domingo, 29 de novembro de 2020

LIXO ZERO: INSERVÍVEIS SE TORNAM OBRAS DE ARTE PELAS MÃOS DE BELINHA CIRILLO

Por Célia Ribeiro

Ela adora dançar. Mas, também, adora criar os vestidos com que rodopia pelos bailes da vida com seus longos cabelos loiros esvoaçantes. A paisagista e designer de interiores, Izabel Cirillo, achou que a pandemia seria algo passageiro e decidiu aproveitar a reclusão das primeiras semanas para criar seus modelitos. “Cadê o baile?”, perguntou, explicando que quando se deu conta da gravidade da situação, recorreu à arte para suportar esses oito meses intermináveis.

Belinha reaproveitou uma antiga caixa de madeira

Belinha, como é conhecida, já esteve nesta coluna em outras oportunidades pelas inovações que, vira e mexe, brinda seus amigos e familiares. Da costura à produção de velas, passando pelo artesanato em vasos, a partir de recicláveis, ela tem se dedicado ao cultivo de suculentas e aos arranjos na ampla casa em que reside no Jardim Acapulco.

Como se não bastasse o isolamento social, com a proibição dos bailes que tanto aprecia, e o temor pelos riscos de contágio do Covid-19, Belinha se viu em meio a uma reforma na propriedade: “Fui mexendo aqui e ali, resolvi refazer a piscina e agora, com esse calorão, nem piscina eu tenho para usar”, disse, resignada. Por isso, os trabalhos manuais tiveram um poder terapêutico.

Vaso com sobras de velas e conchinhas

“Muitas pessoas jogam tudo fora. Mas, tem coisas que podemos usar, que não são lixo. Eu guardo tudo, de botões a conchinhas do mar, sobras de tecido, revistas e laços de embalagem de presentes. Tudo isso pode virar arte para decorar a casa ou presentear”, assinalou. Ela exibiu um grande quadro na sala que teve por base uma tela gasta, filtros usados de café, um pedaço de tronco encontrado no quintal, ganchos velhos e restos de estopa e juta.

O segredo, segundo Belinha, é não ficar parada: “Está chegando o Natal e pedaços de velas que não estão sendo usadas podem ser derretidos transformando-se em vasos ou até em outras velas”, citou. A artista disse que para fazer uma vela vermelha, ao invés de ir atrás de corantes para parafina, basta derreter giz de cera, que é feito à base de petróleo, para dar o tom no trabalho. Para completar, bolas de Natal e laços de embalagens de presente reaproveitados.

A artista e o quadro original da sala de estar

Para fazer os vasos ou outras velas a partir de sobras de parafina, não há necessidade de moldes especiais: “É só pegar qualquer vasilha, untar com óleo de cozinha e derramar a vela derretida. Pode aproveitar para enfeitar com pau de canela, botões, conchinhas do mar, pedrinhas etc. Deixa endurecer e desenforma. Fica muito lindo”.


Pequena parte do jardim

RENOVAÇÃO

A artista lamentou não ter mais tempo para se dedicar ao artesanato porque as suculentas a têm mantido ocupada o dia todo devido às encomendas de plantas e arranjos. Mas, até as plantas encontram morada em vasos originais. Potes plásticos, como embalagem de sorvete, são pintados com tinta de parede surpreendendo pela beleza. O mesmo vale para caixas e caixotes de madeira que encantam pela originalidade.

Casca de coqueiro abriga suculentas

Para quem está em casa, vivendo um momento difícil, Belinha tem uma dica: “Na internet tem uma infinidade de sites e blogs com receitas de artesanato. Dá para fazer tantas coisas, bastando começar. Se quebrou um espelho, use a moldura; se tem um centro de mesa bonito, enquadre num porta-retratos com uma fotografia de revista no fundo. O importante é não ficar parado”, destacou.

Bolsa usou
retalhos de malha

Apostando na arte como terapia, Belinha finalizou dizendo que “se a pessoa não quiser fazer trabalhos manuais, use o tempo livre para fazer alguma coisa que leve jeito. Se sabe fazer bolo, que faça bolos”, pontuou. E finalizou afirmando que ocupar a mente e as mãos neste período foi a melhor coisa que poderia ter feito: “Vejo arte em tudo e por isso dou uma utilidade a qualquer coisa que iria para o lixo. Criando, renovo as coisas ao meu redor”.

