domingo, 29 de dezembro de 2019

RETROSPECTIVA: UM ANO MARCADO POR BOAS INICIATIVAS NAS ÁREAS SOCIAL E AMBIENTAL

Por Célia Ribeiro

Em 56 reportagens publicadas de janeiro a dezembro, o ano de 2019 termina com um balanço muito positivo nas áreas social e ambiental de Marília. Dezenas de personagens, alguns conhecidos, mas a grande parte de anônimos, fizeram a diferença em pequenas ações que contribuíram para melhorar o meio-ambiente e amenizar o sofrimento de quem mais precisa.
Legumes, verduras e frutas: tudo fresquinho
Nesta coluna, publicada no Jornal da Manhã e também disponível neste blog, passaram dezenas de voluntários de entidades beneficentes e cidadãos preocupados em tornar o planeta melhor cuidando de seu entorno.

Em janeiro, destaque para o professor universitário Paulo Medeiros que, ao se aposentar, concretizou o sonho de trabalhar com agricultura orgânica. Do seu sítio, em Vera Cruz, saem legumes, verduras, frutas e ervas para a lojinha “Orgânicos Bela Vista”, localizada no jardim Maria Izabel.  No mesmo mês, uma reportagem mostrou a artista multifacetada Carol Alaby com sua escola de educação musical. Pianista, bailarina, cantora, sapateadora, acrobata, atriz e contadora de história, ela recebe de bebês até crianças de oito anos.
Café da manhã servido a pessoas em situação de rua
No mês de fevereiro, Mary Kaneji foi retratada como a artesã que faz arte pensando no meio ambiente. Inspirada pela avó, que costurava muito bem e não desperdiçava um fiapo de tecido, ela começou costurando à mão lindas colchas de patchwork. Hoje, também ensina suas alunas a criarem peças praticamente sem gerar resíduos. É a verdadeira arte sustentável.

A reportagem de março mostrou um dia no “Circo”, criado há 50 anos por Valdyr Cezar e sua esposa Marina, de saudosa memória. Com quase 100 associados, além das animadas partidas de Futebol Society disputadas aos domingos, a turma do Circo promove concorridos eventos beneficentes que atendem dezenas de instituições filantrópicas de Marília, sem falar no tradicional baile de carnaval.

Em abril, o destaque foi a ação dos voluntários da Pastoral da Solidariedade da Igreja Nossa Senhora da Glória. Com ajuda dos fiéis, são adquiridos alimentos para o café da manhã (pães, frios, leite, café e açúcar) oferecido às pessoas em situação de rua, aos domingos. Em média, 200 pessoas são atendidas.
O Circo: 50 anos de esporte, cultura e filantropia
A Associação de Combate ao Câncer (ACC) divulgou, em maio, a criação do Ambulatório de Práticas Integrativas e Complementares disponibilizado aos pacientes em tratamento oncológico, bem como seus familiares e cuidadores. Isso foi possível graças ao patrocínio do Instituto Cooperforte que apoiou a capacitação de 30 profissionais. Entre as práticas integrativas, a ACC está oferecendo: aromaterapia, florais, Reiki, auriculoterapia e massoterapia.

Em junho, uma reportagem mostrou o impacto do projeto “Apolônias do Bem”, da ONG Turma do Bem. Através de cirurgiões-dentistas voluntários, são atendidas mulheres vítimas de violência que perderam os dentes em função de agressões físicas e maus tratos. Trata-se de um projeto nacional que também foi disponibilizado pela ONG em Marília.
Resgate da autoestima

No mês de julho, ampla reportagem mostrou a luta de duas mães, Cláudia Marin e Nayara Mazini, que obtiveram na Justiça o salvo conduto para o cultivo da cannabis medicinal para tratamento de seus filhos, respectivamente Mateus e Letícia. Durante o ano, foram várias matérias sobre o uso de medicamentos à base de canabidiol e THC.

A tradicional campanha dos lacres de latinhas de alumínio, que resultou na doação de centenas de cadeiras de rodas pela Metalúrgica Marcon, ganhou um reforço. Em agosto, foi apresentada a campanha que arrecada tampinhas de plástico duro junto à população. O material é vendido e os recursos servem para aquisição de fraldas geriátricas doadas aos asilos da cidade.

