domingo, 30 de outubro de 2022

ARTE DO BEM: ARTESÃS RETOMAM ENCONTROS ONDE CRIAM PEÇAS COM FUNDO SOCIAL

Por Célia Ribeiro

O termômetro passava dos 30 graus na abafada tarde de quarta-feira. Mas, na pequena sala de uma conhecida instituição na zona leste de Marília, um grupo de aposentadas era pura animação. O riso fácil se misturava ao barulho das máquinas de costura e a maior preocupação era localizar a tesourinha que, mesmo amarrada em uma cadeira, se perdeu entre tecidos, rendas e enfeites. Assim aconteceu mais um encontro da “Arte do Bem”, um grupo que se juntou para criar peças cuja renda é revertida a entidades filantrópicas.

Encontro da última quarta-feira

Conforme essa coluna registrou em novembro de 2021, as artesãs têm em comum a vontade de ajudar o próximo. Como também são muito habilidosas, uniram o talento  à articulação do grupo que impulsiona a produção de uma grande variedade de itens que vão de bolsas, necessaires, tapetes, toalhas de mesa, de chá, de lavabo, panos de prato ricamente decorados, aventais, guirlandas, objetos de decoração, entre outros. 

Layress mostra algumas peças natalinas

As artesãs se reúnem todas as quartas-feiras, das 13h30 às 17h30, na Associação Mariliense de Amor Exigente, entidade que apoia famílias de dependentes químicos. Mas, o artesanato que elas produzem gera renda que beneficia outras instituições: “Uma parte do que vendemos é reinvestido na compra de materiais. E a outra destinamos às entidades que realmente precisam. Procuramos saber como podemos ajudar e com a venda dos trabalhos nós contribuímos”, explicou Marli Costa Garrossino. 

As peças têm acabamento impecável

Foi dessa forma, através de bazares e vendas avulsas, que a “Arte do Bem” conseguiu doar 300 lençóis ao Hospital Materno Infantil e 3.000 fraldas geriátricas à Casa do Caminho, por exemplo. Por isso, as voluntárias se empenham muito para confeccionarem trabalhos bem acabados e com muita qualidade que são sempre disputados.

Toalha de lavado com acabamento em crochê

O trabalho nas tardes de quarta-feira é apenas um pretexto para as amigas se reunirem porque, geralmente, elas levam as peças para finalizarem em casa. “Aqui é tudo de bom. Depois de dois anos amargando, em que estivemos praticamente só em três, voltamos a nos reunir. Aqui não se fala de política, de religião, a gente troca receitas, enfim, só amenidades”, observou Layress Milecovich Caixeiro. 

Marli Garrossino

ARTIGOS NATALINOS

Impossível não se encantar com os enfeites de Natal que já estão à pronta entrega. De bolas para árvore, Papai Noel, guirlandas, renas etc, o espírito natalino está presente em tudo: toalhas de chá, passando pelos panos de prato que acompanham colheres de pau, até toalhas de lavabo e aventais, formando conjuntos para presentear. 

Panos de prato acompanham colher de pau

Daffinis Santander, que coordena as voluntárias, disse que no fim do ano elas focam em artigos natalinos. Mas, o ano todo tem peças diversificadas, com destaque para os itens de cozinha e banheiro. Esses produtos estão à venda às quartas-feiras, das 13h30 às 17h30 quando elas se reúnem na entidade, localizada à Rua Maria Angelina Zillo Vanin, 75, travessa quase no fim da Rua Santa Helena.  Mas, também podem ser encomendados no Instagram: @artedobemmarilia ou pelo telefone (14) 9.97354535.

 

Márcia Pallota estava finalizando esta bolsa

No entanto, há uma ótima oportunidade para fazer o bem duplamente: no dia 20 de novembro, acontecerá um almoço da Associação Amor Exigente, na Loja Maçônica Paz, Liberdade e Trabalho (Rua Antônio Molica, 390), no Jardim Maria Izabel. Quem for ao evento poderá adquirir as peças da “Arte do Bem” que  estarão expostas. Os convites estão à venda com os voluntários da ONG. 

