domingo, 15 de dezembro de 2019

ESCOLINHA DE FUTEBOL QUE REVELOU CRAQUES PRECISA DE APOIO PARA PROJETO SOCIAL

Por Célia Ribeiro

Entre um drible e outro que termina com o chute em direção ao gol, balançar a rede sempre é motivo de comemoração. No entanto, o que antecede esse momento é mais valioso e seu aprendizado acompanhará os meninos por toda a vida: mais que ensinar futebol para 120 garotos do Jardim Califórnia e adjacências, o professor Rui Vieira de Souza ajuda a formar cidadãos responsáveis em um projeto social que sobrevive graças à ajuda da comunidade.
Treino na quinta-feira (12) na Vila Coimbra
No mesmo local de uma tragédia, no dia 29 de dezembro de 2011, quando um temporal derrubou a cobertura metálica da quadra esportiva atingindo João Victor Silva Medeiros, de 8 anos, ao lado da Casa do Pequeno Cidadão, seu irmão, Juan Cesar Silva Medeiros, de 14 anos, hoje treina na escolinha UNIEBRAS (Universidade dos Esportes Educacional Unidos Brasil Social).

Na época da morte do irmão, Juan tinha seis anos e por pouco ele e outros meninos não foram atingidos. Ao final do treino que o JM acompanhou, ele brincava de bola com alguns amigos quando revelou o desejo de ser um craque como tantos que passaram pelas mãos do professor Rui.

Formado em Educação Física e em Farmácia, o treinador fala com orgulho dos 32 anos de atividades do seu projeto social: “É a escolinha de futebol mais antiga. Por aqui já passaram muitos craques que jogam em grandes clubes no Brasil e no exterior”, contou. Um deles é Diogo Pereira, 29 anos, que joga no Vietnã.
Diogo acima e à direita, ao lado do goleiro
Em entrevista ao Jornal da Manhã, Diogo disse que treinou na escolinha de Marília até os 13 anos quando foi para o Palmeiras, onde permaneceu por cinco anos. Ao se profissionalizar, teve passagens pelo Palmeiras, Guarani, Noroeste, Bragantino, Novo Hamburgo etc, até que, em 2016, assinou com uma equipe no Vietnã onde é um dos ídolos.

“É uma escolinha que ajuda as crianças a saírem das ruas, forma homens capazes de seguirem seu futuro. Nem todos se tornam profissionais. Mas, tem alguns que continuam no esporte, em outras áreas”, frisou. O atleta afirmou que a oportunidade dos meninos frequentarem a escolinha, que tem disciplina e exige frequência no colégio e boas notas, contribui para a formação de verdadeiros cidadãos.

LUTA DIÁRIA

Com 120 garotos que frequentam os treinos às terças, quartas e quintas no horário do contra turno escolar, o professor Rui disse que poderia receber um número muito maior de alunos se tivesse patrocinadores. Para manter a estrutura, que inclui uniforme e inscrições para competições, o treinador está sempre de chapéu na mão pedindo ajuda.
Diogo Pereira é ídolo no Vietnã
São realizados bingos, rifas e outras promoções em que muitos ex-alunos, atualmente jogando profissionalmente, costumam contribuir. “Se cada ex-atleta doasse só 10 reais, teríamos 10 mil reais por mês. Temos custos altos. Para se ter uma ideia, vai ter a Copa Sul Americana. Foram convidadas oito equipes de Sub 11 até Sub 18 e precisamos de 14 mil reais só para as inscrições”, explicou.

Segundo o treinador, os pais ajudam quando podem. Dos 120 garotos que frequentam a escolinha de futebol, regularmente, apenas 20 têm uniforme. Falta para os outros 100 meninos. Uma camisa custa 89 reais e ainda precisam de calção, meião etc. Por isso, toda ajuda é bem-vinda.

“Fazemos das tripas o coração pela sobrevivência e manutenção da escolinha pois enquanto estiver uma criança na rua desassistida, estaremos aqui prestando o nosso serviço de resgate da cidadania voluntariamente”, frisou. Neste sentido, o treinador fez um apelo a que profissionais liberais, empresários, comerciantes e qualquer pessoa que se sensibilizar apoie o projeto contribuindo com qualquer valor.

O professor Rui explicou que “nosso projeto era pra ser mais abrangente desde o início, há 32 anos, mas por falta de recursos até hoje não conseguimos implantá-lo totalmente. Hoje, desenvolvemos o futebol em todas as categorias de Base: Sub 7,9,11,13,15,17 e 18 anos no masculino”. O projeto previa Sub 20, 23, sênior e super sênior, e esportes adaptados para terceira idade e deficientes físicos e intelectuais.
Juan, Robson e Lucas com o professor Rui
De acordo com o treinador, periodicamente, são promovidas palestras, os garotos são orientados a seguirem os estudos, seja em Escola Técnica, seja na Universidade. Os treinamentos são realizados com muito critério, os pequenos atletas passam por avaliações e “encaminhamento dos mais aptos, em todas as categorias, para grandes clubes profissionais do Brasil e exterior”.

Finalizando, o treinador lembrou das despesas necessárias a enviar os meninos para testes, além dos materiais utilizados no dia a dia (uniformes, bolas, chuteiras, redes, traves etc). Para colaborar com o projeto social, podem ser feitos depósitos para: Bradesco, Agência 0002, Conta 1014318-7 em nome de Rui Vieira de Souza. A escolinha funciona no Poliesportivo da Vila Coimbra e o telefone de contato é (14) 998600020.

SONHOS
Professor Rui mostra fotos de ex-alunos
Alheios às dificuldades do projeto social, garotos como Lucas Rian Balbino e Robson Junior dos Santos, ambos de 14 anos, olhavam fotografias de jogadores profissionais que começaram na escolinha de Marília enquanto o professor Rui organizava seus arquivos históricos. Para esses meninos, às vésperas do Natal, o sonho de chegar a um grande clube não depende do Papai Noel, mas do seu próprio empenho, dia após dia.

*Reportagem publicada na edição de 15.12.2019 do Jornal da Manhã



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