Enquanto isso, os pedreiros tocam a reforma a passos lentos e Belinha vê a piscina no concreto sonhando com um bom mergulho. Mas, ao olhar para o jardim, e tudo o que já criou, seu sorriso reaparece. Será que vem baile por aí?


Para saber mais sobre o trabalho da artista, acesse: https://www.instagram.com/belinhacirillo

Leia reportagem de 2012 com a artista AQUI e em 2018 nova reportagem AQUI

* Reportagem publicada na edição de 29.11.2020 do Jornal da Manhã





domingo, 22 de novembro de 2020

COM CASA SUSTENTÁVEL, JORNALISTA INICIA PRODUÇÃO DE DEFUMADOS ARTESANAIS

 Por Célia Ribeiro

Com apenas 08 anos, um garoto muito esperto salvou os amiguinhos de ficarem de barriga vazia isolados na mata em Florínea, região de Assis. Ao final do “fogo do conselho”, tradicional fogueira em torno da qual os escoteiros se reuniam no acampamento, ele colocou sob as brasas algumas batatas e ovos que assaram durante a noite. Nascia ali um cozinheiro, hoje conhecido como o jornalista da TV Record, Fernando Garcia, 43 anos.

Horta no quintal: produção orgânica

Quem o vê nas reportagens dificilmente imagina aonde sua curiosidade foi capaz de levá-lo: do quintal em que cultiva alimentos, ao reaproveitamento da água da lavadora de roupa para limpeza externa e da coleta da água da chuva para irrigar a horta, pomar e jardim, até a construção de engenhocas para armazenamento de água e, mais recentemente, do defumador que utiliza para produzir bacon, costelinha e tender, Fernando é um camaleão em constante transformação.

Jornalista Fernando Garcia

Muitas pessoas se tornaram introspectivas e depressivas na pandemia. Para ele, a quarentena despertou algo adormecido por muitos anos: a vontade de se aventurar na produção orgânica de alimentos para a família (esposa e filho adolescente) e de defumados artesanais que hoje comercializa, com sucesso, junto aos amigos, além de nutricionistas e culinaristas que o recomendam pela alta qualidade dos produtos.

Tomate que vira molho para as massas

ENXADA NA MADRUGADA

“Sempre fui sobrevivencialista”, comentou em entrevista ao JM, contando que ao se mudar do apartamento para uma casa antiga, com um grande quintal, vislumbrou a possibilidade de iniciar a sonhada horta. A esposa foi contra dizendo que cresceu na área rural e não queria saber de plantação, mas que aceitaria um jardim.

Fornisqueira une forno e churrasqueira

Lá foi o Fernando preparar um belo jardim com flores e arbustos e até um lago para carpas ao estilo oriental. Passados uns dois anos, só ele continuava frequentando o oásis particular até que, ao acordar certa madrugada, decidiu dar um melhor uso à terra: “Levantei às 5 horas, peguei a enxada e arranquei todo o gramado. Às 10 horas da manhã todos os canteiros estavam prontos”, recordou às gargalhadas.

 
Família: Victor, Natália  e Fernando

Atualmente, além de duas jabuticabeiras que havia no terreno, Fernando cultiva uva, ervas aromáticas, verduras e legumes, incluindo tomate e milho. O destaque fica por conta das cebolas de cabeça que deixa na despensa secando, todo orgulhoso. Para completar, colocou 04 galinhas poedeiras no quintal às quais deu nomes e que produzem os ovos caipiras.

Depois do trabalho, jornalista vira horticultor

As folhas e restos de vegetação são usados para manter a umidade do solo. E, o jornalista ainda aproveita a água da máquina de lavar roupa, que estoca em um tambor de 200 litros, para limpeza da calçada e corredores internos. A água da chuva, captada e armazenada em um recipiente que ele construiu em um ataque de “professor Pardal”, irriga a horta nestes tempos de altas temperaturas.

