domingo, 31 de julho de 2022

AOS 91 ANOS, GOTA DE LEITE SE CONSOLIDA PELO ATENDIMENTO HUMANIZADO 100% SUS

 Por Célia Ribeiro

 O ano de 1931 é conhecido como o início do “Horário de Verão” instituído pelo presidente Getúlio Vargas. Em Marília, o sol brilhou mais forte no dia 28 de julho quando um grupo de beneméritos lançou a pedra fundamental da Associação Feminina de Marília “Maternidade e Gota de Leite”. Após 91 anos, a entidade gravou seu nome na história da saúde pública ao dedicar 100 por cento do atendimento através do SUS. 

Maternidade completa 91 anos de fundação

Com a cidade ainda em formação, a professora Lyris de Negreiros Rocha  se juntou às irmãs Carolina e Maria Luiza Moraes Barros para acolher as parturientes carentes e seus bebês. Após receberem noções de puericultura dos médicos Dr. Manhães e Dr. Carlos Moraes de Barros elas percorriam as casas em visita aos bebês que nasciam sem assistência. 

Dallan está na instituição há 44 anos

Esta foi a semente da instituição cuja pedra fundamental foi lançada em 28 de julho de 1931 e que hoje atende pacientes de Marília e região com foco na humanização do parto graças à equipe multidisciplinar que tem uma peculiaridade: dezenas de anos de experiência. Um exemplo é a auxiliar de Enfermagem Ivanir Dallan de Melo, 68 anos sendo 44 deles dedicados à maternidade.

 

Elza Fukai
“É muito gratificante pra gente internar, dar toda a assistência, ver que correu tudo bem e as pacientes irem embora agradecidas”, comentou. Com muita história para contar, ela recordou o dia em que um rapaz chegou com uma foto dele ao nascer na Gota de Leite e pediu para a fazer uma fotografia do filho recém-nascido na mesma pose com a enfermeira. Para surpresa geral, a enfermeira da foto do pai era a mesma da foto do filho: a Dallan.

Nas quatro décadas dedicadas à maternidade, a auxiliar de Enfermagem assistiu até uma cerimônia diferente: “Um casal tinha programado o casamento para o sábado. Mas, o bebê resolveu nascer antes” e a saída foi realizar o casamento na Gota de Leite diante de alguns familiares.

Há 31 anos trabalhando na cozinha da maternidade, Elza Reis Fukai, 65 anos, integra a equipe de apoio responsável pelas refeições tão elogiadas pelo tempero caseiro. Ela contou que “na época das irmãs, tudo era muito difícil. A gente ia na feira pedir doações de verduras e legumes. Mas, nunca faltou nada”. Conforme disse, o cardápio elaborado pela nutricionista Regiane Albuquerque é balanceado e, mesmo com a alta dos preços dos alimentos, todos os dias as pacientes têm refeições nutritivas e variadas.

 EVOLUÇÃO

 Realizando, em média, 1.600 atendimentos ao mês, a maternidade segue o que preconiza o Ministério da Saúde que recomenda o parto vaginal. Em 2021, foram realizados 77 por cento de partos normais e apenas 23 por cento de cesáreas, informou a coordenadora dos Serviços de Enfermagem, Patrícia Truzzi Gilio.

Enfermeira Patrícia Gilio

Com o Centro de Parto Normal em que as pacientes ficam em suítes individuais com o acompanhante de sua escolha durante o pré-parto e parto, a Gota de Leite iniciou uma nova fase ao proporcionar segurança, conforto e acolhimento no momento mais especial da vida da mulher.

Segundo Patrícia Gilio, “olhando como um todo, a Gota foi evoluindo gradativamente, desde a infraestrutura física, até para a infraestrutura dos processos de trabalho. A estrutura física foi evoluindo de forma que a gente pudesse prestar uma assistência mais humanizada, com mais qualidade, com mais conforto para as pacientes e para as famílias que aqui vem. A gente assiste não só a gestante, mas a família como um todo”.

 

Elizabeth Amorim
Ela prosseguiu afirmando que “quando cheguei, todas as enfermeiras já eram obstetrizes, já tinham a vivência para o olhar de assistência ao parto e isso nunca deixou de existir. Então, todas nós somos treinadas para fazer esse parto acontecer com mais humanização, com mais carinho e com o respeito que o momento merece e precisa”. Atualmente, são 10 enfermeiras obstetrizes.

