domingo, 24 de fevereiro de 2019

LIXO ZERO: ARTESÃ PRATICA O QUE ENSINA REDUZINDO RESÍDUOS COM CRIATIVIDADE.

Por Célia Ribeiro

Quando criança, a menina de olhinhos puxados se encantava ao ver a avó costurar. De suas mãos habilidosas saíam as criações que faziam a alegria da família. Mas, um detalhe a marcou para sempre: nem um fiapo de tecido era desperdiçado. Três décadas depois, a artesã Mary Kaneji segue os passos da avó ensinando e praticando a arte sustentável com reaproveitamento de materiais onde coloca criatividade em benefício do meio-ambiente.
Rutinha e as ecobags
Natural de Londrina, a história da artesã com Marília começou quando ela veio estudar Fisioterapia na Unimar. Voltou à terra natal e trabalhou em várias cidades, principalmente no Sul do País, como fisioterapeuta, até o dia em que resolveu desconsiderar o conselho de uma professora de costura que havia lhe dito para desistir porque não “levava jeito para a coisa”.
Sobra do tecido: regata, turbante e colar

“Comecei com o Patchwork em 2.006, como hobby. Foi a segunda vez que tentei porque da primeira vez, quando tinha 17 anos, a professora disse para eu desistir”, recordou abrindo um sorriso enquanto corria o olhar pelo ateliê que mantém na residência, localizada no Parque das Esmeraldas, como quem diz: venci!

No início “sem dinheiro para comprar uma máquina de costura eu fiz duas colchas à mão”, revelou, explicando que, mesmo sem o equipamento, é possível usar as técnicas de unir os retalhos para produzir as peças mais variadas. Para quem se interessa, “existem máquinas de 5 mil reais, de 15 mil reais, mas tem a que custa 300 reais e dá para costurar também”, assinalou.

E por falar em equipamento, no ateliê ela deixa à mostra uma das suas preciosidades: uma máquina bem antiga da avó do marido onde mandou instalar um motor. Além disso,  Mary guarda uma “Singer de 1910 que foi a primeira fabricação da Singer no Brasil, que  permanecerá original”.
Muita técnica neste trabalho de Patchwork
TECIDOS DE REUSO

Muito atuante nas redes sociais, Mary Kaneji é  conhecida pelos cursos e workshops que ministra fora de Marília, principalmente em São Paulo. Por isso, ela se mantém atualizada e com acesso a iniciativas que têm tudo a ver com sua filosofia de vida como, por exemplo, um banco de tecidos da capital.
Relíquia de família: da avó do marido a máquina ainda em uso

Do banco de tecidos para o ateliê

A artesã explicou que na indústria da moda as confecções que trabalham com estampas exclusivas, depois de colocarem as coleções à venda nas lojas, o que sobra vai para os outlets e, se não forem vendidas, muitas voltam para as fábricas onde as peças são destruídas e acabam em “sacos de lixo nos aterros”, observou, consternada.

Felizmente, está crescendo um segmento de empresas que se preocupam com a sustentabilidade ambiental, que destinam sobras de tecidos para projetos sociais, como a Farm do Rio de Janeiro (https://www.farmrio.com.br/)  e colocam tecidos de coleções passadas em bancos de tecidos como o que Mary utiliza, em São Paulo.

Mary Kaneji explicou que o banco funciona da seguinte forma: quem tem tecidos parados em casa pode levar para o local e fazer o depósito recebendo um crédito para retirar em outros tecidos que desejar: “Tem muita gente que simplesmente doa. Mas, tem quem leve tecidos e pegue outros. Um metro de linho que custaria 80 reais nas lojas, lá no banco sai bem em conta. Um quilo de tecido custa 50 reais e, no caso do linho, daria para levar 3,5 metros”.
Ecobags criadas por Mary e suas alunas
Nas prateleiras do ateliê, a artesã tem tecidos de estampas exclusivas, alguns de três ou quatro anos atrás, que fizeram sucesso em grifes conhecidas. Ela aproveita os tecidos de reuso, como são chamados, para uma infinidade de trabalhos: ecobags, estojinhos, mochilas, bolsas, cangas, colchas etc.
A delicadeza do trabalho fica visível nesta peça de bolsões para cama

