sábado, 28 de setembro de 2019

PROJETO SOCIAL DOARÁ BONECOS INCLUSIVOS COM AS CARACTERÍSTICAS DAS CRIANÇAS

Por Célia Ribeiro

Com a aproximação do dia 12 de outubro, o comércio registra um natural aumento na procura por brinquedos. No entanto, para algumas crianças, bonecas e bonecos padronizados, sem nenhuma imperfeição, não as representam. São crianças acamadas, portadoras de deficiências, em recuperação de queimaduras e acidentes que não se veem nos brinquedos produzidos em larga escala pela indústria.
Garoto com vitiligo e seu boneco

Pensando nessas crianças, a empresária Camila Vieira de Abreu Bissoli criou o projeto “Uma boneca como eu”, inspirado no modelo da norte-americana Amy Jandrisevits que distribui, por ano, quase 1.000 bonecas e bonecos, gratuitamente, a crianças que passaram por processos traumáticos, como queimaduras e amputações, ou doenças como o vitiligo (perda da coloração da pele) e o câncer.

Casada e mãe de um garoto de três anos, Camila divide seu tempo entre a “Divina Empada”, no bairro Maria Izabel, a participação no grupo de clown “Capilania Adorarte” que visita hospitais e asilos, e a estruturação do projeto que está na fase de captação de patrocínios e apoiadores para sair do papel.

Ela contou que sempre desejou “participar de algum projeto social. Só que eu queria algo que conseguisse, de alguma forma, impactar a vida de alguém”. Ela revelou ter ficado sensibilizada durante visitas a crianças na ala dos queimados: “Quando a gente chega, a criança está triste e a gente faz algumas coisas, como umas dancinhas e de alguma forma a gente tira o sorriso dela”, observou.
Esli e Camila na empadaria da família: solidariedade
Camila explicou que o grupo “sempre leva algum brinquedinho, alguma coisinha para dar a elas que ficam muito felizes. Só que as mães falam que é momentâneo. Elas ficam felizes enquanto a gente está lá e depois elas voltam para o mundo delas, principalmente os que estão na UTQ (Unidade de Terapia de Queimados), permanecendo longos meses internados dependendo da gravidade da queimadura”.
Esli já produz bonecas artesanais
Observando que as crianças hospitalizadas sempre estavam acompanhadas por um brinquedo, certo dia, Camila encontrou nas redes sociais o trabalho “A doll like me” da ex-assistente social norte-americana que começou doando uma boneca customizada para a filha da vizinha que tinha paralisia facial. Ao notar o efeito do presente, ela resolveu criar um projeto que não tem fins lucrativos e conta com doações para levar bonecas e bonecos sob medida a crianças de dezenas de cidades.

Conforme disse, “Amy observou que a boneca não era apenas um simples brinquedo, mas envolvia sentimento e o momento que a criança estava vivendo”. Camila acrescentou que “quando ganham essas bonecas, as crianças buscam se sentir especiais porque elas só veem bonecas perfeitas. Como ela vai olhar a boneca e ver que ela não tem nenhum problema?”
Camila com seu grupo de clown
SEMENTE

Determinada a levar sua ideia adiante, Camila contou com o apoio imediato da mãe, Esli Vieira, costureira do Ateliê Liss Encanto que produz bonecas de pano. Além disso, “uma pessoa que está fazendo tratamento para o câncer se prontificou a nos ajudar fazendo os moldes para as bonecas”, explicou.

A costureira, por sinal, descobriu o artesanato ao enfrentar uma depressão após a perda de sua irmã caçula e do pai: “Eu achava que não era capaz. Hoje, o que eu pego para fazer, eu faço; restauro meus móveis, faço caixas em MDF e adoro fazer minhas bonecas. Se pudesse, ficaria o dia inteiro só trabalhando nelas. Faço muitas roupinhas e adoro enfeita-las”, comentou Esli.
Bonecos da americana Amy

Camila informou que o projeto piloto dos bonecos já tem endereço certo. Trata-se de uma menina de 07 anos, Rafaella Bonfim Silvério, portadora de Encefalopatia Crônica, causada por meningite bacteriana: “Ela perdeu a fala e os movimentos motores. Acompanho a luta da Rafaella há muitos anos pelas redes sociais”. Consultada, a mãe se emocionou com a ideia e está ansiosa para que a boneca, com as características da filha, fique pronta o quanto antes.