Defumados sem conservantes são disputados

Fernando disse que se surpreendeu com o grande consumo de água pela lavadora. São 800 litros por fim de semana para a lavagem da roupa de três pessoas. “Se chegar visita ou for lavar cobertor, chegamos a um metro cúbico de água, ou seja, 1.000 litros, facilmente”, exemplificou. Ele contou que foi ofendido por pessoas que passaram em frente à sua casa e o viram lavando a calçada durante a seca porque não imaginavam que era reaproveitamento de água.

Captação de água
da chuva

DEFUMADOS

Fernando Garcia iniciou um novo capítulo em suas aventuras gastronômicas ao fundar a “Cozinha Garcia”. Após muita pesquisa, estudos e orientação da esposa que é técnica em processamento de alimentos e estudante de nutrição, tem produzido bacon, costelinha e tender defumados com uma qualidade que surpreende os especialistas.

Da construção com as próprias mãos da “fornisqueira”, uma mistura de forno e churrasqueira, até o defumador com rigoroso controle de temperatura, o empreendedor dá atenção aos mínimos detalhes. Ele pesquisou até encontrar um fornecedor de carnes da região que é pouco conhecido e atende a Capital, também foi atrás da matéria prima para o defumador já que lascas de lenha de laranjeira chegam a custar 50 reais o quilo, na internet. 

Da fase de testes ao produto final, Fernando Garcia chegou ao ponto em que seus produtos são bastante disputados porque a produção, totalmente artesanal, não passa de 50 quilos por mês. Ele possui registro no Ministério da Agricultura e destaca o rigor com que a esposa inspeciona os seus produtos: “Fazer coisa perto dela, ou faz bem feito, dentro dos padrões sanitários, ou ela joga fora”, assinalou.

Fernando informou que a técnica de defumação é milenar e que ninguém passa a receita. Foi através de muito estudo e pesquisa, no horários de folga ao terminar a jornada na TV, que ele iniciou os primeiros testes. Ele contou, por exemplo, que o processo artesanal utiliza dois ingredientes: o nitrito e o sal são colocados com a peça de carne em uma espécie de salmoura onde permanecem por cinco dias a cinco graus centígrados. 

O bacon é o carro-chefe

Após esta fase, a carne é pendurada para sair o excesso de água e vai para o defumador a 75 graus. Após 4 a 6 horas, dependendo do peso, a peça vai para a geladeira para resfriar e na sequência é embalada a vácuo, rotulada e armazenada a baixas temperaturas, novamente. Fernando explicou que o processo permite que “a gordura da barriga de porco entremeie nas fibras. É como as carnes que antigamente eram conservadas em gordura”, destacou, referindo-se ao bacon.

Esse tender é a parte nobre do pernil

Ele destacou que, ao contrário dos “defumados” comerciais, seus produtos não têm conservantes, aromatizantes etc. Apenas sal e nitrito. Por isso, o bacon, por exemplo, solta mais gordura quando é preparado. Essa gordura sai do alimento, tornando-o, assim, mais saudável para o consumo. 

Entre os produtos que prepara de forma artesanal, a costelinha chama a atenção pela grande quantidade de carne. E o tender, que no seu caso usa uma parte nobre do pernil e não retalhos de carne emulsionados, como em muitos produtos comerciais, seu sabor é intenso e agradável ao paladar, segundo os culinaristas que o recomendam.

Com capacidade de produção em torno de apenas 50 quilos de defumados por mês, Fernando está feliz com os resultados da empreitada. Mas, tal qual o escoteiro da infância, está inquieto em busca de um novo desafio: a produção de energia para tornar sua casa autossuficiente utilizando recursos mais simples e menos onerosos que os oferecidos pela indústria do setor. É só aguardar!

Para entrar em contato com Fernando Garcia, seguem seu e-mail fernandogarcianews@gmail.com e telefone (14) 998785190. No Instagram, o perfil é: @cozinha_garcia.

* Reportagem publicada na edição de 22.11.2020 do Jornal da Manhã



domingo, 15 de novembro de 2020

COM TALENTO NO DNA, JACI FURQUIM LEVA SEU SAMBA ÀS PRINCIPAIS PLATAFORMAS DIGITAIS.

Por Célia Ribeiro

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé”. Os versos de “Samba da minha terra”, de Dorival Caymmi imortalizados na voz de João Gilberto, estão na boca do povo e ilustram como esse gênero contagia com sua alegria. Mas, há também quem chore ouvindo um samba-canção de dor de cotovelos. Seja como for, Jaci Furquim, uma artista com quase 200 composições no currículo, coloca o samba no pedestal que ele merece, seja no palco, em CDs ou nas plataformas digitais.