Na área administrativa, Elizabeth Pereira Amorim está há 10 anos na instituição e acompanha o dia a dia da maternidade que enfrenta os desafios financeiros como a maior parte das entidades filantrópicas: “Sou grata a Deus pelo meu trabalho. Eu me sinto realizada e sempre me senti acolhida pelos colegas e pela direção. Eu sou apaixonada pelo que faço  e isso me faz sentir bem motivada a buscar o melhor de mim”.

Há 25 anos, a Gota de Leite gerencia, também, os recursos humanos do Programa Estratégia Saúde da Família em convênio com o município. A enfermeira Simone de Carvalho Santos está na instituição há 19 anos e atua na linha de frente do RH: “A maternidade evoluiu em infraestrutura e RH, com toda equipe focada em prestar assistência de qualidade, sempre treinando para que essa assistência seja de qualidade”. 

Centro de Parto Normal: privacidade na hora mais importante

Simone acrescentou que “o trabalho no RH é muito gratificante. Estamos  em contato com muitas pessoas, tanto funcionários como usuários, sempre  prestando  um serviço de qualidade  em prol de Marília. Sinto uma enorme satisfação em fazer parte da família Gota de Leite, pois acredito na missão e nos valores aos quais a entidade se propõe a desenvolver para a comunidade”.

 MISSÃO

 Nos primórdios da entidade, as voluntárias  faziam campanhas para manterem o atendimento com o apoio de alguns beneméritos, como o empresário Zezé Almeida, que fundou o Bradesco em Marília. Hoje, a Gota de Leite tem uma gestão profissional, mas a direção também tem à frente uma voluntária há 33 anos: a presidente Virgínia Maria Pradella Balloni.

Presidente Virgínia Balloni, voluntária há 33 anos

Ela é a imagem pública da instituição onde cumpre expediente diário e não mede esforços para conquistar os recursos necessários, desde emendas parlamentares até campanhas que contam com o apoio da comunidade e dos clubes de serviço.

Embora voluntária, Virgínia Balloni se preparou para dirigir a instituição sendo pós-graduada em Administração Hospitalar, em Serviços de Saúde e em Saúde Pública. Também tem MBA em Gestão de Recursos Humanos e uma de suas caraterísticas é valorizar a equipe: “Nossa maternidade completa 91 anos e segue à risca tudo aquilo que foi passado pelas nossas fundadoras. Somos uma entidade filantrópica observando os mesmos preceitos que foram passados pelas nossas fundadoras. E um destaque extremamente  importante são as nossas colaboradoras”. 

Como tudo começou

Neste sentido, prosseguiu a presidente: “Nossa equipe é formada por pessoas que vestem a camisa, que amam a maternidade e que trabalham da melhor forma possível. É uma equipe de excelência tanto para a mãe quanto para o bebê”. E concluiu: “Representando a entidade, gostaria de agradecer muito a colaboração de todos porque se não existe uma equipe unida e eficaz não temos uma maternidade prestando um bom serviço para a população”.

Para saber mais sobre a maternidade, acesse: https://www.gotadeleite.com.br/

 *Reportagem publicada na edição de 31/07/2022 do Jornal da Manhã


domingo, 24 de julho de 2022

ESTUDANTE DESENVOLVE SISTEMA AUTOMATIZADO PARA CULTIVO DE HORTALIÇAS

Por Célia Ribeiro

Imagine entrar na área de hortifrútis de um supermercado, se dirigir a uma gôndola iluminada com lâmpadas de LED e escolher um pé de alface ainda em desenvolvimento com as raízes imersas em uma solução de água e nutrientes. Parece ficção científica. Mas, esta colheita está muito perto de se tornar realidade graças a um estudante de Engenharia Agronômica que tem criado soluções compactas e acessíveis para o cultivo de hortaliças e legumes. 

As verduras em ponto de colheita

Everson Cardoso da Silva sempre gostou da vida no campo. Ele conta que desde pequeno sentia vontade de trabalhar na área, mas o destino o levou para o outro lado: ele atua na produção de filmes. Com o passar do tempo, vendo as dificuldades dos pequenos agricultores, ele decidiu cursar Agronomia na Universidade de Marília (Unimar) para colocar suas ideias em prática.

 

Estufa de hortaliças
Foi assim que nasceu um projeto revolucionário de hidroponia. Na estufa, com ambiente totalmente controlado, o solo é substituído por água com uma solução nutritiva que garante o desenvolvimento das plantas. Ele construiu sozinho uma estrutura de 5,4 metros quadrados (1,70 metro de comprimento por 3,00 metros de altura) onde a mágica acontece em meio a um sistema automatizado que custou menos de cinco mil reais.