PARA COLABORAR

A empresária informou que o custo de cada boneca ou boneco girará entre 50 e 100 reais, dependendo dos acessórios (cadeira de rodas de ferro, muletas, próteses de pernas ou bracinhos). Ela frisou que toda ajuda será bem-vinda, desde retalhos de tecidos, enchimentos para o corpinho, enfeites, até doações mensais de pequenos valores ou doação única. Artesãos também podem contribuir com acessórios.
Rafaella será a primeira beneficiada pelo projeto de Marília
Camila disse que liberou o piso superior da empadaria para o projeto. Lá serão instaladas as máquinas de costura, estoque e mostruários. Todo o trabalho será desenvolvido por voluntários e, após atender as crianças de Marília, a ideia é expandir o projeto para outros municípios. Em breve, serão promovidos eventos para divulgação do projeto e geração de renda para o pontapé inicial.

Para contribuir com o projeto que entregará bonecas e bonecos personalizados com as características das crianças, basta entrar em contato com Camila Bissoli no telefone (14) 997734132 ou na Divina Empada, localizada à Rua Thomaz Gonzaga, 185, no Jardim Maria Izabel, em Marília.

Ao consolidar o projeto, com a doação da primeira boneca feita sob medida para Rafaella, a empresária espera inaugurar um tempo em que centenas de crianças possam se sentir representadas com seus brinquedos, não apenas no dia 12 de outubro, mas por toda a sua vida.

*Reportagem publicada na edição de 29.09.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 22 de setembro de 2019

MOVIMENTO APOIA PROJETOS SOCIAIS E ATUA NO EMPODERAMENTO DAS MULHERES.

Por Célia Ribeiro

Elas têm idades, profissões e níveis socioeconômico e educacional diferentes. Mas, estão ligadas por uma linha invisível muito resistente: o desejo de evoluir e melhorar a comunidade em que vivem. São as 150 integrantes do Movimento “Mulher Cidadã”, iniciado há um ano e meio e que cresce em quantidade e qualidade, apostando no incentivo às ações de responsabilidade social e de utilidade pública.
Mulher Cidadã: reunião no Coworking Espaço 96
A reportagem do JM acompanhou uma reunião do grupo, na semana passada, no Coworking Espaço 96, onde são realizados os encontros. A diretora-executiva do local, advogada Adriana Tognoli, contou como tudo começou: “Mulher Cidadã surgiu do nosso ativismo de muitos anos. Pensamos em como trabalhar mais esse ativismo e unir as mulheres que tenham interesse em desenvolver vários trabalhos, não só com fins lucrativos, mas também trabalhos sociais”.

Conforme disse, “no início, trabalhamos mais a questão do empreendedorismo. Mas, entendi que o empreendedorismo é mais amplo e o ‘Mulher Cidadã’ consegue abraçar tudo.
Nós trabalhamos a divulgação profissional, os trabalhos sociais desenvolvidos, a utilidade pública”.
Delegada Rossana Camacho proferiu palestra no último encontro
Ela explicou que o movimento foi iniciado em conjunto com “Sandra Yamashita que estava administrando junto comigo o grupo porque ela é muito proativa e faz um trabalho muito bom. A Sandra é conhecida em todo o Brasil pelo trabalho de empreendedorismo que realiza. Como está à frente do Empretec do Sebrae, ela saiu da coordenação, mas continua no grupo”.

Adriana Tognoli observou que “o Mulher Cidadã é um movimento laico, apartidário, com fins de valorizar a participação da mulher nos mais diversos setores da sociedade”. Além disso, tem como objetivo alcançar o “desenvolvimento pessoal, profissional e social, promover ações de empreendedorismo e utilidade pública e incentivar o voluntariado e as ações inspiradoras”.
Adriana Tognoli, ao centro, com integrantes do movimento
REDE

Em menos de dois anos, foram realizados cinco encontros em que palestrantes convidadas abordaram os temas de maior interesse. No entanto, o grupo é muito ativo pelo aplicativo de celular WhatsApp onde são levantados os assuntos para debate. Por mensagens coletivas ou individuais, troca-se informação e orientação, além das participantes divulgarem suas atividades profissionais.

Segundo Adriana Tognoli, “todo o nosso trabalho é voltado para o fortalecimento tanto pessoal quanto profissional da mulher, sua autonomia, a valorização da mulher na sociedade, seja ela uma dona de casa que faz trabalhos voluntários e cuida dos filhos, seja ela uma empresária. Para nós isso não importa. O nosso grupo abraça todas as mulheres que queiram participar”.
Heloisa e o livro infantil

Várias mulheres também participam de ONGs e a troca no grupo é sempre rica. Um exemplo ocorreu quando a pedagoga Heloisa Ishii confeccionou o protótipo de um livro infantil em Libras (linguagem de sinais para deficientes auditivos) e ao postar no grupo foi contatada pela mãe de um menino de 11 anos, que se interessou em conhecer a publicação. Ele foi adotado aos seis anos e é deficiente auditivo.

