domingo, 28 de junho de 2020

COM VOLUNTÁRIOS NA FAIXA DE RISCO, PROJETO “AMOR SOLIDÁRIO” PARALISOU ATIVIDADES.

Por Célia Ribeiro

O ano de 2020 prometia: além da ampliação da cozinha, novos itens foram introduzidos ao cardápio para fidelizar a clientela. No entanto, a pandemia do Covid-19 não deixou alternativa que não a suspensão das atividades da padaria “Delícias do Amor Solidário” que, desde 2010, gerava renda em prol do Hospital Espírita de Marília (HEM).
Tortas de tomate seco
Um grupo de voluntárias e voluntários madrugava, toda quinta-feira, para abrir a padaria, localizada ao lado do hospital. Com a lista de pedidos recebidos pelo grupo de WhatsApp, todos se empenhavam para produzir, embalar e entregar as encomendas que rendiam entre mil e 1,2 mil reais por semana. Outros se encarregavam da limpeza do local.
Sílvia Schauer em imagem de arquivo

Segundo uma das integrantes do grupo, Sílvia Schauer, dois fatores foram determinantes para a suspensão das atividades: com a decretação do estado de calamidade pública que imprimiu medidas rigorosas de isolamento social, os voluntários na faixa de risco, acima de 60 anos, não tinham como participar. Além disso, os clientes tradicionais (funcionários de empresas, escritórios de advocacia, comércio etc) também reduziram os pedidos porque muitos estabelecimentos estavam fechados.

Ela explicou que a entrega era realizada de porta em porta. Uma equipe de voluntários contribuía levando os pedidos, como pães, esfirras, bolos, tortas, rocamboles, entre outros, diretamente aos clientes. Com a pandemia e o risco de contaminação pelo Covid-19, esses voluntários também estavam receosos em circular pela cidade.

No grupo de voluntários da padaria “Delícias do Amor Solidário”, embora houvesse muitos profissionais da ativa, a maioria era formada por aposentados, alguns com até 80 anos. Por isso, o reflexo do isolamento social foi ainda mais impactante. “Trabalhamos até o início de março. Mas, quando surgiram as primeiras notícias de casos no Brasil, antes mesmo da quarentena, muitos já estavam muito preocupados e com medo”, comentou.
Animação das voluntárias antes da pandemia
Sílvia disse que a pandemia chegou em uma fase que se esperava animadora. Foram introduzidas ao cardápio várias novidades como o pão mineiro que levava queijo na massa e no recheio, pão integral com batata doce e grãos, pão vegano, tortas de banana e de goiabada etc. Os mais pedidos, como esfirra, pães, tortas doces e salgadas, também eram oferecidos com vários recheios ampliando as opções, semanalmente.
Pão mineiro com queijo na massa e recheio
ESPERA

Sílvia afirmou que a prioridade da renda da padaria era o atendimento aos pacientes SUS e moradores que recebiam enxovais, cobertores, roupas de inverno etc. Após contribuir com várias áreas do hospital, o projeto, ultimamente, auxiliava “no que eles estavam precisando”, citando o exemplo da aquisição de utensílios de cozinha que foram adquiridos com esse dinheiro e doados para o HEM.
Pãezinhos faziam sucesso
Ela finalizou dizendo sentir-se impotente diante dessa situação: “É uma sensação muito estranha. Tínhamos o hábito de estar ali ajudando, socorrendo o hospital e agora estamos de mãos atadas, sem poder fazer nada”. Sílvia, assim como outros voluntários, espera que essa fase passe depressa para darem continuidade ao projeto.

Por sua vez, a voluntária Sandra Ramires, autora das fotografias que ilustram essa reportagem, afirmou que uma das lições da pandemia é que despertou a solidariedade nas pessoas: “O objetivo é que a humanidade aprenda muitas coisas”, pontuou. Ela disse que o projeto só será retomado quando houver segurança para todos que colaboram “porque de nada adianta a gente se programar para voltar e regredir”.

Com muita saudade do encontro dos voluntários, nas madrugadas de quinta-feira, Sandra disse que as “Delícias do Amor Solidário” estarão ainda mais saborosas. Afinal, amor, solidariedade e carinho são as matérias primas daquelas receitas.