No teto da estrutura, o painel solar fotovoltaico garante a captação da luz solar que é convertida em energia e armazenada em uma bateria que liga a bomba para dispensar água com nutrientes, automaticamente. Uma câmera inteligente registra tudo no interior da estufa e, se aumentar muito a temperatura e cair a umidade do ar, um aviso é disparado no celular de Everson a tempo de ajustar o fornecimento da água.

Em entrevista ao JM esta semana, o estudante explicou que os canos com diâmetros variados têm capacidade para 250 mudas de hortaliças, além de vasos pequenos que ficam na parte inferior da estufa e se beneficiam da irrigação automática e da proteção contra insetos, o que elimina a necessidade de usar defensivos agrícolas. 

Everson no interior do seu experimento

PRODUTIVIDADE

Os primeiros experimentos foram realizados há dois meses, no andar superior da casa do estudante, na zona norte. Everson disse que se surpreendeu com o rápido desenvolvimento das hortaliças e também de tomate e morango. Por não ter ideia de como seria, ele plantou todas as mudas de uma vez e, 25 dias depois, as hortaliças estavam tão grandes que encobriram a tubulação.

 

Raizes aparentes da mudinha
“Agora, aprendi a lição. Coloco as mudas aos poucos e conforme vão crescendo, transfiro as plantas para os canos de cima até que cheguem ao último nível e estejam prontas para colheita”, assinalou.

 A primeira colheita, muito farta, ele entregou à mãe que distribuiu entre os vizinhos: “Minha ideia não é vender verduras. Uso este experimento para desenvolver outros projetos. Por exemplo, tem gente pedindo para fazer uma estufa menor, para colocar em um quintal. Dá para reduzir a metragem. Porém, os equipamentos utilizados como placa solar, bomba, reservatório, bateria, câmera etc, são os mesmos”.

Ele afirmou que encontrar soluções para quem quer plantar é sua maior motivação: “Soube de um agricultor que perdeu 8 mil pés de alface, em Londrina, por causa de fortes chuvas.  Em Padre Nóbrega, um agricultor que tem uns 4 alqueires de verdura está trocando tudo pela hidroponia por causa do menor risco de perda, menor gasto com funcionários etc”.

 Everson explicou que estudou muito o projeto antes de tira-lo do papel e que uma das preocupações era o risco de faltar energia e parar a bomba fazendo com que em três ou quatro horas se perdesse uma grande quantidade de hortaliças: “Ao apostar na energia solar esse problema está resolvido. Tenho captação suficiente para quatro dias se chover direto. De dia, a bateria carrega e armazena. À noite o ciclo se inverte. No dia seguinte, repõe a energia que foi usada. Caso a claridade não seja suficiente, posso ligar na energia elétrica e tudo funciona. Mas, até hoje, o meu painel solar tem sido mais do que suficiente”.

 

Tomatinho em ponto de colheita
A utilização de energia fotovoltaica é uma importante opção no campo. O estudante comentou que “quando falta luz na cidade, em poucas horas volta ao normal. Na zona rural, às vezes, só volta a energia no dia seguinte. Ou seja, se tiver estufa e ficar sem energia para a bomba, vai perder tudo”.

Everson também falou sobre a qualidade da produção: “O legal é não precisar usar defensivos agrícolas. Mas, tem que estar sempre de olho e manter a porta da estufa fechada para não entrar nenhum inseto”. E como os experimentos têm dado certo, ele quer expandir ao máximo essa ideia que alia qualidade com baixo custo de produção.

Quanto à ideia da gôndola de supermercado, do início desta reportagem, o estudante disse que é seu próximo passo: “Quero ver as pessoas escolhendo as verduras vivas, ainda se desenvolvendo com as raízes nos tubos recebendo os nutrientes. Elas vão poder pegar o que querem, colocar no saquinho e passar no caixa. Chegando em casa, se quiserem, podem deixar as verduras em água limpa por três ou quatro dias e elas se manterão frescas”. 

Destaque para o painel solar no teto
O que falta para a ideia sair do papel? Parceiros! E sobre isso o estudante de agronomia já está pesquisando, ao visitar supermercados para projetar o protótipo da primeira gôndola. A ideia é que os agricultores que trabalham com hidroponia forneçam as hortaliças aos supermercados que, ao invés de coloca-las em área refrigerada, as manterão vivas nos tubos hidropônicos ao alcance dos consumidores. 