Necessarie à pronta entrega

Na última quarta-feira, Márcia Palotta, Daffinis Santander, Marli Garrossino, Luciana Assis, Marli Martinez e Layress Caixeiro estavam a todo vapor entre linhas e aviamentos finalizando alguns trabalhos. Elas citaram outras voluntárias que também participam como Helena Rubira Peres e Valdecir D’Aloia, responsável pelas belíssimas toalhas do grupo. 

Papai Noel espera um novo lar

Mais que compartilhar o gosto pelo artesanato e passar momentos relaxantes entre amigas, elas criam arte que alegrará muitas outras pessoas e canalizarão a energia da solidariedade e do amor que colocam em cada detalhe para ajudar quem mais precisa. Nada melhor que aproveitar o Natal e o espírito de paz tão necessário escolhendo presentear com a “Arte do Bem”. 

Voluntárias em foto do Instagram do grupo

Leia sobre a origem da "Arte do Bem" AQUI

*Reportagem publicada na edição de 30/10/2022 do Jornal da Manhã


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domingo, 23 de outubro de 2022

EM PARCERIA COM UNIVERSIDADE FEDERAL, ASSOCIAÇÃO PESQUISA E PRODUZ ÓLEO DE CANNABIS MEDICINAL EM MARILIA.

Por Célia Ribeiro

Como muitas crianças, Letícia aguardou o dia 12 de outubro com expectativa. No entanto, o triciclo que esperava ganhar não era um simples brinquedo: representava a superação de mais uma luta, entre tantas que vem travando, desde bebê, quando foi diagnosticada com uma das formas mais severas de epilepsia, a Síndrome de Lennox-Gastaut. Para ela, o óleo de Cannabis sativa, produzido em Marília por uma associação, trouxe esperança e qualidade de vida. 

A pesquisadora Nayara e a filha Letícia

Filha da enfermeira Nayara Mazini, que juntamente com Cláudia Marin foi uma das primeiras mães do Brasil a obter habeas corpus para o cultivo domiciliar da Cannabis e a produção artesanal de óleo para fins medicinais, a pequena Lelê é uma guerreira. Aos quatro anos, os médicos lhe deram uma expectativa de, no máximo, mais cinco anos de vida. Entretanto, desde o início do tratamento com a Cannabis, em 2018, as crises convulsivas vêm sendo controladas e Lelê leva uma vida quase normal. 

Planta saudável 

Letícia foi a grande inspiração para Nayara que tornou-se pesquisadora na área e somou esforços com pessoas que também testemunharam os benefícios do tratamento com a Cannabis sativa em familiares. Assim, em 2021 foi constituída a Abracamed (Associação Brasileira de Cannabis Medicinal) com sede campestre em Marília e um polo de desenvolvimento tecnológico e de inovação na capital paulista, que não tem nenhuma relação com outra instituição, a “Maria Flor”.

 EVOLUÇÃO

Em entrevista ao JM nesta semana, três diretores contaram como foi o processo que culminou com a chegada de parceiros importantes como a Universidade Federal de São João Del Rey, de Minas Gerais, responsável pela pesquisa, análise, certificação e controle de qualidade do óleo produzido em Marília. 

Nayara, Dr. Francisco Agostinho (Amor de Criança) e Sérgio

“A gente faz um trabalho multidisciplinar, cada um na sua área. A parte que a Nayara trouxe foi fenomenal e nós complementamos com a tecnologia e os trabalhos sociais pela Associação”, observou o presidente da Abracamed, Sérgio de Lara Biancardi. Conforme disse, “o cultivo e o plantio estão baseados nas autorizações que nós temos. Muitas pessoas nos procuram para terem acesso por um custo mais baixo e que ainda não é tão baixo quanto nós gostaríamos por causa de toda estrutura envolvida”. 

Sérgio (esq) e parte da diretoria da Abracamed

Graças ao plano de trabalho elaborado em parceria com a universidade, a associação está bem estruturada em seu plano de pesquisa científica e soma mais de três mil associados no País desenvolvendo os mais variados tratamentos, em diversas patologias. O controle é rigoroso, frisou o presidente, destacando que “são recolhidos impostos sobre cada frasco doado 100 por cento ou utilizado por pacientes nos tratamentos que acontecem por seu preço de centro de custo com o óleo de Cannabis dispensado”.

