sábado, 23 de junho de 2018

"ARRAIÁ FEITO À MÃO": MAIS DE 30 ARTESÃOS EXPUSERAM NO ESPAÇO DA CRIATIVIDADE.

Por Célia Ribeiro

O som inconfundível de Kréo Fidelis arrebatava quem passava a pé, ou motorizado, pela Rua Amazonas, no sábado passado (16). Mas, não só a boa música chamou a atenção do público que circulou pelo Espaço Pitanga durante o "Arraiá Feito à Mão", que reuniu mais de 30 artesãos em uma típica festa junina cheia de cores e sabores, desde as primeiras horas da manhã.
Eneida e Maristela (Marília baunilha & Patch)
Concebido pelas artistas Ana Rojo (papelaria), Renata Genta (saboaria) e Carol Putinati (costura), o Espaço Pitanga conta com três ateliês. Além da comercialização de criações originais das três sócias, são promovidas oficinas ao longo do ano para compartilhar conhecimento. O evento --- primeiro de vários planejados para os próximos meses--- serviu para mostrar a riqueza do artesanato local e de alguns convidados de fora.
Ana Rojo
A arte em vidro e ferro de Sérgio Bensdorp, logo na entrada, seguida das arteiras do Grupo Marília Baunilha & Patch (bonecas de Maristela Ursulino, belos trabalhos em crochê e costura de Eneida Genta de Oliveira Melo, panos de prato com fino acabamento de Irene Martin), os bordados delicados de Nelice Rojo em mini bastidores, e uma infinidade de trabalhos como santos e santas, papelaria, sabonetes e aromatizadores e até bonecos de meia encantaram os visitantes.
Bichos feitos de meia: de São Paulo para Marília

A arte em santos de Janaína Greggio Ponteli
O clima festivo do “Arraiá Feito à Mão” também ficou evidente nos comes & bebes para o lanche e o encontro de muitos artesãos que costumam se reunir nos eventos da Vila das Artes de Patrícia Muller que, aliás, também compareceu para prestigiar os artistas da terrinha.
Panos de prato com acabamento primoroso de Irene Martin
Segundo Ana Rojo, o Espaço Pitanga começou a funcionar sem uma inauguração formal, no início do ano. Por isso, o “Arraiá Feito à Mão” também serviu para apresentar este espaço dedicado ao artesanato. A ideia é realizar eventos periodicamente, seguindo um tema que vai nortear as mostras. Em setembro deverá acontecer um focado na chegada da primavera.
A arte de Sérgio Bensdorp

Ela observou que o artesanato está em alta porque “as pessoas estão procurando isso, uma coisa feita com carinho. Está faltando muito amor nas pessoas. O que o artesanato faz é resgatar esse sentimento”. Ana Rojo assinalou que as peças são únicas e levam consigo um significado além do simples presente: “Um exemplo é uma boneca que pode ter os cabelos parecidos com os da pessoa que se quer homenagear”, pontuou.
Delicados bordados em bastidores de Nelice Rojo

Na área externa o artesanato de primeira linha.

Por sua vez, a advogada que largou a carreira para se dedicar à saboaria, Renata Genta, destacou o grande número de expositores. Eram mais de 30 artesãos de Marília e de outras cidades, convidados para mostrarem suas criações. “Neste primeiro evento trouxemos os bichos feitos de meia. São trabalhos incríveis que não se encontra por aí. Queremos trazer para o Espaço Pitanga esses diferenciais”, afirmou.
Kreo Fideli, ao fundo, animou o Arraiá
E assim, ao som do Kréo Fidelis embalando os abraços e sorrisos de visitantes e artesãos, a alegria pediu passagem e se estabeleceu no Espaço Pitanga. À porta, esperando sua vez, estava a primavera que trará flores, cores e perfumes para a casa da criatividade, quando setembro chegar!
Bichinhos e bonecas encantaram os visitantes


O Espaço Pitanga está localizado à Rua Amazonas, 397 em Marília. Nas redes sociais saiba mais em: https://pt-br.facebook.com/espacopitanga/

domingo, 17 de junho de 2018

APESAR DO PRECONCEITO, ONG CONTA COM DOAÇÕES PARA ASSISTIR PORTADORES DE AIDS.