Jaci Furquim e o inseparável violão

A voz inconfundível e o riso solto são a marca registrada desta cantora e compositora de 60 anos, formada em piano e violão eruditos. No entanto, mais que professora no Centro Musical Tons e Semitons, que fundou em 1996, ela arrebata plateias durante as apresentações que contam, entre os músicos, com duas joias: os filhos Gabriel Soledade (seu produtor, arranjador e violão sete cordas) e Luciano Soledade (percursionista). 

Impactada pela pandemia, como os artistas em geral, Jaci Furquim compôs muito nos últimos meses. Ela vem dando um trabalhão ao filho Gabriel, responsável pelos arranjos de suas composições que nascem com letra e melodia num pacote só. Ela brinca dizendo que admira quem consegue compor sob encomenda para os intérpretes porque, no seu caso, a inspiração chega com letra e melodia. Assim, a artista tem que estar sempre com um gravador por perto para registrar e não esquecer. 

A artista com seus músicos experientes

INFÂNCIA MUSICAL

O ditado segundo o qual “o fruto não cai longe da árvore” vale para esta família. Jaci que nasceu em São Paulo, mas passou a infância no Rio de Janeiro, em Angra dos Reis e Florianópolis, teve tias musicistas, como Nídia Soledade que era violoncelista de Tom Jobim. O pai tocava muito bem violão e, por parte de mãe, um tio lhe deu o primeiro impulso quando, ainda criança, pegava o violão da irmã para aprender sozinha, de ouvido, como se diz.

Cartaz de divulgação do último trabalho

Aos 11 anos, a mãe se rendeu aos seus pedidos e a matriculou em um conservatório musical, em São Paulo, aonde foi estudar piano erudito, sua grande paixão, e também violão erudito. Ano a ano, Jaci foi descobrindo na música a razão de viver, passando a estudar técnica vocal em complemento aos instrumentos que já dominava na época.

No jardim de casa: tempo para compor

A artista, que começou a carreira cantando em barzinhos, na base da voz e violão, viu a música arrebatar os filhos ainda pequenos. Perguntada se eles ganharam instrumentos de brinquedo na infância, ela recordou, às gargalhadas, que “eles brincavam com instrumentos de verdade que eu tinha em casa”. E falou, com orgulho, do talento “muito acima da média” de Gabriel e Luciano.

ALBUNS

O caminho para gravar um álbum é longo e cheio de obstáculos, a começar pelo alto custo que incluem estúdio e músicos convidados. Mesmo assim, Jaci Furquim conseguiu lançar “Razões do Coração” em 2011 e “Brilhante Fino” em 2016 que contou com a participação da Velha Guarda da Portela. Em 2019 veio o álbum “Caminhos de Samba - Tratore”, com 10 sambas, sendo 07 autorais que, nesta sexta-feira (13), já estava disponível nas principais plataformas digitais.

Alegria durante apresentação

Se a pandemia atrapalhou a divulgação do último trabalho em shows, suspensos desde março, por outro lado, deu o tempo necessário à artista para conceber mais uma obra: “Brasileiras”, um EP que homenageará todas as mulheres e será lançado em 2021. Muito criativa, Jaci Furquim quer se aventurar por outros gêneros, além do samba, como xote e baião, que já canta em algumas apresentações.

Jaci é referência no samba

E por falar em shows, a artista faz questão de destacar os músicos que a acompanham desde o início. Conhecidos do público como integrantes do “Grupo Cartola Branca”, ela destaca os dois filhos Gabriel e Luciano, além de André de Oliveira (cavaquinista) e Danilo Agostinho (clarinetista e saxofonista). Sobre Gabriel, seu produtor e arranjador, ela relata, com orgulho, que ele transforma suas composições: “É quase outra composição, é uma co-criação. Seu trabalho é fundamental no resultado final”, frisou.

