domingo, 3 de julho de 2022

FILHOS DO CORAÇÃO: COMO É O PROCESSO E POR QUE HÁ TANTAS ETAPAS ATÉ A ADOÇÃO

 Por Célia Ribeiro

 Um pequeno conjunto de células atinge a forma de embrião e, nove meses depois, dá origem a um bebê. No entanto, um filho pode levar anos para ser gestado se ele for concebido no coração. Quem conhece esse processo são as pessoas habilitadas na fila de adoção. Elas vivenciam uma experiência arrebatadora até o dia em que recebem em seus braços aqueles a quem dedicarão um amor que não se mede. 

Família feliz: gravidez após duas adoções

Nesta semana, a reportagem do JM concluiu a primeira parte de uma matéria que mostrará quais etapas e requisitos são necessários para a adoção, com depoimentos de profissionais do Fórum e de famílias que encararam o desafio e a espera até conhecerem seus filhos.

Integrantes do Setor Técnico de Serviço Social e Psicologia do Fórum de Marília, Ana Paula Ferreira de Castro e Adriana Garcia Stefani Cechet, respectivamente assistente social e psicóloga, informaram que a fila de espera varia muito. Atualmente, cerca de 100 pessoas, entre casais e solteiros estão habilitadas para a adoção.

O que mudou, nos últimos anos, é que não apenas casais heterossexuais como casais homoafetivos vêm cumprindo todos os requisitos e vários já adotaram. Em menor número, também, aparecem pessoas solteiras que desejam ter filhos. Segundo as profissionais, não há preconceito. A única pergunta que interessa é: qual a motivação para a adoção?

 ETAPAS

A princípio, o processo pode parecer longo demais. Entretanto, tudo tem uma razão de ser. O sistema é muito atento para não haver falhas e a adoção acontecer para as pessoas que estejam realmente prontas. Afinal, está em jogo a vida de crianças acolhidas em abrigos que passaram por diferentes situações. Dos bebês aos mais velhos, eles precisam de afeto e um ambiente seguro para se desenvolverem. 

Fórum de Marília (Foto Edio Junior/JM)

Em primeiro lugar, os candidatos devem procurar o Fórum de Marília, pessoalmente à Rua Lourival Freire, 120, das 13 às 17 horas ou por telefone (14) 3311-1141 e se inscreverem no curso online. Em formato EAD (Ensino à Distância), ele tem três módulos e deve ser concluído em até seis horas, após os candidatos responderem algumas perguntas.

Vencida esta fase, os candidatos passam por acompanhamento com uma dupla de psicólogo e assistente social que tem 45 dias para enviar o parecer. Em média, em até três ou quatro meses o processo é concluído com a sentença do juiz. Em caso positivo, os candidatos entram, oficialmente, para a fila de adoção por estarem habilitados legalmente.

Há algum tempo, não era comum casais homoafetivos adotarem em conjunto. Geralmente, um entrava com o processo e o outro pedia para ser incluído depois. Atualmente, tanto homens quanto mulheres estão adotando enquanto casais, ainda que não tenham casado de papel passado. Aliás, ter certidão de casamento não é exigência para ninguém.

Ana Paula e Adriana citaram o caso de duas mulheres que, ao preencherem a ficha de inscrição, não colocaram muitas exigências e informaram que pretendiam adotar mais de uma criança. Por isso, quando surgiram três irmãos (05, 07 e 08 anos) fora de Marília, elas foram acionadas e, prontamente, aceitaram os filhos. A família está sendo acompanhada pelas profissionais do Fórum. 


Quanto mais exigências, maior o prazo de espera. A maioria dos candidatos tem preferência por meninas, até dois anos, brancas ou pardas. Em algumas situações, o tempo de espera pode chegar a 10 anos. No entanto, quem não limita muito a idade e aceita irmãos, por exemplo, consegue mais facilmente o sonho de ter os filhos em casa.

 

 Assistente Social Ana Paula e psicóloga Adriana

MÉDICA RECEBEU DUAS FILHAS

 A médica *Silvana tinha um casal de filhos quando recebeu as irmãs de 08 e 11 anos. Pedindo para não se identificar, ela contou que “a adoção nasceu no nosso coração quando a gente ainda não tinha os dois. Por algumas questões pessoais, houve alguma dificuldade em ter os nossos filhos e a questão da adoção surgiu como uma possibilidade antes da *Flávia nascer. Após o nascimento, apesar de já termos os dois, a vontade de ter mais filhos, através do processo de adoção, foi uma vontade que permaneceu”.