Painel de controle ao fundo

Para saber mais sobre o estudante de Agronomia, seu Instagram é https://www.instagram.com/eversonsilvaagronomia/ e o telefone é (14) 997044831

Leia reportagem sobre a Agronomia da Unimar publicada em 2011 neste blog, acessando AQUI

 *Reportagem publicada na edição de 24/07/2022 do Jornal da Manhã


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domingo, 17 de julho de 2022

PROTETOR DAS NASCENTES RECUPERA FONTES EM ÁREAS PÚBLICAS E PROPRIEDADES RURAIS

Por Célia Ribeiro

A região de Marília foi privilegiada pela natureza: há 4.400 nascentes catalogadas, sendo conhecidas 114 apenas na zona urbana. No entanto, a falta de proteção no entorno das fontes provoca o assoreamento inviabilizando o escoamento da água cristalina que brota em meio à vegetação nativa, observou Carlos Eduardo dos Santos, conhecido por “Coelho da Aquaponia”. 

Água pura brota da nascennte recuperada

Motorista profissional que transporta gado de elite para coleta de sêmen, ele dedica parte do tempo à recuperação de nascentes em áreas públicas e propriedades rurais. Por isso, é um ferrenho defensor da preservação ambiental. Afinal, ele assiste de perto os danos causados pelo homem, sobretudo com o descarte de lixo feito incorretamente.

Conforme revelou em entrevista a esta coluna, há um ano, Coelho era um jovem curioso quando acompanhou, deslumbrado, o resgate de uma nascente em uma fazenda que sofria com a falta d’água para os animais. O senhor que fazia o trabalho foi seu orientador quando tomou gosto pela atividade. 

Coelho da Aquaponia

“Ele tinha uma mega experiência e foi meu professor. Era uma fazenda que não tinha água, mas tinha minas em abundância e ele fez a coleta por caixa e gravidade, atendendo às necessidades da fazenda”, recordou.

O protetor das minas afirmou que “fazendo a leitura das nascentes, buscando o aprendizado em alguns cursos, cheguei a essa experiência que tenho hoje. Tive muitos professores que me ensinaram muito”, assinalou. Ele revelou que já recuperou 48 nascentes, sendo 70 por cento para captação de água destinada a abastecer propriedades rurais e 30 por cento “para preservação do meio ambiente, correndo água de qualidade”. 

Limpeza da área 

VERA CRUZ

Em Marília, ele realizou um trabalho voluntário junto com alguns ambientalistas. Mas, já atuou profissionalmente em outros estados como Mato Grosso e Tocantins. Recentemente, o prefeito de Vera Cruz, Rodolfo Davoli, requisitou seus serviços para recuperar oito nascentes visando ampliar a oferta de água para o abastecimento da cidade. 

Estudantes visitam minas e plantam árvores em Vera Cruz

O Coelho da Aquaponia disse que os principais problemas encontrados nas áreas degradadas são a erosão, o gado solto próximos às nascentes e o descarte de lixo, a maioria de material que poderia ser reciclado. Ele destacou que, de um modo geral, “falta apoio do poder público onde podemos preservar e trazer água de qualidade. Isso impede que a gente faça um trabalho que quem vai colher os frutos são as gerações futuras”.

Ele elogiou a visão do prefeito de Vera Cruz que tem atuado fortemente na área ambiental, sendo a recuperação das nascentes um dos últimos trabalhos. Naquele município, em breve a empresa mariliense Teravolt implantará um Parque Terra Sollarium que unirá geração de energia fotovoltaica e espaço de lazer e cultura para a população. 

Água corrente após recuperação da nascente

Em Vera Cruz, segundo Coelho, o trabalho de recuperação de nascentes envolveu “oito caixas de coleta sujas, contaminadas com raízes e dejetos A meta era limpar todas e preservar para uma água de qualidade, melhorar a capacidade de captação e diminuir o custo da energia elétrica”. O profissional explicou que “aumentamos em 20 por cento a capacidade de vazão, limpamos todas as caixas e plantamos árvores para sombrear”.

CUIDADOS

Alguns cuidados simples podem ser adotados para evitar danos às nascentes em boas condições e proteger as que foram recuperadas: “O maior fator hoje é os produtores cercarem para o gado não pisotear, plantar árvores nativas para sombrear e proteger as nascentes, fazer curva de nível e realizar uma limpeza, uma a duas vezes por ano, para que mantenha uma água de qualidade correndo”, assinalou. 

As propriedades rurais são grandes beneficiadas

Sobre o investimento, ele explicou que o custo é muito baixo e depende mais de trabalho braçal, da situação da nascente, sua localização, acesso etc. “Tudo depende das condições em que o local está, mas não é um trabalho muito demorado”, frisou. 