FIAPOS DO BEM

Lembrando das lições da avó, Mary não desperdiça nada. Ela mantém três baldes em que são depositados retalhos e fiapos residuais das costuras separados de acordo com o tamanho: “Dependendo de quanto sobrou, tiro um estojinho e as fiapeiras são aproveitadas no enchimento de peso de portas, por exemplo. Não jogo nada fora”, frisou.
Vidros de geleia e papinha infantil são reaproveitados
Falando em ecobags, Mary disse que pensou em criar modelos diferenciados para incentivar o uso: “A pessoa tem que amar aquela ecobag para carrega-la. Tem que pegar a pessoa por um canto, se não for pela consciência ecológica, que seja  pela beleza”, assinalou. Para essas peças, ela conta com a ajuda da amiga Cristiane Bertassi que faz crochê em fios de malha e, assim, vão saindo peças diferenciadas que chamam a atenção.


A artesã atua, comercialmente, em duas frentes: tem o Patchwork com aulas no ateliê e os cursos que ministra fora e o projeto “Mary Kaneji Lixo Zero” focado na sustentabilidade ambiental. Na lojinha da internet ( https://www.elo7.com.br/marykaneji) são encontrados alguns produtos como sacolas para legumes, verduras e frutas, sacos de algodão para pães e outros de algodão orgânico para extração de leite de vegetais, Kits para armazenar o lanche das crianças etc. Tudo isso para dispensar as embalagens plásticas descartáveis.
Saco de algodão: nada de plástico descartável

Entre os produtos que têm boa procura, estão encomendas de  lembrancinhas em que aproveita potes de vidro, como de papinhas de bebê e geleia, que são enfeitados com retalhos de tecidos de reuso com um efeito surpreendente e único.

Quando vai ao supermercado, Mary leva suas embalagens. Coloca os legumes e verduras nos sacos, que por serem bem leves não comprometem o peso final. Na saída, se as ecobags que levou não forem suficientes, ela solicita caixas de papelão. Até os frios ela coloca em embalagens próprias e lamenta que esse hábito nem sempre seja bem visto: “Deixei de comprar em uma padaria por causa disso”, comentou.
Embalagem para o lanche das crianças
Em casa, ela vivencia o que prega procurando gerar o mínimo de resíduos possível. Assim, mantém duas composteiras de onde sai o adubo para suas plantas e árvores frutíferas. “O grande problema não é só a reciclagem. Temos que diminuir a quantidade de lixo que geramos”, assinalou.

Talheres, canudo e guardanapo de tecido: kit vai na bolsa
Conforme disse, a filha de cinco anos, Rutinha, está sendo educada com a experiência que aprende em casa ao ver o respeito ao meio-ambiente nas pequenas coisas. E quando a família sai, o kit de talheres, canudos e copos vai junto: “Se a gente chega no shopping e vai comer onde não tem talheres de metal, usamos os nossos e recusamos os de plástico descartável”, explicou.

Preocupada com o planeta que as futuras gerações herdarão, Mary procura se informar e conhecer iniciativas inspiradoras. Recentemente, voltou impressionada de uma viagem a Florianópolis onde conheceu um “Restaurante Zero Lixo” certificado. E tem esperança em ver a coleta seletiva de lixo implantada em todas as cidades.
Mary e Rutinha: educando pelo exemplo
Enquanto isso, a artesã segue ensinando Rutinha como tornar o mundo melhor e incentivando suas alunas a lançarem um novo olhar quando forem executar suas criações. O contato de Mary é: (14) 991732211, nas redes sociais:  https://www.facebook.com/RefazendadaMary/ e  https://www.instagram.com/marykanejiartetextil/

*Reportagem publicada na edição de 24.02.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 17 de fevereiro de 2019

SEBRAE: COMO NEGÓCIO, O ARTESANATO ALAVANCA A CULTURA E O TURISMO.

Por Célia Ribeiro

Estava dia claro, por conta do horário de verão, quando às 19h um grande número de pessoas se aglomerava em frente à sede do Sebrae/SP em Marília, na última terça-feira (12). A maioria mulheres, mas também homens de várias idades, aceitaram o convite para participarem do I Encontro de Artesãos de Marília e Região cheios de expectativa. Afinal, abria-se a oportunidade para discutirem assuntos comuns e, quem sabe, lançarem a semente da organização do setor que, além de gerar negócios, contribui para a divulgação da cultura e do turismo locais.