 

Controle de qualidade
Ele prosseguiu explicando que “o montante recolhido sobre impostos acontece em sua fonte nos processos de compra , produção,  desenvolvimento de tecnologia e inovação que envolvem profissionais ou terceiros devidamente preparados e ressentidos nos órgãos responsáveis, sendo que até mesmo os 30 por cento da produção, que são doados a quem não pode pagar, também tem sua parte de contribuição fiscal para o governo brasileiro. Isso demonstra o quanto pode se gerar benfeitorias para toda sociedade e pessoas envolvidas dentro dos braços da Associação (ABRACAMED), seus parceiros, profissionais envolvidos, colaboradores e voluntários em suas atuações sociais como instituição, recolhendo tributos para a União e demonstrando o quanto a Cannabis medicinal pode ser boa para o Brasil”.

Nayara Mazini, Diretora Executiva Institucional, informou que a área social da entidade contempla não apenas a gratuidade ou descontos progressivos para pessoas de baixa renda. O suporte é completo, desde o encaminhamento para consulta com médicos parceiros até o acompanhamento do tratamento.

A triagem dos pacientes é realizada por comprovação de hipossuficiência (Cad-Único) e por instituições parceiras como a ACC (Associação de Combate ao Câncer) e Projeto Amor de Criança voltado às crianças com paralisia cerebral. Dessa forma, os pacientes incluídos no Projeto Social da Abracamed são os que, comprovadamente, necessitam de ajuda.

 CONTROLE BIOLÓGICO

 

Óleo somente sob prescrição médica

Uma das fundadoras da Abracamed, a psicóloga e terapeuta holística Berenice de Lara www.floraisdelara.com.br é a Diretora de Pesquisa Científica e quem financiou os primeiros equipamentos da entidade. Referência na área de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, ela revelou que o cuidado com o cultivo da Cannabis em estufas é tamanho que moscas e pulgões são eliminados com a pulverização de florais.

Cuidados na germinação em estufa

Ela explicou o controle biológico frisando que não se utiliza nenhum tipo de defensivo agrícola e nem mesmo fertilizantes químicos. Tudo é feito de modo a preservar ao máximo a qualidade da produção, o que inclui tocar duas horas diárias de música clássica para as plantas.

 

Sede campestre tem completa infraestrutura

A segurança é outro fator destacado pelos diretores: a propriedade rural, cuja localização não pode ser revelada, é monitorada por um complexo sistema de câmeras controlado pela base em São Paulo para evitar furtos tanto das flores da Cannabis quanto do óleo. E por falar nisso, cada frasco é etiquetado seguindo as normas da Anvisa e possui QR-Code para que o paciente e o médico possam acessar as informações sobre o produto. 

Excursão da Abracamed com pesquisadores da
Universidade Federal de São João Del Rey

"Temos o controle de todos os processos, desde a semente, da plantinha que a gente clona, até o óleo que a gente entrega com toda a rastreabilidade, toda a segurança. Temos todos os procedimentos operacionais padronizados. Não entregaria para nossos pacientes associados nada que não daria para a minha filha", assinalou Nayara, para quem "nossa missão é entregar um produto que seja uma ferramente terapêutica na vida daquela pessoa para que ela tenha saúde e qualidade de vida".

 SEMINÁRIO

Nayara Mazini lamentou a dificuldade no acesso às informações sobre a Cannabis no Brasil. Doutoranda, ela tentou publicar artigos em revistas científicas nacionais e, por ser sobre Cannabis, o material nem chegou a ser avaliado. Por isso, o II Seminário sobre Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista, que acontecerá nos dias 25 e 26 de novembro em Marília, será uma grande oportunidade para que toda a população possa ter acesso à ciência.

