domingo, 26 de abril de 2020

FAMILIAS IMPACTADAS PELA QUARENTENA SÃO ASSISTIDAS POR CAMPANHA EM MARÍLIA

Por Célia Ribeiro

Tadau e a esposa Pilar com Leonardo dos Santos
O servente de pedreiro Leonardo dos Santos, pai de três filhos, de um dia para outro ficou sem ter como sustentar a família, residente no Jardim Santa Antonieta. Sem trabalho e com um bebê recém-nascido, ele é um dos trabalhadores impactados pela quarentena, imposta para conter a pandemia do coronavírus, que encontrou socorro na solidariedade de quem contribui com a maior campanha de arrecadação de alimentos e recursos iniciada há 40 dias em Marília.

Tendo à frente o representante comercial Tadaumi Tachibana, o popular Tadau, a campanha é coordenada pelas ONGs “Projeto Semear” que cedeu sua estrutura financeira e conta bancária para recebimento de depósitos e “Amigos do Bar” que tem atuação destacada em várias campanhas como a arrecadação de alimentos e ajuda a asilos, hospitais e entidades filantrópicas.
Alimentos prontos para doação
“Esse trabalho não tem nome e não tem dono. É da sociedade mariliense”, explicou Tadau enquanto fazia a entrega de cestas básicas, caixas de leite e fraldas descartáveis ao servente de pedreiro. O voluntário justificou que “não queremos dar nome à campanha porque várias pessoas, de vários segmentos, estão participando. Temos rotarianos, maçonaria, centros espíritas, representantes comerciais, como eu, juiz de Direito, entre outros”.

Graças à credibilidade dos voluntários envolvidos, a campanha conseguiu a façanha de arrecadar 76 mil reais, em apenas três dias, para aquisição de dois respiradores que foram doados ao Hospital das Clínicas. Inicialmente, a ideia era arrecadar fundos para compra de respiradores, equipamentos de proteção individual (EPIs) para doação aos hospitais, além de máscaras e álcool gel necessários na prevenção ao Convid-19.

Família aguarda doação na residência do voluntário
No entanto, com a quarentena imposta por decretos municipal e estadual, muitas famílias ficaram sem fontes de renda e a campanha cresceu. Através de doações em dinheiro na conta do Semear, que foram revertidas em vales-compras de 70 reais e cestas básicas, fraldas descartáveis infantis e geriátricas, máscaras e álcool em gel, até quinta-feira, dia 23, foram assistidas 926 famílias de baixa renda.
24 mil fraldas recebidas em doação estão sendo entregues às famílias
De acordo com o balanço parcial, do início da campanha em 23 de março até quinta-feira, foram doados: 02 respiradores para o HC (R$ 76 mil), 400 toalhas para o HC (R$ 5,2 mil), 300 toalhas de banho para pessoas em situação de rua (R$ 597,00), 100 vales alimentação de 70 reais (R$ 7 mil), 420 toalhas hospitalares para Santa Casa (R$ 5,9 mil), 50 Vales Alimentação de 70 reais (R$ 3,5 mil), Tecidos para máscaras doadas à Polícia Militar (R$ 996,00), 75 galões de 5 litros de álcool em gel para HC e Santa Casa (R$ 10 mil), 2.500 metros de TNT para confecção de avental hospitalar (R$ 2,3 mil), 550 cartões de crédito para compra de alimentos no valor de 70 reais cada.
Doados 160 aventais para Santa Casa
Doadores têm contribuído com alimentos ou dinheiro, a partir de 50 reais. Mas, teve um doador que depositou 30 mil reais e não quer ter o nome divulgado. Empresas doaram muitos outros produtos que foram incorporados às cestas básicas ou vales-compras como o recebimento de 24 mil fraldas descartáveis infantis, 1.000 fraldas geriátricas, 1000 escovas de dentes, 03 sacos de batata, 01 saco de cebola e 01 caixa de tomate, 900 litros de leite, 317 pacotes de café, 180 pacotes de biscoitos, centenas de caixas de doces e chocolates.
Alimentos, fraldas e máscaras para entrega à família
ROMARIA

Tadau transformou sua residência, próxima ao Colégio Bezerra de Menezes, no ponto de arrecadação e distribuição. Diariamente, ele recebe centenas de mensagens desesperadoras de famílias que estão passando por muita necessidade. Ele anota nomes, números de documentos e se certifica da real urgência e da presença de crianças na família.
Cartões para compra de alimentos

Assim, marca dia e hora para entrega que começa cedo e vai até à noite, inclusive nos finais de semana. É uma verdadeira romaria de gente chegando com doações e outros retirando os alimentos e produtos ofertados.