Na área ambiental, outra iniciativa foi mostrada em setembro: a Recicloteca criada pelo Centro de Educação Ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Limpeza Pública. Refrigeradores velhos são restaurados para armazenarem livros de acesso gratuito à população. A leitura está garantida no Terminal Rodoviário, na UBS São Miguel, no GACCH, entre outros pontos.

No mês de outubro, reportagem mostrou o trabalho da arquiteta Mary Motta, que se dedica às construções sustentáveis que geram o mínimo de resíduo para o meio-ambiente. Em novembro, o destaque foi a empresária Marina Galhardo, ex-faxineira e babá, que cursou faculdade e empreendeu no setor de limpeza.
Óleo de cannabis:
esperança!


E o ano terminou com uma ótima notícia Cláudia Marin conseguiu fazer a primeira extração de óleo de cannabis medicinal para tratamento de seu filho. Ela cultiva a planta, popularmente conhecida por maconha, com autorização judicial, e conseguiu óleo suficiente para sete meses de tratamento do filho portador da Síndrome de West.

Que em 2020, possamos registrar muitas notícias positivas como as 56 mostradas ao longo do ano que se encerra. Após um breve recesso, voltaremos com reportagens inéditas no dia 12 de janeiro. 
Feliz Ano Novo!

Coluna publicada no Jornal da Manhã em 29.12.2019. Clique nos hiperlinks do texto para ler a reportagem completa de cada mês.

domingo, 22 de dezembro de 2019

EMPREENDEDORISMO: EM SEMINÁRIO MULHERES COMPARTILHAM HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO.

Por Célia Ribeiro

Início da noite do dia 11 de dezembro: sem trégua da chuva torrencial que caiu durante toda a tarde, dezenas de mulheres se dirigiam ao Centro Universitário Eurípedes de Marília (Univem) cheias de expectativa. Em alguns minutos, seria aberto o Seminário Mulher Empreendedora promovido pela Sicredi Centro Oeste Paulista aonde relatos surpreendentes acenderiam a fagulha motivacional capaz de transformar vidas.
Myria, Alyne e Sandra: inspiração
De Jaú veio um ônibus lotado, tendo à frente a vereadora e jornalista Cléo Furquim. De outros municípios da região também vieram representantes em pequenos grupos, além da maciça presença das marilienses. Enquanto ocupavam seus lugares, as convidadas aproveitavam para fazer contatos, trocar cartões, enfim, o bom e velho networking que costura parcerias e facilita a troca de experiências.

E por falar nisso, as palestrantes da noite foram escolhidas a dedo. Com histórias de superação, elas transmitiram mensagens de otimismo e confiança: Myria Tokmaji que viveu os horrores da guerra na Síria e, aos 29 anos, continua dando lições de determinação; Alyne Moreira Lemes, assessora de Desenvolvimento do Cooperativismo da Central Sicredi PR, SP, RJ, integra a Rede Global de Mulheres Líderes e a vice-presidente do Conselho da Mulher Empreendedora de Marília e empresária da S.O.S Alergia, Sandra Fumie Matunoshita.

A VIDA POR UM FIO 

Comunicando-se em bom português, Myria Tokmaji iniciou a apresentação timidamente. Caminhando com desenvoltura à frente do auditório lotado, enquanto exibia uma profusão de imagens da terra natal, aos poucos ela cresceu diante do olhar hipnotizado da plateia. Contou sobre os horrores da guerra sem carregar nas tintas e, com sorriso amigável, fez um relato que nenhuma reportagem foi capaz de mostrar daqueles anos difíceis.
Myria: de ex-refugiada a empreendedora de sucesso
Enquanto bombas caíam perto de casa, e a energia elétrica era raridade, ela desenvolveu um lado artístico ensinando dança para crianças e se dedicando ao artesanato. Nem quando recordou o dia em que uma bomba explodiu a poucos metros do seu prédio, e todos se jogaram ao chão, Myria mudou o semblante. Mais uma vez a vida venceu.