Cristiane falou sobre o cenário do artesanato nacional
Promovido pelo Sebrae/SP, em parceria com a Secretaria Municipal da Cultura, o evento reuniu mais de 50 artesãos de Marília, Garça, Pompeia e Oriente. Em comum, o interesse pelo tema da reunião: “Sensibilizar empreendedores do setor de artesanato para a importância da gestão do seu negócio, levantar as necessidades e promover troca de experiências”, conforme divulgação do portal do município.

Após a abertura realizada pelo secretário da Cultura, André Gomes Pereira, a consultora Cristiane Souza Aguiar proferiu a palestra “O Artesanato x Oportunidade de Negócios” quando foram realizadas dinâmicas em que os participantes puderam se apresentar e falar de suas atividades, além de apontarem as principais necessidades.
Trabalhos de Mary abusam das cores
Dos trabalhos em MDF, madeira, PVC, Origami, arte têxtil, Patchwork, crochê, decoupage, customização de roupas, costura criativa, biojóias, biscuit, santaria, saboaria artesanal, entre outros, os artesãos contaram um pouco do seu trabalho. Muitos, se dedicam a vários tipos de artesanato e dão aulas replicando seus conhecimentos.
Mary Kaneji

IMPACTO SOCIAL

Segundo Cristiane Aguiar, pesquisas apontam que o artesanato está presente em 78,6 por cento dos municípios e que 8,5 milhões de brasileiros dependem dele, diretamente, movimentando cerca de 50 bilhões de reais, por ano. Outros números que impressionam são que de 3.600 artesãos pesquisados, 70 por cento vendem para parentes e amigos e só 8 por cento possuem uma loja ou ponto de venda, enquanto 17,7 por cento são legalizados como MEI (Microempreendedor Individual).

Ela destacou que os artesãos precisam de apoio para profissionalizarem a produção, aprenderem a precificar seus produtos e atraírem compradores com uma divulgação mais estruturada. Por sua vez, Natali Conrado, também do Sebrae/SP, afirmou que “trabalhando gestão, mercado, negócios, tudo isso fortalece o segmento. E a intenção do Sebrae é juntar os empreendedores desse segmento, ajuda-los, dar subsídios para que eles possam se desenvolver e desenvolver esse mercado dentro do município, através de atividades coletivas e individuais”.
Patchwork: cada retalho é importante
Natali apresentou o Projeto “O Artesão de Sucesso 2019”, que será realizado de fevereiro a novembro visando  à melhoria da gestão empresarial, com foco em marketing, finanças, inovação, atendimento ao cliente, encontro de negócios e orientações para formalização. O projeto será composto por atividades que incluem: palestras, oficinas e cursos específicos para o empresário artesão. Informações no telefone (14) 34020720 ou na Avenida Brasil, 412 em Marília.

TURISMO
Ivan Evangelista Junior encerrou o evento
Membro da Comissão Municipal de Registros Históricos e do Conselho Municipal de Turismo, Ivan Evangelista Junior também participou do evento. Ao final, comentou que “a sustentabilidade social é um dos pilares mais importantes para a construção de uma sociedade mais justa e com oportunidades iguais para todos que desejam empreender. Ao ver e ouvir pessoas que se dedicam ao artesanato, como meio digno de prover o próprio sustento, sentimos vibrar as cordas da paixão que impulsionam as pessoas mais criativas e que tornam o nosso mundo mais colorido”.
Saboaria artesanal de Vanessa

Conforme disse, “conhecer a diversidade dos talentos que estiveram presentes nesta reunião foi uma oportunidade ímpar e saber que estão se organizando para criar uma célula forte e atuante é saber que num futuro não muito distante teremos boas novidades. Cidades criativas precisam de pessoas criativas. Sucesso a todos”. Professor universitário, Ivan  também é conhecido pelo trabalho fotográfico que desenvolve e  autor do blog: http://afotoquefala.blogspot.com

