domingo, 31 de março de 2019

COM DÉFICIT ANUAL DE 750 MIL, APAE CONTA PARCEIROS E A SOLIDARIEDADE DA POPULAÇÃO.


Por Célia Ribeiro

À primeira vista, as diversas edificações impressionam pelo porte do conjunto arquitetônico e pela limpeza e organização evidenciando o zelo com o lugar. Exibindo números superlativos, como a imponente quadra poliesportiva no centro da área de 17 mil metros quadrados, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) trava uma batalha diária para zerar o déficit anual de quase 750 mil reais contando com a solidariedade da população.
Atividade regular para alunos da rede pública
 Muito além da educação formal, destinada aos alunos das redes municipal e estadual de ensino, a entidade é o porto seguro de crianças, jovens e adultos portadores de deficiências física e intelectual de média e alta complexidades. É um trabalho de fôlego que tem o reconhecimento público, via subvenções das três esferas (Município, Estado e Governo Federal), mas que não resistiria sem o trabalho voluntário e a generosidade da comunidade.
Mara e Marcos Carchedi: dedicação

Quem explica é o presidente, coronel Marcos Carchedi, ex-comandante do Corpo de Bombeiros. Ao lado esposa, Mara Carchedi, ele fala com indisfarçável orgulho sobre a instituição que completará 51 anos em maio. “A gente não faria nada sem os voluntários. Eles são muito importantes para nós. Desde as senhorinhas do artesanato, até quem doa roupas e calçados para nosso brechó, tudo é bem-vindo. Esse dinheiro ajuda a complementar nossos gastos. A APAE movimenta três milhões de reais por ano. A maior parte vem do governo, mas temos um déficit de quase 750 mil reais”, destacou.

Conforme disse, “temos que correr atrás de 700 a750 mil reais, todo ano. Temos o telemarketing que cobre 50 por cento do valor necessário através de contribuintes de Marília e região. O restante vem da Feira da Bondade, da Festa Junina e da Costelada”. São eventos que levam um grande público e só acontecem pelo envolvimento do voluntariado, dos clubes de serviço e de várias empresas parceiras, entre as quais o Tauste.
Atendimento individualizado 
Outra fonte de renda são os bazares de artesanato realizados em maio e dezembro: às quartas-feiras, no período da tarde, voluntárias se reúnem na APAE para produzirem as peças. Segundo Mara Carchedi, “temos senhorinhas que são voluntárias há quase 50 anos. Infelizmente, hoje em dia quase ninguém quer aprender artesanato, bordado e ponto-cruz. A gente está com uma dificuldade muito grande”.
Saúde: suporte a quem necessita
Ela afirmou que a APAE está de braços abertos para receber novas voluntárias que já fazem artesanato ou desejam se aprimorar: “Precisamos pegar esse pessoal de fora, colocar nesta sala junto com as senhorinhas na APAE. Aqui tem o cafezinho, o chazinho e o bate-papo. É uma terapia para elas. Levam o trabalho como lição de casa e trazem pronto na semana seguinte”. A novidade, em breve, será uma voluntária que ensinará tricô para o grupo: “Vamos fazer casaquinhos de bebê. Estamos tentando dar uma impulsionada nesta área”, frisou Mara Carchedi.
Atividades na horta
Os bazares de artesanato da APAE fazem sucesso e são uma importante fonte de renda. No evento de dezembro do ano passado o balanço registrou 12 mil reais líquidos. Em maio, no período de 26 a 28, no Esmeralda Shopping, acontecerá um bazar em homenagem ao mês das mães e a expectativa é de repetir o êxito dos anteriores pela qualidade dos trabalhos com preços acessíveis.

COSTELADA

Evento de 2018: os  pratos podem ser levados pra casa após o almoço
O principal evento da APAE, que já virou tradição, é a Festa da Costela no Chão. Em 2019, a quinta edição acontecerá no dia 05 de maio. Com 1.000 convites colocados à venda a 40 reais, a disputa é tão grande que algumas semanas antes costumam esgotar. Afinal, além da costela preparada por uma equipe de profissionais ligados à APAE de Assis, são servidos vários acompanhamentos (saladas, arroz,farofa,  feijão gordo, mandioca etc) a cargo dos voluntários de clubes de serviço e de ONGs como o “Amigos do Bar”.
Costelada reune 1.000 pessoas na APAE

Os convites começaram a ser vendidos nesta semana e podem ser encontrados nos seguintes locais: Posto Esmeralda, Café São Bento, APAE e com voluntários. Informações: (14) 34021400. E quem participa do almoço pode levar o prato para casa.

