domingo, 26 de maio de 2019

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA ATRAI QUEM BUSCA ALIVIO DA DOR E EQUILIBRIO DE ENERGIA

Por Célia Ribeiro

Ao cair da tarde, depois de enfrentar o trânsito caótico na região do Campus Universitário, ingressar na rotatória de acesso ao Jardim Acapulco carrega um simbolismo especial para dezenas de pessoas que repetem o percurso, toda quarta-feira. Localizada quase no final de uma rua tranquila, a Clínica TAO oferece atendimento gratuito a até 100 pessoas, por noite, com a ajuda de quase 50 terapeutas voluntários que aplicam as terapias da Medicina Tradicional Chinesa.


Sérgio atende paciente de câncer: alívio da dor
Logo na entrada, a luz difusa e a trilha sonora próprias para meditação se misturam aos aromas das essências,  óleos e dos chás servidos a quem chega. Antes, porém, é preciso retirar os calçados quando voluntários recebem um a um, anotando no caderno o primeiro nome para organizarem as sessões de Reiki e de Escalda-pés realizadas em pequenos grupos.
 Sala do Escalda-pés: iluminação que acalma


As pessoas sussurram. O clima de relaxamento é completo e ninguém quer atrapalhar quem está passando pelos atendimentos. Na quarta-feira (22), comemorava-se o “Dia do Abraço”. Mas, pelo que se observou, o acolhimento caloroso não tem dia especial. Sorrisos, abraços, afagos e olhares se comunicavam silenciosamente, em uma atmosfera difícil de descrever para quem estava lá pela primeira vez.

CORPO E ALMA

A reportagem do JM conversou com várias pessoas, de diferentes idades. De pacientes oncológicos em tratamento a pessoas lutando contra a depressão, o grupo de quase 100 pessoas que passou pela clínica incluiu muitos jovens. Neste caso, a explicação de Larissa Garrido e Mateus Cardoso, 24 anos, e Rebeca Nunes, 20 anos, foi obter equilíbrio energético e o autoconhecimento. Os três chegaram quase ao final dos trabalhos e se acomodaram nas cadeiras de entrada como quem se sentia em casa.
Sala de Reiki: energia pela imposição das mãos
A funcionária pública estadual, Denise Gomes Martins, contou que era sua terceira vez. Levada por recomendação da irmã, que faz curso de Práticas Integrativas, estava acompanhada por um amigo. “É uma delícia, me relaxa tanto. Hoje eu fiquei com dor de cabeça o dia inteiro. Mas, não vou nem tomar remédio porque só o Escalda-pés já ajudou”, contou, explicando que estava aguardando para receber o Reiki (método milenar oriental de cura por energia pela imposição das mãos).
Denise Martins

O produtor rural Osney dos Santos de Souza, 47 anos, falou sobre sua experiência: “Eu vim porque estava me sentindo muito mal. Desde a primeira vez eu me senti muito bem. Tirei um fardo das minhas costas. Eu falo para as pessoas com quem convivo que aqui é um lugar mágico. Eu me senti mais aliviado porque tinha uma depressão muito forte”. Era sua sexta vez.

O acolhimento foi um dos principais pontos destacados pela enfermeira Melissa Lopes, 41 anos. “Foi uma amiga que me trouxe porque tenho passado por tratamento de depressão e só o tratamento convencional não vinha dando o resultado satisfatório. A partir do momento que eu comecei a fazer aqui, há um mês, toda quarta-feira, eu senti uma grande melhora”.
Osney dos Santos

Melissa afirmou que “é bem nítida a diferença quando faço o Reiki e o tratamento da medicação. Aqui é um aliado que complementa a medicação”. Para ela, a maneira como as pessoas são recebidas contribui para o bem-estar: “A gente precisa muito desse lado espiritual, do amor, que a medicação não faz”.

VOLUNTÁRIA

De fala mansa e olhar delicado, a massoterapeuta Fatsue Him, que gosta de ser chamada de Maria, tem 68 anos e mais de 20 anos de experiência. Ela aprendeu as técnicas no Japão e quando foi convidada para o trabalho voluntário não pensou duas vezes antes de mergulhar no desafio.