ARTE NO SANGUE

Aos 37 anos, a fisioterapeuta de formação Mary Kaneji é uma artista nata que sofreu uma forte influência familiar. A avó paterna era “bonequeira, que fazia aquelas carinhas lindas de porcelana e sempre costurou, aproveitando cada pedacinho de tecido”, revelou. Da parte da mãe, “todo mundo também era muito envolvido com costura e bordado”, assinalou.
Gosto pelo artesanato vem de família: trabalho de Mary
Por isso, a menina que não se conformava em usar as mesmas coisas padronizadas, queria ter roupas, bijuterias e enfeites de cabelo personalizados. Dali para outras formas de artesanato, foi um pulo. A história de Mary, que tem uma forte atuação no aproveitamento de recicláveis e não desperdiça nada, criando belos trabalhos em Patchwork, será mostrada na próxima reportagem desta página, no dia 24 de fevereiro.

Com uma produção organizada e que comercializa pela internet, a artesã saiu otimista do encontro no Sebrae: “Espero que possa renascer o artesanato em Marília porque ouvi pessoas contando e chorando ao falar dos tempos das feiras de artesanato, na praça perto da Prefeitura, que era referência para a região”.
Vanessa Alcazar

Ela finalizou observando que “vejo um futuro brilhante porque a gente conseguiu associar técnicas milenares que foram desenvolvidas e aprimoradas com o novo conhecimento fazendo do artesanato essa coisa viva, que traz história, cor e emoção”. O contato de Mary é: (14) 991732211, nas redes sociais: https://www.facebook.com/RefazendadaMary/ e no Instagram Mary Kaneji Arte Têxtil.

Outra artesã que participou do evento, a administradora de empresas Vanessa Nonaka Alcazar, de 41 anos, contou que fez um curso no Sebrae, há dois anos, que lhe ajudou muito na empresa de bordado em que produz uma linha variada de itens. Ela também se dedica à saboaria artesanal. Os contatos dela são: https://www.atelieanesa.com.br/ e (14) 34223989.

*Reportagem publicada na edição impressa de 17,02,2019 do Jornal da Manhã

domingo, 10 de fevereiro de 2019

RUMO À SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA, ACC ESPERA RETRIBRUIR À COMUNIDADE.

Por Célia Ribeiro

Farmacêutica orienta pacientes
Um dos principais pilares de uma instituição filantrópica é sua credibilidade aliada ao engajamento do voluntariado que a apoia. A percepção da comunidade sobre a relevância do trabalho desenvolvido indica até onde ela pode ir. No caso da ACC (Associação de Combate ao Câncer de Marília), respira-se os ares de uma nova era em que, além de receber, a entidade quer devolver um pouco para a sociedade.

 A afirmação foi feita pela presidente Maria Antônia Antonelle ao anunciar os planos para 2019 que incluem manutenções urgentes, reformas e ampliações, melhorias na utilização dos espaços e da oferta de serviços oferecidos, gratuitamente, aos pacientes em tratamento oncológico de Marília e região.

Com o apoio da diretoria e da equipe de profissionais e voluntários, a presidente está sempre em busca de auxílio para a entidade. Costuma inscrever projetos para captação de recursos junto a empresas e órgãos governamentais acreditando que a causa é nobre e todo esforço vale a pena. “A gente tem que acreditar”, assinalou.
Maria Antônia (presidente), Silvia Mendonça (1ª vice-presidente)
e Arnaldo Stroppa (2º vice)
E foi assim que a ACC conseguiu aprovar junto à Ação Social Coopercitrus Credicitrus, da cidade de Bebedouro, um projeto para reforma da cozinha. Com a verba de 30 mil reais, além da estrutura física, estão sendo adquiridos novos eletrodomésticos, como uma geladeira industrial e bancada de resfriamento, que permitirão o aumento da produção de biscoitos, tortas, pizzas etc, que constituem uma importante fonte de renda.
Cozinha da Casa Apoio: refeições para todos

INFRAESTRUTURA

Com uma despesa mensal em torno de 35 mil reais para custear o atendimento aos pacientes, incluindo a Casa Apoio, com refeições e pernoites também para os acompanhantes, a ACC vive em campanha para ampliar o número de doadores. A partir de 20 reais, com emissão de boleto bancário, qualquer pessoa pode se tornar um sócio colaborador. Além disso, o cadastro na Nota Fiscal Paulista, indicando a ACC como beneficiária dos créditos, é outra fonte importante de recursos.