Coelho (direita): trabalho de equipe

Para entrar em contato com Carlos Eduardo, popularmente chamado de Coelho da Aquaponia, o telefone é (14) 9.96656175.

Leia AQUI a reportagem de agosto de 2021 sobre esse trabalho.

 Reportagem pubicada na edição de 17/07/2022 do Jornal da Manhã


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sábado, 9 de julho de 2022

TRIBUNAL DE JUSTIÇA CRIA FLUXO DE ORIENTAÇÃO ÀS MULHERES QUE DESEJAM COLOCAR OS FILHOS PARA ADOÇÃO.

 Por Célia Ribeiro

“Entrega não é abandono”. A afirmação consta da cartilha “Política de Atenção à Gestante” que o Tribunal de Justiça de São Paulo, através da Coordenadoria da Infância e da Juventude, elaborou em conjunto com as Secretarias Estaduais da Saúde e da Assistência Social e do Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo, como forma de acolher, com respeito e dignidade, as mulheres que desejam entregar os filhos à adoção antes mesmo do nascimento.

Mariana e Alessandra
esperando Juju

Nas últimas semanas, esse assunto atraiu os holofotes porque a atriz Klara Castanho revelou ter entregue o filho à adoção assim que nasceu. Ela justificou sua atitude afirmando ter sido vítima de estupro e descoberto a gravidez somente meses após a concepção. Apoiada pela família, a jovem atriz consultou advogados e passou por todo o processo legal que deveria ser sigiloso, mas que veio à público pela cobertura da mídia de celebridades.

Entregar o filho a outra família para criar é, na verdade, um ato de amor. Segundo a assistente social Ana Paula Ferreira de Castro, do Setor Técnico de Serviço Social e Psicologia do Fórum de Marília, existe um protocolo para acolhimento e acompanhamento das mulheres que desejam entregar os filhos para a adoção legal. O objetivo é evitar situações dramáticas como as de mulheres que fogem do hospital após o parto ou deixam os bebês em lixeiras, bueiros ou na porta de residências.

“Normalmente, quando a pessoa está grávida e não quer ficar com o bebê, ela pode procurar o Posto de Saúde que já a encaminha para o Judiciário para que possamos fazer o atendimento desde o início do gravidez”, explicou. Conforme disse, “a gente vai verificar a parte psicológica. Às vezes, ela tem depressão ou algum problema de saúde mental e aí a encaminhamos para a rede pública de saúde”.

Mariana, Juju e Alessandra

Da mesma forma, é avaliada a condição socioeconômica para saber se a mulher está entregando o bebê por causa de uma situação momentânea, como o desemprego. O setor também faz os encaminhamentos para a Assistência Social do município. Outra questão é identificar se a gestante contou à família e se pretende avisar o pai da criança. 

De qualquer modo, prosseguiu Ana Paula, a decisão da mulher é respeitada e, se ela realmente estiver decidida, é iniciado o processo que culmina com uma audiência perante o juiz onde ela será assistida por um defensor público. A assistente social comentou que uma preocupação frequente é se o bebê ficará em instituições de acolhimento e que as gestantes demonstram alívio ao saberem que a criança irá direto do hospital para uma família previamente habilitada na fila da adoção.

Parte da equipe do Setor Técnico de
Serviço Social  e Psicologia do Fórum 

A assistente social fez questão de frisar que as mulheres têm garantido um atendimento profissional e sem pré-julgamentos por parte dos funcionários da rede de acolhimento. Aliás, na própria apresentação da cartilha do TJ, o desembargador Eduardo Cortez de Freitas Gouvea destaca: “É preciso que as instituições e seus funcionários adotem posturas éticas e técnicas na perspectiva de superar os estigmas que acompanham essas mulheres”.

PROTOCOLO NA MATERNIDADE

Em nota enviada pela Assessoria de Imprensa do HC-Famema, a assessora técnica do Hospital Materno Infantil, Renata Galego Coelho Felisberto, explicou que “quando uma gestante é atendida em nosso hospital e, durante a internação ou após o parto, verbaliza o desejo de entregar seu filho para adoção, imediatamente são acionados os profissionais de serviço social e psicologia para acolhimento multiprofissional”.

Cartilha do TJ

Assim, prosseguiu: “Após o acolhimento, caso os profissionais identifiquem o desejo de realizar a entrega, o bebê é separado da genitora e transferido para a internação em outro setor, normalmente na unidade de cuidados intermediários. Na sequência, são elaborados relatórios médicos contemplando as informações do nascimento e condições clínicas do bebê, além de relatório do Serviço Social. Os documentos são remetidos ao Fórum, aos cuidados do juiz da Vara da Infância e da Juventude, que irá determinar outros detalhes do processo de adoção, além do local de abrigamento da criança”. 