Devidamente protegido com máscara, sábado passado ele estava a postos entregando cestas básicas, leite e fraldas às famílias que marcaram para retirada. Sua esposa, Pilar, disse que “é um trabalho gratificante que dá uma sensação boa na gente”, sem reclamar do depósito improvisado na entrada da residência.

Por sua vez, o voluntário contou que muitas vezes ele e a esposa se emocionam na entrega das doações ao ouvirem relatos de extrema dificuldade das famílias que perderam suas fontes de renda: “A alegria estampada nos rostos, o brilho nos olhos, isso é nossa recompensa”, afirmou, acrescentando que será iniciada, em breve, outra fase da campanha para arrecadar agasalhos e cobertores.

Tadau finalizou agradecendo a todos que contribuíram com a campanha que continua por tempo indeterminado porque, como sempre diz, “a fome não espera”. Para ele, doar seu tempo dia e noite para ajudar quem precisa vale muito a pena: “Conseguimos dar um pouco de dignidade para as pessoas, para os excluídos da sociedade”.

COMO DOAR

Para doar dinheiro, deposite na conta do Projeto Semear, no Banco Itaú (341), Agência 9175 e Conta 01300-3, indicando o CNPJ da ONG: 013.819.356/0001-01. É possível fazer doações diretamente no site https://doacao.apoiesemear.com.br/inclusive com cartão de crédito. Para entrar em contato com Tadau, ligue: (14) 98114-0055

Leia sobre a ONG "Amigos do Bar" acessando AQUI
E sobre o "Projeto Semear", acesse AQUI

* Reportagem publicada na edição de 26.04.2020 do Jornal da Manhã

domingo, 19 de abril de 2020

TRABALHADORES MADRUGAM NA LINHA DE FRENTE DO “BOM PRATO”, DURANTE A PANDEMIA.

Por Célia Ribeiro

Ainda está escuro e há pouco movimento na rua. Mas, um grupo de trabalhadores saiu de casa ainda mais cedo para iniciar a jornada, pontualmente, às 6 horas. São os funcionários do Restaurante Bom Prato, um dos projetos sociais mais impactantes do governo do Estado em parceria com o município. Com a pandemia do Covid-19, à clientela tradicional, formada por pessoas em vulnerabilidade social, somaram-se trabalhadores desempregados, autônomos que ficaram sem renda de um dia para o outro, e muitos idosos.
Dulce entrega o café da manhã: pão com margarina,
leite com achocolato e uma maçã
Se antes o “Bom Prato” funcionava somente de segunda a sexta-feira com café da manhã e almoço, foi preciso agir rápido e ampliar o atendimento a partir da quarentena: além do café da manhã a 50 centavos e do almoço a um real, foi disponibilizado o jantar, também ao preço simbólico de um real, todos os dias, incluindo finais de semana e feriados.
As filas são frequentes e poucos respeitam
a distância de um metro e meio
Aos 30 anos, casado e pai de um menino, Fabiano de Jesus mora na vizinha cidade de Oscar Bressane. Por isso, acorda por volta de 4 horas para se juntar à equipe formada por 16 funcionários da empresa terceirizada MR. Para ele, ter um trabalho já é motivo de comemoração, mas afirmou que se sente “muito bem sabendo que estamos ajudando o próximo”, como Marcelo de Oliveira que elogiou o “Bom Prato” onde faz as três refeições diariamente.
Nutricionista mede a temperatura dos funcionários
Já Silvana Bispo, de 32 anos, mora no Jardim Califórnia e levanta antes das 5 horas para chegar a tempo ao trabalho onde permanece até às 14h20. Ela explicou que os trabalhadores se revezam em turnos para prepararem as três refeições do dia. Assim como Fabiano, ela passou pelo controle de temperatura e fez a higienização das mãos antes de entrar no local onde todos estavam paramentados e com máscaras.