 

Exemplos como o de Lelê poderão ser
conhecidos no seminário

Promovido pela Abracamed em parceria com a Universidade Federal de São João Del Rey e Escola de Defensoria Pública de São Paulo, o evento conta com o apoio do CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) e Unimar, que cedeu suas instalações.

Com entrada gratuita, o seminário é destinado aos pesquisadores, profissionais de saúde, pacientes e familiares, estudantes e poder público: “A Cannabis hoje está para a medicina como a penicilina esteve antigamente. Isso é velado por conta de preconceito, estigma e tabus. Desconstruir tudo isso é só por meio de um evento onde as pessoas tenham acesso de fato”, assinalou Nayara Mazini.

 

Estufa pronta para cultivo orgânico

Ela acrescentou que “com responsabilidade, trazendo profissionais de referência no País, só assim avançaremos nesta pauta e mostraremos para a sociedade que isso é ciência e tecnologia de cuidado em saúde; não estamos falando em outras pautas”.

O óleo de Cannabis vem sendo empregado no tratamento de inúmeras doenças como Parkinson, Alzheimer, diabetes, fibromialgia, esclerose múltipla, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade, anorexia, esquizofrenia, epilepsia, autismo, endometriose, dores crônicas etc.

 

Cannabis sativa

Para participar do seminário, as inscrições gratuitas podem ser feitas no site: www.abracamed.com Outras informações podem ser obtidas pelo e-mail: contato@abracamed.com ou telefones (11) 978475688 ou (11) 939394491. Pede-se a doação de 01 kg de alimento não perecível ou fraldas XG, XXG ou juvenis para o Projeto “Amor de Criança”.

Assista AQUI vídeo com depoimento de pacientes.

Crédito: Fotos Arquivo Abracamed

*Reportagem publicada na edição de 23.10.2022 do Jornal da Manhã

domingo, 16 de outubro de 2022

COMUNIDADE SE UNE AO PROJETO "SANGUE BOM" PARA CELEBRAR O "DIA DAS CRIANÇAS"

Por Célia Ribeiro

A tragédia de Shakespeare, escrita quatro séculos atrás, tem em Julieta o símbolo de um grande amor capaz de enfrentar qualquer obstáculo. Em Marília, no extremo norte da cidade, o bairro que leva o nome da personagem transpirava solidariedade, que é uma das mais belas formas de amar, na última quarta-feira. Em comemoração ao “Dia das Crianças”, centenas de pessoas voltaram à infância na festa popular organizada pelo projeto social “Sangue Bom” do Terrão da Quebrada Julieta.

Menino se diverte no banho de espuma

A reportagem do JM acompanhou o evento no feriado da “Padroeira do Brasil” que, apesar da chuva, atraiu não só moradores do Jardim Julieta, Santa Antonieta III, Campina Verde, Jardim Renata e Primavera. Teve quem veio de longe, como algumas famílias que residem no Jardim Bandeirantes, revelou o organizador Thiago Felipe de Campos.

 

Thiago e a esposa
Em maio, esta coluna divulgou o projeto da horta comunitária em que a produção de hortaliças e legumes não é vendida, mas trocada por óleo de cozinha usado. Isso em uma área pública abandonada que foi adotada por um grupo de moradores, com autorização da Prefeitura, para desenvolver atividades com as crianças.

No lugar de lixo, entulho e animais peçonhentos, Thiago fez brotar alimentos que são entregues às famílias dos bairros adjacentes em troca de óleo que seria descartado no meio-ambiente agravando um problema já muito sério. “Continuamos com o projeto, trocando verduras e legumes pelo óleo que seria jogado fora ou trocado por detergente em peruas que passam pelo bairro”, assinalou.

Ele destacou que o óleo comercializado gera renda para ajudar na manutenção da horta e no suporte ao projeto social “Sangue Bom”. Para a festa do dia 12 de outubro, Thiago aproveitou os recursos da festa junina, além de doações de voluntários e apoiadores. Havia uma grande quantidade de brinquedos infláveis além de muita comida e bebida de graça, como cachorro-quente, pipoca, algodão doce, refrigerante e bolo. 

