira o mato e limpa o terreno seguindo a rotina que cada voluntário se propõe. Como recompensa, quando há frutas maduras, os três colhem apenas algumas para que outras pessoas também possam usufruir do resultado dos cuidados coletivos.

Quiquinato observou que há um longo caminho pela frente. Conseguiram a formalização de uma ONG (Associação dos Moradores do Bairro Maria Izabel), constituindo a primeira diretoria e aprovaram o estatuto. A ideia é sensibilizar a comunidade para apoiar a iniciativa e incentivar moradores de outras regiões da cidade a também se organizarem para adotarem uma área pública.

“A rua é nossa. O bairro é nosso. É um coletivo e cada um tem que fazer sua parte”, destacou Quiquinato, assinalando que Marília sente falta de bolsões de mata, como o bosque “que é mata atlântica dentro da cidade. Isso diminuiria a temperatura e melhoraria a qualidade do ar. A cidade tinha que crescer com esse conceito de manter a mata nativa com biodiversidade e deixar uma cidade com menos concreto e menos cimento”.

Maria Más Rosa adora irrigar as plantas

ENTIDADE

O advogado Salim Margi está engajado no projeto desde o princípio. Foi um dos moradores inconformados com o abandono do local. Ele lembra, com tristeza, as dificuldades em obter apoio: “Às vezes surgem voluntários, mas falta comprometimento em dedicar algumas horas para ajudar a cuidar do espaço”.

Romã em destaque

Em compensação, alguns vizinhos, mesmo sem muito tempo, dedicam as horas livres para capinarem o mato e molharem as plantas. Por isso, ele está confiante em que o local, futuramente, será um espaço público arborizado, com equipamentos comunitários, com acessibilidade e que servirá de modelo de como a sociedade organizada pode fazer muito sem esperar tudo do poder público.

A Associação eleita em fevereiro de 2020 tem como dirigentes: Salim Margi (presidente), Maria Cristina Bondezan (vice-presidente), Márcio Liberato Macedo Jr (1º secretário), Orisvaldo Quiquinato (2º secretário), Diogo Henrique Farias (1º Tesoureiro), Mauro Mercadante Mortari (2º Tesoureiro). No Conselho Fiscal, como titulares estão: Mary Elisabeth Sampaio Oliveira Faria, Marcelo José de Macedo, Carmila Freitas do Amaral e como suplentes Sueli Esteves Quiquinato, Priscila Maria do Amaral Margi e Thais Cristina do Amaral Margi.

Entre os diversos objetivos da Associação, estão: a defesa, preservação e conservação do meio-ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; estimular e apoiar a defesa dos interesses comunitários fomentando o desenvolvimento do espírito associativo, buscando e oferecendo subsídios, sempre que possível, com recursos técnicos, materiais e humanos; encaminhar as demandas comunitárias aprovadas em assembleias ao poder público; defender o meio-ambiente, a qualidade de vida, a cidadania e os direitos humanos. 

Futura área de lazer para a população

Com a entidade formalizada, voluntários engajados e o exemplo do cuidado do espaço público sendo transmitido às crianças, como a pequena Maria Más Rosa, a área degradada de outrora tem tudo para se tornar um modelo e inspirar outras pessoas a tornarem seu bairro muito melhor. 

* Reportagem publicada na edição de 27.06.2021 do Jornal da Manhã

O "Fale Bem" já impactou a carreira de dezenas de profissionais
(advogados, engenheiros, agrônomos, dentistas, psicólogas, assistentes sociais,
gerentes de banco, professoras universitárias, empresários, estudantes etc).
 
Informações no WhatsApp: (14) 991645247

Se você trava para falar em público e
desejar ter sucesso na carreira e  nos
estudos, fale comigo!


domingo, 20 de junho de 2021

ARTE SOLIDÁRIA: BAZAR DO "PATCH & PANO" TROCA ARTESANATO POR ALIMENTOS

 Por Célia Ribeiro

 Quanto vale um prato de comida? Depende. Pode custar um real no “Bom Prato”, programa social criado pelo governo do Estado, ou algumas centenas de reais em um restaurante estrelado. Mas, para quem está desempregado, doente e à beira do desespero, uma refeição decente significa dignidade. Por isso, o bazar de trocas do “Ateliê Patch & Pano” é mais que venda de artesanato. É uma oportunidade para a comunidade apoiar quem precisa, levando para casa lindas peças em troca de alimentos não perecíveis.