“No Japão eu estudei a Medicina Tradicional Chinesa, mas numa língua que eu não entendo nada. Eu sentia falta de alguma coisa e estou adorando estar aqui”, assinalou. Ela observou que “para entrar neste trabalho integrativo você tem que fazer uma reforma íntima para saber quem é você na integridade, para fazer um diagnóstico com certeza no seu paciente. São emoções que penetram. Se você tem as mesmas emoções, não consegue fazer a distinção.  Temos que ter esse conhecimento interior nosso para poder ajudar”.
 Maria prepara o material descartável para o escalda-pés
A terapeuta afirmou que cada vez mais as pessoas vão precisar dos recursos da Medicina Tradicional Chinesa: “Pelo que o mundo está passando, acredito que nós vamos ter muito trabalho. Se você vai num psicólogo, é só um psicólogo e eu não estou desfazendo. É excelente. Mas, aqui a pessoa vem, toma um Reiki, faz um escalda-pés e, a emoção da pessoa está tão aparente, está fervendo, que quando a gente faz um Reiki ou um escalda-pés, saem as emoções. Isso é curativo porque saindo as emoções a pessoa fica mais livre, tem a cabeça mais leve”.
 Melissa (esq.) e jovem após a sessão de escalda-pés
OPÇÃO DE VIDA

O terapeuta Sérgio Garcia Rodrigues, que é um dos professores do Curso de Práticas Integrativas e Complementares que a ACC está promovendo, e que esta página divulgou domingo passado, é o fundador da Clínica TAO. Todo de branco e com um sorriso pronto para saudar quem se aproximava, ele contou sobre o início do trabalho.
Muitos jovens frequentam a Clínica Tao, semanalmente.
Como disse na entrevista passada, ele largou uma vida empresarial confortável para se dedicar à Medicina Tradicional Chinesa. “Foi uma opção de vida”, reafirmou na quarta-feira. Talvez por isso, o desapego ao dinheiro. Impressiona ver a infraestrutura da clínica que ele construiu para fazer os atendimentos aos seus pacientes e que, abriu para um grupo de terapeutas engajados na mesma ideia de possibilitar o acesso gratuito à comunidade.
Os calçados são deixados na entrada
São dezenas de toalhas limpas e de boa qualidade, muitos frascos de óleo e outras matérias primas utilizadas, além de luzes especiais, macas etc, que toda quarta-feira à noite são utilizados pelos terapeutas voluntários que desejam atender a população. Perguntado sobre como mantém o local, explicou que isso não era preocupação, que ele mantinha com recursos próprios e que, recentemente, o grupo de voluntários também tem ajudado, além da caixinha em um canto discreto onde pode-se fazer doações.

Sérgio disse que “o Instituto TAO começou na minha casa, seis anos atrás. Eu recebia as pessoas lá, cuidava delas em casa. Formamos um grupo de terapeutas, que se reunia em casa, também, e esse grupo foi crescendo. A ideia era reunir pessoas que se interessavam pela área”. Foi formada uma entidade que, dois anos depois, “não deu certo no formato que tinha de Associação. Uma parte do grupo achou que o mais importante era o trabalho e não a pretensa formalização”.
Escalda-pés


Foi então que ele construiu a Clínica TAO para atender seus pacientes. E o grupo de terapeutas, já numeroso, abraçou a ideia de abrir para atendimento ao público, gratuitamente, uma vez por semana. “Atualmente, tem mais de 50 pessoas que trabalham voluntariamente. Atendemos de 80 a 100 pessoas por quarta-feira, sendo que cada atendimento leva de uma a duas horas, às vezes, até três horas. Por isso, precisamos de um número grande de terapeutas voluntários”.

Sérgio explicou uma das terapias mais procuradas: “A gente oferece o escalda-pés, que é lavar o pé da outra pessoa. Quem recebe se senta, coloca os pés na água quente com sais, com ervas, e recebe uma massagem com óleos, em que a gente faz uso de pontos de reflexologia, para levar ao relaxamento e amenizar as dores, sem contar o acolhimento. O Ambiente é favorável, com energia positiva e as pessoas estão focadas  só nisso. Isso vai construindo uma atmosfera que auxilia, principalmente, nas questões emocionais das pessoas”.

Ele acrescentou que “tem a Sala do Reiki, mas a gente faz várias técnicas de energização através de imposição de mãos. O nosso jeito de aplicar o Reiki é pouco convencional porque, às vezes, a pessoa recebe o Reiki de uma pessoa ou de 05, 10 ou 20 pessoas ao mesmo tempo. É um momento mágico. Trabalhamos também com massoterapia, auriculoterapia, acupuntura etc.”.

