domingo, 27 de março de 2022

ONG "ALIMENTO SIM, FOME NÃO" COMPLETA 21 ANOS ASSISTINDO QUEM MAIS PRECISA

Por Célia Ribeiro

Diferenciadas são as pessoas que, convivendo em um ambiente de extrema pobreza, não se conformam com o sofrimento alheio, arregaçam as mangas e conseguem contribuir para mudarem a situação. Foi assim que o jovem Amauri Gonzaga, morador da periferia, iniciou um dos mais importantes e longevos projetos sociais de Marília: a ONG “Alimento Sim, Fome Não”. 

Amauri Gonzaga passa orientações na entrega de alimentos

Tudo começou em 2001, recordou o presidente e fundador da entidade, em entrevista à coluna, nesta semana: “Eu morava no Parque das Vivendas, zona oeste, uma região muito carente. Moravam muitas famílias necessitadas, pessoas que trabalhavam com recicláveis, ajudantes de pedreiro, boia-fria na lavoura. Eu via as pessoas naquela situação e tive a ideia de juntar  alguns amigos que cantavam música sertaneja, samba, pagode e música gospel”, para um show em uma escola. 

Controle das famílias cadastradas

Com um ofício embaixo do braço, lá foi Amauri conseguir autorização para que a escola do bairro sediasse o evento beneficente, cuja entrada era um quilo de alimento não perecível. A primeira empreitada fez tanto sucesso que o grupo resolveu formar uma entidade para amparar quem mais precisava, aliando solidariedade e diversão.

Ele lembrou que era trabalhoso organizar os eventos e também a logística no final dos shows: cantores, músicos e voluntários se reuniam após cada apresentação para separarem “os alimentos vencidos e os que estavam bons”, isto é, no prazo de validade, para montarem as cestas básicas que eram entregues às famílias previamente cadastradas. 

A Kombi precisa de 2 mil reais para sair da oficina

Amauri disse que o envolvimento dos voluntários foi fundamental: “A gente tinha muita empatia pelo sofrimento dessas pessoas, por ver a luta e o sofrimento delas. Aquela região, que já não moro mais lá, ainda é um local bem carente. Depois, mudei para o Nova Marilia III e que também é um local onde mora muito catador de recicláveis e famílias pobres. Tem família que passa necessidade praticamente todos os dias”, observou. 

Show de 2003, no início do projeto social

Residindo do outro lado da cidade, o presidente da ONG procurou as famílias carentes da zona sul para formação de um novo cadastro. Atualmente, são 289 pessoas assistidas, regularmente, além de 770 pessoas atendidas com cestas básicas, doadas pela comunidade e empresas como supermercado Kawakami, leite entregue pela Secretaria da Assistência Social de Marília, biscoitos doados pela Marilan, pães, bolos e legumes doados pelo Tauste etc.

 CRISE ECONÔMICA

 Amauri Gonzaga disse que, desde o início da ONG, a fase mais difícil começou em 2020 com a pandemia. Ele contou que a entidade começou a ser procurada por pessoas desesperadas sem terem o que comer. Foi quando instituíram o chamado “caderno emergencial” para registrar os atendimentos das pessoas que viam ali a última chance de levarem alimento para casa. 

Longas filas para receber os alinentos

O presidente calcula que 1.800 famílias tenham sido cadastradas, emergencialmente, e que graças à solidariedade da comunidade e o apoio de várias empresas, a ONG tem conseguido assistir os mais necessitados, seja nos bairros da zona sul quanto nas zonas norte e oeste. 

Doação de legumes

Além da zona sul, o bairro Maracá também conta com uma base da ONG onde são distribuídos alimentos e leite, duas vezes por semana. No bairro e adjacências, já são 99 famílias assistidas. Além de alimentos não perecíveis e leite, essas pessoas recebem pães, bolos, biscoitos, agasalhos, calçados e legumes.

Amauri disse que a luta é diária para manter a ONG de portas abertas. Ele destacou que “nem na pandemia nós paramos. Apenas deixamos de fazer as visitas, mas continuamos entregando os alimentos para as famílias”, para o que conta com os 12 membros da diretoria e voluntários, totalizando 35 pessoas.

Conforme disse, os gastos são elevados: a Kombi, que faz o transporte das doações, está na oficina há dias e necessitará de dois mil reais para quitar os reparos no motor. Além disso, há despesas com água e energia elétrica (480 reais), aluguel da sede (800 reais), combustível (680 reais), materiais de limpeza (120 reais), sacos plásticos reforçados para montagem das cestas básicas (180 reais) etc.