TRABALHO

O presidente da APAE explicou que várias empresas contribuem com a Costelada e seus nomes são impressos nos pratos utilizados no almoço. “É um evento grande, que dá trabalho e envolve muita gente. Com o que arrecadamos, damos uma parte para a APAE de Assis que envia a equipe que prepara a carne, chegando de madrugada em Marília. Esse dinheiro nos ajuda a cobrir o déficit e manter o atendimento aos nossos atendidos”, assinalou.
Aula de informática na entidade
Marcos Carchedi observou que “como temos um prédio com quase 7.000 metros quadrados de área construída e, neste ano, completa 51 anos, para nós fica muito difícil a manutenção. Não temos recursos para isso. Os recursos oferecidos pelos governos federal, estadual e municipal são para pagar funcionários e professores e comprar material para a escola”.

Atualmente, a APAE tem 120 funcionários “para cuidar de 400 atendidos, todos os dias. São 210 alunos da escola regular pública municipal e estadual, 153 da assistência social e mais de 70 na área da saúde”, acrescentou. Ele destacou que além dos eventos tradicionais, são agendados outros extras, como um Festival de Prêmios, a fim de arrecadar mais recursos que serão utilizados “em melhorias na área dedicada à Assistência Social, como na reforma dos banheiros e proporcionar um pouco mais de acessibilidade para nossos atendidos. Por isso, as doações de todos os tipos são bem vindas”.
Apresentação da fanfarra: evolução 
E por falar em manutenção, apesar da grande área, a entidade tem 40 pessoas na fila de espera. O presidente explicou que não há verba para contratar mais profissionais: “A APAE atende a deficiência física e intelectual média e grave. Atende Marília e região na área da saúde. Alguns atendidos necessitam se alimentar por sondas gástricas e aí entra a saúde para fazer esse tipo de serviço. Os atendimentos de média e alta complexidade para deficiência física e intelectual são para pessoas com bastante necessidades especiais”.
Apresentação de capoeira no Marilia Shopping: emoção
Neste sentido, afirmou que “fisicamente podemos ter espaço, mas operacionalmente não tem. A gente precisa de pessoas para cuidar e pessoas para ensinar. Estamos empenhamos em melhorar a aparência da APAE. Queremos que fique mais apresentável em termos de escola, que pareça um lugar de prazer que a pessoa tenha vontade de vir aqui. Esse é um grande desafio”.

Mara Carchedi observou que “muita gente pensa que a APAE atende criança com Síndrome de Down. Mas, são pouquíssimos os atendimentos, menos de 10”. Ela acrescentou que “um professor não pode cuidar mais de 04 a 06 alunos. Na parte da educação temos atendidos de 03 até 29,5 anos. Após essa idade passa para a assistência social”. A entidade não tem limite de idade assistindo até a velhice as pessoas com deficiências física e intelectual.
Atividades esportivas na quadra externa
Marcos Carchedi se emocionou ao falar sobre os avanços que o atendimento da APAE proporciona. Do trabalho na horta, às aulas de informática, às apresentações de instrumentos musicais na fanfarra, passando pelos esportes, cada pequeno avanço é muito celebrado: “Imagine quando vimos uma apresentação de capoeira. Todo mundo chorou. É muito emocionante ver o resultado desse trabalho”.

HISTÓRIA

Criada em 11 de maio de 1968 com o objetivo de promover a prevenção e a inclusão da pessoa com deficiência intelectual e/ou múltiplas deficiências e transtornos globais de desenvolvimento,  a APAE está localizada à Rua Raul Torres, 70, Fragata C em Marília. www.apaemarilia.org.br

 Crédito das fotos: Arquivo APAE

Reportagem publicada na edição de 31.06.2019 do Jornal da Manhã

sábado, 23 de março de 2019

ONG “AMOR DE MÃE” APOSTA NA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA GERAR RENDA.