HISTÓRIA DE AMOR

A menininha tímida e de olhar meigo vivia há um ano e meio entre outras crianças no CACAM (Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente de Marília) quando surgiu em seu caminho aquela que faria seu coração bater mais forte: a assistente administrativa Alessandra de Oliveira Papa. A conexão foi instantânea, recordou a mãe do coração que aguardava na fila da adoção após tentar engravidar durante muitos anos.

Alessandra disse que quando ela e o marido decidiram adotar enfrentaram resistência por parte de pessoas que contavam histórias trágicas para desencoraja-los. Mas, não foi suficiente: “O amor vai falar mais alto, com certeza. Só tínhamos em mente a vontade de doar esse amor e, já que nosso filho não vinha de maneira natural, resolvemos então lutar para viver tudo isso”, pontuou.

Mariana e a mãe Alessandra

Ela recordou, com ternura, cada etapa vencida: “Hoje sabemos que foi a melhor decisão que tomamos porque, na verdade, podemos dizer que não há diferença nenhuma. Após 09 anos com minha filha do coração veio a nossa filha de maneira natural e o amor pelas duas é igual, sem nenhuma diferença”.

Atualmente com 18 anos, Mariana conheceu Alessandra em uma visita do casal ao CACAM: “Foi mágico quando fomos visita-la, pela primeira vez. Já tivemos a sensação que ela seria nossa filha. Foi maravilhoso, o coração disparou e não contínhamos as lágrimas. Meu marido olhou pra mim e disse: é ela”, contou a mãe.

Na época, Mariana tinha três anos e guarda poucas memórias do abrigo: “Lembro de algumas coisas, que tinha muitas crianças comigo. E também lembro de ter ido passar finais de semana com algumas famílias”. Em entrevista ao JM, Mariana, que trabalha  em uma empresa de cobrança e faz planos para a universidade, disse que a adoção mudou sua história.

“Antes, eu ficava lá com muitas crianças, saía com algumas famílias. E lembro de quando vieram me buscar, da minha mãe e minha avó junto. É uma experiência emocionante ter alguém pra te dar um carinho que você não tinha antes, ficava no orfanato e não tinha toque de pai, de mãe e agora tenho uma família”, afirmou.

No entanto, foi preciso perseverar na fase de adaptação: “Adotamos minha filha quando ela tinha acabado de completar três anos e vivia no abrigo há um ano e meio. Quanto trouxemos ela para casa tudo era novo para ela que não conseguia nos chamar de pai e mãe. Nos chamava de tio e tia e parecia não gostar de ficar conosco. Os primeiros meses foram muito tristes, mas não desistimos”. 

Férias: família completa

A assistente administrativa disse que com muito amor e paciência, foram quebrando as resistências: “Eu chorava e pensava: Deus, será que ela nunca vai gostar da gente? O tempo foi passando e um dia eu ouvi ela me chamar de mãe pela primeira vez. Levei um choque, um choque de felicidade e vi que tinha dado tudo certo com toda a nossa dedicação”.

Alessandra destacou que a verdade é essencial: “Sempre falei pra ela: filha você não nasceu da minha barriga, você nasceu do coração. Eu e seu pai oramos muito para ter um bebê e Deus enviou você para nós”. No entanto, o casal precisou redobrar os cuidados e atenção quando, naturalmente, Alessandra engravidou.

Assistente Social
Ana Paula

“Lógico que tomei alguns cuidados, sempre priorizando atenção a ela. Quando fui comprar alguns móveis para o quarto delas sempre comprava algo novo pra ela e dizia ‘novo pra você porque você veio primeiro, né filha?”, comentou. No fim, Mariana recebeu a irmãzinha Juliana com muito amor e o fantasma da rejeição desapareceu, segundo a mãe.

Depois de passar pelo processo de habilitação para a adoção e encontrar, finalmente, a tão sonhada filha, Alessandra só tem a agradecer pela Mariana em sua vida: “É gratificante. Ela se tornou uma mulher linda, responsável, carinhosa. Enfim, só me dá orgulho. Sou super a favor da adoção e posso dizer, com propriedade, que foi uma das experiências mais incríveis que vivi”.