A Clínica TAO está localizada à Rua Rubens Fukugawa Tamotu, 445 A, Jardim Acapulco. Telefones (14) 33671607 e (14) 997841608.

DEPOIMENTO: UM DIA DE PACIENTE 

Para fazer essa reportagem, precisei sair da pele da jornalista e entrar na pele de uma paciente em busca de relaxamento e alívio para o estresse. Ao chegar, me surpreendi com o ambiente zen. Pacientemente, aguardei minha vez até chegar à Sala de Reiki. As luzes difusas e o cheiro de ervas, com o fundo instrumental em baixo volume, proporcionaram uma incrível sensação de relaxamento quando me deitei em uma das macas.

A terapeuta se aproximou, passou um spray em minhas mãos, cujo aroma herbal não consegui  identificar, me orientando a friccionar as mãos e aspirar bem fundo. Ela passou o mesmo spray em suas mãos e pediu que eu mantivesse os olhos fechados e respirasse calmamente. De olhos fechados, não pude ver o que ela fez. Só sentia um arrepio, pequenos choques e formigamento em algumas partes do corpo. Depois, ela pressionou, com incrível suavidade, suas mãos em meu rosto, olhos, pescoço, braços, pernas e demorou-se nos meus pés. Era uma sensação muito agradável. Permaneci de olhos fechados e não sei quanto tempo se passou até que abri os olhos e vi que ela não estava mais lá. Levantei-me e fui para a sala dos escalda-pés.
Maria massageando meu pé


Éramos três, com uma voluntária para cada um.
À minha frente, a enfermeira Melissa Lopes e um jovem que não consegui entrevistar porque foi embora antes de mim. 
Maria, a massoterapeuta oriental, mergulhou meus pés em água bem quente. Antes, uma das voluntárias pediu que a gente permanecesse com os olhos fechados e imaginasse uma luz sobre nossa cabeça. Obedeci. Maria, sentada em um banquinho, pegou meu pé direito com muita delicadeza, enxugou-o, passou um óleo e iniciou a massagem ativando os pontos de reflexologia. Quase adormeci sentada.

Depois, repetiu com o pé esquerdo. Foram momentos de puro relaxamento, com a luz amarela no canto da sala, a música e os aromas indescritíveis completando a sensação de bem estar. No trajeto até minha residência, um sentimento de muita gratidão às duas terapeutas se apossou de mim. Ao chegar, depois de um banho quente, adormeci quase que imediatamente. Foram as melhores horas de sono que tive em muito tempo! 

Reportagem publicada na edição de 26.05.2019 do Jornal da Manhã

sábado, 18 de maio de 2019

PRATICAS INTEGRATIVAS: ACC TERÁ AMBULATÓRIO PARA PACIENTES ONCOLÓGICOS

Por Célia Ribeiro

Com 29 procedimentos reconhecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), as Práticas Integrativas e Complementares (PICs) provaram ser grandes aliadas na prevenção e no tratamento de diversas doenças, segundo informa o Ministério da Saúde em seu site oficial. Em Marília, a ACC (Associação de Combate ao Câncer) disponibilizará atendimento gratuito não apenas aos portadores de câncer como, também, para seus cuidadores e familiares, a partir de julho.

Aula no auditório da ACC
Inicialmente, serão disponibilizadas cinco práticas: Aromaterapia, Florais, Reiki, Auriculoterapia e Massoterapia, como explica a presidente da entidade, Maria Antonia Antonelle. Conforme disse, isso será possível graças ao projeto patrocinado pelo Instituto Cooperforte: iniciado em março, o Curso “Práticas Integrativas e Complementares – Profissão e Prevenção à Saúde” está capacitando 30 profissionais, de 18 a 50 anos.

Os alunos praticam entre si
Além da preparação para o mercado de trabalho, os alunos poderão replicar os conhecimentos em futuras formações ampliando a difusão das práticas que são valorizadas por sua importância em complemento à medicina convencional. A ideia da presidente da ACC é que, em parceria com o município, o Ambulatório possa oferecer atendimento via SUS a toda a população, futuramente.