Conforme disse, o desejo de adotar foi se materializando aos poucos, para ela e para o marido, também médico: “Quando ia à igreja, quando rezava, quando as histórias de adoção acabavam surgindo em momentos que a gente nem esperava. E aí, essa vontade de adotar foi crescendo no coração da gente. E devagarzinho, a gente foi buscando saber melhor, entender como era o processo de adoção”.

A médica destacou a inclusão dos filhos no sonho de aumentar a família: “Entre a primeira entrevista e a chegada das nossas filhas foi um processo de dois anos. Mas, até sair o processo de adoção foi um ano e meio, mais ou menos. Durante cada etapa, os nossos filhos eram convidados a pensar conosco, participavam, a gente escutava a opinião deles. A aceitação por parte deles foi algo que foi acontecendo de forma quase natural”.

Ela também falou sobre a adaptação: “Como a chegada de qualquer filho, você precisa abrir espaço e elas tiveram que conquistar o espaço delas. Eles tiveram que acomodá-las dentro do espaço deles como filhos. Dividir mais a atenção e a fase de adaptação não é fácil, para nós como uma família que se abre para a chegada de duas filhas novas, e não é fácil para as meninas que chegam. São dois mundos muito diferentes que começam a se unir”.

 

Os filhos da médica

A médica finalizou deixando uma mensagem: “Para quem deseja adotar, o que diria é quando a gente pensa em adoção, a gente pensa apenas em uma maneira diferente do filho chegar até nós. Na minha percepção, os filhos vêm de uma única origem, que é Deus, independente de vir através de uma gestação da minha barriga ou vir através da adoção. Quem traz os filhos para a vida da gente é Deus. Sempre acreditei muito nisso. Sempre tive muita fé que nossa família seria formada pela vontade de Deus”.

GRAVIDEZ APÓS A ADOÇÃO

A advogada *Alice e o servidor público *Evandro estavam casados há 15 anos quando adotaram um menino de três anos. Mas, como pretendiam aumentar a família, continuaram na fila e adotaram, pouco tempo depois, um bebê de quatro meses. E, inesperadamente, ela engravidou dando à luz outro menino.

“Foi inspiração de Deus. Antes mesmo de nos casarmos nutríamos esse desejo e depois que casamos não foi diferente. Pensávamos em ter nossos filhos biológicos primeiro e depois adotar, mas como o tempo estava passando e não conseguíamos ter nossos filhos biológicos e sabíamos que a adoção demoraria anos para sair, resolvemos nos inscrever e aguardar os filhos chegarem na forma da vontade de Deus”, contou.

A advogada lembrou da surpresa da gravidez: “Foi um susto maravilhoso.  Teríamos praticamente três bebês para cuidar, porque o nosso maior, apesar da idade, teve diagnóstico de paralisia cerebral e requer muitos cuidados. Não foi e não está sendo nada fácil até porque não temos familiares aqui em Marília e essa bendita pandemia complicou absurdamente nossa vida. Mas, é muito prazeroso vê-los crescer juntos e conviverem como irmãos”.

Ela concluiu falando sobre a experiência que viveu com um filho de três anos, com sérios problemas de saúde, um bebê que chegou com quatro meses de idade, e o caçula da gravidez inesperada:  “Temos para nós que se trata de uma missão confiada por Deus. Se Deus colocar isso em seu coração o faça. É muito prazeroso você poder ajudar crianças a poderem ter uma chance de ter um lar,  de ter amor de uma família e poder contribuir para o crescimento e desenvolvimento delas e ter uma perspectiva de um  futuro melhor por poder contar com uma família que os apoiarão. Eles são muito carentes e têm muito amor para dar. Só é necessário amá-los e ajudá-los a superar as experiências ruins que tiveram”.

Leia, na próxima edição: a Lei da Entrega Legal, quando as mães desejam colocar os filhos para adoção ainda durante a gravidez, como o caso da atriz Klara Castanho, que repercutiu nacionalmente. As profissionais do Fórum dizem que é comum, mas preservado pelo sigilo. E também a história emocionante da mãe e da filha, hoje com 18 anos, que mostra como a adoção transforma vidas. Domingo, dia 10 de julho, nesta coluna!

Obs: os nomes foram trocados para preservar a privacidade das famílias.

 * Reportagem publicada na edição de 03.07.2022 do Jornal da Manhã


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