ORGANIZAÇÃO

A reportagem do JM acompanhou a manhã do dia 15, desde a chegada dos trabalhadores. No interior do “Bom Prato”, muito limpo e organizado, chamou a atenção a montanha de embalagens descartáveis. Segundo a gerente Edna Macedo, há um rigoroso controle por parte do governo do Estado e as vistorias são frequentes. Ela relatou que a Fumares (Fundação Mariliense de Recuperação Social), da qual é contadora, é responsável pelo “Bom Prato”.
Foi preciso adequirir milhares de embalagens
Acompanhada da secretária adjunta da Secretaria Municipal da Assistência e Desenvolvimento Social e vice-presidente da Fumares, Zileide dos Santos Bernardo, a gerente do restaurante disse que houve uma operação de guerra para as mudanças: anteriormente, os clientes faziam as refeições ali mesmo (1.200 almoços e 100 cafés da manhã), mas tiveram que receber as refeições embaladas para consumirem fora do local. No jantar, são 300 marmitex por dia.
Funcionários têm o mínimo contato com o público
e estão protegidos por luvas e máscaras
Houve mudança na forma de atendimento, também. Agora, quem se dirige ao restaurante aguarda sua vez nas filas em que há orientação para manter a distância de um metro e meio, que raramente é obedecida. Os trabalhadores com máscaras e luvas têm o mínimo contato com os clientes, mas temem os riscos da exposição ao coronavírus.
Marília, Edna e Zileide 
Segundo Edna Macedo, o custo do almoço é de R$ 5,70 sendo que R$ 3,70 são pagos pelo governo do Estado, R$ 1,00 pelo cliente e R$ 1,00 pela Prefeitura que ainda paga o aluguel e despesas com água e energia elétrica. Quando a Fumares consegue produzir excedentes de legumes e verduras, os alimentos orgânicos também são destinados ao “Bom Prato”.
Feijoada era o cardápio do almoço de quarta-feira 
A nutricionista responsável, Marília Gabriela Colombo Gabaldi, informou que as refeições, com 1.200 calorias, são preparadas a partir de 03 cardápios diários disponibilizados pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, responsável pelos 59 restaurantes da rede. Na quarta-feira, por exemplo, o almoço teve feijoada.

“Uma das maiores mudanças foi que tivemos que porcionar as refeições em marmitas. Também houve mudanças na parte de limpeza e higienização do local. Nós tentamos fazer o máximo possível para proteger nossos funcionários que estão expostos”, frisou.

GOVERNO DO ESTADO

Em entrevista exclusiva ao JM, por telefone, a secretária estadual de Desenvolvimento Social, Célia Parnes, afirmou que o maior desafio foi organizar, em um prazo de 24 horas, a nova forma de servir as refeições, incluir o jantar e manter o serviço nos finais de semana e feriados. Conforme disse, são 59 restaurantes no Estado de São Paulo operados por instituições diferentes.
Secretária Célia Parnes

Os números impressionam: o “Bom Prato” passou de 2 milhões para 3,2 milhões de refeições mensais, prosseguiu a secretária que falou da importância do projeto neste momento difícil de pandemia: “Nos dá muito trabalho, mas muita satisfação também. Isso não tem preço”, comentou, citando a “emoção dessas pessoas que pela primeira vez têm jantar”.

De acordo com a secretária, além das pessoas em situação de rua que continuam sendo atendidas, milhares de outras pessoas e famílias inteiras recorrem ao “Bom Prato” para se alimentarem com dignidade: “A gente sabe que está fornecendo refeições de qualidade e isso aquece o coração da gente”.

 Sobre o comprometimento dos trabalhadores dos restaurantes do projeto, Célia Parnes elogiou o empenho de cada um: “Fazem isso por amor ao público que atendem. Eles sabem que esse público é extremamente frágil e se não forem fazer, não terão o que comer. É uma causa”, pontuou.

Finalizando, a secretária disse que o governador João Dória abre as reuniões semanais da equipe pedindo empenho no atendimento à população menos favorecida. Especialmente neste momento difícil da contaminação pelo Covid-19 se espalhando, ela destacou o papel do governo na área social.

*Reportagem publicada na edição de 19.04.2020 do Jornal da Manhã

sábado, 11 de abril de 2020

QUARENTENA: EDUCADORES LANÇAM CANAL DE MÚSICA PARA DIVERTIR AS CRIANÇAS.

Por Célia Ribeiro

Criança e confinamento, definitivamente, não combinam. Como ocupar o tempo e gastar a energia da meninada em plena quarentena? Uma dupla de educadores encontrou na crise uma oportunidade e antecipou o lançamento de um canal no Youtube aonde música e movimento divertem e educam utilizando os recursos da internet.
Carol e Eric: música para divertir em tempos de isolamento social
Até quarta-feira (08), Carol Alaby e Eric Brandão, dirigentes da escola “Sonatina – Música e Movimento”, de Marília, haviam postado 13 vídeos em que tocam, cantam, dançam e propõem brincadeiras. Obrigados a suspenderem as atividades por causa do Covid-19, eles não queriam perder o contato com os alunos e anteciparam o lançamento do projeto musical para aproximá-los em um momento tão difícil para todos.

