domingo, 13 de março de 2022

MARMITAS SOLIDÁRIAS: PROJETO COLOCA COMIDA NA MESA DE MAIS DE 120 FAMÍLIAS.

Por Célia Ribeiro

No início de 2019, a letalidade do coronavírus provocou uma revolução sem precedentes no mundo. Comércio e setor de serviços foram fechados, a construção civil parada, as pessoas se refugiaram em casa, com medo, e muitos projetos sociais, comandados por voluntários aposentados, tiveram que suspender suas atividades. Foi neste cenário hostil que alguns abnegados encararam os riscos da pandemia para alimentarem mais de 120 famílias da zona sul de Marília, além de moradores em situação de rua. 

Polenta, molho de frango, arroz e farofa de feijão
fradinho com ovos e calabresa

“Marmitas Solidárias” é um dos projetos sociais da Associação dos Moradores do Nova Marília que chega ao terceiro ano com uma história de superação. Além de ser conduzido por voluntárias do bairro, o que o torna especial é o fato de conseguir apoio junto às camadas mais pobres da população, justamente aquelas que menos têm para contribuir.

“É o pobre ajudando o pobre”, observou a coordenadora, Sandra Farias. Ela contou, emocionada, que todos os dias aparecem pequenas doações: “É comum ver alguém que ganhou um pacote de cinco quilos de arroz, abrir e colocar uma parte na lata de mantimentos de sua casa e trazer um saquinho com um pouco deste arroz para as nossas marmitas”. 

A "mistura" é a maior necessidade 
na hora de montar as marmitas

Ela afirmou que o início do projeto foi uma tentativa de amenizar a situação desesperadora de algumas famílias do bairro: “Com a pandemia, veio o desemprego. O marido perdia o serviço e no dia seguinte era a mulher que trabalhava de faxineira e a patroa, com medo de ter alguém de fora em casa, também suspendia a faxina”.

Para piorar, houve a interrupção das aulas e as crianças deixaram de fazer as refeições na escola, agravando o drama familiar. Outro complicador, prosseguiu Sandra, foi que “muitas entidades que atendiam famílias carentes também pararam porque as voluntárias geralmente são idosas e pertencentes aos grupos de risco”. 

(Esq) Sandra Farias e a doadora Ângela Chaves

Foi na tentativa de diminuir o sofrimento das famílias mais vulneráveis que o projeto começou, timidamente: “Resolvemos correr o risco e não desamparar essas pessoas. Começamos com 80 marmitas, passamos para 100, depois para 120 e hoje entregamos 720 marmitas por semana”, informou a coordenadora.

Refeições saborosas

Às segundas e quartas-feiras, as voluntárias da cozinha chegam bem cedo, por volta de 7 horas e só vão embora 12 horas depois. Elas usam a criatividade para produzirem as marmitas que são acondicionadas em embalagens de 750 gramas: “Antes, se a gente tinha 50 quilos de frango, podia preparar de várias maneiras. Hoje, a gente pega 25 quilos de frango, cozinha e desossa para juntar com legumes e ter mais volume porque a carne está muito cara”, acrescentou a coordenadora. 

Voluntárias no preparo das refeições de quarta-feira

E por falar em proteína, raramente a carne bovina é oferecida nas marmitas em que vão arroz e feijão, farofa ou pirão, ovos, legumes variados e carne de frango e porco, salsicha, linguiça e, às vezes, carne moída. Mas, tudo preparado com tempero caseiro e muito carinho. O cheiro de comida boa se sente de longe como foi atestado pela reportagem na última quarta-feira.

COMBATE À FOME

Segundo Sandra Farias, boa parte das 120 famílias cadastradas possui renda familiar de 300 a 500 reais por mês. Não é renda per capita. É a renda da família toda que, juntando com o auxílio do Bolsa Família, não consegue suprir as necessidades básicas: “Infelizmente, nós não podemos aumentar o atendimento, apesar da procura. E só não cortamos mais porque não dá para ver grávidas batendo à nossa porta e negar comida”, assinalou. 