Sem perspectiva de volta aos palcos, a curto prazo, Jaci pensa em uma live no fim do ano. Mas, seria com MPB e outros gêneros: “Fazer live só com samba sem plateia não dá”, observa, resignada. Sobre esse período difícil do Covid-19, Jaci entende “como uma lição que nosso pai criador tenha mandado pra gente repensar tantas coisas que a gente banalizava e não dava valor, que hoje são essenciais, e a gente sente uma falta danada”.

Ela finalizou afirmando que “a mãe natureza é sábia e as lições dela são rigorosas. Ou entendemos por bem ou ela vai nos castigar. Tudo tem consequência, mas a gente vai sair fortalecida disso”. Para entrar em contato com a produção da artista, os telefones são: (14) 33163236 e (14) 997262152. Nas redes sociais, acesse: https://www.facebook.com/GrupoCartolaBranca

* Reportagem publicada na edição de 15.11.2020 do Jornal da Manhã



domingo, 8 de novembro de 2020

COM BELEZAS NATURAIS E POTENCIAL DE TURISMO EM VÁRIAS ÁREAS, MARILIA PODE INVESTIR NA INDÚSTRIA SEM CHAMINÉS.

 Por Célia Ribeiro

Ao entardecer de um dia qualquer, uma cesta de vime se abre sobre a toalha xadrez de onde se vê potes de geleia, frutas, sucos e pães. No horizonte, o astro-rei recompensa os expectadores tingindo de dourado uma área descampada da zona leste. Não se trata de poesia: esse clima bucólico está ao alcance de todos na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, nas proximidades do aeroporto. Lá, o pôr-do-sol é uma atração à parte com potencial para ser explorado pelo turismo, esta fábrica sem chaminés que, ao invés de poluir, gera emprego, renda e qualidade de vida.

Pessoas se prepararam para o espetáculo do entardecer

Ex-gerente do SEBRAE, ex-secretário do Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico, profissional de marketing, professor, pesquisador, articulista, fotógrafo e consultor, Ivan Evangelista Jr tem um currículo invejável. No entanto, sua maior qualidade talvez seja o amor que dedica à cidade. Membro da Comissão de Registros Históricos, do COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) e do CODEM (Conselho de Desenvolvimento Estratégico de Marília), ele elaborou, no ano 2000, um guia com roteiros turísticos de Marília.

Escalada na Serra de Avencas: aventura

Vinte anos depois, este visionário continua incansável para que a cidade ocupe o lugar que merece, explorando um filão praticamente virgem: o turismo. Em entrevista ao JM nesta semana, ele falou com entusiasmo juvenil sobre o potencial de Marília, destacando o trabalho voluntário e de grande importância do COMTUR e do CODEM.

PLANEJAMENTO

Felizmente, Ivan Evangelista Jr não é o único entusiasta desta área. Vários atores, representando instituições de diferentes setores, estão vibrando na mesma sintonia. Após um trabalho robusto de levantamento de dados, voluntários elaboraram o Plano Diretor de Turismo que permitiu a Marília receber o selo de MIT (Município de Interesse Turístico) com acesso a verbas do governo do Estado.

Reunião do Conselho de Turismo

Os dados coletados impressionam e não caberiam em uma única reportagem. A cidade tem capacidade para explorar o turismo em várias frentes: negócios, rural, ambiental, cultural, histórico etc. Antes mesmo de uma reforma orçada em 600 mil reais (verba estadual), o Museu de Paleontologia atrai milhares de visitantes o ano todo para conhecerem os fósseis descobertos pelo pesquisador e paleontólogo Willian Nava.

William Nava e o pequeno turista

Ivan sonha alto quando pensa nas inúmeras possibilidades que o Museu poderia reverter para a cidade, através de parcerias público-privadas, as chamadas PPPs. No entanto, profissionalizar uma estrutura turística em torno dos dinossauros, com cobrança de ingressos (a preços simbólicos) e venda de souvenir com os recursos sendo revertidos para a cultura, esbarra em contratos de concessão que precisariam ser bem estudados pela área jurídica do município.

Com uma lente especial, Ivan captou
 o jovem casal no entardecer

Conhecedor do entorno da cidade como poucos, Ivan destacou as oportunidades do turismo ambiental e do turismo rural que, apesar de iniciantes, já dão resultados. Marília tem itambés e áreas verdes que atraem o turismo de aventura, esportes radicais com escaladas na Serra de Avencas, voos panorâmicos, exploração de cachoeiras etc. Isso, sem contar as trilhas que os adeptos do ciclismo têm ajudado a difundir.