Pedagoga com sólida formação no Brasil e no exterior, embora muito conhecida como artista completa (pianista, cantora, bailarina, sapateadora, acrobata, atriz e contadora de história), Carol fundou a escola há dois anos, cheia de sonhos. Atendendo desde bebês de seis meses, a proposta de formação musical para crianças, jovens e adultos teve um reforço com a chegada de Eric Brandão, que possui um currículo respeitável e, como ela, também é aluno do San Francisco Orff International Course (EUA).
A escola foi fundada há dois anos

Em entrevista ao JM por áudio de WhatsApp, a dupla falou sobre a proposta: “A ideia surgiu como um pedido das famílias da escola Sonatina que começaram a pedir gravações das nossas músicas”, explicou Carol. Além disso, “professores que fazem formação com a gente, falaram que não tem onde pesquisar algumas atividades nossas. Esse canal estava sendo meio gestado há um tempo e quando fomos forçados a parar as atividades, por conta da quarentena, a gente viu nisso uma ótima oportunidade para colocar o canal em prática”, acrescentou.

A educadora contou que a repercussão foi a melhor possível, com retorno positivo dos pais, muitos compartilhamentos e aumento diário do número de visualizações. Ela explicou que na primeira semana procuraram postar o máximo possível de vídeos aonde o bom humor e a musicalidade são o carro-chefe.

Dupla de educadores aproveitou para antecipar o canal
Apesar de feliz com a aceitação do canal, Carol sente muita falta do dia a dia na escola: “Trabalhamos com crianças muito pequenininhas, a partir dos seis meses, e em pouco tempo elas podem esquecer, perder o vínculo. Achamos que seria um jeito bem legal de nos sentirmos perto deles e eles perto da gente”, observou.

ARTETERAPIA

“A gente acredita muito que a arte salva e que num momento tão tenso e difícil como esse, a gente precisa da arte. A gente precisa da arte a vida inteira, mas no momento de uma transformação tão grande a gente precisa da arte, do humor. Todos os nossos vídeos começam com uma piadinha, uma gracinha, porque a gente sabe que para nossa saúde emocional a gente precisa manter o vínculo com a arte”, assinalou a educadora.
Carol tem formação no Brasil e exterior

Vindo de São Paulo, Eric recebe retorno dos alunos que o acompanham pela internet. Bacharel em música e graduado em Letras, ele ministra oficinas de musicalização infantil para docentes e formações, além de aulas para crianças de educação infantil e ensino fundamental. Eric integra a equipe de formadores do Projeto “Brincadeiras Musicais” da Palavra Cantada que atua em diversas redes de ensino municipal do País, além de ser autor de livros didáticos, professor de instrumentos de cordas, compositor e multi-instrumentista.

Falando sobre o período forçado de reclusão das famílias, Carol disse que, na medida do possível, seria importante “tentar manter certa rotina que deixa a criança segura porque será um período maior que o período de férias. É legal que a criança não perca o costume de ter hora, pelo menos, para dormir, acordar e comer. E ao mesmo tempo equilibrar isso com o treino da capacidade de ouvir as crianças, sentir as crianças, curtir esse tempo”.

Ela observou que nem todos podem estar com os filhos, como os profissionais de saúde a quem manifestou solidariedade. E completou: “Para as famílias que estão com a possibilidade de estar com os filhos, que aproveitem esse tempo com muita qualidade, escutando as crianças, sentindo as necessidades delas, contando histórias, brincando junto e reservando espaços individuais da mãe e do pai para ninguém enlouquecer”.
Diversão para toda a família
Por sua vez, Eric afirmou que no momento atual “os pais podem primar um pouco pela qualidade de vida, qualidade de estar com a família, com os filhos. Usar a internet para pesquisar não só o nosso canal, mas pesquisar outras fontes de conhecimento, se alimentar de um repertório mais rico, procurar entender o que são essas crianças, o que é essa geração”.

Ele finalizou observando que “a gente entende que o aluno, criança, jovem ou adulto, quando chega aqui, chega não só com o sonho de cantar, tocar um instrumento ou aprender brincadeiras musicais e de se divertir. Mas, também chega com suas expectativas, suas frustações, com sua bagagem familiar, com sua bagagem do trabalho, e todos os percalços do dia a dia. Então, a gente vê nosso aluno como um ser integral”.
Carol e Eric tocam vários instrumentos nos vídeos
Carol explicou que a escola está fechada durante a quarentena, mas tem atendido vários pais que os procuram para quando tudo voltar ao normal. E concluiu: “Nossa esperança é que, após tudo isso, a gente consiga ser pessoas melhores, que a gente ame mais, que valorize mais as conexões. Que quando a quarentena acabar a gente tenha muito mais conexões reais do que virtuais”.

A escola “Sonatina Música e Movimento” localiza-se à Rua Palmares, 77. O e-mail da Carol Alaby é: carol_alaby@hotmail.com

Acesse AQUI para assistir ao primeiro vídeo do canal.

Leia sobre a Escola Sonatina em reportagem de 2019 acessando AQUI
E sobre Carol Alaby, saiba mais AQUI em reportagem de 2018

*Reportagem publicada na edição de 12.04.2020 do Jornal da Manhã