Junto com familiares, ela deixou tudo para trás  em Aleppo e recomeçou no Brasil aonde é design gráfica e de joias. Desde os oito anos toca Qanún, tradicional instrumento de corda do século X, e se apresenta em eventos gastronômicos promovidos pela família. Com a síria que vive em Curitiba e continua se reinventando, as mulheres puderam ver ao vivo e a cores um exemplo de determinação e resiliência.
No auditório lotado, mulheres de Marília e região
COMEÇAR DE NOVO 

Difícil imaginar a trajetória de Alyne Moreira Lemes: no interior do Paraná graduou-se em Letras, mas sonhando com o jornalismo que veio cursar anos mais tarde. Com um currículo que demandaria muitas linhas desta reportagem, ela entrou para o Sistema Sicredi como assessora de Programas Sociais da Cooperativa Sicredi Campos Gerais PR, SP. E hoje é referência internacional tendo sido reconhecida como uma World Young Credit Union Professional (WYCUP) no Congresso Mundial da WOCCU em Singapura.
Alyne Lemes é referência internacional
Com filho pequeno para criar sozinha, Alyne encarou o mundo ignorando solenemente a palavra derrota. Ela teve altos e baixos, recomeços, mudanças de carreira, mas sempre acreditando nos seus sonhos. E adivinhem? Além de conquista-los, hoje ela trabalha para empoderar as mulheres. Seu exemplo de vida dispensa legendas.

Na Sicredi, Alyne “trabalha no desenvolvimento das lideranças femininas dentro do sistema com foco no atendimento às 31 cooperativas da Central; e na consolidação da principal iniciativa de responsabilidade social do Sistema – Programa ‘A União Faz a Vida’ que trabalha em parceria com as escolas por uma educação mais cidadã e colaborativa. Com isso, em 2019 participou da comitiva que levou a metodologia do Programa para professores no Haiti”, informou Natã Crivari, assessor de Comunicação e Marketing da Sicredi Centro Oeste Paulista.

COLOCAR-SE NO LUGAR DO OUTRO

Conviver com um problema de saúde desde a mais tenra idade poderia ter transformado a jovem empresária em uma pessoa triste e resignada. Com uma força interior descomunal, ela vislumbrou a possibilidade de ajudar outras pessoas a terem qualidade de vida sem abrir mão de pequenos prazeres que a alergia alimentar impossibilitava.
Sandra Matunoshita, vencedora de prêmio Sebrae
Vencedora do prêmio “Mulher de Negócios do Sebrae/SP 2013”, concorrendo com 1200 participantes, Sandra Fumie Matunoshita é o nome por trás da empresa SOS Alergia que é um exemplo de negócio bem-sucedido criado em 2004, em Marília. Não à toa, por onde passa suas apresentações atraem um grande público.

Sandra que é formada em Teologia, Serviço Social e Tecnologia de Alimentos, coordena com alguns amigos o grupo de empresários empretecos de Marília e região. Empreendedorismo, mulheres empreendedoras, propósitos, liderança e responsabilidade social são temas que estão permanentemente no seu radar.

Na apresentação do seminário, ela contou sua trajetória, os altos e baixos e, sem disfarçar a emoção, falou da alegria de poder proporcionar às pessoas, sobretudo às crianças, com alergias e intolerância alimentar produtos de qualidade que ela sonhava encontrar quando menina.

ALCANCE REGIONAL

O Seminário “Mulher Empreendedora” foi concebido com o objetivo de fomentar “uma cultura de valorização do papel da mulher na área de atuação da Cooperativa, capacitando novas lideranças e contribuindo para que haja o desenvolvimento pessoal e profissional do público feminino”, explicou a assessoria de Comunicação e Marketing da Sicredi.
Dr. João Salvi, presidente da Sicredi
Na oportunidade, estiveram presentes o presidente da Sicredi Centro Oeste Paulista Dr. João Salvi, que abriu o seminário, o Sr. Ildo Wilde, Diretor Executivo da cooperativa, e a Pró-Reitora da Univem, Raquel Sanches, que também é coordenadora do Comitê Mulher na agência Rio Branco de Marília.
Diante do grande interesse que o seminário despertou, a Sicredi avaliou positivamente o resultado.

 “A presença maciça das mulheres da região Centro Oeste Paulista mostra que o público feminino está voltado a assumir sua posição de protagonista na sociedade, seja na parte empresarial ou social. E é justamente a visão empreendedora da mulher que faz com que ela assuma os postos de liderança tão almejados pela sociedade. Portanto, quando vemos as distâncias percorridas para a participação no evento, notamos que muito se tem de garra para movimentar as comunidades na área de atuação, especialmente gerando desenvolvimento econômico e social”, finalizou Dr. João Salvi.