No fim da festa, bolo para todos
Apesar do visível cansaço, Thiago era pura animação: “Graças a Deus, a população vem com a gente. Os moradores ajudam muito e o intuito é esse, fazer a festa para que os moradores do bairro e da vizinhança venham se divertir, os adultos e as crianças. Tem gincanas e brincadeiras que lembram a verdadeira infância”, assinalou. 

Centenas de famílias compareceram

Esta foi a terceira festa das crianças do projeto “Sangue Bom”. Mas, a primeira sem o temor do contágio do Covid-19. Para arcar com os custos dos eventos, Thiago disse que organiza promoções com renda dirigida: por exemplo, a festa junina gerou renda para o “Dia das Crianças” e a I Violada, realizada recentemente, rendeu recursos que serão usados no Natal com a entrega de brinquedos às crianças. 

Teve “pelada” no campinho 

VOLUNTÁRIA

Sílvia ajudou no evento

Para organizar a festa, Thiago recebeu a ajuda de voluntários. Uma delas, Sílvia Aparecida de Souza, contou que participa todos os anos, levando os filhos e também colaborando na infraestrutura. Já a dona de casa Jéssica Maris elogiou a promoção dizendo que levou o casal de filhos para passar uma tarde diferente no bairro e que o “Dia das Crianças” deste ano estava foi muito especial. 

Teve fila para o algodão doce

Se depender da disposição do Thiago, cada vez mais as crianças daquela região da cidade terão a oportunidade de viverem uma infância saudável e feliz no Jardim Julieta, enquanto suas famílias sentirão, na prática, os benefícios quando se alia a preservação ambiental à solidariedade. 

Leia reportagem sobre a horta comunitária do Terrão da Quebrada AQUI

*Reportagem publicada na edição de 16.10.2022 do Jornal da Manhã

domingo, 9 de outubro de 2022

A ARTE DE RESTAURAR: AURELIO FIORINI RESPEITA A MEMÓRIA DE OBJETOS ANTIGOS

Por Célia Ribeiro

O ex-ourives não esqueceu a profissão. Ao invés de criar a partir do ouro e da prata, ele brinda seus clientes com verdadeiras joias a partir de móveis e objetos antigos que foram esquecidos em algum canto empoeirado: o restaurador Aurélio Fiorini chega ao período pós-pandemia decidido a dedicar mais tempo à recuperação de móveis, mesmo que o preço a pagar seja abrir mão de mais de 5.000 itens do seu acervo. 

Móveis guardam lembranças

Em entrevista ao JM esta semana, Aurélio falou sobre a dificuldade de encontrar mão de obra especializada para o trabalho. Ele chegou a ter 12 funcionários, mas hoje atua com um quadro reduzido por não encontrar pessoas dispostas a aprenderem o ofício que exige paciência, tempo e muita dedicação. 

Aurélio Fiorini na loja Restaura Brasil

Há 15 anos com a tradicional loja “Restaura Brasil”, na Rua Coronel Galdino de Almeida, 355, o restaurador tem um olhar especial a  todos os objetos que as pessoas descartam por acharem que não têm mais utilidade. Para ele, um pedaço de imbuia jogado no lixo pode ser a peça que faltava na recuperação de um armário do início do século passado. 

Coleção de cadeiras chama a atenção

Este olhar aguçado é o que o diferencia porque o restaurador consegue enxergar o resultado final antes mesmo do cliente imaginar como aquela peça pode ser resgatada. Por isso, contar com ajudantes é uma tarefa difícil: “Estou sentindo não só a falta de pessoas interessadas em aprenderem a profissão, mas até a falta de estrutura que a lei nunca deu sobre o menor aprendiz. Nunca tive a oportunidade de pegar um menor para poder ensinar. A lei não permite que ele esteja dentro de uma oficina”, observou. 

Aurélio quer mais tempo na oficina

Aurélio revelou que gostaria de formar profissionais na arte da restauração, ensinando o passo a passo que leva anos de aprendizado. No entanto, não encontrou jovens interessados tendo que contratar ajudantes mais experientes a quem tenta transmitir um pouco do que aprendeu em 30 anos de atividades. 