O presidente disse que há muitos voluntários que passaram a colaborar com a entidade após terem sido ajudados no passado. No entanto, com o agravamento da crise econômica, “muitas pessoas que nos ajudaram antes, hoje estão vindo buscar ajuda. A situação está muito complicada”, lamentou.

 

Pães e bolos
Ele destacou, entretanto, que as doações de alimentos diminuíram muito: “Tem gente que parou de doar porque pensa que a pandemia acabou. Mas, ela não acabou. Precisamos muito de doações”, assinalou. Por sorte, o projeto social tem o apoio de várias empresas como Tauste, Kawakami, Marilan, Construtora Menin, Replan, WebLine, Lanchero Alimentos, entre outros.

Amauri Gonzaga fez questão de agradecer o apoio da secretária Vania Lombardi, da Assistência Social, não só pela doação de leite e cestas básicas, como apoio às ações da ONG. Um exemplo é a futura horta comunitária que será formada em uma área de 500 metros quadrados no Jardim Maracá, nomeada de “Terra Prometida”.

Em parceria com a Unimar e a Secretaria da Agricultura do Município, a horta contará com a participação das famílias do Jardim Maracá e imediações para o cultivo de legumes e hortaliças que ajudarão a complementar as refeições.

A ONG “Alimento Sim, Fome Não”, está localizada à Rua Cândida de Souza Gemeinder, 496, no Jardim Nacional (zona sul). Para saber mais sobre a entidade, acesse a rede social: https://www.facebook.com/alimentosimfomenao/

*Reportagem publicada na edição de 27/03/2022 do Jornal da Manhã

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domingo, 20 de março de 2022

PANIFICAÇÃO QUE APOIA PROJETO SOCIAL SOBRE COM QUEDA DE 50 POR CENTO NAS VENDAS

Por Célia Ribeiro

Do trigo se faz o pão. E muito mais. Como no milagre da multiplicação dos pães e peixes, relatado na Bíblia Sagrada, ele também se transforma em refeições que saciam a fome de dezenas de famílias que se encontram abaixo da linha da pobreza. Isso é possível através de outro projeto social da Associação dos Moradores do Nova Marília, que é a panificação, criada há 30 anos.

Dona Laudite na panificação

Todas as sextas-feiras à tarde, saem as fornadas de pães caseiros e fatias húngaras cuja venda é essencial para o custeio dos botijões de gás utilizados na produção das marmitas solidárias, projeto que o JM mostrou na edição de domingo passado desta página. À frente deste trabalho está a voluntária Laudite Ferreira Gaia Vieira, presidente da Associação e carro-chefe dos projetos sociais da entidade localizada na zona sul de Marília.

Como apresentado na reportagem, a produção de 720 marmitas por semana, entregues a 120 famílias, além de pessoas em situação de rua, demanda altos custos com gás, energia elétrica e os alimentos que dependem da doação da comunidade. No caso do gás, são consumidos quase três botijões por mês ao custo de 400 reais cada um.

Laudite vieira falou, com tristeza, sobre os desafios de manter o projeto: “Antes da pandemia, a gente vendia uma média de 50 pães, entre  pão caseiro e doce, por semana. Agora, vendemos apenas 24 pães, por 10 reais cada porque as pessoas estão sem dinheiro. A pandemia trouxe desemprego e as famílias tiveram que cortar custos”.

Ela contou que uma parte da farinha é doada pelo Fundo Social de Solidariedade de Marília e a comunidade tem ajudado doando a outra parte além de óleo, ovos, açúcar e fermento utilizados na produção. Mas, com menos clientes, a panificadora vai sobrevivendo como pode.

Pães prontos para venda

A voluntária se emocionou ao falar sobre os desafios de manter os projetos da Associação de Moradores do Nova Marília: “Nós estamos vendo a necessidade das pessoas. A gente vê pela nossa casa, como as coisas estão difíceis. Todo dia aparece gente em busca de ajuda e a gente queria ajudar todo mundo. Infelizmente, isso não é possível”.

Laudite não conteve as lágrimas ao falar sobre as cenas tristes que presenciou nos dias de entrega das marmitas em que se formam longas filas na porta da entidade: “Já vi idoso desmaiar de fome na fila. Já vi criança chorando de fome”. São essas pessoas mais necessitadas, prosseguiu, que lhe dão forças para continuar, apesar de tantas dificuldades.