Por Célia Ribeiro

O amor está no nome e em toda lágrima derramada diante dos obstáculos a superar. Ano após ano, uma instituição filantrópica, localizada na zona oeste de Marília, ensina que a perseverança sempre é recompensada: a cada barreira, a ONG se levanta mais forte e experiente para enfrentar novos desafios.
Estagiária da FATEC auxilia na Cafeteria

Fundada em 2007, a Associação “Amor de Mãe” conquistou uma sólida reputação pela seriedade dos serviços prestados. Ela assiste 350 crianças e adolescentes, sendo que 90 deles, além de participarem dos projetos culturais e esportivos, recebem suporte educacional e fazem as refeições (café da manhã, almoço e café da tarde) no local.

À frente da entidade, a presidente Tammy Regina Grippa é uma otimista incorrigível que acredita na providência divina quando tudo parece estar perdido. Em 12 anos de funcionamento, a ONG passou por várias fases. Concebida para assistir crianças em situação de vulnerabilidade social e suas mães, através de um projeto profissionalizante, a entidade tem um histórico de muitas batalhas.
No fundo do terreno está a padaria: geração de renda
Já foram promovidos incontáveis cursos e oficinas para capacitar as mulheres do Jardim Califórnia e Comunidade do Argolo Ferrão a terem uma atividade lucrativa. A panificação foi uma delas: com os primeiros equipamentos recebidos através de emenda do deputado estadual Vinicius Camarinha, a entidade produzia pães e roscas cuja renda era dividida entre as mães participantes e a aquisição de matéria prima.

Tauste Ação social doou a construção e equipamentos da nova panificadora
“Com o tempo, vimos que não dava mais certo. As mães levavam os pães para vender sendo que 50 por cento do valor ficavam para elas e 50 por cento deveriam ser devolvidos para comprarmos a matéria prima e continuarmos a produzir. Mas, uma falhou em uma semana, na semana seguinte uma mãe disse que precisou do dinheiro para comprar gás e assim por diante. No fim, elas nem apareciam e perdemos duas vezes: o dinheiro do material e a participação das mães”, contou Tammy desolada.
Daniela (Esq.) e Tammy: história de superação
Com a mudança da padaria para um prédio construído e equipado pelo Tauste Ação Social, a presidente viu a oportunidade de transformar a panificação em um negócio que gerasse lucro para ajudar no sustento da ONG. Optou-se pela contratação, com carteira assinada, de dois profissionais: Luis Carlos Marques (padeiro e confeiteiro) e Daniela Aparecida de Oliveira, uma das mães voluntárias que participa desde o início da instituição.

NOVO NEGÓCIO

No fundo da sede da “Amor de Mãe”, na rua Miguel Pastori, 180, foi montada uma cafeteria anexa à padaria. Lá, podem ser encontrados diversos produtos como: biscoito de polvilho, biscoito mineiro, samanta, pães, roscas, amanteigados, rosca de pinga, bisnaguinha, sonho, bolo, rocambole, ferradura etc. Através do telefone (14) 33014417, também aceita encomenda de salgados assados (esfirra, enroladinhos de frios e de calabresa, mini-pizzas, mini-croisant etc).
No início, a produção de pães era mais simples. 
Para ajudar na organização, a Cafeteria conta com a estagiária do curso de Gestão Empresarial da FATEC, Meire de Almeida Lima. Da organização do local, passando pelo RH, marketing e atendimento, ela iniciou um trabalho de fôlego para transformar o pequeno negócio da entidade e até recrutou o esposo, que trabalha com Tecnologia da Informação, para criar um programa a fim de informatizar o setor.

Quanto à funcionária Daniela Oliveira, é um exemplo de como uma oportunidade bem aproveitada pode transformar vidas: “Quando comecei, estava fazendo curso de panificação e minha irmã fazia curso de costura. Depois, saí e trabalhei fora dois anos e quando voltei tive um bebê, que hoje está no sexto ano e sempre ficou na entidade”, contou.
Aula de violão é muito procurada
Orgulhosa de como melhorou de vida, ela completou: “Antes, eu morava na comunidade. Agora, consegui comprar minha casa, tenho meu carro, casei com um homem bom e trabalhador e tenho mais um filho, que vai fazer um ano”, revelou ao lado de Tammy, que acompanhou o depoimento com um sorriso vitorioso.