INFRAESTRUTURA

Com duração de 10 meses e aulas de segunda a quinta-feira, no período noturno, e algumas atividades às sextas-feiras, o curso acontece no segundo andar da ACC ocupando o auditório climatizado e salas adjacentes. Para o futuro ambulatório, divisórias garantirão privacidade durante os atendimentos, informou um dos professores, o terapeuta Sérgio Garcia Rodrigues, 56 anos.
À esquerda, o terapeuta Sérgio
Na última quarta-feira (15), a reportagem do JM acompanhou a aula da terapeuta de florais e psicóloga Berenice de Lara, das 19h30 às 22h. Apesar da noite fria, o clima logo na entrada era caloroso e de muito acolhimento. Ao chegar, alunos e professores retiraram os calçados que ficaram do lado de fora da sala.
Professora Berenice tirou cartas terapeuticas para aluna
Entre os presentes, homens e mulheres de idades variadas e diferentes profissões mostravam estar em sintonia com a leveza do momento em que se despiam de preocupações para se concentrarem na professora que atua com florais há 30 anos (floraisdelara.com.br) e é autora de vários livros pela Editora Pensamento.
Aula na quarta-feira: novos horizontes
“Há muitos anos dou cursos de formação. Mas, é difícil encontrar uma turma assim, com tanta motivação”, comentou Berenice de Lara que, no intervalo em que foi servido um lanche reforçado, orientou os alunos a diluírem no suco 07 gotas de alguns florais. Ela explicou que os florais têm múltiplos usos, desde “resolução de traumas profundos até questões de acolhimento e de relacionamento familiar”.
Denise Cortinove

HUMANIDADE

Ex-empresário das áreas de alimentação e transportes, Sérgio Garcia Rodrigues largou tudo para estudar os princípios da Medicina Chinesa e, atualmente, é professor de acupuntura, Reiki, Auriculoterapia, Aromaterapia e Massoterapia. Terapeuta respeitado do Instituto TAO, onde são realizados atendimentos gratuitos à população, uma vez por semana, ele falou com entusiasmo sobre as práticas integrativas e a oportunidade de participar do projeto da ACC.

“Parei de correr atrás do comércio, do dinheiro; parei de correr atrás das coisas que são transitórias. Acho que agora estou começando a entender o que é riqueza e ela não tem nada a ver com coisas materiais. Riqueza é a possibilidade de reconhecer o que é eterno, as coisas que você deixa quando vai. É disso que a gente fala no curso. É conseguir fazer da sua vida um exercício, deixar coisas nos corações quando você for. Quanto mais você deixa, mais você tem”, frisou.
Eduardo, acupunturista
Sérgio contou que conheceu a presidente da ACC justamente quando pensava em criar um dia de atendimento a pacientes oncológicos no Instituto TAO: “Junto com esse projeto, tem a intenção de colocar as pessoas no mercado de trabalho. A gente conseguiu unir o útil ao agradável e ao agradabilíssimo porque a gente vai promover a empregabilidade deles enquanto terapeutas. Mas, mais do que isso, a gente está se preparando para montar um ambulatório só de práticas integrativas”.

Ele finalizou destacando a equipe de professores, altamente capacitados, e a contrapartida da ACC cuja diretoria tem se empenhado para tirar o ambulatório do papel, ampliando ainda mais o atendimento aos portadores de câncer e seus familiares, de Marília e região.

EXPECTATIVA

Aos 36 anos, Janaina de Freitas Ruggeri afirmou que buscou “uma evolução maior para a minha vida e acho que o curso tem trazido isso para mim, como ser humano”. Ao seu lado, Sidney Kaigawa, 50 anos, disse que as aulas superaram as expectativas: “É um curso transformador que acaba fazendo mudar nossa forma de visão do mundo e despertar para o bem, para a caridade”.
 Reiki é uma das práticas estudadas
Coach e ex-professora, Denise Cortinove era uma das mais entusiasmadas na quarta-feira. Ela contou que soube das práticas integrativas por um problema familiar: “Conheci o Reiki, de forma efetiva, com uma tia com câncer nos ossos. Nenhum remédio fazia efeito e foi lá uma pessoa aplicar o Reiki e ela dormiu sem dor”, recordou.
Florais disponibilizados aos alunos
A partir daí, interessada no assunto foi ao Instituto TAO onde conheceu Sérgio Rodrigues e passou a trabalhar como voluntária. Assim, ao saber do curso decidiu tentar uma vaga: “A gente vai ser um instrumento de partilha, de conhecimento, de milagres. A gente vai ser ponto de ajuda para que esse milagre aconteça como da minha tia que não dormia por muita dor. E um moço simples, oriental, chegou e pediu para aplicar o Reiki e fez um grande milagre.
Sou muito grata à ACC, aos professores e ao TAO que já faz esse trabalho de forma gratuita”.