A pedagoga contou que quando mãe e filho foram até sua residência, foi surpreendida pela reação da criança: “Até a terceira página ele ficou sentadinho. Depois da quarta página, ele se levantou e veio contar a história junto comigo. Ele olhava na minha mão e olhava nos desenhinhos do livro. Ele percebeu que era a língua dele”, recordou, emocionada. Agora, ela pretende patentear a criação e buscar parceiros para produção de mais unidades.

AMENDOEIRA EM FLOR

Dentro do “Mulher Cidadã” nasceu o projeto social “Amendoeira em Flor”, que se reúne no Espaço 96, todas as terças-feiras. Com a participação de nutricionista e psicóloga, o grupo conta com 16 integrantes: “O que a gente queria era fortalecer psicologicamente, emocionalmente, essas mulheres para que elas tivessem uma ação mais integrada, não só em relação ao empoderamento empresarial. A gente começou esse grupo mais focado na individualidade de cada uma. É uma terapia em grupo, uma conversa muito gostosa onde se troca informação e experiência”, explicou a psicóloga clínica Lorena Carvalho Carreiro.
Mulher Cidadã e Amendoeira em Flor
Integrantes após reunião.

A psicóloga destacou o entrosamento das integrantes citando que, recentemente, ao participar de um evento de uma comunidade de jovens adventistas foi arrecadada uma grande quantidade de ração e a pessoa que seria beneficiária não apareceu para retirar as doações. Lorena fez uma postagem no grupo e uma das participantes do “Mulher Cidadã” é dirigente de uma ONG que acolhe animais e estava, justamente, necessitando muito de rações. A ponte se fez rapidamente e a boa ação dos jovens encontrou o lugar certo.

Por sua vez, Camila Vieira de Abreu Bissoli, dona da “Divina Empada”, muito conhecida na cidade, encontrou no grupo o apoio para abrir uma loja física porque só vendia seus produtos junto a parceiros e em feiras livres. “Eu tinha muita insegurança sobre o comércio. Hoje, vejo que tem sido muito bom pra mim”.

Mas, nem só de delícias vive a empresária. Ela procura ajuda para um projeto social chamado “Uma boneca como eu”, a exemplo do modelo existente há 20 anos nos Estados Unidos. Conforme disse, será a confecção de bonecas de pano personalizadas com as características da criança não apenas portadora de alguma deficiência, mas também que tenha passado por um processo traumático como amputação de membros ou queimadura.
Os encontros acontecem no Espaço 96
No encontro da semana passada, a conversa girou em torno de inúmeros projetos pessoais, profissionais e comunitários de cada uma das participantes. E como os galhos da amendoeira, as boas novas devem se ramificar em valiosas ações de interesse social, além de contribuírem para o empoderamento feminino.

*Reportagem publicada na edição de 22.09.2019 do Jornal da Manhã 

sábado, 14 de setembro de 2019

EX-BOLSISTA DE MARÍLIA É PESQUISADOR DA MAIOR PRODUTORA DE NIÓBIO DO MUNDO.

Por Célia Ribeiro

Uma história de superação: assim pode ser classificada a trajetória de Lucas Henrique Eiras dos Santos que, aos 28 anos, exibe um currículo invejável fruto de muita determinação. Ex-bolsista do ensino médio no Colégio Compacto de Marília, ele abraçou a oportunidade para se dedicar aos estudos conquistando aprovação em quatro universidades públicas. Mas, isso era apenas o começo. Em 2019, ao concluir o doutorado em química pela USP de São Carlos, ele já tem novo endereço em Araxá (MG) onde foi contratado como pesquisador pela maior produtora e fornecedora mundial de nióbio, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
Apresentação da Tese, defesa do doutorado em São Carlos
Para entender como Lucas chegou tão longe, em pouco mais de  uma década,  é preciso voltar ao ano de 2007. Ele cursava o terceiro colegial no período noturno, por ter uma mensalidade mais acessível, quando a direção do colégio, notando a dedicação do aluno, ofereceu-lhe uma bolsa integral para o período diurno. Como a família residia no Distrito de Avencas, o avô o trazia de manhã, junto com a irmã e só retornavam à noite. Eles almoçavam a marmita que a mãe preparava e Lucas dedicava todo o tempo aos estudos.