“Continuamos com o atendimento humanizado na ACC. Todo o sofrimento que o paciente passou  com o SUS, esperando na fila, ele não passa aqui. O paciente é atendido com hora marcada, não atrasa. Passa por nutricionista, fisioterapeuta, psicóloga, temos uma farmacêutica contratada que orienta como tomar o remédio e temos assistente social , além da Casa Apoio em que a pessoa vem e faz as refeições e pode dormir, trazendo acompanhante. Tudo isso custa”, frisou.
Foi necessário substituir todo o telhado que ameaçava cair
Maria Antônia informou que foram realizadas visitas a prefeituras da região em busca de apoio: “Pedimos que cada cidade cadastrasse 50 sócios colaboradores a partir de 20 reais e 50 pessoas na Nota Fiscal Paulista. Infelizmente, não tivemos retorno”. Ela lembrou que “não é responsabilidade da ACC atender essas pessoas de fora. Mas, fazemos de coração”. E observou que as igrejas e clubes de serviço poderiam se mobilizar na região para contribuirem com a ACC, bastando que o poder público local apoiasse a iniciativa.

PRÁTICAS INTEGRATIVAS

Paralelamente à área de captação de recursos, a ACC prepara-se para um passo muito importante: conseguiu aprovar um projeto junto ao Instituto Cooperforte trazendo para Marilia um curso, totalmente gratuito, com 10 meses de duração, para capacitar profissionais em “Práticas Integrativas e Complementares – Profissão e Prevenção à Saúde”.
Maria Antonia e voluntárias da entidade
Trata-se de um projeto pioneiro que dará formação em cinco práticas integrativas das 29 já reconhecidas pelo SUS. São elas: Aromaterapia, Florais, Reiki, Auriculoterapia e Massoterapia.
A presidente da ACC afirmou que “as práticas integrativas e complementares caminham juntas com a medicina convencional” e estão sendo amplamente desenvolvidas no País.

Ela acrescentou que “hoje em dia, o que a gente sabe é que o paciente é tratado depois que ele está doente. Não é tratada a causa. Por exemplo, é tratado o tumor, a doença, e não o que causou aquilo. Há um entendimento mundial de que o stress, o rancor, a raiva, a falta de perdão, a falta de espiritualidade, tudo isso causa doença. Então, nossa população está doente”.
Artesanato gera renda para a ACC


Após a abertura de inscrições, que registrou grande procura, foram selecionadas 30 pessoas, com idades entre 18 e 50 anos, que iniciarão o curso no auditório da ACC no dia 11 de março. “Já me perguntaram o que a ACC ganha com isso, porque cederemos o espaço e o Cooperforte arcará com todas as despesas, dos professores até o coffee break. Digo que a ACC quer devolver um pouco do que recebeu para a comunidade, contribuindo com a capacitação desses profissionais”.

Ela adiantou que a ACC pretende oferecer essas práticas integrativas aos pacientes, futuramente, e espera uma parceria com o município, já tendo se reunido com o prefeito de Marília, Daniel Alonso e com o presidente da Câmara, Marcos Rezende.

Maria Antônia citou um estudo segundo o qual “as práticas integrativas trazem uma melhora muito grande para as pessoas que estão doentes, no aumento da imunidade. As pessoas têm que estar bem fisicamente e de cabeça para fazerem uma radioterapia ou uma quimioterapia”.

Conforme disse, as práticas beneficiarão também “quem não está doente, que são os  cuidadores e familiares. O curso é de abrangência geral. Mas, no nosso caso, o foco é a partir de maio implantar algumas práticas integrativas na ACC  para os pacientes com câncer, familiares e cuidadores porque quem cuida precisa ser cuidado”.
Na Casa Apoio, pacientes e acompanhantes
podem pernoitar, gratuitamente.

A presidente da ACC destacou que “esses profissionais vão sair capacitados em cinco práticas reconhecidas pelo SUS, que já está fazendo mapeamento no Brasil para saber quantos terapeutas existem. Imagino que o objetivo do SUS é ter em toda a rede pública algumas práticas porque é muito mais barato prevenir do que depois que a pessoa já está doente”.