*Reportagem publicada na edição de 28.06.2020 do Jornal da Manhã


Leia reportagem de 2012 deste projeto acessando AQUI

domingo, 21 de junho de 2020

ASSOCIAÇÃO NO NOVA MARILIA MANTEM PROJETOS SOCIAIS, APESAR DA CRISE.


Por Célia Ribeiro

Em quase três décadas, um dos mais importantes projetos de geração de renda da zona sul, a Lavanderia Comunitária do Núcleo Habitacional Nova Marília, passou por poucas e boas. Foram inúmeros desafios desde sua criação pela saudosa Irmã Dilma que sonhou em ver as mulheres ganharem o sustento de suas famílias com dignidade. No entanto, a pandemia do Covid-19 foi um golpe quase fatal que obrigou a paralisação dos trabalhos por duas semanas e, depois, provocou uma queda de 50 por cento nas atividades.
Lavanderia: queda de 50 por cento no movimento
Segundo a líder comunitária e presidente da Associação do Núcleo Nova Marília, Laudite Ferreira Gaia Vieira, das seis mulheres que participavam do projeto só restam três. “Quem tem mais de 60 anos não pode ficar aqui. Eu, mesma, só venho de quarta-feira para ajudar a fazer o pão. As outras estão em casa”, explicou.

Em média, descontados os custos, elas recebiam um salário mínimo e uma cesta básica, por mês. Atualmente, o valor nem chega a isso porque dos 500 quilos semanais de roupa lavada e passada, o movimento caiu para 250 a 280 quilos. Nos bons tempos, a lavanderia chegou a registrar 700 quilos por semana.
Cida, Sueli, Laudite e Claudete protegidas com máscara
Segundo Laudite Ferreira, “acompanhamos o horário de atendimento definido pela Prefeitura. Elas chegam às 10h e vão embora às 16h, no máximo às 17h. Atendemos com meia porta aberta”. Quem chega é atendido na entrada onde as roupas são pesadas e preenchidos os formulários de controle e, de acordo com a líder comunitária, “todo mundo está protegido com máscaras. Para algumas roupas elas usam luvas também”.
Roupas ao sol na última quarta-feira
Afastadas por estarem na faixa de risco para o Covid-19, as outras três mulheres ficaram sem fonte de renda. “Estão sobrevivendo como Deus sabe”, assinalou a líder comunitária, acrescentando que as que permaneceram no projeto ganham menos de um salário mínimo e não têm mais a cesta básica de outrora.

O horário reduzido complicou a rotina do trabalho. Afinal, quando iniciam a lavagem das roupas, as trabalhadoras precisam seguir todas as etapas até a fase de passar a ferro. Além disso, houve uma queda no número de clientes. De acordo com Laudite Vieira, “nesta quarentena tem muita gente em casa, onde estão lavando as suas roupas. A gente não vê mais muitos clientes que vinham toda semana. Eles desapareceram”.
Laudite é presidente da Associação do Nova Marília
Ela observou que diante do crescimento dos casos do novo coronavírus em Marília, “muita gente está evitando sair de casa e vir aqui para trazer e buscar as roupas. E isso também afetou o nosso serviço”.

MARMITAS

Católica fervorosa, a líder comunitária afirmou que de um jeito ou de outro, muitas famílias estão com dificuldade e que é preciso olhar, também, para quem não tem nada. Por isso, a cozinha da lavanderia comunitária está sendo utilizada por um grupo de voluntários para a produção de 100 marmitas, semanalmente. Elas são doadas aos moradores em situação de rua toda quarta-feira à noite.
Voluntários preparam marmitas para moradores em situação de rua
Perguntada sobre essa ação solidária, Laudite Vieira disse que “não é fácil deixar nossos irmãos de rua sem comida numa época como essa”. Ela contou que arroz, feijão, massas, legumes, verduras e carnes são doados pela comunidade: “Nós pedimos verduras no Ceagesp e também para nossos amigos nos ajudarem. Graças a Deus, estamos conseguimos fazer 100 marmitas, e às vezes, até mais, toda quarta-feira”, assinalou.
100 marmitas
toda quarta-feira

Além da comida quentinha e bem temperada, os voluntários entregam máscaras para as pessoas em situação de rua “para que também estejam protegidos. Nós pedimos e algumas pessoas estão fazendo máscaras para doarmos junto com as marmitas”, finalizou.

Quem quiser colaborar com essa ação, iniciada há três meses, pode entrar em contato pelo telefone (14) 34176928. A lavanderia Comunitária está localizada à Rua Nair Rosilio Gutierrez, 65, em frente à Paróquia de Santa Rita, no Núcleo Nova Marília.