LAVANDERIA

A atuação da Associação de Moradores do Nova Marília é modelo para outras instituições de bairro. Os vários projetos se complementam e um apoia o outro. Um exemplo é a lavanderia comunitária que também passa por uma séria crise: “Chegamos a ter 08 mulheres aqui. Elas tiravam um salário mínimo por mês. Agora, com a pouca procura tivemos que reduzir e estamos só com 04. Além disso, tem semanas em que elas mal conseguem levantar 200 reais para levar para casa”, assinalou.

O projeto precisa de doações para fazer os pães

Com o desemprego e a inflação que corrói o salário dos trabalhadores, muitas pessoas que cruzavam a cidade até a lavanderia comunitária agora lavam as roupas em casa para economizar. Isso teve um grande impacto no projeto social que conta com o trabalho de mulheres da comunidade. Após o pagamento de sabão em pó, água e energia elétrica, não sobra muito para cada uma das lavadeiras.

(Esq) Sandra e a presidente Laudite 

Ao lado de Sandra Farias, coordenadora de projetos da Associação, Laudite Vieira disse que a fé em Deus as mantém em pé e que espera a melhora da situação. Conforme a reportagem desta página, a ONG “Amigos do Bar” está em campanha para arrecadar recursos e comprar um refrigerador para as “Marmitas Solidárias”.

Lavanderia teve queda brusca no movimento

Nesta semana, coincidentemente, uma das velhas geladeiras que consomem muita energia e precisam ser substituídas parou de funcionar de vez e quase se perdeu os alimentos ali armazenados. Para ajudar, os interessados podem enviar PIX de qualquer valor para um dos  números  cadastrados: (14) 997774579 ou (14) 981140055. Depois, enviar o comprovante para (14) 981140055 e informar que o valor é da campanha do refrigerador. 

Contribua com qualquer valor

A Associação de Moradores do Nova Marília, onde funcionam a lavanderia comunitária, a panificação e o projeto de marmitas solidárias está localizada em frente à Igreja de Santa Rita (Rua Nair Rossilio Gutierrez, 65). O telefone é: (14) 34176922. 

Acesse a reportagem da semana passada AQUI

*Reportagem publicada na edição de 20.03.2022 do Jornal da Manhã

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domingo, 13 de março de 2022

MARMITAS SOLIDÁRIAS: PROJETO COLOCA COMIDA NA MESA DE MAIS DE 120 FAMÍLIAS.

Por Célia Ribeiro

No início de 2019, a letalidade do coronavírus provocou uma revolução sem precedentes no mundo. Comércio e setor de serviços foram fechados, a construção civil parada, as pessoas se refugiaram em casa, com medo, e muitos projetos sociais, comandados por voluntários aposentados, tiveram que suspender suas atividades. Foi neste cenário hostil que alguns abnegados encararam os riscos da pandemia para alimentarem mais de 120 famílias da zona sul de Marília, além de moradores em situação de rua. 

Polenta, molho de frango, arroz e farofa de feijão
fradinho com ovos e calabresa

“Marmitas Solidárias” é um dos projetos sociais da Associação dos Moradores do Nova Marília que chega ao terceiro ano com uma história de superação. Além de ser conduzido por voluntárias do bairro, o que o torna especial é o fato de conseguir apoio junto às camadas mais pobres da população, justamente aquelas que menos têm para contribuir.

“É o pobre ajudando o pobre”, observou a coordenadora, Sandra Farias. Ela contou, emocionada, que todos os dias aparecem pequenas doações: “É comum ver alguém que ganhou um pacote de cinco quilos de arroz, abrir e colocar uma parte na lata de mantimentos de sua casa e trazer um saquinho com um pouco deste arroz para as nossas marmitas”. 

A "mistura" é a maior necessidade 
na hora de montar as marmitas

Ela afirmou que o início do projeto foi uma tentativa de amenizar a situação desesperadora de algumas famílias do bairro: “Com a pandemia, veio o desemprego. O marido perdia o serviço e no dia seguinte era a mulher que trabalhava de faxineira e a patroa, com medo de ter alguém de fora em casa, também suspendia a faxina”.

Para piorar, houve a interrupção das aulas e as crianças deixaram de fazer as refeições na escola, agravando o drama familiar. Outro complicador, prosseguiu Sandra, foi que “muitas entidades que atendiam famílias carentes também pararam porque as voluntárias geralmente são idosas e pertencentes aos grupos de risco”. 