PARCERIAS

A ONG “Amor de Mãe” é mantida com doações da comunidade, uma pequena subvenção da Assistência Social do município, parcerias e promoção de eventos (bingos, jantares, almoços, bazares, venda de pizza etc), além do modesto lucro da padaria e cafeteria. Para os projetos, tanto culturais, quanto educacionais e esportivos, Tammy procura participar dos concursos e chamamentos públicos oficiais.
A sala de balé antes dos temporais

Entidade precisa de ajuda para recuperar o piso
E por falar em geração de renda, nenhuma oportunidade é desperdiçada: a empresa Sorvemix enviou um técnico para ensinar a equipe da padaria a produzir ovos de chocolate. Em breve será divulgada a lista de produtos (tamanho e opções de recheio) e preços para os ovos de Páscoa que poderão ser encomendados com antecedência.
Ovos de Páscoa: entidade receberá encomendas
A “Amor de Mãe” oferece  aulas de informática e inglês, oficinas culturais (Canto Coral, violão, flauta doce e iniciação musical, ballet e jazz) e esportivas (judô, basquete e em breve futebol), mantidas com recursos de projetos inscritos junto ao Governo do Estado (abatimento de ICMS por grandes empresas), além das oficinas de Literatura e de Artes Plásticas patrocinadas pela Coca-Cola/Femsa.

Crianças e adolescentes durante almoço nesta semana
“Quando parar de chover, vamos mudar a horta de lugar e construir um campo de futebol. Queremos iniciar o futebol para atrair os meninos que ficam pela rua, que estão muito vulneráveis e que o esporte pode trazer aqui para dentro”, explicou a presidente, agradecendo o trabalho voluntário que permite a oferta de tantas atividades diferentes.
Dona Marluci na sala de costura: profissionalização
“Temos uma parceria com a UNESP, nas áreas de fonoaudiologia e terapia ocupacional, recentemente recebemos um voluntário que está dando aula de inglês e vai começar uma voluntária especialista na área financeira. Ela vai nos ajudar a levantar nossos custos para que a gente saiba quanto custa manter cada criança e quanto ainda falta de dinheiro para fecharmos as contas, antes do fim do mês”, assinalou.

Espaço para estudo da literatura
Afirmando que “essa não é uma obra nossa, mas de Deus, e que quando não estivermos mais aqui, alguém vai dar continuidade”, Tammy Grippa falou dos planos para o futuro: “Conseguimos a construção do novo prédio para a sala de costura. E, como ganhamos da Fundação Bradesco materiais completos de cabeleireiro e manicure, vamos usar esse espaço para mais cursos profissionalizantes”.
Tammy e os produtos que ajudam a manter a ONG
Ao lado da mãe, Marluci da Silva Gripa, com quem fundou a ONG, em continuidade ao trabalho que realizavam na Pastoral da Criança da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Tammy mostrou que o pessimismo não consta do seu dicionário: “Temos muito que fazer e melhorar. Mas, graças a Deus, aos poucos vão chegando voluntários, parceiros e ajuda de onde menos se espera. A gente está sempre correndo atrás e Deus está cuidando”.

A ONG localiza-se à Rua João Francisco Nascimento, 320, próximo ao Condomínio San Remo, no Jardim Califórnia. Tel. (14) 3422.5525 Mais sobre a entidade: www.amordemae.org.br 

* Reportagem publicada na edição de 24.03.2019 do Jornal da Manhã

AÇÃO SOCIAL EM PROL DA ACC


O Centro de Treinamento Império está arrecadando, até o dia 05 de abril, materiais de limpeza em prol da ACC (Associação de Combate ao Câncer de Marília). As doações devem ser entregues na Rua Araraquara, 193: sabonete líquido, detergente, sabão em pó, álcool, água sanitária e desinfetante.
A cada doação será entregue um cupom para concorrer a vários prêmios: 01 Sessão de Drenagem e 01 Sessão de Massagem Modeladora (Thainá Leite Estética); 01 Tatoo no valor de R$200,00 (TATOO VENEGAS), 01 mês de Treino Grátis  (CT IMPERIO), 01 Corte de Cabelo Masculino (DEGRA ARTE BARBEARIA) e 01 Sessão de Quiropraxia (Felipe Tirolla /Fisioterapeuta).