Ela falou dos benefícios à sociedade como uma retribuição ao apoio recebido, citando a adesão às promoções e eventos beneficentes: “É a comunidade que apoia, que compra pizza, que compra bingo, que doa”, destacando a população de Marília e de algumas cidades da região como Vera Cruz e Pompeia, que são mais atuantes.

INVESTIMENTOS

Para 2019, o calendário da ACC prevê uma série de campanhas para fazer frente ao custeio das atividades bem como às obras e investimentos necessários. A presidente informou que uma das melhorias mais urgentes se refere à instalação de um elevador para acesso de pessoas com mobilidade reduzida ou com deficiências ao piso superior da entidade.
A comunidade participa ativamente dos bingos
Na época da construção, a arquiteta Célia Matarucco deixou o fosso do elevador projetado. Aliás, além dela, outros dois arquitetos contribuem com a ACC e foram citados pela presidente por sua importante colaboração: Mari Mota e Carlos Yvan.
Reformas e ampliações necssárias

Para o elevador, será necessário investir entre 55 e 85 mil reais. Mas, há outras necessidades que somadas podem chegar a 500 mil reais. “No ano passado, gastamos menos porque recebemos uma emenda parlamentar do deputado Abelardo Camarinha que foi maravilhosa e deu para a gente respirar e fazer as reformas. Trocamos todo o telhado que estava caindo. Havia o diagnóstico de que nosso centro de convivência poderia desabar e tivemos que chamar um engenheiro para dar o laudo”, assinalou.

Para este ano, a entidade também espera contar com os parlamentares recém-eleitos como o deputado estadual Vinicius Camarinha e o deputado federal Capitão Augusto a quem a ACC já encaminhou pedidos de auxílio, bem como ampliar o número de voluntários que são essenciais para qualquer instituição.

Atualmente, a ACC conta com aproximadamente 70 voluntários ativos tendo registrado, em 2018, o atendimento direto a 3.914 pacientes, além de familiares e cuidadores. São números que impressionam pelo impacto social. Mas, principalmente, pela qualidade do que é ofertado aos usuários do SUS de dezenas de cidades da região.

Para saber mais sobre a entidade, acesse: http://accmarilia.org.br/ A ACC localiza-se à Rua Marrey Junior, 101 Bairro Fragata, ao lado do Fórum. Telefone (14) 34545660

domingo, 3 de fevereiro de 2019

ESTUDANTE DESENVOLVE MASSAS NUTRITIVAS, SEM GLÚTEN E CASEÍNA, À BASE DE LEGUMES.

Por Célia Ribeiro

No próximo dia 07 de fevereiro, quando os estudantes do Curso Superior de Graduação em Tecnologia de Alimentos, da FATEC-Marília, se reunirem na solenidade de Colação de Grau, uma jovem de 26 anos terá bons motivos para comemorar. No decorrer do curso, ela foi mãe duas vezes e aproveitou o intervalo para pesquisar sobre uma área que lhe abriu portas para o empreendedorismo: Regiele Pedroso Higye desenvolveu massas nutritivas, sem glúten e caseína, utilizando verduras e legumes.
Regiele e o nhoque colorido e nutritivo

A história da estudante é pura inspiração. Natural do município vizinho de Ocauçu, ela veio a Marília cursar Engenharia Civil, já que só assim seu pai, que é construtor, lhe autorizaria estudar fora, aos 18 anos. “Depois de seis meses, consegui minha liberdade e resolvi fazer o que eu gostava, que era alimentos. Eu queria conhecer um pouco mais sobre isso e pensei que o curso fosse mais voltado à gastronomia”, recordou.

Com um emprego que lhe garantia a subsistência, Regiele iniciou as aulas na FATEC com o entusiasmo de quem está diante de um mundo novo a se descortinar diante dos olhos. No entanto, o que levaria três anos até a formatura levou o dobro do tempo. “No meio do curso tive dois filhos, Heron, hoje com três anos e Heitor, que está com oito meses. São a minha riqueza porque não existe nada melhor que ser mãe”, assinalou.