Em entrevista ao JM, ele explicou que “após as aulas no período da manhã, eu permanecia no colégio à tarde para estudar, fosse através de simulados ou comparecendo às monitorias das matérias que eu tinha dificuldade. Uma coisa que ajudou bastante foi estudar em grupo, pois ajudando os amigos eu conseguia fixar melhor o conhecimento. Explicar para os outros é uma forma efetiva de consolidar o conhecimento, conforme eu aprendi, posteriormente, em uma disciplina do doutorado sobre Docência”.
Durante congresso na Costa Rica, em 2.016
Aprovado em Química em duas universidades (USP de São Carlos e Unicamp), Engenharia de Materiais (UFSCar) e Medicina (Famema), Lucas sabia bem o que queria: “Química era minha prioridade, já que era minha disciplina preferida e a descrição da carreira (trabalhar com pesquisa acadêmica ou desenvolvimento de processos e produtos na indústria) foi bastante atrativa para mim. Engenharia de Materiais foi uma segunda prioridade, já que a formação em Engenharia abre muitas portas no mercado de trabalho, e a Engenharia de Materiais é uma das que mais se aprofunda no estudo da Química. Medicina foi um desafio proposto pelo colégio, tendo em vista meu potencial”.

DESAFIOS

Além de sentir falta da família, ele enfrentou outros desafios nos primeiros anos: “Durante a graduação, eu fui bolsista de iniciação científica por dois anos. Conciliar as atividades de pesquisa com o curso também foi um desafio, já que o curso era integral. Era preciso estar em São Carlos durante boa parte das férias para manter o cronograma de pesquisa em dia. Depois disso veio o doutorado. Entrar no doutorado direto foi difícil pois havia alguns requisitos de currículo, um exame admissional e um teste de fluência em inglês. Graças à iniciação científica eu preenchia os requisitos de currículo, mas precisei de um esforço a mais para estudar e ter aprovação nos outros dois testes”, recordou.
Com colegas no Projeto Rondon, em Mato Grosso
Lucas prosseguiu comentando os entraves para a pesquisa no Brasil: “Paralelamente a isso, eu e meus colegas tivemos que lidar com dificuldades como a redução dos recursos para a pesquisa. Alguns colegas fizeram seus mestrados e doutorados sem bolsa, e eu mesmo tive que fazer o último ano sem bolsa. Além disso, o aumento do número de grupos de pesquisa no País, sem um aumento compatível do financiamento de projetos, fez com que houvesse limitações com relação a materiais (reagentes químicos) e infraestrutura (equipamentos analíticos). Desenvolver uma pesquisa de ponta com recursos limitados é um desafio, já que tudo tem seu custo, especialmente em Química, em que reagentes e equipamentos normalmente são importados”.

Ele contou que foi bolsista de iniciação científica: “Desenvolvi um projeto em um laboratório de pesquisa por dois anos. Neste projeto aprendi muito sobre como é trabalhar em um laboratório, o que foi bastante motivador. Também tive a oportunidade de participar do projeto Rondon em 2011. Foi uma ótima experiência, onde pude, junto com um grupo de estudantes da Escola de Engenharia de São Carlos (USP), levar um pouco do que aprendemos na universidade para o benefício de regiões em desenvolvimento”. O grupo esteve no interior do Mato Grosso.
Bacharelado, com a mãe e a irmã
Ele acrescentou que “durante a graduação também pude fazer um intercâmbio, no qual recebi uma bolsa da USP para passar um semestre em Portugal. Este foi um período de muito crescimento pessoal, pois conviver com outra cultura expandiu minha percepção sobre o mundo”. Entre 2012 e 2013, Lucas foi aluno do Curso de Mestrado Integrado em Engenharia Química do Instituto Superior Técnico (Universidade de Lisboa).

Deste período, ele guarda boas lembranças: “Além do aprendizado dentro de sala de aula, também tive um grande desenvolvimento pessoal. Convivi com diversos estudantes intercambistas, tanto brasileiros quanto europeus, e foi interessante conhecer pessoas de outras culturas e se adaptar a essa diversidade. Foi muito interessante a forma como estabelecemos amizades rapidamente, principalmente entre os intercambistas brasileiros e isso contribuiu para que eu não me sentisse sozinho, mesmo longe de casa”.
Visita ao Louvre, em Paris 

Ele realizou o sonho de viajar para França, Espanha e Inglaterra: “Em todas essas viagens eu pude reparar em diferentes culturas e como as coisas funcionam em diferentes países. Foi um período de amadurecimento em que pude expandir minhas próprias opiniões e enxergar as coisas como um cidadão do mundo  e não apenas de um país”, observou.