(Fotos Sicredi)

* Reportagem publicada na edição de 22.12.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 15 de dezembro de 2019

ESCOLINHA DE FUTEBOL QUE REVELOU CRAQUES PRECISA DE APOIO PARA PROJETO SOCIAL

Por Célia Ribeiro

Entre um drible e outro que termina com o chute em direção ao gol, balançar a rede sempre é motivo de comemoração. No entanto, o que antecede esse momento é mais valioso e seu aprendizado acompanhará os meninos por toda a vida: mais que ensinar futebol para 120 garotos do Jardim Califórnia e adjacências, o professor Rui Vieira de Souza ajuda a formar cidadãos responsáveis em um projeto social que sobrevive graças à ajuda da comunidade.
Treino na quinta-feira (12) na Vila Coimbra
No mesmo local de uma tragédia, no dia 29 de dezembro de 2011, quando um temporal derrubou a cobertura metálica da quadra esportiva atingindo João Victor Silva Medeiros, de 8 anos, ao lado da Casa do Pequeno Cidadão, seu irmão, Juan Cesar Silva Medeiros, de 14 anos, hoje treina na escolinha UNIEBRAS (Universidade dos Esportes Educacional Unidos Brasil Social).

Na época da morte do irmão, Juan tinha seis anos e por pouco ele e outros meninos não foram atingidos. Ao final do treino que o JM acompanhou, ele brincava de bola com alguns amigos quando revelou o desejo de ser um craque como tantos que passaram pelas mãos do professor Rui.

Formado em Educação Física e em Farmácia, o treinador fala com orgulho dos 32 anos de atividades do seu projeto social: “É a escolinha de futebol mais antiga. Por aqui já passaram muitos craques que jogam em grandes clubes no Brasil e no exterior”, contou. Um deles é Diogo Pereira, 29 anos, que joga no Vietnã.
Diogo acima e à direita, ao lado do goleiro
Em entrevista ao Jornal da Manhã, Diogo disse que treinou na escolinha de Marília até os 13 anos quando foi para o Palmeiras, onde permaneceu por cinco anos. Ao se profissionalizar, teve passagens pelo Palmeiras, Guarani, Noroeste, Bragantino, Novo Hamburgo etc, até que, em 2016, assinou com uma equipe no Vietnã onde é um dos ídolos.

“É uma escolinha que ajuda as crianças a saírem das ruas, forma homens capazes de seguirem seu futuro. Nem todos se tornam profissionais. Mas, tem alguns que continuam no esporte, em outras áreas”, frisou. O atleta afirmou que a oportunidade dos meninos frequentarem a escolinha, que tem disciplina e exige frequência no colégio e boas notas, contribui para a formação de verdadeiros cidadãos.

LUTA DIÁRIA

Com 120 garotos que frequentam os treinos às terças, quartas e quintas no horário do contra turno escolar, o professor Rui disse que poderia receber um número muito maior de alunos se tivesse patrocinadores. Para manter a estrutura, que inclui uniforme e inscrições para competições, o treinador está sempre de chapéu na mão pedindo ajuda.
Diogo Pereira é ídolo no Vietnã
São realizados bingos, rifas e outras promoções em que muitos ex-alunos, atualmente jogando profissionalmente, costumam contribuir. “Se cada ex-atleta doasse só 10 reais, teríamos 10 mil reais por mês. Temos custos altos. Para se ter uma ideia, vai ter a Copa Sul Americana. Foram convidadas oito equipes de Sub 11 até Sub 18 e precisamos de 14 mil reais só para as inscrições”, explicou.

Segundo o treinador, os pais ajudam quando podem. Dos 120 garotos que frequentam a escolinha de futebol, regularmente, apenas 20 têm uniforme. Falta para os outros 100 meninos. Uma camisa custa 89 reais e ainda precisam de calção, meião etc. Por isso, toda ajuda é bem-vinda.

“Fazemos das tripas o coração pela sobrevivência e manutenção da escolinha pois enquanto estiver uma criança na rua desassistida, estaremos aqui prestando o nosso serviço de resgate da cidadania voluntariamente”, frisou. Neste sentido, o treinador fez um apelo a que profissionais liberais, empresários, comerciantes e qualquer pessoa que se sensibilizar apoie o projeto contribuindo com qualquer valor.