Aparador tem máquina de costura na base

MEMÓRIA

 Por incrível que pareça, Aurélio tem uma memória prodigiosa ao ponto de saber se tem determinada peça, quando o cliente chega com uma fotografia, e aonde está armazenada. Em um local pequeno, até se compreende tamanha organização. Mas, na Restaura Brasil e no depósito que dá suporte à loja, estão mais de 5.000 itens como bicicletas, máquinas de escrever e de costura, telefones, relógios, móveis, louças, brinquedos, entre outros. 

Armário se transformou em cristaleira

E esse acervo todo está com os dias contados. Isto porque, para poder se dedicar à restauração de móveis e objetos, Aurélio pretende fotografar, catalogar e colocar à venda online os objetos que coleciona há décadas. Conforme disse, será um divisor de águas em sua vida porque cada objeto que chegou ali tem uma história que ele valoriza e respeita como poucos. 

Há milhares de peças na loja, como a louçaria

Aurélio explicou que diante da falta de mão de obra especializada, ele não tem condições de cuidar da loja e do trabalho de recuperação como gostaria. Ao colocar o acervo todo em um catálogo virtual, para venda aos poucos, ele terá o tempo que necessita para as restaurações que serão realizadas na sua oficina. 

Objetos cheios de história

Ele observou que na pandemia, quando a maioria dos óbitos foi de idosos, muitos familiares deixaram as casas fechadas. Aos poucos, filhos e netos de entes queridos que se foram estão se atentando para os móveis de valor afetivo, o que demanda muito trabalho de recuperação, desde a troca de estofamento de cadeiras, até a tonalização de madeiras nobres, por exemplo. 

O acervo tem mais de 5.000 itens

Aurélio comentou que tem “três clientes nesta situação que querem restaurar algumas coisas e outras vão vender ou doar. O móvel de família, onde tem sentimento, a pessoa não solta na mão de qualquer um. Hoje, se veio com indicação, eu faço de tudo para atender aquela pessoa. Mesmo que não vá pegar o serviço, tento analisar, achar alguém que possa ajuda-la”, frisou.

 

Móvel restaurando à pronta entrega

“Cada amanhecer pra mim é o melhor dia”, assinalou, afirmando que pretende encontrar um meio de passar o que aprendeu adiante. Enquanto isso, ele se divide entre a loja, em que há desde objetos originais até móveis recuperados, e a oficina em que, livremente, ele dá nova vida aos objetos cheios de história. Para saber mais, o Instagram do restaurador é: @aureliofiorini

Leia reportagens anteriores de Aurelio Fiorini nesta coluna2013  e  2018

*Reportagem publicada na edição de 09.10.2022 do Jornal da Manhã 


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domingo, 2 de outubro de 2022

CURSO DE DESENHO DA VILA DAS ARTES REVELA TALENTOS PARA O MUNDO DOS GAMES.

Por Célia Ribeiro

“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo. E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”. Impossível ler essa introdução e não cantarolar a música “Aquarela”, de Toquinho, que encanta gerações. Mas, para os alunos do curso de desenho da Vila das Artes, os traços vão muito além, dando vida a personagens que conquistam os amantes dos games em disputas emocionantes. 

Personagem com olhos expressivos

Para entender esse fenômeno, a reportagem do JM foi à Vila das Artes conversar com o designer gráfico e professor de desenho Thiago Carneiro de Mello. Aos 38 anos e jeitão de garoto, ele é um artista autodidata que resolveu transmitir conhecimento a quem sempre fez uns rabiscos e gostaria de aprender as técnicas para desenvolver suas potencialidades.

 

Thiago em aula na Vila das Artes
Thiago contou que desenha desde menino. E foi o amor aos traços que o levou à primeira atividade educativa: muito jovem, a convite da mãe, que trabalhava em uma escola pública, ele começou a participar de oficinas do projeto precursor da “Escola da Família”. Assim, nos finais de semana, ele pegava seu material para se encontrar com meninos e meninas da comunidade.