(Esq) Sandra Farias e a doadora Ângela Chaves

Foi na tentativa de diminuir o sofrimento das famílias mais vulneráveis que o projeto começou, timidamente: “Resolvemos correr o risco e não desamparar essas pessoas. Começamos com 80 marmitas, passamos para 100, depois para 120 e hoje entregamos 720 marmitas por semana”, informou a coordenadora.

Refeições saborosas

Às segundas e quartas-feiras, as voluntárias da cozinha chegam bem cedo, por volta de 7 horas e só vão embora 12 horas depois. Elas usam a criatividade para produzirem as marmitas que são acondicionadas em embalagens de 750 gramas: “Antes, se a gente tinha 50 quilos de frango, podia preparar de várias maneiras. Hoje, a gente pega 25 quilos de frango, cozinha e desossa para juntar com legumes e ter mais volume porque a carne está muito cara”, acrescentou a coordenadora. 

Voluntárias no preparo das refeições de quarta-feira

E por falar em proteína, raramente a carne bovina é oferecida nas marmitas em que vão arroz e feijão, farofa ou pirão, ovos, legumes variados e carne de frango e porco, salsicha, linguiça e, às vezes, carne moída. Mas, tudo preparado com tempero caseiro e muito carinho. O cheiro de comida boa se sente de longe como foi atestado pela reportagem na última quarta-feira.

COMBATE À FOME

Segundo Sandra Farias, boa parte das 120 famílias cadastradas possui renda familiar de 300 a 500 reais por mês. Não é renda per capita. É a renda da família toda que, juntando com o auxílio do Bolsa Família, não consegue suprir as necessidades básicas: “Infelizmente, nós não podemos aumentar o atendimento, apesar da procura. E só não cortamos mais porque não dá para ver grávidas batendo à nossa porta e negar comida”, assinalou. 

Retirada de marmitas:
120 famílias cadastradas

A coordenadora lembrou que muitas pessoas não conseguem pagar o aluguel, moram de favor ou em barracos. Por isso, nem se tivesse alimentos não teriam como prepara-los diante dos frequentes aumentos do preço do gás de cozinha.

O outro público atendido é o de pessoas em situação de rua: “Ninguém vai morar na rua porque quer”, observou a coordenadora. Conforme disse, há duas equipes de voluntários que levam as marmitas em alguns pontos da zona sul em que se encontram essas pessoas.

Na quarta-feira, a reportagem acompanhou a chegada de uma doação de ovos, salsichas e linguiça calabresa. Apoiadora do projeto, Ângela Chaves contou que antes enviava as doações e desta vez resolveu leva-las pessoalmente: “É muito importante no momento atual que a gente está vivendo em que está difícil sobreviver. Imagina alguém desempregado, sem uma fonte de renda? Todos têm que contribuir por uma sociedade melhor”, assinalou.

REAPROVEITAMENTO

 

Projeto precisa de 
legumes e verduras
Por causa dos aumentos frequentes dos preços de alimentos, da energia elétrica e do gás, a equipe da cozinha precisa ser criativa. Sandra Farias destacou que nada se desperdiça, de talos de couve que vão para farofa, até cascas de legumes são aproveitados em algumas preparações. Ela contou que “o projeto recebia o descarte de legumes e verduras de um supermercado da zona sul que, infelizmente, anunciou o fim das doações nesta semana”.

“Nossas marmitas sempre foram muita ricas de legumes. O descarte do supermercado tem alimentos muito bons. Por exemplo, se uma batata tem uma manchinha já foge do padrão para ser vendida e é descartada. Mas, nós tiramos a parte afetada e utilizamos o restante porque está em bom estado. Agora, sem essa ajuda não sei como faremos”, lamentou.

Ela disse que espera receber o apoio de outros supermercados ou varejões que queiram participar do projeto doando os legumes e verduras que não são colocados à venda. Outra grande necessidade é um refrigerador mais moderno. Atualmente, há 04 geladeiras antigas que consomem muita energia e que precisam ser substituídas com urgência.

Amor e solidariedade: segredos do tempero

Quando a reportagem já estava concluída, chegou a informação de que o Grupo “Amigos do Bar”, através do presidente Tadau Tachibana vai liderar uma campanha para que a comunidade ajude na compra do refrigerador. O PIX (celular) 14-981140055 receberá doações de qualquer valor. O doador deve mandar comprovante informando que é para a ajuda às marmitas solidárias. 