O professor Rui explicou que “nosso projeto era pra ser mais abrangente desde o início, há 32 anos, mas por falta de recursos até hoje não conseguimos implantá-lo totalmente. Hoje, desenvolvemos o futebol em todas as categorias de Base: Sub 7,9,11,13,15,17 e 18 anos no masculino”. O projeto previa Sub 20, 23, sênior e super sênior, e esportes adaptados para terceira idade e deficientes físicos e intelectuais.
Juan, Robson e Lucas com o professor Rui
De acordo com o treinador, periodicamente, são promovidas palestras, os garotos são orientados a seguirem os estudos, seja em Escola Técnica, seja na Universidade. Os treinamentos são realizados com muito critério, os pequenos atletas passam por avaliações e “encaminhamento dos mais aptos, em todas as categorias, para grandes clubes profissionais do Brasil e exterior”.

Finalizando, o treinador lembrou das despesas necessárias a enviar os meninos para testes, além dos materiais utilizados no dia a dia (uniformes, bolas, chuteiras, redes, traves etc). Para colaborar com o projeto social, podem ser feitos depósitos para: Bradesco, Agência 0002, Conta 1014318-7 em nome de Rui Vieira de Souza. A escolinha funciona no Poliesportivo da Vila Coimbra e o telefone de contato é (14) 998600020.

SONHOS
Professor Rui mostra fotos de ex-alunos
Alheios às dificuldades do projeto social, garotos como Lucas Rian Balbino e Robson Junior dos Santos, ambos de 14 anos, olhavam fotografias de jogadores profissionais que começaram na escolinha de Marília enquanto o professor Rui organizava seus arquivos históricos. Para esses meninos, às vésperas do Natal, o sonho de chegar a um grande clube não depende do Papai Noel, mas do seu próprio empenho, dia após dia.

*Reportagem publicada na edição de 15.12.2019 do Jornal da Manhã



sábado, 7 de dezembro de 2019

CANNABIS MEDICINAL: COM HABEAS CORPUS, MÃE REALIZOU PRIMEIRA EXTRAÇÃO DE ÓLEO

Por Célia Ribeiro

Óleo da cannabis
A jornada de uma mãe em busca de qualidade de vida para o filho registrou uma das maiores vitórias, em Marília, interior de São Paulo. Cláudia Marin realizou, nesta semana, a primeira extração de óleo da cannabis medicinal, cultivada com autorização da Justiça, que lhe permitirá oferecer ao filho Mateus o medicamento por até sete meses, sem depender da longa fila de espera para importar o produto ou obtê-lo de fornecedores certificados no Brasil.

Como já registrado pelo Jornal da Manhã, Cláudia Marin e Nayara Mazini ingressaram com uma ação conjunta na Justiça obtendo o salvo conduto para cultivarem a planta, popularmente conhecida como maconha, para fins medicinais. Elas só podem plantar e extrair o óleo para tratamento de seus respectivos filhos, no caso, Mateus e Letícia.

Existem muitas maneiras de cultivar a Cannabis que possui diferentes percentuais de Tetrahydrocannabidiol (THC) e Canabidiol (CBD). No caso de Cláudia, a opção foi pelo cultivo “in door”, isto é, em estrutura controlada com equipamentos orçados em torno de cinco mil reais.
Cláudia e Mateus

Segundo ela, no método de cultivo “in door”, é possível controlar as pragas, regular umidade, temperatura, luz etc, que refletem na evolução das plantas até o ponto de colheita para extração do óleo. “A maior dificuldade é o cultivo de algo desconhecido e culturalmente negativo”, afirmou Cláudia, citando a desinformação em relação à utilização da maconha para fins estritamente medicinais e o uso recreativo.

Cláudia e o marido Rafael Castelazi obtiveram sementes de variedades adequadas para produzir THC e CBD de acordo com as necessidades do Mateus e a prescrição médica. O garoto de 12 anos, ainda bebê, foi diagnosticado com a “Síndrome de West”, Epilepsia de difícil controle advinda de uma microdeleção do braço longo do cromossomo 9, chegando a ter 80 convulsões por dia. “Com a dieta Cetogênica e o uso de cannabis medicinal integral, as convulsões zeraram parcialmente, aumentou a imunidade e melhorou a parte motora, cognitivo, entre outros”, relatou a mãe.

GRATIDÃO

Ao relatar o processo de extração do óleo, Cláudia não conseguia esconder a emoção por chegar ao fim de mais uma etapa da luta pela saúde do filho: “O processo pode ser complicado ou não. Mas, a sensação de alívio e de gratidão por conseguir fazer acaba descomplicando tudo. É uma manipulação muito fácil”, assegurou.