Finalizando as peças para o bazar

A ideia surgiu durante as aulas de costura do ateliê da professora Adriana Combo Coimbra. A educadora aposentada Celia Carmanhani Branco, que contribui com várias entidades, comentou sobre a dificuldade que a “Sociedade Espírita Vicente de Paula” estava enfrentando para arrecadar alimentos para as famílias assistidas.

 Como outros segmentos, a captação de recursos para a manutenção dos projetos sociais foi fortemente impactada pela pandemia. Ao ver a dificuldade da instituição, Celia discutiu com a professora Adriana a viabilidade do ateliê promover um bazar em que os alimentos seriam a moeda de troca na compra das peças de artesanato.

 Adriana acolheu a ideia, imediatamente. E, conversando com outras professoras e alunas dos diversos cursos do “Patch & Pano” viu o bazar sair do papel com impressionante rapidez. O boca a boca foi intenso e, quando se deram conta, havia adesão geral, incluindo outras artesãs, de fora do ateliê, que fizeram questão de contribuir doando seus trabalhos.

 MUDANÇA DE PLANOS

 Inicialmente, o bazar de trocas seria realizado em um único sábado com o artesanato exposto no estacionamento em frente ao ateliê, localizado à Rua dos Bancários, 255. No entanto, com o agravamento da pandemia do Covid e temendo os riscos de aglomerações, Adriana e suas alunas resolveram dilatar o prazo. Assim, o evento começou na semana passada e será encerrado no dia 30 de junho.

 

Peças expostas no ateliê

Com mais tempo, as pessoas podem escolher as peças, com calma, e trocarem por alimentos não perecíveis, como arroz, feijão, açúcar, óleo, macarrão, trigo, café etc. Quem não tiver os alimentos, pode fazer o pagamento na hora e os recursos, ao fim do bazar, serão utilizados na aquisição dos itens que faltarem para completar as cestas básicas.

 

Artesanato que vai virar comida

Celia Branco se emocionou ao destacar o espírito solidário das companheiras de costura. O grupo é muito unido e, no caso das artesãs que participam da turma das segundas e terças-feiras, estão juntas há anos. Na última segunda-feira, o clima era de muita descontração: Verena Carvalho Brandão, Celia Branco e Mieko Chimada estavam a todo vapor costurando lindas toalhas de mesa, só parando para o tradicional café da tarde.

 

Verena Carvalho Brandão

Adriana contou que para cada grupo de alunas pediu a confecção de determinadas peças com base nos artigos mais procurados. E ela se mostrou rigorosa no controle de qualidade: “Faço elas fazerem tudo caprichado. Senão, não tiram nota”, disse, brincando.  A professora falou com alegria do envolvimento de todas as alunas e professoras para que o bazar de trocas fosse realidade.

 

Celia e uma das toalhas que está confeccionando

Por sua vez, Verena Carvalho Brandão disse que “a gente acaba se engajando neste trabalho da Celia que a gente vê que ela faz tanta coisa com tanto amor; e o pouquinho de coisa que a gente faz, uma mantinha de bebê, um cachecol, esse trabalho faz bem para o próximo e traz uma satisfação imensa para o coração da gente. Fazer o bem é o que se faz sem esperar nada de volta, para felicidade do outro. É um trabalho que não tem preço”.

 

Adriana apoiou a ideia desde o início.
Na foto, doação de boneca de Maristela Ursulino

E por falar nos trabalhos de Celia Branco, além das lindas toalhas de chá, toalhas de rosto e panos de prato, ela doou vários produtos da sua linha “Aromas Finos” de aromatizadores, home spray, sabonete líquido, hidratante, álcool perfumado etc. Até o dia 30 de junho, também podem ser encontrados: bonecas de pano, estojos escolares, bolsas e necessaires em patchwork, pesos de porta, jogos americanos, aventais, porta-kits de higiene entre outros.