sábado, 16 de março de 2019

DO FUTEBOL À FILANTROPIA: OS 50 ANOS DO “CIRCO” QUE FAZ O BEM A QUEM PRECISA.

Por Célia Ribeiro

Em uma linha do tempo, 50 anos de lembranças separam o aposentado Antonio Idevalder Costa do gramado do “Circo” onde, no último domingo (10), foram reiniciadas as atividades esportivas de 2019. Patrimônio de Marília, fundado por Valdyr Cezar e esposa Marina Betti Cezar em 1.969, o lugar pode ser resumido em duas palavras: respeito e amizade. Sob o manto de um rígido código de conduta, o “Circo” é formado por quase 100 associados que se reúnem para disputar animadas partidas de futebol society, além de promover eventos beneficentes e culturais como os tradicionais desfile e baile de carnaval.
Aos 92 anos, Sr. Idevalder acompanha a benção no campo
Para documentar um dia no “Circo”, a reportagem precisou madrugar. O horário limite para a entrada dos frequentadores é às 7h50. Muito antes chegam os escalados para a tesouraria (a contribuição mensal é de 120 reais), para o preparo do café da manhã (à base de pão, manteiga, frios generosos e café), e organização da tabela dos inscritos para as partidas do dia.
Café da manhã no capricho
Uma curiosidade contada por José Luiz Carvalho, o Zé Vó, dá a dimensão do clima divertido: “Os times são divididos por faixa. Tem os goleiros,os laterais, todas as posições, e tem os teimosinhos: para quem passou de 60 anos ou pesa mais de 100 quilos”, disse entre gargalhadas. E explicou o apelido dos mais experientes: “Quando alguém pergunta do que eu jogo, falo que jogo de teimoso. Por isso, somos os teimosinhos”.
Teimosinhos: categoria especial para quem não desistiu de jogar
BENÇÃO ESPECIAL

Três dias após o “Circo” completar 50 anos de fundação, a ideia era realizar uma missa ao ar livre, no domingo, reunindo os frequentadores e familiares. No entanto, o tempo instável assustou, segundo o fundador Valdyr Cezar, que reside na propriedade. Apesar das nuvens ameaçadoras, não diminuiu o entusiasmo do grupo que se reuniu na famosa roda, em que são tratados todos os assuntos pendentes, incluindo alguma desavença em que os envolvidos têm que se acertar. Manter o ambiente de amizade é essencial para eles.
Amizade e descontração: antes dos jogos, todos se encontram na roda.

Valdyr e Dona Marina
O momento é um misto de cerimônia e descontração. Palavras de agradecimento ditas pelo atual presidente do “Circo”, José Ribamar Motta Teixeira Junior, cujo pai jogou até quase os 80 anos, foram entremeadas de brincadeiras, sempre respeitosas. O lugar é um ambiente estritamente familiar, como faz questão de destacar Valdyr Cezar: “Aqui não se anda sem camisa. Para sentar à mesa e almoçar, depois do jogo, tem que tomar banho”, exemplificou, citando que “temos um código de conduta rígido”.

