domingo, 9 de outubro de 2022

A ARTE DE RESTAURAR: AURELIO FIORINI RESPEITA A MEMÓRIA DE OBJETOS ANTIGOS

Por Célia Ribeiro

O ex-ourives não esqueceu a profissão. Ao invés de criar a partir do ouro e da prata, ele brinda seus clientes com verdadeiras joias a partir de móveis e objetos antigos que foram esquecidos em algum canto empoeirado: o restaurador Aurélio Fiorini chega ao período pós-pandemia decidido a dedicar mais tempo à recuperação de móveis, mesmo que o preço a pagar seja abrir mão de mais de 5.000 itens do seu acervo. 

Móveis guardam lembranças

Em entrevista ao JM esta semana, Aurélio falou sobre a dificuldade de encontrar mão de obra especializada para o trabalho. Ele chegou a ter 12 funcionários, mas hoje atua com um quadro reduzido por não encontrar pessoas dispostas a aprenderem o ofício que exige paciência, tempo e muita dedicação. 

Aurélio Fiorini na loja Restaura Brasil

Há 15 anos com a tradicional loja “Restaura Brasil”, na Rua Coronel Galdino de Almeida, 355, o restaurador tem um olhar especial a  todos os objetos que as pessoas descartam por acharem que não têm mais utilidade. Para ele, um pedaço de imbuia jogado no lixo pode ser a peça que faltava na recuperação de um armário do início do século passado. 

Coleção de cadeiras chama a atenção

Este olhar aguçado é o que o diferencia porque o restaurador consegue enxergar o resultado final antes mesmo do cliente imaginar como aquela peça pode ser resgatada. Por isso, contar com ajudantes é uma tarefa difícil: “Estou sentindo não só a falta de pessoas interessadas em aprenderem a profissão, mas até a falta de estrutura que a lei nunca deu sobre o menor aprendiz. Nunca tive a oportunidade de pegar um menor para poder ensinar. A lei não permite que ele esteja dentro de uma oficina”, observou. 

Aurélio quer mais tempo na oficina

Aurélio revelou que gostaria de formar profissionais na arte da restauração, ensinando o passo a passo que leva anos de aprendizado. No entanto, não encontrou jovens interessados tendo que contratar ajudantes mais experientes a quem tenta transmitir um pouco do que aprendeu em 30 anos de atividades. 

Aparador tem máquina de costura na base

MEMÓRIA

 Por incrível que pareça, Aurélio tem uma memória prodigiosa ao ponto de saber se tem determinada peça, quando o cliente chega com uma fotografia, e aonde está armazenada. Em um local pequeno, até se compreende tamanha organização. Mas, na Restaura Brasil e no depósito que dá suporte à loja, estão mais de 5.000 itens como bicicletas, máquinas de escrever e de costura, telefones, relógios, móveis, louças, brinquedos, entre outros. 

Armário se transformou em cristaleira

E esse acervo todo está com os dias contados. Isto porque, para poder se dedicar à restauração de móveis e objetos, Aurélio pretende fotografar, catalogar e colocar à venda online os objetos que coleciona há décadas. Conforme disse, será um divisor de águas em sua vida porque cada objeto que chegou ali tem uma história que ele valoriza e respeita como poucos. 

Há milhares de peças na loja, como a louçaria

Aurélio explicou que diante da falta de mão de obra especializada, ele não tem condições de cuidar da loja e do trabalho de recuperação como gostaria. Ao colocar o acervo todo em um catálogo virtual, para venda aos poucos, ele terá o tempo que necessita para as restaurações que serão realizadas na sua oficina. 

Objetos cheios de história

Ele observou que na pandemia, quando a maioria dos óbitos foi de idosos, muitos familiares deixaram as casas fechadas. Aos poucos, filhos e netos de entes queridos que se foram estão se atentando para os móveis de valor afetivo, o que demanda muito trabalho de recuperação, desde a troca de estofamento de cadeiras, até a tonalização de madeiras nobres, por exemplo. 

O acervo tem mais de 5.000 itens

Aurélio comentou que tem “três clientes nesta situação que querem restaurar algumas coisas e outras vão vender ou doar. O móvel de família, onde tem sentimento, a pessoa não solta na mão de qualquer um. Hoje, se veio com indicação, eu faço de tudo para atender aquela pessoa. Mesmo que não vá pegar o serviço, tento analisar, achar alguém que possa ajuda-la”, frisou.

 

Móvel restaurando à pronta entrega

“Cada amanhecer pra mim é o melhor dia”, assinalou, afirmando que pretende encontrar um meio de passar o que aprendeu adiante. Enquanto isso, ele se divide entre a loja, em que há desde objetos originais até móveis recuperados, e a oficina em que, livremente, ele dá nova vida aos objetos cheios de história. Para saber mais, o Instagram do restaurador é: @aureliofiorini

Leia reportagens anteriores de Aurelio Fiorini nesta coluna2013  e  2018

*Reportagem publicada na edição de 09.10.2022 do Jornal da Manhã 


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