Por Célia Ribeiro

Pouco antes do meio-dia, as poucas pessoas que transitavam pela silenciosa Rua Maria Nunes da Silva, encravada no Jardim Cavalari, dificilmente identificariam o imóvel de número 151 como a sede de uma instituição que vem lutando, há quase 10 anos, para assistir os portadores de AIDS de baixa renda e suas famílias. O GAPA sobrevive com a ajuda da comunidade e trava uma luta árdua contra seu principal inimigo: o preconceito.
Tiago com uma das operadoras de telemarketing na entidade
Do lado de fora parece uma residência de classe média, como tantas no entorno, não fosse uma discreta placa com a sigla do Grupo de Apoio aos Portadores de AIDS. A ideia de não chamar a atenção de quem passa na rua é um dos recursos para não constranger aqueles que procuram a ONG, mas buscam o anonimato.

Quem explica é o coordenador local do GAPA, Tiago Henrique Moreira, 33 anos: “Tem gente que passa na frente, olha, vai embora e depois volta. Normalmente, são encaminhados pelo SAE (Serviço de Assistência Especializada)”. Há, também, os que telefonam, se informam e só então procuram a instituição para se cadastrarem.
Cestas básicas prontas para entrega
O SAE é um ambulatório especializado em infectologia, com equipe multiprofissional. Possui especialidade médica em infectologia, dermatologia, pediatria e ginecologia, recebendo usuários encaminhados das unidades da Rede de Atenção Básica, informou a assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal da Saúde. O SAE oferece testagem por métodos rápidos através do CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), na Rua 7 de Setembro 793.

Presente em municípios do interior de São Paulo como Avaré, Bauru e Botucatu, além de Marília, o GAPA sobrevive das doações da população através do telemarketing. Os recursos são empregados na aquisição de suplementos alimentares (Ensure, Sustagem etc), cestas básicas, legumes e frutas, ajuda no pagamento de contas (água, luz, aluguel), entre outros.

“Nosso objetivo é ajudar dentro da questão socioeconômica, da necessidade da pessoa”, assinalou Tiago destacando que os assistidos não recebem ajuda em dinheiro. Ele contou que há inúmeros casos em que a atuação da entidade é essencial, principalmente quando há muitas crianças na família.

Atualmente, 17 famílias estão cadastradas na unidade de Marília recebendo auxílio mensalmente, seja com alimentos, pagamento de contas básicas, medicamentos (exceto os antirretrovirais fornecidos pelo governo) etc. Há uma fila de espera de muitas famílias ansiosas para serem integradas, mas isso só ocorre quando aumenta a arrecadação ou alguma família melhora de situação e libera sua vaga.
Profissionais do SAE em uma das campanhas sobre a AIDS
(Foto: Assessoria de Imprensa da Prefeitura)

O coordenador do GAPA explicou que ao receber os portadores enviados pelo SAE ou que chegam por demanda espontânea, são realizadas visitas nas residências para realização da triagem. Ele frisou que somente as famílias que realmente necessitam são atendidas porque a procura é grande e os recursos limitados.

PRECONCEITO

Com a experiência de quem já trabalhou no telemarketing para captação de recursos, o coordenador da ONG relatou, com muita tristeza, as histórias de preconceito e falta de humanidade: “Tem mulher que é mãe, tem vários filhos pequenos, contraiu a AIDS do marido que morreu por se recusar a fazer o tratamento, e agora é marginalizada. Como não ajudar essa família?”
A informação é o melhor remédio
Ao telefonar para as pessoas em busca de auxílio, nem sempre as operadoras do telemarketing são bem atendidas. Existem os que criticam os portadores de AIDS relacionando-os à promiscuidade sexual, mas se esquecem que há várias maneiras de contrair o vírus HIV e não apenas por relações sexuais sem proteção. Entre elas, estão: o uso de seringa por mais de uma pessoa; transfusão de sangue contaminado; da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação e através de instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.
Material informativo sobre DSTs 
Em Marília, o SAE tem registrados 570 usuários HIV positivos de um total de 2.771 usuários atendidos por outras doenças. Se olhar as estatísticas mundiais, os números são alarmantes: em 2016, segundo o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) 18 crianças e 30 adolescentes foram infectados por hora pelo HIV.

Enquanto espera que as pessoas se sensibilizem ao serem mais informadas sobre o problema, o coordenador do GAPA mantém acesa a chama da esperança: “Graças a muita gente solidária estamos conseguindo caminhar. Um dia é ruim, no outro um pouco melhor, e assim seguimos atendendo as famílias que vivem um verdadeiro drama e precisam muito de auxílio”.