Uma coisa que chama a atenção é a presença de muitos pais acompanhados por filhos e netos: as crianças vão pequenas ver os pais jogarem e quando chegam a uma certa idade também querem participar. E, assim, o “Circo” vai se perpetuando abastecido com a energia das novas gerações.
Os times são formados logo cedo
Como não houve a missa, o Padre Carlão (irmão do ministro do STF Dias Tóffoli), na condição de orientador espiritual do “Circo”, foi para o centro da roda dar uma benção especial. Do lado de fora, apoiado no alambrado e no andador que o ajuda nesta fase de mobilidade reduzida, o veterano Antonio Idevalder Costa fez questão de acompanhar tudo, rezando com fervor o “Pai Nosso”.
Valdyr recepcionou Sr. Idevalder e o Dito Bola. Ao fundo, Zé Vó.
Além dele, que ingressou no grupo quando a chácara já tinha nove meses de funcionamento, esteve presente o Dito Bola (Benedito Sebastião de Oliveira) que junto com João de Almeida e Martinho Ferreira são co-fundadores do “Circo”. O nome, aliás, foi ideia de Valdyr Cezar quando adquiriu a propriedade inspirado nas apresentações mambembes de artistas da Capital quando vinham a Marília.
O conhecido Sato preparou deliciosas caipirinhas de aperitivo
BAGUNÇA SÓ DO CIRCO

Aos 92 anos, o Senhor Idevalder lembra com saudade como tudo começou: “A gente se reunia aos domingos para jogar uma bolinha e depois fazíamos uma vaquinha para comprar o que comer e beber. Com o tempo, isso foi aumentando e joguei até os 65 anos, continuando a participar depois. Hoje, venho aqui só para as confraternizações”.
Padre Carlão no centro da roda: benção especial

Apontado como um dos idealizadores do código de conduta, o aposentado fala com orgulho sobre a trajetória de meio século do “Circo”, frisando o papel do fundador: “O que o Valdyr formou aqui é um negócio indescritível. Não é fácil manter uma reunião de tantas pessoas tão diferentes, com essa amizade. As normas são rigorosas. Mas, têm que ser porque senão vira bagunça. E de bagunça, só vale a ‘Bagunça do Circo’”, assinalou em alusão ao carnaval.
Vestido de mulher,  grupo se divertiu na "Bagunça do Circo"
E por falar em carnaval, Valdyr Cezar lembrou sobre o início do desfile de rua que arrasta milhares de pessoas no sábado anterior ao carnaval e que chegou ao 19º ano. “As coisas foram apertando com as dificuldades do nosso povo. Acabou o carnaval de rua e entramos com a Bagunça. Quem falava que não podia comprar fantasia, eu dizia: Você tem mãe, irmã, namorada, esposa. Pega uma roupa delas’.” E assim, ano após ano, os integrantes do “Circo” se fantasiam de mulher levando alegria no cortejo animado por trio elétrico pelas ruas principais de Marília.
O baile atraiu milhares de foliões (Foto: Arquivo do Circo)
O tradicional baile, com as marchinhas de carnaval, é outro evento marcante. Ele fez renascer os bailes da cidade que tinham desaparecido. Neste ano, em comemoração aos 50 anos, a decoração caprichada foi só um detalhe: venda recorde de mesas e ingressos em um ambiente frequentado por pessoas de todas as idades e muitas famílias, como é o espírito do grupo.
Cada semana um grupo se encarrega dos comes e bebes
Cada domingo tem um cardápio e uma equipe diferente na cozinha
AÇÃO SOCIAL

Valdyr Cezar explicou que o “Circo” não deixa entrar política e que preza pela harmonia entre seus membros que, além do esporte e do carnaval, desenvolvem importantes ações sociais que beneficiam instituições filantrópicas da cidade. “Há 30 anos ajudamos a APAE”, assinalou o fundador, acrescentando que, nos últimos anos, com a organização de um almoço para 1500 pessoas, foi possível ajudar 15 entidades que recebem os ingressos (50 reais) para venda. Toda renda fica com as instituições e os membros do Circo trabalham duro tanto na organização quanto na realização do almoço que já se tornou tradicional.
Ribamar Junior (presidente) e Valdyr Cezar (fundador)
“O homem lá de cima disse que estava sempre nos protegendo. Então, devemos fazer alguma coisa boa para os outros”, afirmou Valdyr Cezar que, mesmo após o falecimento da grande dama do Circo e companheira Marina Cezar, deu prosseguimento à sua obra. Assim, ao longo do ano, várias instituições são auxiliadas, seja com fraldas, remédios, alimentos etc.

Ele contou que, há muitos anos, o “Circo” promove um almoço no Asilo São Vicente de Paulo na época do Natal e que, sempre que alguma instituição necessita, mesmo sem fonte de recursos, o “Circo” reúne seus membros e discute uma maneira de ajudar.