Ela contou que muitas pessoas autorizadas a cultivarem a cannabis optam pelo plantio outdoor, a céu aberto, mas podem enfrentar dificuldades para conseguirem que as plantas se desenvolvam a contento, sem contar o ataque de pragas.
O óleo foi armazenado com cuidado
O processo de obtenção do óleo, ministrado a conta-gotas aos pacientes, leva em torno de cinco dias para finalizar as etapas. Segundo Cláudia Marin, ao chegar ao óleo pronto para consumo, na sua cor esverdeada característica, um misto de sentimentos tomou conta do casal: “É uma sensação de alegria, de gratidão, de saber que vou dar qualidade de vida para o Mateus, que eu e meu marido pudemos estar juntos, vendo tudo ali e saber que é para a melhoria do Mateus, é indescritível. É uma sensação plena”.

Quanto à qualidade do óleo artesanal, ela explicou que será enviada uma amostra para análise no Paraná, embora esteja convencida de suas propriedades medicinais porque as sementes foram escolhidas para produzir as plantas que dariam óleo com os compostos sob medida para as necessidades do filho.
Uma das plantas cultivadas

Para Cláudia, “o óleo representa qualidade de vida, representa a vida, gratidão a Deus e a todas as pessoas que estiveram envolvidas até hoje com relação ao que foi proposto para o Mateus”. Ela contou como o filho reagiu: “Quando estava colocando nos vidrinhos, ele sorria. Eu acredito que ele sabe que era para ele aquilo. Ele sabe quantas vezes esse remédio o tirou de crise convulsiva”.

ANVISA

Sobre a recente autorização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para registro e produção nacional de medicamentos à base de cannabis e que poderão ser vendidos em farmácias, sob prescrição médica, Cláudia Marin observou que a população de baixa renda será a mais afetada diante dos altos preços, que podem chegar a três mil reais.

“O auto cultivo estaria aí para ajudar essas famílias. Aparentemente, essa liberação da ANVISA facilitou para a indústria farmacêutica e para as empresas que fabricam o produto rico em CBD e quase nada de THC”, assinalou. Por isso, afirmou que “a luta continua. Vamos continuar levando informações para a população, o conhecimento do que é a cannabis medicinal”. A agência proibiu o cultivo da cannabis no Brasil, que só é autorizado caso a caso por ingresso de ações na Justiça.
Estoque para 07 meses

Finalizando, ela deixou uma mensagem para as famílias que tentam acesso ao medicamento: “Diagnóstico não é sentença. Qualidade de vida não é a busca da cura, é a busca do prazer, da sensação de alegria de ver um sorriso no rosto do seu filho”. E agradeceu “a Deus, à minha família, aos meus amigos e aos novos amigos que fizemos neste caminhar”.

Na quarta-feira (04), Cláudia e Nayara Mazini participaram da reunião da MALELI (Associação Cannabica em Defesa da Vida), no auditório da Faculdade de Medicina (Famema) para uma avaliação sobre o I Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista realizado no dia 23 de novembro em Marília. Estiveram presentes alguns voluntários da entidade que traçarão os planos para atuação a partir de 2020.

Alguns dos voluntários da MALELI: a luta continua

Cláudia durante reunião na Famema

*Reportagem publicada na edição de 08.12.2019 do Jornal da Manhã


domingo, 1 de dezembro de 2019

ACOLHIMENTO: HEUREKA RECEBE CRIANÇAS CARENTES COM DÉFICIT DE APRENDIZAGEM.

Por Célia Ribeiro

Segundo o IBGE, existem no Brasil 45,6 milhões de pessoas com deficiências, sendo 3,5 milhões de crianças até 14 anos. Se no passado os casos de autismo, déficit de atenção, hiperatividade etc, raramente eram diagnosticados precocemente, hoje é possível acolher, diagnosticar e acompanhar as crianças desde cedo quando os resultados mostram-se animadores. Um dos trabalhos iniciados em Marília é o do Espaço Integrado Heureka, da neuropsicopedagoga clínica Rita de Cássia de Campos Andery.
Maria Clara realiza atividades

Após vários anos atuando em Minas Gerais, ela trouxe a proposta do Heureka para a cidade adotando uma tabela social de modo a oferecer a famílias de baixa renda a oportunidade de seus filhos também receberem o tratamento multidisciplinar adequado. Ela explicou que realiza atendimento particular, “mas nenhuma mãe que vem me procurar fica sem atendimento. Nem que seja um valor simbólico”, frisou.