E lá se foram seis anos como voluntário nos workshops e oficinas de desenho da escola pública até que foi convidado a trabalhar em uma loja de papelaria para desenvolver algumas atividades com os clientes. “Achei interessante dar aula. Foi um período que comecei a levar mais a sério a aula de desenho”, recordou.

Através de amigos em comum com a artista plástica Patrícia Muller, fundadora da Vila das Artes, Thiago aceitou o desafio de ensinar desenho aos frequentadores do espaço. O ano era 2010 e, de lá para cá, o que era um simples curso de desenho tornou-se referência para quem quer aprender ou aprimorar as técnicas.

MANGÁ

As histórias em quadrinhos japonesas, conhecidas por mangás, caíram no gosto dos jovens. E na Vila das Artes encontraram o lugar propício para se expandirem pelas mãos hábeis de meninos e meninas a partir dos 11 anos. Segundo Thiago, a aula de desenho é focada “em criação de personagens. O mangá é um estilo. Às vezes, a pessoa pode não ter interesse especificamente no mangá. Eu posso ajudar ela assim mesmo”, observou, destacando que o estilo do mangá deixa os olhos dos personagens maiores e mais expressivos. 

João e Gabriel concentrados nos desenhos

O professor observou que o desenho traz muitos benefícios: “A gente tenta trabalhar várias coisas diferentes. O desenho ajuda na concentração, na criatividade. Quando a gente vai criar um personagem, sugiro algumas ideias e eles vão construindo o personagem por conta própria”. Ele complementou afirmando que já teve “situações que a pessoa não consegue ter foco. Com o desenho, consegue um pouco mais e isso vai sendo lapidado, indo para outras áreas que ela tinha dificuldade”. 

Arte de Thiago Mello no Instagram

Thiago explicou que “o desenho é mais uma forma de se expressar. A pessoa vai escolhendo o que fazer. Tenho alguns alunos que trabalham com ilustração; alguns foram adiante, outros em algum momento acabaram desistindo”. E para quem permaneceu, o mundo dos games é desafiador. 

Letícia gosta de mangá e anime

O professor citou um aluno cujo trabalho evoluiu tanto que “assinou contrato com uma grande empresa de jogos, fora do Brasil. Olha o nível dele”, contou orgulhoso.  Outro aluno está na área de desenvolvimento de jogos e, claro, Thiago faz questão de jogar os games em que ex-alunos atuaram seja no design, seja na criação de personagens. 

João mostra Pipo, seu personagem

Sobre inspirar novos talentos, Thiago Mello assinalou que dar aulas de desenho “é gratificante demais. Refletindo sobre tudo isso que tenho feito, acabo pensando qual seria o objetivo maior e cheguei à concussão que, para mim, seria ter na nossa cidade excelentes ilustradores e saber que, de alguma forma eu fiz parte disso, que dei minha contribuição”.

FUTUROS TALENTOS

Na tarde chuvosa e fria de quinta-feira, com o aroma de pipoca no ar, três alunos estavam concentrados no curso da Vila: Letícia Vilela Fraga, 14 anos, finalizava um desenho no estilo anime (quadrinho japonês), João Antonio de Oliveira Calciolari, 12 anos, contou que cria personagens e pretende mergulhar no mundo dos games, além de ter um canal no Youtube e Gabriel Maldonado Nasraui, 11 anos, disse que gosta de desenhar e estava no curso para aprimorar sua técnica. 

Personagem criado pelo professor

De acordo com Thiago, para desenhar basta ter vontade e disciplina para acompanhar as aulas, que começam com forte embasamento teórico, e desenvolver atividades em casa. E para quem deseja saber mais sobre o assunto, ele disse que a Vila das Artes está de portas abertas: “Cada caso é um caso. Quem quer levar a sério precisa assumir um compromisso de ter disciplina”, finalizou.

Outras informações podem ser obtidas na Vila das Artes, localizada à Rua Atílio Gomes, 64, bairro Fragata em Marília. Telefone (14) 34547345. Nas redes sociais: https://www.instagram.com/viladasartes/  Conheça o trabalho de Thiago no Instagram:@thiagomelloart

*Reportagem publicada na edição de 02.10.2022 do Jornal da Manhã

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