* Reportagem publicada na edição de 21.06.2020 do Jornal da Manhã

Leia reportagens anteriores sobre a lavanderia comunitária acessando AQUI, AQUI e AQUI

domingo, 14 de junho de 2020

ONG “AMOR DE MÃE” TENTA SE MANTER COM VENDA DE BOLOS E TORTAS POR TELEFONE.

Por Célia Ribeiro

Localizada em uma ampla área arborizada na zona oeste, a “Associação Amor de Mãe” trocou o barulho alegre de quase 400 crianças e adolescentes que atendia, antes da pandemia, pelo silêncio de preocupação diante do futuro incerto. Impossibilitada de realizar os tradicionais eventos de geração de renda, como bingos e jantares, a instituição focou na panificação e confeitaria com venda por telefone.
Produção da panificadora é importante fonte de renda
A panificadora da ONG, construída e equipada pelo Tauste Ação Social, agora é uma das mais importantes fontes de recursos. No início de cada semana, é divulgada a lista de produtos que devem ser encomendados para entrega no sábado: biscoitos, pães, pudins, tortas doces e salgadas, bolos, incluindo os de pote e de aniversário, entre outros.

Devido à boa qualidade e preços acessíveis, como as tortas de limão e maracujá a 15 reais e tortas de frango a partir de 20 reais, a produção tem atraído os compradores, como explicou a presidente Tammy Regina Grippa. Com divulgação pelas redes sociais e WhatsApp, os itens são reservados pelo telefone (14) 991688652.

Torta de morango é muito pedida
Conforme registrado pelo JM em reportagem no começo do ano, a “Amor de Mãe” foi uma das entidades mais afetadas pela quarentena porque já tinha programado vários eventos para arrecadação de recursos. Segundo a presidente, dos 20 funcionários contratados, apenas dois continuam trabalhando e os demais tiveram os contratos de trabalho suspensos. Por isso, quem tem ajudado na panificadora são voluntárias e membros da diretoria.

A ONG mantém o atendimento às famílias mais vulneráveis com a doação de cestas básicas e cerca de 120 crianças do ensino fundamental estão recebendo material para desenvolverem atividades educativas em casa, como lápis de cor e palavras cruzadas com o tema do novo coronavírus.

Torta prestígio no pote custa cinco reais
Por outro lado, os demais atendidos que participavam de atividades culturais e esportivas no contra turno escolar, como balé, canto coral, violão, flauta doce, balé, jazz, judô, basquete e futebol, não puderam ser contemplados. Antes da pandemia, os alunos do ensino fundamental também recebiam reforço escolar e acompanhamento de tarefas.
Tammy, presidente da ONG
DOAÇÃO

De acordo com Tammy Grippa, como os preços dos produtos ofertados são bem acessíveis, a margem de lucro é pequena. No entanto, tem sido muito importante para custear as guias de pagamento de impostos como o FGTS dos colaboradores, bem como aquisição de cestas básicas doadas às famílias mais necessitadas.
Almoço das crianças antes da pandemia
A presidente disse que a comunidade pode colaborar doando matéria prima para a panificadora, como açúcar, farinha de trigo, leite etc. Para saber o que doar ou reservar os produtos que são entregues todo sábado, o telefone de contato é (14) 991688652. O endereço é: Rua João Francisco Nascimento, 320, perto do Residencial San Remo, no Jardim Califórnia. Saiba mais sobre a ONG acessando: http://amordemae.org.br/

*Reportagem publicada na edição de 14.06.2020 do Jornal da Manhã

domingo, 7 de junho de 2020

IDOSOS SENTEM FALTA DE CONTATO SOCIAL NOS ASILOS DURANTE A QUARENTENA.