CAMINHO DA PESQUISA

Lucas comentou, com orgulho, sobre o mais novo desafio: “Estou trabalhando na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) com pesquisa e desenvolvimento a nível industrial. A CBMM é a maior produtora e fornecedora mundial de produtos de nióbio, e está investindo no desenvolvimento de materiais à base deste elemento para aplicação em baterias. Essa pesquisa vem de uma parceria com a Toshiba para o desenvolvimento de uma nova geração de baterias que atendam o mercado de veículo elétricos”.

Conforme disse, “essas baterias devem possuir uma alta capacidade de carga elétrica, bem como uma alta velocidade de recarga e longo tempo de vida, para que os veículos tenham autonomia sem precisar de outros combustíveis. Para viabilizar este projeto, a CBMM investiu em infraestrutura e recursos humanos. Havia a necessidade de contratação de pessoal com experiência em pesquisa e desenvolvimento na área de Eletroquímica, ramo da Química na qual, entre outros tópicos, se estudam as baterias. Desta forma, no final de maio, fui contratado para me juntar a uma equipe que tem como desafio desenvolver materiais à base de nióbio, que atendam às necessidades da indústria de baterias e levar a produção destes materiais ao nível comercial”.
Com orientador e comissão julgadora do doutorado
Visionário, ele sabe bem a importância do momento em que vive: “É uma grande oportunidade para mim que investi na minha formação como pesquisador. Por muito tempo planejei trabalhar como docente-pesquisador em uma universidade, já que no Brasil a maior parte da pesquisa científica vem das universidades públicas. Entretanto, a pesquisa no Brasil tem sido cada vez mais difícil já que as universidades dependem do financiamento público e a disponibilidade de recursos tem sido cada vez mais limitada”.

E concluiu: “Tenho a chance, agora, de trabalhar em algo que pode revolucionar o mundo: a utilização de veículos elétricos é fundamental para que a sociedade atinja a sustentabilidade. Além de dispensar o uso de combustíveis fósseis, a eletricidade utilizada para recarregar as baterias destes veículos pode vir de fontes renováveis e limpas”.

GRATIDÃO
Em Araxá, novo desafio como pesquisador

Aos 28 anos, Lucas leva uma vida tranquila em Araxá. Quando não está trabalhando, gosta de ler e assistir séries na TV, especialmente de suspense, investigações e épicos. Ele falou com gratidão sobre a oportunidade da bolsa no ensino médio: “A concessão de bolsas, tanto em concursos internos quanto externos, é uma política positiva que muitos colégios adotam e permite que jovens, de famílias com rendas mais baixas, tenham acesso a bons colégios. Este foi o meu caso, já que só pude ingressar no Compacto devido à bolsa. Esta oportunidade me abriu portas para chegar onde estou hoje, e acredito que este tipo de iniciativa deve atender o maior número possível de estudantes”.

Ele finalizou destacando que, no caso dos concursos externos de bolsas de estudo, o objetivo é selecionar jovens talentosos e dedicados provenientes de escolas públicas: “Como todos sabemos, é dever do governo investir na qualidade do ensino nas escolas públicas. Mas, enquanto não alcançarmos a qualidade que a sociedade deseja, os colégios particulares devem contribuir gerando oportunidades ao maior número possível de jovens talentosos”.

No dia 09 de setembro de 2012, este blog publicou uma entrevista com Lucas quando foi aprovado em quatro universidades. O arquivo continua disponível AQUI.

*Reportagem publicada na edição de 15.09.2019 do Jornal da Manhã


domingo, 8 de setembro de 2019

RECICLOTECA: CRESCE O PROJETO DE INCENTIVO À LEITURA E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

Por Célia Ribeiro

“Em ciência leia sempre os livros mais novos. Em literatura, os mais velhos”. A frase atribuída a Millôr Fernandes não faz muito sentido em um espaço literário recém inaugurado na Unidade Básica de Saúde (UBS) São Miguel, em Marília. É que a novidade chamou tanto a atenção dos usuários que parecem mais preocupados com o prazo que terão para ler e devolver as obras do que com a data em que elas foram publicadas.
Enfermeira Denise: amor pela leitura

A unidade recebeu a quarta geladeira literária que o Centro de Educação Ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Limpeza Pública concebeu para oferecer à população acesso gratuito aos livros. Além disso, a iniciativa contribui com a sustentabilidade ambiental ao dar uma destinação correta aos refrigeradores que seriam descartados no ferro-velho.