Por sua vez, o acupunturista Eduardo Maurício da Silva, 50 anos, contou que “na minha profissão, eu buscava alguma coisa a mais para dar um conforto para meu paciente. Mas, eu não tinha achado ainda. Tive a oportunidade de conhecer o curso e acho que para a gente tratar as pessoas tem que estar bem internamente e muito bem preparado, porque são coisas que acontecem e vem para nós o que é mandado por Deus”.
Lanche toda noite


Ele assinalou que “o curso é muito interessante porque a ACC está buscando uma forma mais humanizada de tratar os pacientes, a família e quem está cuidando do paciente. Acredito que isso seja tão transformador para nós que estamos doando de coração, sendo voluntários, doando amor. É o que é preciso hoje: mais amor, mais carinho, um abraço. Fiz vários cursos. Mas, como esse não tem comparação”.

PRATICAS INTEGRATIVAS

Aromaterapia: Prática terapêutica secular que utiliza as propriedades dos óleos essenciais, concentrados voláteis extraídos de vegetais, para recuperar o equilíbrio e a harmonia do organismo visando à promoção da saúde física e mental, ao bem-estar e à higiene.
Reiki: Prática terapêutica que utiliza a imposição das mãos para canalização da energia vital visando promover o equilíbrio energético, necessário ao bem-estar físico e mental. Busca fortalecer os locais onde se encontram bloqueios – “nós energéticos” – eliminando as toxinas, equilibrando o pleno funcionamento celular, e restabelecendo o fluxo de energia vital.
Publicações de Berenice de Lara
Terapia de Florais: Prática terapêutica que utiliza essências derivadas de flores para atuar nos estados mentais e emocionais. A terapia de florais de Bach, criada pelo inglês Dr. Edward Bach (1886-1936), é o sistema precursor desta prática. A professora Berenice de Lara atua com florais de cristais também.  Para saber mais sobre as 29 práticas integrativas reconhecidas pelo SUS, acesse: http://portalms.saude.gov.br

* Reportagem publicada no Jornal da Manhã, edição de 19.05.2019

** Leia reportagem sobre o projeto de sustentabilidade econômica da ACC acessando AQUI

domingo, 12 de maio de 2019

COM HORTA COMUNITÁRIA, VIZINHOS SE UNEM NA PRESERVAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA.

Por Célia Ribeiro

Neste domingo, quando as famílias se encontrarem para a comemoração do “Dia das Mães”, na mesa de algumas residências do Jardim Portal do Sol as ervas aromáticas, as verduras e os legumes recém-colhidos são um presente da “Mãe Natureza”. Mais que o frescor de alimentos orgânicos, os pratos serão realçados pelo sabor do espírito comunitário que agregou os vizinhos em torno da revitalização de uma área pública abandonada, onde formaram uma horta, um pomar e protegem uma nascente d’água.
Vinicius e Guilherme ajudam a cuidar da horta do bairro
Passando em frente à Igreja Santa Clara, no fim da Rua Domingos Garcia Castilho, no sentido centro-bairro nota-se, do lado esquerdo, a vegetação alta. Convergindo à esquerda chega-se ao local que, durante muito tempo, serviu de depósito de lixo, entulho de toda ordem e criadouro de insetos e caramujos.
No fim da rua, à esquerda, moradores revitalizaram a área pública
Foi a visão do aposentado Vicente Lazarini que começou a mudar essa história, como conta a farmacêutica e professora Flávia Cristina Goulart: “O Davi e a Inês de Souza plantaram as primeiras árvores e o Vicente implantou a horta e agregou os vizinhos no projeto da horta comunitária. A neta dele, Thais Lazarini e o companheiro dela, Fabio Matareli, vieram esse ano para a mesma casa em que o Vicente morou e deram continuidade ao apoio da horta”.
Vizinhos cuidam da horta nos finais de semana
Ela prosseguiu explicando que o casal cedeu a água para a irrigação das plantas e espaço para guardar as ferramentas que, agora, estão devidamente armazenadas em um quartinho construído com materiais doados pelos vizinhos. O próximo passo será a captação da água da chuva do telhado porque o grupo já conta com uma grande caixa para armazenamento.