Para entrar em contato com a ONG, o endereço é: Rua Maria Nunes da Silva, 151, Jardim Cavalari. Telefone (14) 34138064.

domingo, 10 de junho de 2018

CAMINHO SUAVE: ROTARY APOIA PROJETO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS

Por Célia Ribeiro

No fim da tarde de quarta-feira (06), quando a campainha tocou e os alunos começaram a deixar o colégio, em um dia como outro qualquer, no outro lado da rua, o som tinha um significado muito especial para um grupo de mulheres na faixa entre 30 e 50 anos. Dali a pouco aconteceria a segunda aula do Curso de Alfabetização de Jovens e Adultos que devolveu o sonho de aprender às trabalhadoras que interromperam os estudos ainda jovens.
Sala de aula na empresa: atenção invidualizada
Concebido pelo Rotary Clube de Marília Pioneiro, através da presidente Ângela Giovanete, em parceria com a UNESP, campus de Marília, o projeto acontece nas dependências da empresa Planet Limp, no bairro Fragata, e beneficia 14 colaboradoras do setor de limpeza, explicou a empresária e rotariana Mayra Di Manno.

Ela destacou que “a Planet Limp decidiu fazer parte do projeto tendo em seu quadro de profissionais pessoas que ainda têm o grande sonho de ler e escrever. As aulas são todas às terças e quartas, na própria Planet Limp e está sendo muito gratificante participar desse projeto”.
Mayra Di Manno

As mesas enfileiradas, fazendo as vezes das carteiras escolares, são ocupadas de modo a permitir uma boa visão do quadro negro onde a aluna bolsista do 4º ano de Pedagogia da UNESP, Lucilene Emília Fernandes Carrascosa, 36 anos, anota as atividades do dia. Ela é a responsável pela turma e fala com orgulho do trabalho: “É interessante que uma empresa privada se preocupe com seus funcionários e entenda que está fazendo um bem enorme”.

Ela destacou a importância da educação “que é um crescimento pessoal, uma construção como ser humano, algo que na idade certa não puderam aproveitar, por diversos motivos, e agora estão tendo a chance. Se cada empresa do Brasil fizesse isso, não teríamos esse problema do analfabetismo. Seria algo completamente sanado”.

Lucilene informou que a coordenação do projeto é do Prof. Dr. José Carlos Miguel (Departamento de Didática da Faculdade de Filosofia e Ciências – Campus de Marília), um entusiasta da educação de jovens e adultos: “Ele fala: não importa o lugar. Se tiver uma igreja e o pastor disser que tem uma sala e pessoas que querem estudar, e se tiver bolsistas da UNESP, eu monto uma sala de aula”.
Eliana é voluntária no curso
APOIO VOLUNTÁRIO

Também bolsista da UNESP, Eliana Batista Leite Pereira, 42 anos, sai direto da Escola Estadual Antônio Ribeiro para o curso na empresa: lá ela atua como voluntária pelo prazer de ver o crescimento das alunas. “Vi aqui uma grande oportunidade, uma experiência de conhecimento, de saber como é a vida dessas mulheres que trabalham, não tiveram oportunidade antes, e que estão abrindo mão de um tempo de sua vida para aprenderem”, afirmou.

Eliana acompanha individualmente as alunas, tirando dúvidas, assim como a titular da sala. Ela explicou que existem alunas em vários estágios: daquela que só cursou até a 2ª série, e praticamente só assina o nome, até as que chegaram ao 5º ano e precisaram parar os estudos. O curso não tem prazo para terminar. Assim que as alunas vão evoluindo são preparadas para ingressarem no CEEJA (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos) para concluírem a formação partindo para voos mais altos, como o ingresso em um curso superior.
Muitos exercícios durante as aulas sob orientação da Professora Lucilene
A voluntária explicou que o curso na empresa “é para sabermos o grau em que elas estão. Tem uma que não consegue fazer a formação silábica, que tem bastante dificuldade. E justamente essa é a que nunca falta”.

Aos 50 anos, mãe de dois filhos, Sônia Zaros era uma das alunas mais animadas da semana. Ela contou que ingressou na empresa, há dois anos e meio, como auxiliar de limpeza e foi promovida a líder de equipe. Por isso, estudar significa também a oportunidade de “crescer no trabalho. Quero continuar estudando porque quero progredir na vida”. Ela parou na 6ª série.
(Esq) Lucilene e a aluna Sônia


O Curso de Alfabetização que reuniu uma empresa privada, um clube de serviços e uma universidade pública chegou como uma chance a ser aproveitada: “Isso é algo que há muito tempo eu queria fazer e não tinha oportunidade. Quando falaram sobre a aula eu fui uma das primeiras a fazer uma lista e sair atrás de quem também queria”, revelou a aluna dedicada.