 

Os primeiros alimentos trocados por artesanado

ASSISTÊNCIA

 A “Sociedade Espírita Vicente de Paula”, que receberá os alimentos arrecadados no bazar, assiste 20 famílias, explicou Celia Branco. Conforme disse, os voluntários da entidade visitam as famílias e conhecem a realidade de cada uma, sabendo o que mais precisam e o quanto precisam. Assim, são entregues alimentos para o mês inteiro capazes de suprir a necessidade de todos os familiares.

 

As peças têm fino acabamento

Antes da pandemia, a família toda participava da retirada das doações. Hoje, apenas uma pessoa por família. Celia disse que “fazemos um revezamento para a gente falar um pouquinho de Deus, não se fala de religião. Falamos da nossa vida, do que estamos sofrendo, sobre o Cristo consolador. Eles recebem o alimento espiritual e o alimento material”, finalizou.

 

Detalhe do porta-álcool em gel
para carregar na alça da bolsa

Para participar do bazar de trocas, até o dia 30 de junho, o endereço é Rua dos Bancários, 255. O telefone (14) 996356921. Nas redes sociais, acesse: https://www.instagram.com/patch.pano/

*Reportagem publicada na edição de 20.06.2021 do Jornal da Manhã


Que tal perder o medo de falar em público e deslanchar na carreira?
Curso de Oratória e Media Training com mentoria individual.
Aulas presenciais e online. 
Informações pelo WhatsApp: (14) 991645247


 

domingo, 13 de junho de 2021

A INSPIRAÇÃO DO PROFESSOR QUE APROVEITA INSERVÍVEIS NA HORTICULTURA DOMÉSTICA.

 Por Célia Ribeiro

Ao despertar, no último dia do ano letivo, os olhos no calendário confirmaram o que seu coração já sabia: em algumas horas, o garoto arteiro poderia extravasar, no seu habitat natural, a energia acumulada. Da infância, no Sul de Minas Gerais, o professor universitário José Augusto Guimarães guardou mais que belas memórias. Foi lá que ele estabeleceu uma forte ligação com a natureza e onde aprendeu o be-a-bá do cultivo de hortaliças que hoje pratica em casa utilizando materiais inservíveis.

Prof. José Augusto Guimarães

Nesta segunda parte da reportagem com o professor aposentado da UNESP, que esta coluna registrou domingo passado, ele mostra que, com um pouco de conhecimento e dedicação, dá para cultivar ervas aromáticas, legumes, verduras e frutas em pequenos espaços com custo mínimo. Basta despir-se de preconceito para lançar mão de materiais que iriam para o aterro sanitário, como caixas de isopor e garrafas PET que abrigam diferentes canteiros.

Caixas de isopor: canteiros na medida certa

Na fazenda dos avós maternos, na Zona da Mata Mineira, José Augusto recorda os bons momentos das férias: “Região montanhosa, ali eu passava cerca de quatro meses do ano, e foi onde pude tomar contato mais efetivo com a natureza, tirar leite, andar a cavalo, nadar etc. Foi ali, também, que nasceu e se desenvolveu, de forma mais efetiva, algo que considero um traço importante de minha personalidade: uma profunda necessidade de convívio com o verde, um especial prazer em conhecer as plantas e em colocar a mão na terra e plantar, adubar, podar, regar, enfim, cuidar. Ainda hoje, quando viajo, gosto de observar as árvores e plantas e resgatar, em meu baú de memórias, seus nomes, características, cuidados, etc”.

Calha no parapeito da janela abriga várias ervas

Daquele tempo, ele conta que “adorava passar o dia junto aos empregados aprendendo técnicas de cultivo. Aprendi muito. Também aprendi muito com os antigos almanaques de farmácia que davam dicas preciosas sobre épocas de cultivo, de poda, de colheita, de combate a pragas, etc. Gosto de cozinhar, basicamente pratos salgados, embora meu cardápio não seja muito extenso. Mas posso dizer que o molho pesto que eu faço, e presenteio os amigos, tem recebido elogios”.

Muitas pessoas que se arriscam na cozinha também zelam pela qualidade da matéria prima. E foi pensando nisso que o professor iniciou sua horta doméstica, optando por temperos tradicionais como salsinha e cebolinha, ervas aromáticas como manjericão, alecrim, sálvia, entre outras. No entanto, resgatando a curiosidade da infância, ele começou a testar novas maneiras de cultivo.