Geladeiras antigas consomem
muita energia

Quem quiser contribuir com alimentos ou embalagens de marmitex de isopor (custam entre 35 a 40 reais o cento), pode levar à sede da Associação dos Moradores do Nova Marília, em frente à Igreja de Santa Rita de Cássia (Rua Nair Rossílio Guitierrez, 65). Todas as doações são bem-vindas, assinalou a coordenadora que informou sobre a coleta de óleo de cozinha usado: “Pedimos para as pessoas juntarem o óleo e colocarem em garrafas PET. Quando estiverem cheias, que nos tragam porque vendemos e com o dinheiro compramos materiais de limpeza”. 

Além das doações da comunidade, o bazar da pechincha permanente da Associação ajuda a manter o projeto, assim como a venda de pães e roscas. “Todas as sextas-feiras, a nossa panificadora trabalha o dia todo para a produção que é vendida à tarde. Com essa renda, ajudamos na conta de energia, no gás, que consome 800 reais por mês, e nas marmitas”, finalizou. Para outras informações, o telefone é (14) 34176922.

* Reportagem publicada na edição de 13.03.2022 do Jornal da Manhã

Saiba mais sobre a ONG "Amigos do Bar" acessando AQUI, AQUI e AQUI


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domingo, 6 de março de 2022

BEIJO DA MORTE: COMO UMA ÁRVORE EXUBERANTE CAUSA DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL

Por Célia Ribeiro

As flores de cores vivas da árvore imponente escondem um veneno cruel para abelhas, insetos e pássaros. As espatódeas, que atingem até 25 metros de altura, muito comuns na zona rural e também na área urbana, são responsáveis pelo desequilíbrio do meio-ambiente por matarem as abelhas que não resistem ao entrarem em contato com uma substância altamente tóxica. 

Espatódea em Araucária/PR onde está proibida

Estudos indicam que 90 por cento das flores silvestres e 75 por cento da produção de alimentos dependem das abelhas para a polinização. Por isso, quando se fala em mortandade de abelhas é preciso analisar o assunto com mais profundidade e ver o exemplo de cidades do Sul do País que criaram leis proibindo o plantio de espatódeas e sua substituição gradual, como o município de Araucária, na região metropolitana de Curitiba. 

Johnny, meliponicultor de Marília

“As espatódeas representam o assassinato das abelhas. O que mais se perde é de Jataí. O enxame pode estar forte e se definha do nada”, observou Johnny Thiago Santana, criador de abelhas sem ferrão e idealizador do Projeto Doce Futuro, na zona oeste de Marília. Ele destacou a perversidade do problema: “Algumas abelhas não morrem na hora e conseguem voltar para a colmeia. Nesta hora, contamina o pólen, a colmeia e mata o enxame todo”, pontuou.

O meliponicultor contou, com tristeza, que muitos condomínios horizontais de alto padrão de Marília têm as ruas tomadas pelas espatódeas. No caso do Projeto Doce Futuro, nas imediações do Distrito de Padre Nóbrega, ele disse que foram localizadas três árvores que serão erradicadas e substituídas pela astrapeia: “Nosso projeto visa fomentar a educação ambiental e levar as crianças para conhecerem o que fazemos pela preservação ambiental”, assinalou.

 PROBLEMA GRAVE

 Segundo o engenheiro florestal e consultor ambiental Cauê Carbinato Duarte dos Santos, a espatódea está difundida em todo o Brasil. Vinda da África, ela se adaptou bem ao clima e, por não ter predadores naturais, consegue se reproduzir muito rapidamente: “Embora seja parente do ipê, ela não tem o ciclo como o dele que dá sementes uma vez por ano. Ela dá semente o ano inteiro. A taxa de reprodução dela é muito alta e é considerada uma invasora biológica porque está ocupando espaço de uma árvore nativa aqui”. 

Abelhas mortas na flor da espatódea

Ele assinalou que “em muitas fazendas, o pessoal planta por ser bonito. É igualzinha à flor do ipê, só que floresce o ano inteiro. Ela tem semente alada e a distribuição dela é pelo vento. Ou seja, onde o vento conseguir levar, ela vai parar. Na cidade de Itu e no Estado do Paraná já foi proibido, passível de multa, a reprodução desta espécie e o plantio de novos indivíduos”.

 O engenheiro florestal acrescentou que “a retirada de indivíduos adultos se faz necessária com a substituição de novas espécies para manter a questão da temperatura, umidade, sombreamento, barramento de vento etc”.