Itambés são uma atração à parte no entorno de Marília

Conforme disse, a cidade está localizada num polo com 1,2 milhão de habitantes. Por isso, estruturar o turismo nas suas diferentes áreas pode representar um novo fôlego para o desenvolvimento da cidade, com geração de emprego e movimentação da economia. 

Ivan Evangelista Jr

CONSELHO

Ivan destacou que os conselhos não têm muito poder: “O Conselho aconselha. O prefeito segue se quiser”, afirmou, referindo-se ao Conselho Municipal do Turismo. Por sua vez, o CODEM (Conselho de Desenvolvimento Estratégico), inspirado no modelo de Maringá/PR, “como tem uma força representativa maior, ele consegue ser ouvido”.

A natureza é uma atração à parte

Recentemente, em evento realizado na sede da Associação Comercial e Industrial de Marília, os candidatos a prefeito receberam uma cópia do relatório do CODEM. Quem sabe, o próximo gestor do município consiga ver o enorme presente caído do céu que representam os dois trabalhos elaborados por gente que acredita no potencial da cidade: o Plano Diretor de Turismo e o Relatório do CODEM.

Família de Presidente Prudente em
visita ao Museu de Paleontologia

Enquanto isso, Ivan segue fotografando Marília, sua gente e sua beleza, contando histórias no blog (afotoquefala.blogspot.com) e contagiando, com seu otimismo, quem vê no pôr do sol da Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes mais que uma simples manifestação da natureza.

Créditos das Fotos: Ivan Evangelista Jr.

* Reportagem publicada na edição de 08.11.2020 do Jornal da Manhã




domingo, 1 de novembro de 2020

NO ISOLAMENTO, EDUCADORA DESCOBRIU UMA NOVA PAIXÃO: A AROMATERAPIA ARTESANAL.

 Por Célia Ribeiro

Aromas doces, amadeirados e cítricos escapam pelas frestas invadindo o hall de entrada do confortável apartamento. A profusão de cheiros desafia o olfato mais sensível que teima em descobrir a origem dessa explosão da natureza. Ao atravessar a porta, o mistério dá lugar a uma incrível sensação de bem estar e de acolhimento não só pelo sorriso da dona da casa como, também, pelo ambiente repleto de flores que concorrem com os frascos de aromatizadores.

Limão Siciliano agrada homens e mulheres

Atrás dos aromas envolventes está a educadora Celia Carmanhani Branco, ex-secretária municipal da Educação que escreveu seu nome na história de Marília por décadas de dedicação à área. Após uma carreira bem sucedida no serviço público e posteriormente, como consultora de Educação, ela despertou um lado pouco conhecido: a paixão pela perfumaria.

Dizem que “nada é por acaso”. E talvez, ela só precisasse de um gatilho para deixar aflorar a criatividade na aromaterapia. Tudo começou durante uma viagem a Paris com o marido, o professor de geografia, José Branco. “Eu passava por aquelas ruas com lojas de perfume, entrava e olhava tudo com curiosidade”, recordou.

Célia Branco no ateliê do amplo apartamento

Alguns anos depois, de volta à cidade, o casal se hospedou próximo ao Museu do Perfume, quando soube de um curso básico de quatro horas para leigos, onde conheceu os toneis e processo de fabricação de perfumes. Celia deixou o marido explorando o entorno do museu e mergulhou naquela oportunidade. Ao final, foi oferecido um curso mais amplo, de dois dias, “em que trabalhavam várias coisas como o processo olfativo que é ligado às memórias afetivas”, explicou.

A educadora aposentada não pensou duas vezes e resolveu seguir adiante. “Tenho muitas memórias de infância, do cheiro do pão da minha avó, da minha casa em que minha mãe adorava plantas e tinha muitas”, recordou citando a recordação do aroma da “Dama-da-Noite” que exala um perfume inconfundível quando anoitece. 