Frutíferas e ervas convivem em harmonia no quintal

Assim, um cano usado em calhas foi instalado em uma parede externa da residência e, no seu interior, foram plantadas mudas de verduras. De olho no “lixo zero”, as garrafas PET são utilizadas no plantio de alface em que ele aproveita um bargante de algodão para garantir a irrigação na medida certa.

José Augusto explicou que, “no caso da horta, utilizo caixas de isopor, usadas para transporte de salmão às peixarias, e as furo no fundo, coloco uma camada de argila expandida, cubro com manta ou com trapos de pano e coloco terra adubada. Esses recipientes são geniais pois têm 20 centímetros de altura, ideal para o cultivo de hortaliças, além de serem térmicos, impedindo que o calor de fora vá para a terra. Mas, também tenho um pomar em grandes vasos, morangos cultivados suspensos em pequenos vasos e ainda alfaces cultivadas em garrafas PET cortadas ao meio e sobrepostas, em um processo similar à hidroponia”.

Casca de ovo espanta
as lagartas

DEFENSIVOS NATURAIS

Ele assinalou que a preocupação com a qualidade vem em primeiro lugar: “Sempre procuro combater as pragas com produtos naturais, como óleo de neem, água de fumo e mesmo a técnica de colocar uma casca de ovo ao lado das couves para impedir lagartas. Se é superstição ou não, o fato é que as lagartas não aparecem”, revelou. 

Ele acrescentou que “para os caramujos uso a técnica de colocar um recipiente com cerveja na terra e, na manhã seguinte, recolher os caramujos que lá foram se alimentar, dica preciosa da querida amiga Lourdes Horiguela. Também utilizo como adubo o pó de café e a casca de ovo finamente triturada para garantir absorção, e as folhas secas eu utilizo como forragem no canteiro e, assim, impedir a rápida evaporação da água”.

A atenção que dedica à área verde de casa chega às frutas: “Com relação aos jardins, há um verdadeiro código social de que em jardim só se planta o que é ornamental, nunca um comestível. Isso não faz sentido pois uma hortaliça ou uma árvore frutífera pode compor perfeitamente com outras plantas desde que se tenha um olhar estético. Os europeus se utilizam fartamente desse recurso. No meu jardim, por exemplo, em meio a outras plantas, tenho um arbusto de nêspera, um cafeeiro, e ainda lima-da-pérsia e acerola. No jardim do fundo plantei uma amoreira em meio a um canteiro de antúrios”, explicou.

Dá para plantar quase tudo em vasos

O professor prosseguiu observando que mesmo quem tem pouco espaço em casa pode iniciar o cultivo orgânico do zero: “Pode-se plantar praticamente tudo em vasos. O importante é observar bem as características de cada hortaliça, se precisa de mais ou menos insolação, de mais ou menos regas, se tolera ou não vento, etc. Uma dica é sempre procurar dispor a horta em uma face que preferencialmente pegue o sol da manhã”.

Ele aproveitou para dar uma sugestão: “Começar sempre pelas ervas aromáticas, como manjericão, salsa, cebolinha, hortelã, alecrim, orégano, tomilho, endro, etc. Também é possível fazer um vaso com um coquetel de ervas aromáticas o que, além de útil, é muito bonito. O parapeito da janela da cozinha ou da área de serviço são espaços ideais para uma pequena horta de ervas aromáticas”, destacou. 

DICAS SIMPLES

Falando com entusiasmo sobre sua incursão na horticultura doméstica, José Augusto defendeu a importância da difusão de informações, sobretudo às populações de baixa renda que poderiam se beneficiar do cultivo em pequenos espaços para terem uma alimentação mais saudável e barata. E em espaços maiores servir como fonte de renda com a comercialização do excedente.

No entanto, observou que “essa população vulnerável, que vive na cidade e que já é urbana, não tem essas referências. Antes, era fruto do êxodo rural e vinha para a cidade conhecendo essas técnicas”. Por isso, defendeu a importância de se estimular a produção de hortas domésticas ou até hortas comunitárias aproveitando os conhecimentos passados entre as gerações.