Cauê, eng. florestal

Além das abelhas, muitos insetos e pássaros, como o beija-flor, são vítimas das espatódeas: “É uma árvore muito atrativa para os pássaros e para os insetos. Até pássaros que consumirem um inseto que consumiu o néctar dela vai se intoxicar”. Ele explicou que “às vezes, se encontra um beija-flor morto dentro da flor porque ele tem o metabolismo extremamente acelerado”. No entanto, um pássaro que comer um inseto contaminado, ficará com a toxidade no seu sistema digestivo e vai morrer, também, embora não imediatamente como o beija-flor.

Cauê alertou que “se tiver um laranjal e levar as abelhas para fazerem a polinização, e houver uma espatódea na área, o máximo que vai conseguir é matar as abelhas”. Ele também refutou a justificativa dos benefícios da árvore à qualidade do ar: “Sobre o sequestro de carbono, depois que o indivíduo está adulto ele praticamente não sequestra nada de carbono. Tudo o que ele consome ele devolve durante a noite. Só vai retirar o carbono da atmosfera enquanto tiver desenvolvimento vegetativo, crescimento de galho e de tronco. Quando a espatódea atingir o estágio adulto, só vai fazer fotossíntese, devolvendo o gás carbônico durante a noite”. 

Árvore comum em condomínios de alto padrão

PREFEITURA

De acordo com Cassiano Rodrigues Leite, chefe do Meio Ambiente de Marília e pós-graduado em Gestão Ambiental, “a prefeitura possui, em seu quadro de servidores, engenheiros agrônomo e florestal responsáveis pela arborização urbana, que orientam sobre as espécies adequadas para plantio em áreas públicas, inclusive oferecendo mudas gratuitamente no bosque municipal. Infelizmente, muitas pessoas plantam árvores sem conhecimento algum, e acabam introduzindo espécies inadequadas, que podem causar desequilíbrios ambientais." 

Cassiano, chefe do Meio Ambiente

Conforme disse, “estes plantios sem acompanhamento técnico são os grandes vilões do urbanismo, danificando tubulações e fios. As vistorias são feitas pelo setor de engenharia da prefeitura; porém, as árvores são erradicadas apenas se apresentarem doenças ou estiverem colocando em risco pessoas ou patrimônios. Assim, orientamos para que as pessoas busquem orientações antes de plantarem árvores em área urbana”.

Cassiano afirmou que “estudos indicam que as flores da espatódea apresentam substâncias consideradas tóxicas para as algumas espécies de abelhas nativas sem ferrão e também para as abelhas-africanizadas. Não temos leis no Brasil que proíbam o plantio desta espécie, porém, já existem cidades se mobilizando pela erradicação desta planta, principalmente na região sul do país. Em Marília, já elaboramos legislação que proibirá a comercialização, reprodução em viveiros e plantio desta espécie, sendo que as existentes passarão por substituição gradativa, conforme a necessidade de erradicação, após vistoria”.

 

Abelhas do Projeto
Doce Futuro
Entretanto, ele ressalvou que “estas árvores desempenham funções importantes dentro dos centros urbanos, como liberação de oxigênio, sequestro e armazenamento de carbono, abrigam espécies da fauna e da flora, aumentam a umidade do ar, trazem conforto térmico, sombreamento e redução dos ruídos urbanos. Portanto, não podemos sair simplesmente cortando as existentes. O primeiro passo é parar de plantar, evitando a ampliação dos impactos negativos e, caso a caso, conforme as condições analisadas, substituirmos as existentes gradativamente por novas mudas, preferencialmente nativas, sob orientação técnica do setor de engenharia”.

Cassiano explicou que “além do serviço de engenharia oferecido de forma gratuita, que orienta tecnicamente e disponibiliza cartilhas sobre o tema, a prefeitura possui o ‘Projeto Minha Cidade é Verde’, que está arborizando centenas de áreas ociosas no município, orientando a população sobre os procedimentos corretos e espécies arbóreas adequadas para o centro urbano”. 

E finalizou: “O mariliense tem optado por espécies que apresentam floradas exuberantes, como Ipês, Manacás, Resedás, Jasmim do Caribe, Quaresmeiras, Flamboyants-Mirins, Acácias, dentre outras. Todas compatíveis com o planejamento urbanístico, aprovadas pelo setor de engenharia responsável pela arborização urbana. As espécies são indicadas segundo as características individuais de cada imóvel, considerando-se fiações, tubulações e outros itens que compõem o planejamento urbanístico da região que abrigará o plantio”.

Leia reportagem de 2013, deste blog, sobre as espatódeas na zona urbana, acessando AQUI

*Reportagem publicada na edição de 06/03/2022 do Jornal da Manhã

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