Por Célia Ribeiro

As animadas tardes de bingo, as atividades recreativas organizadas por voluntários e até mesmo os passeios em grupo ficaram no passado para os idosos abrigados nos asilos de Marília. Integrantes do grupo de risco para o novo coronavírus, eles estão isolados sem receberem visitas. Além disso, a programação das entidades precisou ser suspensa até segunda ordem, o que foi apontado como um dos principais impactos negativos da quarentena.
Passeios, como esse para comer pastel perto do Lar, estão suspensos.
O diretor tesoureiro do Lar São Vicente de Paulo, Idiley Pereira, comentou que os idosos estão sendo tratados da melhor maneira, com alimentação balanceada e recebendo todos os cuidados necessários. No entanto, como a maior parte deles não costumava receber familiares na entidade, o contato social era mais com voluntários, como os vicentinos, além de outras pessoas que se dispunham a, pelo menos, duas vezes por semana, desenvolverem algum tipo de atividade no local.
Salão da Mansão durante festividade
Sem permissão de contato, exceto com os profissionais que trabalham diretamente com eles, os idosos estão sentindo muito essa fase. “Temos 51 idosos, mas nossa capacidade é para 70. Com a pandemia, tem portaria que nos proíbe de receber mais”, explicou o diretor, acrescentando que também sente falta do contato diário com os idosos já que não pode mais entrar na área interna e cumprimentar um a um como fazia anteriormente.
Manicure voluntária atende idosa no Lar São Vicente
DOAÇÕES

O tesoureiro disse que o Lar São Vicente de Paulo registrou uma queda nas doações recebidas. Ele comentou que, com a crise econômica provocada pela pandemia, muitas doações estão indo direto para as famílias, “porque o povo brasileiro é caridoso”, acrescentando que “ficamos um pouco esquecidos. A gente recebia muita coisa e hoje estou tendo que entrar em contato para receber doações. Graças a Deus, em todos os contatos estamos sendo atendidos”.
A ONG Amigos do Bar durante doação de fraldas ao Lar São Vicente.
O grupo iniciou campanha para atender os três asilos da cidade.
Sobre as maiores necessidades, Idiley Pereira informou que a instituição aceita todo tipo de doação, desde alimentos não perecíveis, além de legumes, verduras, frutas e carnes até produtos de higiene e limpeza. As fraldas geriátricas também são muito necessárias: mensalmente, são utilizadas 4.500 fraldas G e GG na entidade.

Passeio na Fazendinha promovido pela ONG Amigos do Bar
Ele afirmou que quando a quarentena acabar, espera receber mais voluntários para colaborarem com as áreas da saúde (fisioterapia e psicologia) e beleza, como manicures e cabelereiras. Hoje, o Lar mantém contratada apenas uma fisioterapeuta. Um barbeiro voluntário visita o Lar uma vez por semana para fazer a barba e os cortes de cabelo masculinos e uma cabeleireira, mensalmente, atendia as mulheres “que faziam fila”.
Luvas e máscara no contato com idosos no Lar São Vicente
Por fim, ele observou que enquanto o isolamento social permanecer, serão bem-vindas doações que enriqueçam as refeições cujos cardápios são elaborados por uma nutricionista. Na parte de carne bovina, são usados cortes para panela e moída, mas o diretor disse que seria muito bom, algum dia, contar com carne de primeira para fazer bifes acebolados ou à milanesa além de frangos assados em máquina que são muito apreciados pelos idosos. O Lar São Vicente de Paulo está localizado à Avenida Vicente Ferreira, 728, com telefone (14) 34331811.

MANSÃO ISMAEL

A presidente da Fundação Mansão Ismael, Maria Elisa da Silva, informou que estão abrigados 70 idosos no local e, a exemplo do Lar São Vicente, foram adotadas medidas rigorosas para prevenir o contágio da COVID-19. “Felizmente, não tivemos nenhum caso”, assinalou, acrescentando que os idosos estão ansiosos pela volta à normalidade: “Eles assistem na TV sobre a abertura do comércio, por exemplo, e já querem saber porque têm que ficar isolados”, comentou.
Mansão Ismael abriga 70 idosos
Não está permitida a entrada de ninguém exceto os colaboradores da entidade e os voluntários e outras pessoas da comunidade têm deixando suas doações na portaria, como bolos e salgadinhos para as comemorações de aniversário. Conforme disse, quanto à manutenção, houve um bom reforço com doações de refeições pelo SESI e a instituição tem conseguido se manter.

No entanto, afirmou que quem quiser colaborar, além de fraldas geriátricas G e GG, pode doar artigos como roupas em bom estado para o Bazar da Pechinha cuja renda ajuda a manter a entidade. A Mansão Ismael está localizada à Rua Paes Leme, 110 e telefone (14) 34335213.

(Fotos: Redes Sociais)

* Reportagem publicada na edição de 07.06.2020 do Jornal da Manha