Integrantes do Circo no almoço beneficente de 2018 (Foto Will Rocha)
Como nem tudo é trabalho, o grupo se confraterniza em dezembro, ao fim do campeonato e, em junho, promove o Jantar Dançante pelo “Dia dos Namorados” quando é proibido ir sozinho, brinca Valdyr, lembrando que é uma oportunidade de confraternização dos integrantes que podem levar esposas, noivas, namoradas e familiares.

Os filhos foram escolhidos patronos

Sob inspiração da memória de Marina Betti Cezar, os filhos Cesar Augusto Cezar e Alessandro Carlo Cezar foram eleitos “Patronos de 2019”. Em meio aos troféus e centenas de fotos, um banner com os homenageados vestidos de palhaço ocupa lugar de destaque na área de convivência. A imagem colorida lembra que, sob a cobertura do “Circo”, o esporte, a cultura e, principalmente, a solidariedade servem de liga para aproximar, cada vez mais, seus integrantes.

*Reportagem publicada na edição de 17.03.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 10 de março de 2019

NO CLUBE DO BORDADO, A IMAGINAÇÃO É COMPANHEIRA DE LINHAS E AGULHAS.

Por Célia Ribeiro

A jovem cosmopolita aproveita a liquidação em Nova York, enquanto a garotinha de chapéu enfeitado atrai a atenção de uma borboleta colhendo flores perfumadas no jardim. Em comum, ambas saltaram da imaginação mergulhando em tecidos de algodão, devidamente fixados em bastidores, onde agulhas envoltas em fios coloridos executam movimentos ritmados dando forma às personagens.
A menina e a borboleta
A artesã por trás dessas criações é a agente de viagens aposentada, Nelice Rojo, mais conhecida por seus trabalhos voluntários em entidades filantrópicas, como a ACC (Associação de Combate ao Câncer de Marília). Naturalmente, sem muito planejar, ela criou o “Clube do Bordado” no Espaço Pitanga onde um grupo de mulheres se reúne para bordar, uma vez por semana. E, como explica Nelice, “nem é preciso saber. Basta ter vontade de fazer”.

Na semana em que se comemora o “Dia Internacional da Mulher”, 08 de março, falar do Clube do Bordado remete a algumas características do sexo feminino, como a vontade de aprender coisas novas, a determinação e a persistência. No caso do bordado, são vários os motivos que levam ao clubinho: desde recém-aposentadas que querem aproveitar o tempo livre; mães e avós que gostariam de presentear os familiares e amigos com seus trabalhos; até as que veem no artesanato uma forma de afastar a depressão.

CAFÉ COM RISADA

Localizado na Rua Amazonas, 397, o Espaço Pitanga se consolidou como um ponto de encontro da arte. No ano passado, foram promovidos o “Arraiá Feito à Mão”, aproveitando as festas juninas, e o “Natal feito à mão”. As duas feiras reuniram dezenas de artesãos e atraíram muitos visitantes. No local, são frequentes as oficinas como a de saboaria que Renata Genta promove, periodicamente, além de disponibilizar venda de produtos à pronta entrega e aceitar encomendas.
Nelice e os bordados em bastidores: miniaturas nos colares à esquerda
Com uma vistosa pitangueira no quintal, o local atrai pelo ambiente alegre e acolhedor. Nas tardes dedicadas aos bordados, tem cafezinho e muita troca de informação. Como explicou Nelice, “algumas chegam preocupadas porque mal sabem passar a linha na agulha. Eu digo que isso não é problema. A gente vai aos poucos fazendo os pontos básicos, os mostruários e quando elas percebem já estão bordando”.
Clube do Bordado: uma tarde dedicada ao artesanato
Aos 70 anos, mãe de três filhos e avó orgulhosa de três netos, Nelice é esposa do arquiteto Laerte Rojo Rosseto e tem um olhar atento às manifestações artísticas. Modestamente, ela conta que nunca soube bordar, mas guardou na memória doces lembranças de sua mãe que, entre outros feitos, encapou e bordou casinhas, montanhas e todo um cenário bucólico em um caderno de recordações que costumava levar na escola, no fim do ano, para professores e colegas deixarem registrados desenhos e mensagens.
Desenhos delicados em tampas de pote e panos de prato