Retirada de marmitas:
120 famílias cadastradas

A coordenadora lembrou que muitas pessoas não conseguem pagar o aluguel, moram de favor ou em barracos. Por isso, nem se tivesse alimentos não teriam como prepara-los diante dos frequentes aumentos do preço do gás de cozinha.

O outro público atendido é o de pessoas em situação de rua: “Ninguém vai morar na rua porque quer”, observou a coordenadora. Conforme disse, há duas equipes de voluntários que levam as marmitas em alguns pontos da zona sul em que se encontram essas pessoas.

Na quarta-feira, a reportagem acompanhou a chegada de uma doação de ovos, salsichas e linguiça calabresa. Apoiadora do projeto, Ângela Chaves contou que antes enviava as doações e desta vez resolveu leva-las pessoalmente: “É muito importante no momento atual que a gente está vivendo em que está difícil sobreviver. Imagina alguém desempregado, sem uma fonte de renda? Todos têm que contribuir por uma sociedade melhor”, assinalou.

REAPROVEITAMENTO

 

Projeto precisa de 
legumes e verduras
Por causa dos aumentos frequentes dos preços de alimentos, da energia elétrica e do gás, a equipe da cozinha precisa ser criativa. Sandra Farias destacou que nada se desperdiça, de talos de couve que vão para farofa, até cascas de legumes são aproveitados em algumas preparações. Ela contou que “o projeto recebia o descarte de legumes e verduras de um supermercado da zona sul que, infelizmente, anunciou o fim das doações nesta semana”.

“Nossas marmitas sempre foram muita ricas de legumes. O descarte do supermercado tem alimentos muito bons. Por exemplo, se uma batata tem uma manchinha já foge do padrão para ser vendida e é descartada. Mas, nós tiramos a parte afetada e utilizamos o restante porque está em bom estado. Agora, sem essa ajuda não sei como faremos”, lamentou.

Ela disse que espera receber o apoio de outros supermercados ou varejões que queiram participar do projeto doando os legumes e verduras que não são colocados à venda. Outra grande necessidade é um refrigerador mais moderno. Atualmente, há 04 geladeiras antigas que consomem muita energia e que precisam ser substituídas com urgência.

Amor e solidariedade: segredos do tempero

Quando a reportagem já estava concluída, chegou a informação de que o Grupo “Amigos do Bar”, através do presidente Tadau Tachibana vai liderar uma campanha para que a comunidade ajude na compra do refrigerador. O PIX (celular) 14-981140055 receberá doações de qualquer valor. O doador deve mandar comprovante informando que é para a ajuda às marmitas solidárias. 

Geladeiras antigas consomem
muita energia

Quem quiser contribuir com alimentos ou embalagens de marmitex de isopor (custam entre 35 a 40 reais o cento), pode levar à sede da Associação dos Moradores do Nova Marília, em frente à Igreja de Santa Rita de Cássia (Rua Nair Rossílio Guitierrez, 65). Todas as doações são bem-vindas, assinalou a coordenadora que informou sobre a coleta de óleo de cozinha usado: “Pedimos para as pessoas juntarem o óleo e colocarem em garrafas PET. Quando estiverem cheias, que nos tragam porque vendemos e com o dinheiro compramos materiais de limpeza”. 

Além das doações da comunidade, o bazar da pechincha permanente da Associação ajuda a manter o projeto, assim como a venda de pães e roscas. “Todas as sextas-feiras, a nossa panificadora trabalha o dia todo para a produção que é vendida à tarde. Com essa renda, ajudamos na conta de energia, no gás, que consome 800 reais por mês, e nas marmitas”, finalizou. Para outras informações, o telefone é (14) 34176922.

* Reportagem publicada na edição de 13.03.2022 do Jornal da Manhã

Saiba mais sobre a ONG "Amigos do Bar" acessando AQUI, AQUI e AQUI


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