Nascente protegida
Segundo Davi, um dos pioneiros, a situação estava caótica: “Era caramujo subindo pelas paredes, muito mato e a gente começou a limpar”. Aproveitando o matagal na área pública, muitas pessoas paravam para descartar lixo e até móveis em uma total falta de conscientização sobre os problemas que isso causava aos moradores do entorno, além de atingir a nascente d’água.
Flávia e Suelen colheram quiabos na quarta-feira (08/05)
A UNIÃO FAZ A FORÇA

A tecnologia aproximou os moradores no grupo de WhatsApp do bairro permitindo que tratassem não só da questão da segurança. Os membros do “Vizinhos Solidários”, como se intitula o grupo, passaram a tratar de outros temas e a ideia de se juntarem para revitalização da área foi tomando forma.
Flávia Goulart vai nos finais de tarde
Inicialmente, realizaram um mutirão para limpeza do terreno e até colocaram uma corrente com placa de “Proibido Jogar Lixo”. Aos poucos, depois do trabalho e nos finais de semana, os vizinhos começaram a participar do plantio e cuidado dos canteiros. Um fato interessante é que não existe regra para a colheita: “Cada um pega o que precisa. É só entrar, colher e levar para casa. Nos finais de semana fazemos uma colheita maior do que que está no ponto e dividimos com quem aparece”,
explicou Flávia Goulart.
Área antes do mutirão de limpeza

Vicente e Davi, pioneiros
Atualmente, são cultivados: alecrim, manjericão, orégano, manjerona, capim limão, batata doce, batata comum, quiabo, mamão, mandioca,  milho, hibisco, banana, abacate, mandioca, maracujá, chuchu, açafrão, inhame, ora-pró-nóbis, goiaba, figo, acerola, romã,  jabuticaba, limão, melissa, sálvia, cheiro verde, pimenta, louro, alface, almeirão, cenoura etc.

Não só os adultos participam. As crianças são bem-vindas e adoram cuidar da terra como Vinicius (06 anos) e Guilherme (11 anos), filhos da terapeuta ocupacional Suelen Gama. Ela contou que foi bem recebida quando resolveu conhecer a horta comunitária e levou os filhos para que tivessem contato com a natureza.

“É importante eles saberem de onde vem o alimento que está na mesa. Colheram quiabos e levei para casa. Trago os meus filhos para estimular o cuidado com a terra, para estimular o desenvolvimento deles. Existem algumas pesquisas que falam sobre a importância do contato da criança com a natureza. É isso que a gente está buscando”, destacou Suelen.
Fábio desce até a mina com facilidade
Há apenas seis meses no bairro, o advogado Fábio Henrique Matarelli incorporou a filosofia do grupo. Ele destaca o fato da iniciativa contribuir não só com o meio ambiente, mas com o espírito de coletividade, de integração entre os vizinhos. No poste em frente à sua residência foi instalado um sistema de câmeras para monitoramento do local.
Suelen e os filhos: exemplo

Ele explicou que o objetivo não é vigiar eventuais furtos, citando que, certa vez, observou pelas câmeras que alguns pedreiros de uma obra próxima entraram no terreno. Mas, pegaram só um pé de alface e deixaram tudo intacto. Por isso, não se preocupam com invasores. “A câmera é para nossa segurança, principalmente à noite. Antes de ir lá buscar um tempero para cozinhar, eu olho nas câmeras para ver se não tem ninguém escondido lá”, comentou.

PRESERVAÇÃO

Enquanto falava sobre o trabalho do grupo de vizinhos, Fábio se dirigia ao terreno ao lado em que foram plantadas árvores frutíferas e outras nativas como Pau-Brasil, Jacarandá, Ipê e Flamboyant. Mostrando conhecimento do terreno, rapidamente ele desceu até a  mina que derramava água límpida no pequeno córrego em que alguns peixinhos foram colocados para ajudar no controle biológico de mosquitos.
Placa tenta impedir degradação
O lugar chamava a atenção pela beleza da natureza exuberante e pelo silêncio quebrado pela água que brotava da terra sem cerimônia. No entorno, pássaros se recolhiam aos seus ninhos enquanto o sol se despedia na quarta-feira de outono. O mesmo faziam os vizinhos solidários que, no dia seguinte, estariam novamente lá, como bons filhos, para preservarem o que a “mãe natureza” os presenteou.