Nos dois dias da semana, após a jornada de trabalho na área de limpeza, em que trocam baldes, vassouras e luvas pelos lápis e cadernos, as alunas continuam ouvindo a campainha do colégio vizinho. Mas, para elas, o som é de começo e não de fim.

domingo, 3 de junho de 2018

TRÁFICO DE ANIMAIS: VETERINÁRIO DEFENDE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ESTRUTURA

Por Célia Ribeiro

As estatísticas são alarmantes: anualmente, o tráfico de animais movimenta 1,5 bilhão de dólares no mundo e o Brasil responde por nada menos que 15 por cento desse negócio ilegal, segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres. Para o médico veterinário mariliense, Ricardo Cavicchioli Scaglion faltam estrutura pública para receber e tratar os animais apreendidos antes de devolvê-los ao seu habitat e investimentos na educação ambiental desde a infância.
Os viveiros foram construídos segundo normas do IBAMA
Durante 12 anos, o profissional participou de um projeto que reuniu um condomínio de alto padrão e a Polícia Ambiental com o objetivo de abrigar os animais apreendidos com os traficantes, recuperá-los de ferimentos e doenças e depois devolvê-los à natureza. Foi construída uma estrutura modelo com viveiros que recebeu, no período, cerca de 2.000 animais entre espécies exóticas e silvestres.

“Foram construídos viveiros com padrão acima do exigido pelo IBAMA, com área de isolamento em alvenaria e laje, parte de solário e espaço para que pudessem tomar sol, voar e se exercitarem”, disse, acrescentando que “95 por cento eram Passeriformes, popularmente conhecidos como passarinhos como pintassilgo, passo-preto” e aves como papagaio, tucanos, arara e maritaca, além de primatas e répteis.
Ricardo soltando pássaros  apreendidos

O médico veterinário contou que os animais capturados há menos tempo eram soltos em seguida. Já os que estavam em poder dos traficantes há mais tempo, com ferimentos, asas cortadas etc, permaneciam no local mantido pelos moradores do condomínio para serem curados, alimentados e só então eram devolvidos à natureza.

Ricardo Cavichioli lamentou a exploração comercial dos animais, citando que dos 1.897 apreendidos pela Polícia Ambiental de 2005 até o início de 2018, havia 49 espécies silvestres e 29 exóticas: “É preciso despertar para a questão do tráfico que é medonha. Precisa ter uma consciência ambiental porque isso vai levar ao empobrecimento da fauna e trazer sérias consequências porque muitos animais estão ameaçados e outros estão na lista de extinção”.

O profissional observou que a rigidez na aplicação da lei e o trabalho sério da Polícia Ambiental provocou uma redução no negócio, mas que ainda é expressivo na região. Ele comentou que esta exploração “é um negócio fácil porque tem quem compra”, alertando que a predação “provoca um desequilíbrio ao ecossistema. Fauna e flora têm que trabalhar equilibradas e se erradicar uma espécie de uma região quebra a cadeia alimentar, causando um prejuízo que levará décadas para reverter”.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ricardo Cavicchioli defendeu a importância de a educação ambiental merecer um lugar de destaque na grade curricular, desde os primeiros anos das crianças. No entanto, destacou que “não adianta ensinar com foto e cartilhas apenas. Se for falar de lixo, tem que levar as crianças no aterro onde vão sentir o odor, ver o chorume borbulhando, os insetos e roedores, sabendo que se chover aquilo vai para o rio e a água vai acabar na sua torneira”.

Com relação à estrutura oficial de cuidados, ele afirmou que o governo municipal deveria dar bastante atenção para que os animais apreendidos possam ser cuidados e devolvidos à natureza em uma tentativa de minimizar os prejuízos causados pelo tráfico de animais.
Adaptação e cuidados antes de voltar ao habitat natural
Procurada sobre o assunto, a Prefeitura de Marília, através da Diretoria de Divulgação e Comunicação informou que o Bosque Municipal “possui uma estrutura para acolher e abrigar temporariamente os animais capturados pela Polícia Ambiental. Eles ficam em um Centro de Ressocialização, passam por um mini hospital e têm atendimento médico veterinário com um profissional”.
Apesar da fiscalização, há um grande mercado para os animais silvestres e exóticos.
A nota acrescentou que após o período de cuidados, os animais “voltam para o seu habitat natural conforme orientação da polícia”. A assessoria adiantou que existem “planos de restruturação do bosque, com a recuperação da pista interna, manutenção de viveiros existentes e inserção de mais programas educacionais voltados às crianças”.