Rita no Heureka de Marília
Rita Andery disse que o “Heureka é um projeto de amor”, antes de tudo. Ela se emocionou ao relatar casos de crianças e jovens que passaram pelo Centro com ganhos significativos em qualidade de vida. Para tanto, ela mantém parcerias com profissionais de várias áreas como neurologista, psiquiatra, fonoaudióloga, psicóloga, terapeuta ocupacional, nutricionista etc.

“Encontramos uma forma de humanizar, cada vez mais, o trabalho desenvolvido com crianças, jovens e adultos que apresentavam dificuldades de aprendizagem, transtornos, distúrbios, superdotação ou necessitavam de reforço escolar de forma abrangente e equitativa através do carinho, afetividade, dedicação, preparação técnica, conhecimento científico e compromisso contínuo”, destaca o portal do Heureka.

Segundo Rita Andery, “a neuropsicopedagogia trabalha de forma mais profunda com a dificuldade de aprendizagem. Quando a criança vem sem laudo, sem estar diagnosticada, eu faço o processo de diagnóstico. Como neuropsicopedagoga clínica eu posso diagnosticar. Não posso laudar porque só o médico pode laudar uma criança com autismo, um tipo de transtorno biológico”.
Garoto realiza atividades com acompanhamento
Conforme disse, “essa criança é trabalhada junto comigo no seu desenvolvimento. Eu a encaminho a uma neurologista que trabalha em parceria comigo. Dependendo do caso, a criança precisa ser medicada ou é um caso para psiquiatria. E aí, depois de medicada, se for o caso, essa criança continua comigo, semanalmente, e eu vou trabalhar onde está detectado o problema”.

Ela prosseguiu, explicando que “são realizados exercícios e testes montados para cada necessidade, de acordo com todas as normas existentes”. As ocorrências mais comuns são de dislexia, disortografia e dislalia (distúrbios na fala). Entre as disfunções de aprendizagem encontram-se o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDH), Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD).

DESCOBERTA TARDIA

Em São Sebastião da Bela Vista (MG), o Heureka chegou a atender 100 crianças e adolescentes. Da longa vivência na área, Rita que tem vários títulos no currículo, incluindo Mestrado e leciona no EAD de Gestão Educacional da UNIMAR, coleciona muitas histórias. Entre elas, uma chama a atenção por envolver mãe e filha autistas.
Foto de arquivo do centro em MG

Rita Andery contou que “o último diagnóstico que fiz foi em um adulto. A pessoa viveu a vida inteira com isso e sofreu. Eu cuidava da filha dela, que é autista. E ela foi minha aluna de Psicopedagogia. Ela começou a olhar para a filha e para ela e depois de um ano e meio me procurou para atendê-la. Ficamos três horas em atendimento. Ela contou sua história e tudo o que viveu”, recordou a profissional.

Após concluir o relatório e encaminhar a aluna, de 30 anos, para o neurologista, teve a confirmação de que era portadora de Transtorno de Espectro Autista. Atualmente, a ex-aluna encontra-se em acompanhamento em Minas e a professora demonstra orgulho ao afirmar que “ela será uma psicopedagoga espetacular” quando se formar.

A profissional observou que sempre houve casos de deficiências. O que faltava era diagnóstico precoce. “No meu tempo isso já existia. Não tinha neuropsicopedagogo clínico. A gente escutava que fulano não batia bem, eram comentários negativos”, destacou citando o preconceito movido pela falta de informação.

Ela acrescentou que “antes se colocava tudo em uma cumbuca só. Provavelmente, uma criança podia ser arteira, mesmo, mas muitas vezes podia ser autista, hiperativa ou ter outro transtorno. A criança, muitas vezes, era rotulada como péssimo aluno que não gostava de estudar”. Conforme disse, o problema é mais comum do que se pensa e afeta alunos das redes pública e privada. O que diferencia é a procura mais rápida por encaminhamento adequado.

O Espaço Integrado Heureka funciona na Rua Alfeu Cesar Pedrosa, 96, Bairro Fragata. Informações: anderyrita@gmail.com Fotos: Arquivo do Heureka  com autorização de uso de imagem.

* Reportagem publicada na edição de 01.12.2019 do Jornal da Manhã