Flores secas de lavanda e fitas
usadas nas embalagens 

Ao concluir os dois dias de aulas, Celia contou que saiu transformada: “Não ganhei certificado de perfumista porque, para isso, teria que fazer faculdade e depois estagiar seis meses na França”. Mas, os conhecimentos lhe abriram novas possibilidades quando, em plena pandemia, isolada sem contato com filhas e netos, descobriu um curso on line no Brasil para lhe salvar do marasmo.

EXPERIMENTAÇÃO

“Encontrei na internet um jovem empreendedor, o Peter Paiva, ligado à aromaterapia”, comentou, citando que a cada módulo do curso a curiosidade aumentava ao ponto de começar a comprar matéria prima para os primeiros experimentos de aromatizador de ambiente (home spray) e sabonete líquido. 

Celia explicou que o professor não ensina apenas a receita dos produtos, mas orienta no processo criativo em que cada aluno tem a liberdade de explorar as matérias primas, “criando de acordo com sua personalidade. Tem gente que não gosta de perfume doce porque dá dor de cabeça e prefere os cítricos ou amadeirados, por exemplo”.

Creme para mãos, sabonete líquido, aromatizadores:
há uma linha de produtos com vários aromas

Celia contou que cria seus produtos, de maneira artesanal, de acordo com a personalidade de quem vai leva-los para casa. “É preciso conversar com a pessoa, saber que tipo de cheiro ela gostaria de sentir ao chegar em casa. Isso varia de pessoa para pessoa”, pontuou.

Os primeiros experimentos ela fez no ateliê que montou no espaçoso apartamento localizado na região central. “Por ser virginiana, perfeccionista, comecei a comprar as essências importadas pelo site e fiz primeiro para nós de casa. Esperei 15 dias. Tem que fazer a maceração, deixar 18 horas no escuro e 6 horas no claro, tomando ar, por cinco dias”.

Os preços variam de 25 a 65 reais
e os produtos impressionam pelo bom gosto

Naquela época, auge da pandemia, as notícias da TV e sites de notícias eram uma tragédia só, com o número de mortes aumentando a cada dia. “Na hora da maceração, abre todos os vidros. Eu abria a janela do ateliê e colocava uma oração no iPad pensando que na casa de quem recebesse o meu produto chegasse uma energia bem boa e fazia minhas preces. E até hoje eu faço isso”, revelou.

DELICADEZA

Após a aposentadoria, Celia Branco já se dedicava à costura e ao artesanato em geral. Por isso, faz questão de confeccionar os saquinhos finos que embalam sua linha de cremes de mão, aromatizadores, sabonetes líquidos etc. Para acompanhar, flores secas de lavanda e ainda manda um coração de tecido e renda perfumado dentro do pacote.

Celia no laboratório do ateliê

Ela brinca que seus irmãos, um contador e outro advogado, dizem que os preços não cobrem nem a embalagem. É provável! Os itens vão de 25 a 65 reais em embalagens que chamam a atenção pelo bom gosto. Com isso, a venda entre amigas acabou crescendo e Celia pensa, futuramente, em empreender, talvez com uma loja virtual. “Por enquanto, sou apenas aprendiz”, brincou.

A educadora que foi estudar para uma nova profissão, aos 62 anos, disse estar realizada com o que conseguiu criar no segmento de aromatizadores. “Minha intenção é que as pessoas gostem e confiem no produto. A gente não sabe fazer as coisas mal feitas, né? A minha logomarca é meu nome. Eu não posso jogar isso fora porque isso é tudo o que eu tenho”, destacou.

Produtos artesanais feitos sob medida
para a personalidade do cliente

Celia disse que aprendeu muitas lições na pandemia e na migração para esta nova área: “A humildade é um fator essencial na vida de qualquer ser humano. Eu me deparei com um professor bem mais jovem do que eu, tão maravilhoso, ensinando essas coisas num curso. Esse professor, que eu respeito muito, despertou algo dentro de mim que estava adormecido”, recordou. 

Assim, cheia de energia boa para compartilhar, Celia Branco não pensou duas vezes quando perguntada sobre qual é o cheiro do momento atípico que vivemos: “Cheirinho de amor. Sempre penso que na embalagem está indo junto o amor para a casa da pessoa”. Para saber mais sobre esse trabalho, acesse o Instagram: https://instagram.com/celiacarmanhani/

*Reportagem publicada na edição de 01.11.2020 do Jornal da Manhã