*Reportagem publicada na edição de 12.05.2019 do Jornal da Manhã


sábado, 4 de maio de 2019

ARTE E MEIO-AMBIENTE: VOLUNTÁRIOS REVITALIZAM ESTAÇÃO FERROVIÁRIA.

Por Célia Ribeiro

A Rua 9 de Julho, ao lado do Terminal Rodoviário Urbano e do Camelódromo, é passagem obrigatória para milhares de pessoas, diariamente. Com passos apressados, a maioria não se dá conta da situação de abandono da antiga Estação Ferroviária de Marília que, há quase 20 anos, deixou de ser palco de alegria e tristeza com o embarque e desembarque de passageiros. Mas, uma pessoa olhou. E se incomodou a ponto de pensar em alternativas para ocupar o espaço público de maneira organizada.
Estação iluminada: novos tempos
 Conhecido ativista cultural, Ademar Aparecido de Jesus, o “Dema”, olhou a imensa área no coração da cidade com um filtro muito especial: no lugar do matagal, dos dormitórios improvisados de pessoas em situação de rua e de usuários de drogas, do lixo que atraía insetos e roedores, ele viu flores, árvores frutíferas, painéis coloridos, biblioteca pública, feira livre, palco para apresentações de música e dança, local para venda de artesanato e geração de renda.
As crianças ajudam no paisagismo

Pouco mais de um ano após a descoberta da velha estação de trem, é impossível passar pelo local e não observar a mudança que só aconteceu pela determinação de Dema e seu poder de articulação. Ele atraiu voluntários e ganhou o respeito da administração municipal, que tem colaborado “na medida do possível”, como conta o ativista, além de parceiros na iniciativa privada como Centro Comercial Estação e a empresa Life (colocou internet aberta), a ONG “Amigos do Bar”, entre outros.

 “Desde 2010 eu falava com o André Gomes, atual secretário da Cultura, e a Iara Pauli, ex-secretária, que a maioria das estações ferroviárias estavam sendo ocupadas por frentes, ativistas, movimentos, artesãos, cultura de rua, movimento Hip Hop etc”, comentou Dema.
Mas, foi em 2017, em busca de novos desafios, que “passei pela 9 de Julho e olhei para esta área. Ventilei para algumas pessoas que eu queria ocupar esse espaço e dar uma destinação social”, recordou.
No lugar do lixo, uma horta orgânica
Conforme disse, “Marília inteira conhece meu passado, talvez por um dia eu ter sido garoto de rua, garoto da cracolândia, a gente consegue ter uma fala diferenciada, ter um olhar diferente, mais humanizado e, ao mesmo tempo, duro quando necessário”. Dema tem uma história de superação por ter cumprido pena no sistema penitenciário. Reabilitado, há muitos anos desenvolve projetos sociais focados no resgate de jovens para desviá-los das drogas, do álcool e da criminalidade, na periferia.

A UNIÃO FAZ A FORÇA
Dema, sob a jabuticabeira: visionário
Dema faz questão de frisar que a revitalização da estação ferroviária não tem vínculos com políticos ou com partidos, embora mencione o apoio recebido do vereador Evandro Galete e do secretário municipal da Agricultura, Ricardo Cavichioli, que doou e ajudou a plantar uma jabuticabeira adulta, além do secretário da Cultura, André Gomes.
Venda de mudas a preços acessíveis
Conforme disse, os dois primeiros apoiadores da ideia foram o “b.boy” Robério (Roberto da Silva), ligado ao movimento Hip Hop e o ativista Luciano Cruz. Eles começaram “com o resgate da casinha e cinco moradores de rua, que hoje, graças a Deus, não estão mais com a gente. Quatro voltaram para suas famílias e um reconheceu que precisava de ajuda e pediu para ser internado”.
Os eventos atraem muita gente
Atualmente, alguns homens em situação de rua trabalham voluntariamente na limpeza e manutenção do local que atraiu um grande número de pessoas: “No dia 27 de janeiro de 2018, foi realizado o primeiro grande evento. Passei para os movimentos de arte e cultura de rua a importância de nós ocuparmos esse espaço, mas com responsabilidade, e darmos uma solução artística, cultural, social e ambiental”.
Biblioteca pública: estímulo à leitura
Assim, após a limpeza da área, foram iniciados o paisagismo e a horta. Em uma parte nos fundos do terreno, onde havia grande quantidade de lixo, foi construída uma fossa séptica seguindo um modelo aprovado pelos órgãos ambientais, com a ajuda da ONG “Amigos do Bar” que adquiriu os materiais necessários.
Feira de orgânicos às sextas e sábados
Foi reformada e equipada a cozinha, de onde saem as refeições disponibilizadas aos voluntários, diariamente (café da manhã, almoço e jantar) e a pipoca e cachorro-quente servidos às crianças aos sábados à noite, durante as exibições de filmes no “Cine Estação”. Também foi construído um sanitário com barras laterais para acessibilidade.
Voluntário trabalha na limpeza da área
Com o compromisso de não vender nada industrializado, os artesãos têm espaço garantido. “Tem a senhorinha aposentada que trabalha com tapete, crochê e tricô, tem o senhor que faz licores, outro que produz sabonete e sabão artesanalmente, além de banca de flores e plantas”, explicou, acrescentando que “o único compromisso é que todos que mantenham uma banca aqui devem dar 03 horas de trabalho voluntário em prol do projeto”.
Lixo antes da ocupação