Graças ao suporte da família, principalmente da sogra, Amélia Auxiliadora de Oliveira, e da mãe Maria de Lourdes Higye, a estudante procurou conciliar a maternidade com o curso, ainda que espaçadamente. Determinada, a estudante batalhou por estágios nos laboratórios da faculdade onde recebeu a orientação das professoras Renata Bonini Pardo e Juliana Audi Gianonni a quem dedica especial gratidão. Ela não se cansa de elogiar e creditar às duas orientadoras grande parte do seu sucesso como empreendedora.
Última foto com colegas na FATEC
USO DE VEGETAIS

Regiele disse que aproveitou os intervalos da maternidade para conseguir estágios nos laboratórios e, no tempo disponível, pode desenvolver as pesquisas. De lá  chegou ao Sítio Olho D’Água, em Padre Nobrega, de propriedade da família da professora Renata onde existem uma queijaria, uma leiteria e a produção do conhecido “Café Dona Santina”.

Um dos subprodutos da queijaria, o soro do leite, que seria descartado, foi aproveitado pela estudante em testes para produção de massas, substituindo os ovos. Para incrementar os produtos, ela testou uma infinidade de legumes e verduras chegando aos sabores que encantam adultos e crianças e são cheios de nutrientes.
Atividade com crianças e adolescentes autistas
A degustação era feita pela família da professora: “A Dona Santina, que é bem rigorosa com a qualidade, falava: ‘ainda não está boa essa massa. Faz mais fino’ e eu fazia tudo de novo”, recordou sobre as primeiras experiências.  Na época, Regiele participava do projeto da professora Juliana com crianças e adolescentes autistas no Espaço Potencial, como esta página divulgou na edição de 13 de janeiro.
Cada cor de massa usou um legume diferente

Assim, resolveu aproveitar os resíduos dos legumes e verduras minimamente processados para criar receitas que pudessem devolver nutrientes em forma de alimentos coloridos e saborosos: “Coloquei os legumes para dar liga porque o soro de leite é mais líquido que os ovos”, acrescentou.

A estudante disse que a experiência das massas sem glúten e caseína enriquecidas com os vegetais deu tão certo que optaram por adquirir uma máquina. Regiele partiu para a formalização e abriu a empresa “Sabores Saudáveis – Massas Artesanais Saborizadas” comercializando os produtos com entrega direta ao cliente.

NEGÓCIO

Através de pedidos por WhatsApp, são separados os produtos e um entregador leva no endereço determinado uma grande variedade de massas secas nas versões tradicional, integral e sem glúten e caseína: nhoque, fetucine, spaghetti, tagliarini e lasanha. Estão disponíveis nos sabores alho, açafrão, espinafre, abóbora, beterraba, berinjela, cenoura, manjericão, rúcula e salsinha, além de ravióli recheado com queijo.

Nhoque usa legumes e verduras

Regiele destacou o apoio da professora Renata que lhe permitiu testar suas experiências com liberdade, “usando todas as possibilidades e soltando a imaginação porque gosto muito da área de pesquisa”. Se já tinha preocupação com a alimentação saudável, com a maternidade a estudante passou a se interessar ainda mais.

Ela lembrou que quando o primeiro filho era  bebê, produzia papinhas com resíduos de legumes e verduras minimamente processados que faziam tanto sucesso que aproveitou para ter uma renda extra, vendendo suas produções a outras mães.

O período do projeto com autistas foi muito importante para o aprofundamento das pesquisas focadas na alimentação saudável: Regiele afirmou que “quando uma pessoa tem problema com glúten e lactose, normalmente tem deficiências na sua alimentação”. Por isso, ela se dedicou aos testes até chegar às massas nutritivas que também levam farinha de banana verde, rica em fibras.
Profa. Juliana e Regiele

Massa pronta para entrega

Agora, seu desafio é continuar estudando e compartilhar seus conhecimentos. Pretende lecionar e fazer Mestrado em “Educação Alimentar” na UNESP, campus de Marília. Para a jovem mãe, a orientação segura das professoras Juliana e Renata, o suporte da FATEC e o apoio da família foram a mola que a impulsionará para voos cada vez mais altos.
Para saber mais sobre “Sabores Saudáveis”, o contato pode ser feito no celular: (14) 991775441.

Reportagem publicada na Edição de 03.02.2019 do Jornal da Manhã.