Por Célia Ribeiro
O ex-ourives não esqueceu a profissão. Ao invés de criar a partir do ouro e da prata, ele brinda seus clientes com verdadeiras joias a partir de móveis e objetos antigos que foram esquecidos em algum canto empoeirado: o restaurador Aurélio Fiorini chega ao período pós-pandemia decidido a dedicar mais tempo à recuperação de móveis, mesmo que o preço a pagar seja abrir mão de mais de 5.000 itens do seu acervo.
Em entrevista ao JM esta semana, Aurélio falou sobre a dificuldade de encontrar mão de obra especializada para o trabalho. Ele chegou a ter 12 funcionários, mas hoje atua com um quadro reduzido por não encontrar pessoas dispostas a aprenderem o ofício que exige paciência, tempo e muita dedicação.
Aurélio
Fiorini na loja Restaura Brasil
Há 15 anos com a tradicional loja “Restaura Brasil”, na Rua Coronel Galdino de Almeida, 355, o restaurador tem um olhar especial a todos os objetos que as pessoas descartam por acharem que não têm mais utilidade. Para ele, um pedaço de imbuia jogado no lixo pode ser a peça que faltava na recuperação de um armário do início do século passado.
Coleção
de cadeiras chama a atenção
Este olhar aguçado é o que o diferencia porque o restaurador consegue enxergar o resultado final antes mesmo do cliente imaginar como aquela peça pode ser resgatada. Por isso, contar com ajudantes é uma tarefa difícil: “Estou sentindo não só a falta de pessoas interessadas em aprenderem a profissão, mas até a falta de estrutura que a lei nunca deu sobre o menor aprendiz. Nunca tive a oportunidade de pegar um menor para poder ensinar. A lei não permite que ele esteja dentro de uma oficina”, observou.
Aurélio quer mais tempo na oficina
Aurélio revelou que gostaria de formar profissionais na arte da restauração, ensinando o passo a passo que leva anos de aprendizado. No entanto, não encontrou jovens interessados tendo que contratar ajudantes mais experientes a quem tenta transmitir um pouco do que aprendeu em 30 anos de atividades.
Aparador
tem máquina de costura na base
MEMÓRIA
Armário se transformou em cristaleira
E esse acervo todo está com os dias contados. Isto porque, para poder se dedicar à restauração de móveis e objetos, Aurélio pretende fotografar, catalogar e colocar à venda online os objetos que coleciona há décadas. Conforme disse, será um divisor de águas em sua vida porque cada objeto que chegou ali tem uma história que ele valoriza e respeita como poucos.
Há milhares de peças na loja, como a louçaria
Aurélio explicou que diante da falta de mão de obra especializada, ele não tem condições de cuidar da loja e do trabalho de recuperação como gostaria. Ao colocar o acervo todo em um catálogo virtual, para venda aos poucos, ele terá o tempo que necessita para as restaurações que serão realizadas na sua oficina.
Ele observou que na pandemia, quando a maioria dos óbitos foi de idosos, muitos familiares deixaram as casas fechadas. Aos poucos, filhos e netos de entes queridos que se foram estão se atentando para os móveis de valor afetivo, o que demanda muito trabalho de recuperação, desde a troca de estofamento de cadeiras, até a tonalização de madeiras nobres, por exemplo.
O acervo tem mais de 5.000 itens
Aurélio comentou que tem “três
clientes nesta situação que querem restaurar algumas coisas e outras vão vender
ou doar. O móvel de família, onde tem sentimento, a pessoa não solta na mão de
qualquer um. Hoje, se veio com indicação, eu faço de tudo para atender aquela
pessoa. Mesmo que não vá pegar o serviço, tento analisar, achar alguém que
possa ajuda-la”, frisou.
Móvel restaurando à pronta entrega
“Cada amanhecer pra mim é o melhor
dia”, assinalou, afirmando que pretende encontrar um meio de passar o que
aprendeu adiante. Enquanto isso, ele se divide entre a loja, em que há desde
objetos originais até móveis recuperados, e a oficina em que, livremente, ele
dá nova vida aos objetos cheios de história. Para saber mais, o Instagram do
restaurador é: @aureliofiorini
Leia reportagens anteriores de Aurelio Fiorini nesta coluna: 2013 e 2018
*Reportagem publicada na edição de 09.10.2022 do Jornal da Manhã
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