VOLUNTÁRIOS

O brechó da estação recebe roupas e calçados doados pela população. A venda dos produtos, a um ou dois reais, é revertida para manutenção do projeto que também aceita doações de alimentos para o preparo das refeições dos voluntários. Dema afirmou que “a maioria de nós, que faz com que a arte e a cultura tenham vida dentro da cidade, e vários coletivos, a maioria invisíveis, não têm onde gerar sua renda. A ideia foi tornar isso aqui um grande espaço onde se possa respirar arte e cultura”.

O “Projeto Estação” conta com 42 voluntários de várias idades, sendo alguns jovens e até crianças que colaboram no plantio e cuidado das flores e plantas, além de 08 pessoas em situação de rua que, segundo Dema, “já estão bem integradas”. Ele acrescentou que “algumas pessoas conhecidas, mas muitos anônimos também nos ajudam, seja com alimentos ou até 30 ou 50 reais por mês que são muito úteis” já que não contam com verba pública.

A biblioteca, localizada estrategicamente na entrada pela Rua 9 de Julho, recebeu o trabalho voluntário da bibliotecária Bruna Otreira Muniz Patrício, 24 anos. Formada em 2017, ela contou que “mercado de trabalho está um pouco complicado para trabalhar na minha área. Quando soube do projeto, e como estavam precisando de alguém para organizar a biblioteca, vi uma oportunidade de conseguir adquirir experiência na minha área e de dar o retorno da faculdade pública que a sociedade bancou para mim”.
Brechó com doações da comunidade
Com empréstimo de livros, por 30 dias, e venda de alguns exemplares, além de gibis e revistas, a biblioteca se consolidou nos últimos três meses com doações da comunidade. De acordo com Bruna Muniz, “tem escala de voluntários da UNESP de todas as áreas, e de Biblioteconomia que a gente assina estágio para eles aqui. Agora, queremos parcerias para ajudar a difundir o hábito da leitura”.

Refeições servidas aos voluntários
Ao lado da biblioteca está a banca de flores e plantas de Sônia Guimaro. Ela produz as próprias mudas que são vendidas a preços acessíveis, a partir de três reais até o máximo de 20 reais. O ponto funciona de segunda a sexta,  das 10h até às 18. Quando o comércio fica aberto o dia todo no sábado o horário vai até 19h.
Dema e a bibliotecária Bruna Patrício


O movimento é intenso na estação: às sextas ocorre a feira de produtos orgânicos e aos sábados é a vez dos produtores de agricultura familiar e  de assentamentos da região levarem seus produtos para comercialização.
Corte de cabelo: sempre tem
voluntários colaborando.

Como um espaço vivo, a estação está em permanente movimento. Está programada uma feijoada, aberta ao público, com ingressos a 15 reais com direito ao almoço animado pela roda de samba, no dia 18 de maio, a partir das 11h. Toda a renda será revertida ao projeto.

“A Estação Cultural foi tomando vida com ajuda e participação de vários grupos, coletivos, bandas de todos os gêneros e estilos, artistas, ativistas, igrejas, profissionais liberais, ONGs parcerias, profissionais liberais, até tomar a cara de hoje”, finalizou Dema, deixando os telefones de contato para quem desejar colaborar com a iniciativa: Sandra Mara – (14) 996714562 e Dema – (14) 996899101.

Conheça a história de Dema, publicada em 2010, acessando AQUI

*Reportagem publicada na edição de 05.05.2019 do Jornal da Manhã