Para saber mais sobre o processo de adoção, leia a primeira parte da reportagem publicada nesta coluna no Jornal da Manhã e no blog, clicando AQUI

Acesse AQUI a cartilha do Tribunal de Justiça.


*Reportagem publicada na edição de 09/07/2022 do Jornal da Manhã


domingo, 3 de julho de 2022

FILHOS DO CORAÇÃO: COMO É O PROCESSO E POR QUE HÁ TANTAS ETAPAS ATÉ A ADOÇÃO

 Por Célia Ribeiro

 Um pequeno conjunto de células atinge a forma de embrião e, nove meses depois, dá origem a um bebê. No entanto, um filho pode levar anos para ser gestado se ele for concebido no coração. Quem conhece esse processo são as pessoas habilitadas na fila de adoção. Elas vivenciam uma experiência arrebatadora até o dia em que recebem em seus braços aqueles a quem dedicarão um amor que não se mede. 

Família feliz: gravidez após duas adoções

Nesta semana, a reportagem do JM concluiu a primeira parte de uma matéria que mostrará quais etapas e requisitos são necessários para a adoção, com depoimentos de profissionais do Fórum e de famílias que encararam o desafio e a espera até conhecerem seus filhos.

Integrantes do Setor Técnico de Serviço Social e Psicologia do Fórum de Marília, Ana Paula Ferreira de Castro e Adriana Garcia Stefani Cechet, respectivamente assistente social e psicóloga, informaram que a fila de espera varia muito. Atualmente, cerca de 100 pessoas, entre casais e solteiros estão habilitadas para a adoção.

O que mudou, nos últimos anos, é que não apenas casais heterossexuais como casais homoafetivos vêm cumprindo todos os requisitos e vários já adotaram. Em menor número, também, aparecem pessoas solteiras que desejam ter filhos. Segundo as profissionais, não há preconceito. A única pergunta que interessa é: qual a motivação para a adoção?

 ETAPAS

A princípio, o processo pode parecer longo demais. Entretanto, tudo tem uma razão de ser. O sistema é muito atento para não haver falhas e a adoção acontecer para as pessoas que estejam realmente prontas. Afinal, está em jogo a vida de crianças acolhidas em abrigos que passaram por diferentes situações. Dos bebês aos mais velhos, eles precisam de afeto e um ambiente seguro para se desenvolverem. 

Fórum de Marília (Foto Edio Junior/JM)

Em primeiro lugar, os candidatos devem procurar o Fórum de Marília, pessoalmente à Rua Lourival Freire, 120, das 13 às 17 horas ou por telefone (14) 3311-1141 e se inscreverem no curso online. Em formato EAD (Ensino à Distância), ele tem três módulos e deve ser concluído em até seis horas, após os candidatos responderem algumas perguntas.

Vencida esta fase, os candidatos passam por acompanhamento com uma dupla de psicólogo e assistente social que tem 45 dias para enviar o parecer. Em média, em até três ou quatro meses o processo é concluído com a sentença do juiz. Em caso positivo, os candidatos entram, oficialmente, para a fila de adoção por estarem habilitados legalmente.

Há algum tempo, não era comum casais homoafetivos adotarem em conjunto. Geralmente, um entrava com o processo e o outro pedia para ser incluído depois. Atualmente, tanto homens quanto mulheres estão adotando enquanto casais, ainda que não tenham casado de papel passado. Aliás, ter certidão de casamento não é exigência para ninguém.

Ana Paula e Adriana citaram o caso de duas mulheres que, ao preencherem a ficha de inscrição, não colocaram muitas exigências e informaram que pretendiam adotar mais de uma criança. Por isso, quando surgiram três irmãos (05, 07 e 08 anos) fora de Marília, elas foram acionadas e, prontamente, aceitaram os filhos. A família está sendo acompanhada pelas profissionais do Fórum. 


Quanto mais exigências, maior o prazo de espera. A maioria dos candidatos tem preferência por meninas, até dois anos, brancas ou pardas. Em algumas situações, o tempo de espera pode chegar a 10 anos. No entanto, quem não limita muito a idade e aceita irmãos, por exemplo, consegue mais facilmente o sonho de ter os filhos em casa.

 

 Assistente Social Ana Paula e psicóloga Adriana

MÉDICA RECEBEU DUAS FILHAS

 A médica *Silvana tinha um casal de filhos quando recebeu as irmãs de 08 e 11 anos. Pedindo para não se identificar, ela contou que “a adoção nasceu no nosso coração quando a gente ainda não tinha os dois. Por algumas questões pessoais, houve alguma dificuldade em ter os nossos filhos e a questão da adoção surgiu como uma possibilidade antes da *Flávia nascer. Após o nascimento, apesar de já termos os dois, a vontade de ter mais filhos, através do processo de adoção, foi uma vontade que permaneceu”.

