domingo, 12 de maio de 2019

COM HORTA COMUNITÁRIA, VIZINHOS SE UNEM NA PRESERVAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA.

Por Célia Ribeiro

Neste domingo, quando as famílias se encontrarem para a comemoração do “Dia das Mães”, na mesa de algumas residências do Jardim Portal do Sol as ervas aromáticas, as verduras e os legumes recém-colhidos são um presente da “Mãe Natureza”. Mais que o frescor de alimentos orgânicos, os pratos serão realçados pelo sabor do espírito comunitário que agregou os vizinhos em torno da revitalização de uma área pública abandonada, onde formaram uma horta, um pomar e protegem uma nascente d’água.
Vinicius e Guilherme ajudam a cuidar da horta do bairro
Passando em frente à Igreja Santa Clara, no fim da Rua Domingos Garcia Castilho, no sentido centro-bairro nota-se, do lado esquerdo, a vegetação alta. Convergindo à esquerda chega-se ao local que, durante muito tempo, serviu de depósito de lixo, entulho de toda ordem e criadouro de insetos e caramujos.
No fim da rua, à esquerda, moradores revitalizaram a área pública
Foi a visão do aposentado Vicente Lazarini que começou a mudar essa história, como conta a farmacêutica e professora Flávia Cristina Goulart: “O Davi e a Inês de Souza plantaram as primeiras árvores e o Vicente implantou a horta e agregou os vizinhos no projeto da horta comunitária. A neta dele, Thais Lazarini e o companheiro dela, Fabio Matareli, vieram esse ano para a mesma casa em que o Vicente morou e deram continuidade ao apoio da horta”.
Vizinhos cuidam da horta nos finais de semana
Ela prosseguiu explicando que o casal cedeu a água para a irrigação das plantas e espaço para guardar as ferramentas que, agora, estão devidamente armazenadas em um quartinho construído com materiais doados pelos vizinhos. O próximo passo será a captação da água da chuva do telhado porque o grupo já conta com uma grande caixa para armazenamento.

Nascente protegida
Segundo Davi, um dos pioneiros, a situação estava caótica: “Era caramujo subindo pelas paredes, muito mato e a gente começou a limpar”. Aproveitando o matagal na área pública, muitas pessoas paravam para descartar lixo e até móveis em uma total falta de conscientização sobre os problemas que isso causava aos moradores do entorno, além de atingir a nascente d’água.
Flávia e Suelen colheram quiabos na quarta-feira (08/05)
A UNIÃO FAZ A FORÇA

A tecnologia aproximou os moradores no grupo de WhatsApp do bairro permitindo que tratassem não só da questão da segurança. Os membros do “Vizinhos Solidários”, como se intitula o grupo, passaram a tratar de outros temas e a ideia de se juntarem para revitalização da área foi tomando forma.
Flávia Goulart vai nos finais de tarde
Inicialmente, realizaram um mutirão para limpeza do terreno e até colocaram uma corrente com placa de “Proibido Jogar Lixo”. Aos poucos, depois do trabalho e nos finais de semana, os vizinhos começaram a participar do plantio e cuidado dos canteiros. Um fato interessante é que não existe regra para a colheita: “Cada um pega o que precisa. É só entrar, colher e levar para casa. Nos finais de semana fazemos uma colheita maior do que que está no ponto e dividimos com quem aparece”,
explicou Flávia Goulart.
Área antes do mutirão de limpeza

Vicente e Davi, pioneiros
Atualmente, são cultivados: alecrim, manjericão, orégano, manjerona, capim limão, batata doce, batata comum, quiabo, mamão, mandioca,  milho, hibisco, banana, abacate, mandioca, maracujá, chuchu, açafrão, inhame, ora-pró-nóbis, goiaba, figo, acerola, romã,  jabuticaba, limão, melissa, sálvia, cheiro verde, pimenta, louro, alface, almeirão, cenoura etc.

Não só os adultos participam. As crianças são bem-vindas e adoram cuidar da terra como Vinicius (06 anos) e Guilherme (11 anos), filhos da terapeuta ocupacional Suelen Gama. Ela contou que foi bem recebida quando resolveu conhecer a horta comunitária e levou os filhos para que tivessem contato com a natureza.

“É importante eles saberem de onde vem o alimento que está na mesa. Colheram quiabos e levei para casa. Trago os meus filhos para estimular o cuidado com a terra, para estimular o desenvolvimento deles. Existem algumas pesquisas que falam sobre a importância do contato da criança com a natureza. É isso que a gente está buscando”, destacou Suelen.
Fábio desce até a mina com facilidade
Há apenas seis meses no bairro, o advogado Fábio Henrique Matarelli incorporou a filosofia do grupo. Ele destaca o fato da iniciativa contribuir não só com o meio ambiente, mas com o espírito de coletividade, de integração entre os vizinhos. No poste em frente à sua residência foi instalado um sistema de câmeras para monitoramento do local.
Suelen e os filhos: exemplo

Ele explicou que o objetivo não é vigiar eventuais furtos, citando que, certa vez, observou pelas câmeras que alguns pedreiros de uma obra próxima entraram no terreno. Mas, pegaram só um pé de alface e deixaram tudo intacto. Por isso, não se preocupam com invasores. “A câmera é para nossa segurança, principalmente à noite. Antes de ir lá buscar um tempero para cozinhar, eu olho nas câmeras para ver se não tem ninguém escondido lá”, comentou.

PRESERVAÇÃO

Enquanto falava sobre o trabalho do grupo de vizinhos, Fábio se dirigia ao terreno ao lado em que foram plantadas árvores frutíferas e outras nativas como Pau-Brasil, Jacarandá, Ipê e Flamboyant. Mostrando conhecimento do terreno, rapidamente ele desceu até a  mina que derramava água límpida no pequeno córrego em que alguns peixinhos foram colocados para ajudar no controle biológico de mosquitos.
Placa tenta impedir degradação
O lugar chamava a atenção pela beleza da natureza exuberante e pelo silêncio quebrado pela água que brotava da terra sem cerimônia. No entorno, pássaros se recolhiam aos seus ninhos enquanto o sol se despedia na quarta-feira de outono. O mesmo faziam os vizinhos solidários que, no dia seguinte, estariam novamente lá, como bons filhos, para preservarem o que a “mãe natureza” os presenteou.

*Reportagem publicada na edição de 12.05.2019 do Jornal da Manhã


5 comentários:

  1. Parabéns pela excelente matéria .realmente foi assim q começamos do lixo ao luxo...e a todos que colaboram muito obrigada.e a vc Celia que acreditou nesse projeto

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    1. Inês, parabéns a vcs pela iniciativa. Obrigada por permitir a divulgação de um trabalho tão inspirador.

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  2. Parabéns, sou prima do David, moro em Goioerê Pr, fui passear aí mes passado e vi o carinho com que os vizinhos solidários cuidam deste pedaço de chão, que a primeira vista, ninguém diz que é uma terra fértil.. mas eles dão amor e faz com que a natureza trabalhe a seu favor. PARABÉNS, lindo o trabalho e a união dos vizinhos.

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    1. Olá! Que bacana ter conhecido o trabalho do grupo. Realmente, temos que incentivar essas iniciativas.

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  3. Que legal, iniciativa simples e transformadora. Parabéns pelas matérias e pelo carinho com que divulga nossa amada Marília Célia Ribeiro

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