À frente do projeto “Recicloteca” está o servidor municipal Cassiano Rodrigues Leite, chefe da Divisão de Meio Ambiente e interlocutor do “Programa Município Verde Azul” do Governo do Estado de São Paulo  que qualifica as cidades paulistas segundo as boas práticas de preservação ambiental.

Ele contou que as primeiras geladeiras foram instaladas no Bosque Municipal, no Ganha Tempo e na Estação Rodoviária. Há um mês, o projeto chegou à UBS São Miguel e está em vias de finalização uma geladeira para o GACCH (Grupo de Apoio às Crianças com Câncer e Hemopatias).
Recicloteca no Ganha Tempo

Cassiano Rodrigues explicou que, como Marília precisa adotar boas práticas na área ambiental, seguindo o que preconizam as normas do programa “Município Verde Azul”, a ideia de aproveitar geladeiras velhas como uma minibiblioteca pública caiu como uma luva. Afinal, os refrigeradores escaparão de lixões e dos ferros-velhos e os livros poderão ser lidos muitas e muitas vezes.

“Ao invés de cada um comprar um livro igual, o mesmo livro pode ser lido por milhares de pessoas, evitando que se corte árvores para fabricar papel”, observou. Por outro lado, a comunidade se beneficia das publicações disponibilizadas em áreas públicas podendo iniciar a leitura enquanto aguarda um atendimento, no caso da UBS e do Ganha Tempo, ou a hora de embarcar na Rodoviária. Os livros podem ser levados e devolvidos posteriormente.

O idealizador da “Recicloteca” destacou que para funcionar cada vez melhor, a população pode contribuir fazendo doações tanto de livros como de geladeiras inservíveis. Em parceria com a Prefeitura, a Divisão de Meio Ambiente consegue adesivar os equipamentos antes de entrega-los aos locais já com os primeiros livros para iniciar o projeto.

LEITORA VORAZ

A UBS São Miguel ganhou sua “Recicloteca” há cerca de um mês, logo que o prédio foi reinaugurado após mais de um ano de reforma, contou a enfermeira responsável, Denise Miyashiro Lemos Pires. Leitora voraz, ela se interessou pela geladeira literária quando precisou ir ao Bosque tratar de um assunto do trabalho e se deparou com a novidade. Ao retornar à unidade, recebeu um telefonema de Cassiano que soube de sua admiração pelo projeto e propôs expandir a “Recicloteca” em mais um ponto.
Gibis atraem as crianças
Arejado e com uma ampla recepção, o local reúne todos os serviços de uma Unidade Básica de Saúde que é referência para os bairros do entorno. Por isso, o fluxo de pessoas é grande, explicou a enfermeira. Conforme disse, a adesão dos usuários surpreendeu, principalmente no caso das crianças que além de livros infantis também têm à disposição vários gibis.

“Gosto muito de ler e acho que quando a gente gosta de alguma coisa, acaba se interessando quando vê uma coisa diferente”, observou Denise que é uma das maiores entusiastas da ideia. Ela contou que as pessoas começam a ler enquanto aguardam atendimento e ficam surpresas ao saber que podem levar o livro para casa e devolver no retorno. Para controle, foi instituído um caderno em que são anotados dados do usuário, data e título do livro emprestado. Tudo muito simples e funcional.
População pode doar livros
e também geladeiras velhas


A enfermeira afirmou que o público infantil tem se destacado no uso da “Recicloteca”: “As crianças pedem para levar um, dois livros. Temos muito movimento tanto da pediatria como da fonoaudiologia em que atendemos como referência outras regiões”, assinalou.

Denise explicou que a geladeira chegou com alguns livros e outros começaram a ser doados. Ela espera contar com a colaboração da população para doar mais publicações e manter o interesse dos novos leitores: “Aqui tem de tudo, romance, poesia, livro infantil. Não importa o gênero porque o importante é termos sempre livros disponíveis para atender a todos”, concluiu.

Quem quiser doar livros e gibis para a UBS São Miguel, o endereço é Rua Vinte e Quatro de Dezembro, 2865. Para doar geladeiras sem uso e livros para a Divisão de Meio Ambiente, basta telefonar para (14) 34543400 que as doações serão retiradas.

*Reportagem na Edição de 08.09.2019 do Jornal da Manhã