Conforme disse, o desejo de adotar foi se materializando aos poucos, para ela e para o marido, também médico: “Quando ia à igreja, quando rezava, quando as histórias de adoção acabavam surgindo em momentos que a gente nem esperava. E aí, essa vontade de adotar foi crescendo no coração da gente. E devagarzinho, a gente foi buscando saber melhor, entender como era o processo de adoção”.

A médica destacou a inclusão dos filhos no sonho de aumentar a família: “Entre a primeira entrevista e a chegada das nossas filhas foi um processo de dois anos. Mas, até sair o processo de adoção foi um ano e meio, mais ou menos. Durante cada etapa, os nossos filhos eram convidados a pensar conosco, participavam, a gente escutava a opinião deles. A aceitação por parte deles foi algo que foi acontecendo de forma quase natural”.

Ela também falou sobre a adaptação: “Como a chegada de qualquer filho, você precisa abrir espaço e elas tiveram que conquistar o espaço delas. Eles tiveram que acomodá-las dentro do espaço deles como filhos. Dividir mais a atenção e a fase de adaptação não é fácil, para nós como uma família que se abre para a chegada de duas filhas novas, e não é fácil para as meninas que chegam. São dois mundos muito diferentes que começam a se unir”.

 

Os filhos da médica

A médica finalizou deixando uma mensagem: “Para quem deseja adotar, o que diria é quando a gente pensa em adoção, a gente pensa apenas em uma maneira diferente do filho chegar até nós. Na minha percepção, os filhos vêm de uma única origem, que é Deus, independente de vir através de uma gestação da minha barriga ou vir através da adoção. Quem traz os filhos para a vida da gente é Deus. Sempre acreditei muito nisso. Sempre tive muita fé que nossa família seria formada pela vontade de Deus”.

GRAVIDEZ APÓS A ADOÇÃO

A advogada *Alice e o servidor público *Evandro estavam casados há 15 anos quando adotaram um menino de três anos. Mas, como pretendiam aumentar a família, continuaram na fila e adotaram, pouco tempo depois, um bebê de quatro meses. E, inesperadamente, ela engravidou dando à luz outro menino.

“Foi inspiração de Deus. Antes mesmo de nos casarmos nutríamos esse desejo e depois que casamos não foi diferente. Pensávamos em ter nossos filhos biológicos primeiro e depois adotar, mas como o tempo estava passando e não conseguíamos ter nossos filhos biológicos e sabíamos que a adoção demoraria anos para sair, resolvemos nos inscrever e aguardar os filhos chegarem na forma da vontade de Deus”, contou.

A advogada lembrou da surpresa da gravidez: “Foi um susto maravilhoso.  Teríamos praticamente três bebês para cuidar, porque o nosso maior, apesar da idade, teve diagnóstico de paralisia cerebral e requer muitos cuidados. Não foi e não está sendo nada fácil até porque não temos familiares aqui em Marília e essa bendita pandemia complicou absurdamente nossa vida. Mas, é muito prazeroso vê-los crescer juntos e conviverem como irmãos”.

Ela concluiu falando sobre a experiência que viveu com um filho de três anos, com sérios problemas de saúde, um bebê que chegou com quatro meses de idade, e o caçula da gravidez inesperada:  “Temos para nós que se trata de uma missão confiada por Deus. Se Deus colocar isso em seu coração o faça. É muito prazeroso você poder ajudar crianças a poderem ter uma chance de ter um lar,  de ter amor de uma família e poder contribuir para o crescimento e desenvolvimento delas e ter uma perspectiva de um  futuro melhor por poder contar com uma família que os apoiarão. Eles são muito carentes e têm muito amor para dar. Só é necessário amá-los e ajudá-los a superar as experiências ruins que tiveram”.

Leia, na próxima edição: a Lei da Entrega Legal, quando as mães desejam colocar os filhos para adoção ainda durante a gravidez, como o caso da atriz Klara Castanho, que repercutiu nacionalmente. As profissionais do Fórum dizem que é comum, mas preservado pelo sigilo. E também a história emocionante da mãe e da filha, hoje com 18 anos, que mostra como a adoção transforma vidas. Domingo, dia 10 de julho, nesta coluna!

Obs: os nomes foram trocados para preservar a privacidade das famílias.

 * Reportagem publicada na edição de 03.07.2022 do Jornal da Manhã


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