O COMEÇO DE TUDO

“Como voluntária da ACC eu ajudava na cozinha, na venda de convites para os eventos, enfim, no que fosse necessário”, recordou, explicando como se enroscou nos novelos de linha pela primeira vez: “Comecei a bordar por causa da ACC. Eu não sabia nem pregar um botão. A minha mãe nunca deixou a gente costurar porque ela foi escrava da máquina de costura. Na época, só bordavam ponto-cruz e quem fazia e ainda faz isso com perfeição é a Claudine Simões (ex-presidente da entidade). Fui à casa dela que me ensinou e bordei ponto-cruz até enjoar”.
(Esq.) Eneida Genta e Maristela Ursulino no “Arraiá Feito à Mão”
Nelice observou que a técnica exige muita concentração, “não pode nem conversar para não perder um buraquinho. Um dia, me vi em uma cadeira de rodas porque quebrei o pé e comecei a inventar. Foi quando me vieram aqueles bordados da minha mãe, era casinha, montanhinha, laguinho, e na internet começaram a aparecer algumas sugestões que hoje chamam de “Patch Apliquê” (remendo aplicado) que minha mãe já fazia e eu não sabia o nome”, contou rindo.
O bordado em papel ganhou até um galho seco
Curiosa e sem poder se locomover enquanto se recuperava, ela começou a pesquisar e criar os primeiros trabalhos na base da força de vontade. “Descobri depois o papel termocolante que é uma maravilha. Mas, no começo, eu fazia tudo na mão, recortava os tecidos, colocava alfinete, alinhavava e só depois fazia o bordado na peça”.

Trabalhos usados para inspirar
E assim foram surgindo os primeiros trabalhos, dos panos de prato à cartonagem, passando pelos bastidores onde motivos delicados ganham vida e decoram as paredes de diferentes ambientes. Mais recentemente, Nelice começou a bordar em mini-bastidores confeccionando colares com desenhos muito pequenos que chamam a atenção pela delicadeza e capricho.

Sem pressa para iniciar e concluir a peça, ela aproveita mesmo o processo e conta, apontando para um pano de prato: “O bordado já fiz e desmanchei não sei quantas vezes. Vai mudando a cor até chegar onde acho lindo. Vai da pessoa e cada um tem um jeito. Essas flores já foram lilás, já foram cor de rosa e talvez fiquem laranja”, pontuou revelando que a finalização está bem longe.
Nelice Rojo e um de seus trabalhos

Ela destacou que o companheirismo que cerca o grupo, “é uma das melhores coisas. A gente ri, toma cafezinho, conversa de tudo e ajudamos umas às outras. Tem a Eneida Genta, que trabalha com artesanato faz tempo, sabe muito e sempre nos ajuda. É uma troca. Com a turma do ano passado fizemos uma amostra, desenhei e cada uma bordou no seu estilo. E ficou uma lembrança do grupo”.

Finalizando, Nelice disse que cada pessoa tem uma relação diferente com o bordado, mas que seus benefícios são inegáveis: “No meu caso, o bordado foi busca, mesmo. Aquele ponto cruz estava me judiando e eu entediada na cadeira de rodas, quando me ocorreu a visão de minha mãe bordando que, sem saber, era precursora do ‘Patch apliquê’. Se não fosse o bordado eu tinha enlouquecido porque sempre fui de trabalhar muito. Com o Clube do Bordado tenho a oportunidade de passar o que aprendi para outras mulheres” que, dessa forma, podem desenvolver sua criatividade e, à sua moda, colorir como quiserem tudo o que a imaginação conceber.

Informações sobre o Clube do Bordado: (14) 991677514. No dia 12, terça-feira, terá início um novo grupo. Nas redes sociais, acesse: https://pt-br.facebook.com/espacopitanga/


COMO FAZER UM AGULHEIRO 

Com poucos materiais é possível confeccionar um porta-agulhas original. Siga as instruções de  Nelice Rojo:


* Reportagem publicada na edição de 10.03.2019 do Jornal da Manhã