Morango brotando no vasinho

Generoso, o professor compartilhou várias dicas simples: “Se essa população tiver esse tipo de informação, primeiro, ela vai ter alimentação de qualidade; se começa a plantar numa escala um pouquinho maior, pode até ter uma renda: pedaços de bucha vegetal e casca de coco verde, desses que são vendidos para água de coco, para abrigar orquídeas; tiras de meias femininas ou pedaços de barbante de algodão para amarrar orquídeas em árvores;  sempre cortar as flores do manjericão para que a planta se torne mais viçosa e dê mais folhas; de tempos em tempos, arrancar as cebolinhas e dividir os bulbos replantando-os; atentar para as sementes que saem das flores da salsinha, do endro e da erva doce”.

Garrafa PET com alface

E concluiu: “A dica final e mais importante: recolha folhas de suas ervas aromáticas e as disponha em uma bacia, deixando-as secar à sombra. Uma vez secas, passe-as por uma peneira fina para criar um pó de ervas. Esse pó de ervas é genial para ser usado em saladas, em temperos, no bolinho de arroz fica delicioso e, principalmente, misturado ao sal, no saleiro, pois diminui o consumo de sódio”. 

Pelo visto, as lições de pé no chão nas terras do Sul de Minas se enraizaram e o menino arteiro continua extravasando sua energia. Agora, na tranquilidade da horta da residência da família onde faz experimentos com a curiosidade de sempre.

Para ler a primeira parte desta reportagem, acesse AQUI




*Reportagem publicada na edição de 13.06.2021 do Jornal da Manhã 


É possível falar em público com desenvoltura. 
Se vc precisa perder o medo de enfrentar reuniões,
dar palestras ou sonha com aquela promoção
no trabalho, conte comigo. 
Curso de oratória individual e em dupla, com aulas
presenciais e mentoria online personalizada.
Saiba mais: WhatsApp: (14) 991645247


domingo, 6 de junho de 2021

COM CÁPSULAS DE ALUMÍNIO E DESCARTÁVEIS, PROFESSOR DÁ VIDA AOS OBJETOS QUE CRIA.

 Por Célia Ribeiro

Cafés inspirados na torra italiana, oriundos do Sul de Minas Gerais ou de países como a Indonésia, Guatemala ou Colômbia: ao toque do botão na máquina de café, a cápsula colorida revela sua potência, exalando o aroma característico que faz a alegria dos apreciadores da bebida. Em Marília, um professor universitário aposentado viu algo mais. Encantado pelas cores das cápsulas de alumínio ele não teve coragem de descarta-las. Passou a limpar uma a uma e classificá-las para um aproveitamento futuro.

A delicadeza do colar com cápsulas de café

E esse dia chegou. Há dois anos, o estoque de cápsulas de café, de consumo próprio e doadas pelos amigos, são uma das principais matérias primas do artesanato de José Augusto Guimarães que, com incrível talento, as transforma em bijuterias e “Espíritos Santos” com que presenteia os familiares e amigos.

Em entrevista por vídeo ao JM, o professor universitário contou que sua ligação com o reaproveitamento de materiais é coisa antiga. Na verdade, a arte o conquistou há muitos anos quando, inspirado nas mulheres da família, deu os primeiros passos em uma atividade que lhe traz enorme prazer. 

Um dos muitos quadros com "Espírito Santo"

Ele contou que a bisavó “era muito sensível e habilidosa. No início do século passado, ela e meu bisavô foram à França para um congresso médico e, nessa viagem, ela visitou Barcelona e ficou encantada com os mosaicos de Gaudí no Parque Guell. De volta ao Brasil, passou a fazer vasos e cachepôs de cacos de porcelana. Também nesta tônica de juntar peças distintas, fazia lindas bolsas de festa de patchwork com retalhos de gravatas de seda que eram rebordadas”.

Vaso feito com cacos de louça

O professor prosseguiu dizendo ter sido “impregnado por essas ideias de juntar pedaços, tanto que meu memorial no concurso para professor titular da UNESP intitulou-se ‘Mosaicos de um Caminho’. Alia-se a isso uma curiosidade natural que sempre tive quanto a tudo o que é jogado fora e mesmo aquilo que, na minha casa, iria para o lixo. A questão do artesanato acho que herdei da minha mãe que tinha uma habilidade e uma criatividade incríveis. E, assim, uma vez aposentado da UNESP pude me dedicar a esse artesanato e à jardinagem e horticultura”.

