domingo, 1 de novembro de 2020

NO ISOLAMENTO, EDUCADORA DESCOBRIU UMA NOVA PAIXÃO: A AROMATERAPIA ARTESANAL.

 Por Célia Ribeiro

Aromas doces, amadeirados e cítricos escapam pelas frestas invadindo o hall de entrada do confortável apartamento. A profusão de cheiros desafia o olfato mais sensível que teima em descobrir a origem dessa explosão da natureza. Ao atravessar a porta, o mistério dá lugar a uma incrível sensação de bem estar e de acolhimento não só pelo sorriso da dona da casa como, também, pelo ambiente repleto de flores que concorrem com os frascos de aromatizadores.

Limão Siciliano agrada homens e mulheres

Atrás dos aromas envolventes está a educadora Celia Carmanhani Branco, ex-secretária municipal da Educação que escreveu seu nome na história de Marília por décadas de dedicação à área. Após uma carreira bem sucedida no serviço público e posteriormente, como consultora de Educação, ela despertou um lado pouco conhecido: a paixão pela perfumaria.

Dizem que “nada é por acaso”. E talvez, ela só precisasse de um gatilho para deixar aflorar a criatividade na aromaterapia. Tudo começou durante uma viagem a Paris com o marido, o professor de geografia, José Branco. “Eu passava por aquelas ruas com lojas de perfume, entrava e olhava tudo com curiosidade”, recordou.

Célia Branco no ateliê do amplo apartamento

Alguns anos depois, de volta à cidade, o casal se hospedou próximo ao Museu do Perfume, quando soube de um curso básico de quatro horas para leigos, onde conheceu os toneis e processo de fabricação de perfumes. Celia deixou o marido explorando o entorno do museu e mergulhou naquela oportunidade. Ao final, foi oferecido um curso mais amplo, de dois dias, “em que trabalhavam várias coisas como o processo olfativo que é ligado às memórias afetivas”, explicou.

A educadora aposentada não pensou duas vezes e resolveu seguir adiante. “Tenho muitas memórias de infância, do cheiro do pão da minha avó, da minha casa em que minha mãe adorava plantas e tinha muitas”, recordou citando a recordação do aroma da “Dama-da-Noite” que exala um perfume inconfundível quando anoitece. 

Flores secas de lavanda e fitas
usadas nas embalagens 

Ao concluir os dois dias de aulas, Celia contou que saiu transformada: “Não ganhei certificado de perfumista porque, para isso, teria que fazer faculdade e depois estagiar seis meses na França”. Mas, os conhecimentos lhe abriram novas possibilidades quando, em plena pandemia, isolada sem contato com filhas e netos, descobriu um curso on line no Brasil para lhe salvar do marasmo.

EXPERIMENTAÇÃO

“Encontrei na internet um jovem empreendedor, o Peter Paiva, ligado à aromaterapia”, comentou, citando que a cada módulo do curso a curiosidade aumentava ao ponto de começar a comprar matéria prima para os primeiros experimentos de aromatizador de ambiente (home spray) e sabonete líquido. 

Celia explicou que o professor não ensina apenas a receita dos produtos, mas orienta no processo criativo em que cada aluno tem a liberdade de explorar as matérias primas, “criando de acordo com sua personalidade. Tem gente que não gosta de perfume doce porque dá dor de cabeça e prefere os cítricos ou amadeirados, por exemplo”.

Creme para mãos, sabonete líquido, aromatizadores:
há uma linha de produtos com vários aromas

Celia contou que cria seus produtos, de maneira artesanal, de acordo com a personalidade de quem vai leva-los para casa. “É preciso conversar com a pessoa, saber que tipo de cheiro ela gostaria de sentir ao chegar em casa. Isso varia de pessoa para pessoa”, pontuou.

Os primeiros experimentos ela fez no ateliê que montou no espaçoso apartamento localizado na região central. “Por ser virginiana, perfeccionista, comecei a comprar as essências importadas pelo site e fiz primeiro para nós de casa. Esperei 15 dias. Tem que fazer a maceração, deixar 18 horas no escuro e 6 horas no claro, tomando ar, por cinco dias”.

Os preços variam de 25 a 65 reais
e os produtos impressionam pelo bom gosto

Naquela época, auge da pandemia, as notícias da TV e sites de notícias eram uma tragédia só, com o número de mortes aumentando a cada dia. “Na hora da maceração, abre todos os vidros. Eu abria a janela do ateliê e colocava uma oração no iPad pensando que na casa de quem recebesse o meu produto chegasse uma energia bem boa e fazia minhas preces. E até hoje eu faço isso”, revelou.

DELICADEZA

Após a aposentadoria, Celia Branco já se dedicava à costura e ao artesanato em geral. Por isso, faz questão de confeccionar os saquinhos finos que embalam sua linha de cremes de mão, aromatizadores, sabonetes líquidos etc. Para acompanhar, flores secas de lavanda e ainda manda um coração de tecido e renda perfumado dentro do pacote.

Celia no laboratório do ateliê

Ela brinca que seus irmãos, um contador e outro advogado, dizem que os preços não cobrem nem a embalagem. É provável! Os itens vão de 25 a 65 reais em embalagens que chamam a atenção pelo bom gosto. Com isso, a venda entre amigas acabou crescendo e Celia pensa, futuramente, em empreender, talvez com uma loja virtual. “Por enquanto, sou apenas aprendiz”, brincou.

A educadora que foi estudar para uma nova profissão, aos 62 anos, disse estar realizada com o que conseguiu criar no segmento de aromatizadores. “Minha intenção é que as pessoas gostem e confiem no produto. A gente não sabe fazer as coisas mal feitas, né? A minha logomarca é meu nome. Eu não posso jogar isso fora porque isso é tudo o que eu tenho”, destacou.

Produtos artesanais feitos sob medida
para a personalidade do cliente

Celia disse que aprendeu muitas lições na pandemia e na migração para esta nova área: “A humildade é um fator essencial na vida de qualquer ser humano. Eu me deparei com um professor bem mais jovem do que eu, tão maravilhoso, ensinando essas coisas num curso. Esse professor, que eu respeito muito, despertou algo dentro de mim que estava adormecido”, recordou. 

Assim, cheia de energia boa para compartilhar, Celia Branco não pensou duas vezes quando perguntada sobre qual é o cheiro do momento atípico que vivemos: “Cheirinho de amor. Sempre penso que na embalagem está indo junto o amor para a casa da pessoa”. Para saber mais sobre esse trabalho, acesse o Instagram: https://instagram.com/celiacarmanhani/

*Reportagem publicada na edição de 01.11.2020 do Jornal da Manhã



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