CAÇADOR DE CAÇAMBAS

Professor José Augusto

Antes de mais nada, José Augusto é um observador. Ao avistar uma caçamba, seus olhos brilham de curiosidade e ele não resiste: vai conferir o que descartaram e, caso haja qualquer coisa que possa ser aproveitada em seus trabalhos, sem cerimônia, ele abre o porta-malas do carro e saca a caixa de ferramentas para pegar o que lhe interessa.

Cápsulas de alúminio se misturam
às pedras neste par de brincos

E não só nas caçambas ele se abastece. O professor contou que já pegou objetos deixados nas portas das residências, incluindo vasos de plantas que levou para casa e cuidou com carinho: “É um ser vivo que estava fadado à morte”, observou. Ele acrescentou que “o que é mais forte é essa coisa do ‘revival’, do dar vida nova”, disse, contando que o perfil que criou no Instagram para mostrar suas peças, que também são comercializadas, é justamente o trabalho manual (@revival_handcrafts)”.

Cápsulas selecionadas se transformam
em belas obras como esse crucifixo

José Augusto contou que anda devagar quando vê “o que as pessoas jogam na frente das casas e, às vezes, descubro uma pérola no lodo. Acho um móvel de madeira que tem um torneado, um puxador, uma fechadura que pode virar outra coisa. Acho tesouros maravilhosos. Tudo o que eu faço, quase nada é coisa nova, mas veio de outro lugar. Então, ressignificar pra mim é muito forte”. 

CÁPSULAS DE CAFÉ

A paixão pelas cápsulas de alumínio vem de longe. O professor contou que adquiriu a primeira máquina de café expresso em 2008 quando residia no exterior: “Quando veio aquela caixa com mostruário eu fiquei absolutamente fascinado por aquelas cores. E comecei a guardar”, recordou. 

Mistura de cápsulas de diferentes
cafés neste colar de pérola

Rindo, ele disse que “tem gente que fala que sou um acumulador. Mas, não. Eu falo que sou um acumulador organizado. Como sou bibliotecário, eu guardo as coisas classificadas, organizadas e comecei a guardar as cápsulas pensando em um dia servir para alguma coisa”. 

E por falar em reaproveitamento, até as bijuterias que a sua esposa não usa mais ele utiliza nas suas criações. Colares e brincos, entre outras peças, usam as cápsulas de café como base e muitos outros materiais, geralmente reaproveitados. “Costumo dizer aos amigos, se quebrar uma louça na sua casa, não jogue fora. Guarde pra mim”, em alusão aos vasos que continua fazendo.

EDUCAÇÃO

As plantas são outra paixão do artista

José Augusto lamenta a falta de informação, sobretudo às populações mais vulneráveis, que poderiam aproveitar o que têm em casa para criar algo e gerar renda. “Falta educação a respeito. Mas, falta, sobretudo, informação sobre os olhares estéticos que podem ser dados a esses materiais”, citando o preconceito da sociedade sobre tudo que é material usado.

Ele finalizou deixando uma mensagem a quem se interessou por esta arte: “Mudar a forma de olhar para aquilo que se descartam procurando sempre ver a possibilidade de um processo transformador e criativo”.

Uma carteira social pode ficar mais bonita 
com as cápsulas no mesmo tom

O professor José Augusto também utiliza descartáveis na jardinagem e horticultura, com soluções simples que podem ajudar muitas pessoas, sobretudo nesta época difícil de desemprego em função da pandemia. A segunda parte desta reportagem será publicada no próximo domingo, dia 13 de junho.  

No Instagram acesse: @revival_handcrafts 

*Reportagem publicada na edição de 06.06.2021 do Jornal da Manhã


Vc tem dificuldade para se expressar?
Congela quando tem que falar em público?
Eu posso te ajudar!!!
Cursos de oratória presenciais e online que
estão transformando a vida de tanta gente.
Fale comigo: (14) 991645247