sábado, 7 de dezembro de 2019

CANNABIS MEDICINAL: COM HABEAS CORPUS, MÃE REALIZOU PRIMEIRA EXTRAÇÃO DE ÓLEO

Por Célia Ribeiro

Óleo da cannabis
A jornada de uma mãe em busca de qualidade de vida para o filho registrou uma das maiores vitórias, em Marília, interior de São Paulo. Cláudia Marin realizou, nesta semana, a primeira extração de óleo da cannabis medicinal, cultivada com autorização da Justiça, que lhe permitirá oferecer ao filho Mateus o medicamento por até sete meses, sem depender da longa fila de espera para importar o produto ou obtê-lo de fornecedores certificados no Brasil.

Como já registrado pelo Jornal da Manhã, Cláudia Marin e Nayara Mazini ingressaram com uma ação conjunta na Justiça obtendo o salvo conduto para cultivarem a planta, popularmente conhecida como maconha, para fins medicinais. Elas só podem plantar e extrair o óleo para tratamento de seus respectivos filhos, no caso, Mateus e Letícia.

Existem muitas maneiras de cultivar a Cannabis que possui diferentes percentuais de Tetrahydrocannabidiol (THC) e Canabidiol (CBD). No caso de Cláudia, a opção foi pelo cultivo “in door”, isto é, em estrutura controlada com equipamentos orçados em torno de cinco mil reais.
Cláudia e Mateus

Segundo ela, no método de cultivo “in door”, é possível controlar as pragas, regular umidade, temperatura, luz etc, que refletem na evolução das plantas até o ponto de colheita para extração do óleo. “A maior dificuldade é o cultivo de algo desconhecido e culturalmente negativo”, afirmou Cláudia, citando a desinformação em relação à utilização da maconha para fins estritamente medicinais e o uso recreativo.

Cláudia e o marido Rafael Castelazi obtiveram sementes de variedades adequadas para produzir THC e CBD de acordo com as necessidades do Mateus e a prescrição médica. O garoto de 12 anos, ainda bebê, foi diagnosticado com a “Síndrome de West”, Epilepsia de difícil controle advinda de uma microdeleção do braço longo do cromossomo 9, chegando a ter 80 convulsões por dia. “Com a dieta Cetogênica e o uso de cannabis medicinal integral, as convulsões zeraram parcialmente, aumentou a imunidade e melhorou a parte motora, cognitivo, entre outros”, relatou a mãe.

GRATIDÃO

Ao relatar o processo de extração do óleo, Cláudia não conseguia esconder a emoção por chegar ao fim de mais uma etapa da luta pela saúde do filho: “O processo pode ser complicado ou não. Mas, a sensação de alívio e de gratidão por conseguir fazer acaba descomplicando tudo. É uma manipulação muito fácil”, assegurou.

Ela contou que muitas pessoas autorizadas a cultivarem a cannabis optam pelo plantio outdoor, a céu aberto, mas podem enfrentar dificuldades para conseguirem que as plantas se desenvolvam a contento, sem contar o ataque de pragas.
O óleo foi armazenado com cuidado
O processo de obtenção do óleo, ministrado a conta-gotas aos pacientes, leva em torno de cinco dias para finalizar as etapas. Segundo Cláudia Marin, ao chegar ao óleo pronto para consumo, na sua cor esverdeada característica, um misto de sentimentos tomou conta do casal: “É uma sensação de alegria, de gratidão, de saber que vou dar qualidade de vida para o Mateus, que eu e meu marido pudemos estar juntos, vendo tudo ali e saber que é para a melhoria do Mateus, é indescritível. É uma sensação plena”.

Quanto à qualidade do óleo artesanal, ela explicou que será enviada uma amostra para análise no Paraná, embora esteja convencida de suas propriedades medicinais porque as sementes foram escolhidas para produzir as plantas que dariam óleo com os compostos sob medida para as necessidades do filho.
Uma das plantas cultivadas

Para Cláudia, “o óleo representa qualidade de vida, representa a vida, gratidão a Deus e a todas as pessoas que estiveram envolvidas até hoje com relação ao que foi proposto para o Mateus”. Ela contou como o filho reagiu: “Quando estava colocando nos vidrinhos, ele sorria. Eu acredito que ele sabe que era para ele aquilo. Ele sabe quantas vezes esse remédio o tirou de crise convulsiva”.

ANVISA

Sobre a recente autorização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para registro e produção nacional de medicamentos à base de cannabis e que poderão ser vendidos em farmácias, sob prescrição médica, Cláudia Marin observou que a população de baixa renda será a mais afetada diante dos altos preços, que podem chegar a três mil reais.

“O auto cultivo estaria aí para ajudar essas famílias. Aparentemente, essa liberação da ANVISA facilitou para a indústria farmacêutica e para as empresas que fabricam o produto rico em CBD e quase nada de THC”, assinalou. Por isso, afirmou que “a luta continua. Vamos continuar levando informações para a população, o conhecimento do que é a cannabis medicinal”. A agência proibiu o cultivo da cannabis no Brasil, que só é autorizado caso a caso por ingresso de ações na Justiça.
Estoque para 07 meses

Finalizando, ela deixou uma mensagem para as famílias que tentam acesso ao medicamento: “Diagnóstico não é sentença. Qualidade de vida não é a busca da cura, é a busca do prazer, da sensação de alegria de ver um sorriso no rosto do seu filho”. E agradeceu “a Deus, à minha família, aos meus amigos e aos novos amigos que fizemos neste caminhar”.

Na quarta-feira (04), Cláudia e Nayara Mazini participaram da reunião da MALELI (Associação Cannabica em Defesa da Vida), no auditório da Faculdade de Medicina (Famema) para uma avaliação sobre o I Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista realizado no dia 23 de novembro em Marília. Estiveram presentes alguns voluntários da entidade que traçarão os planos para atuação a partir de 2020.

Alguns dos voluntários da MALELI: a luta continua

Cláudia durante reunião na Famema

*Reportagem publicada na edição de 08.12.2019 do Jornal da Manhã


4 comentários:

  1. Parabéns pela matéria! Informação clara e acessível, assim vamos contribuindo para melhor compreensão a cerca da temática!! A luta continua... Abraços

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  2. Que bacana. Nao consigo nem imaginar a luta dessas maes. Verdadeiras leoas defendendo seus filhos. Força a elas

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    1. É uma luta diária, Maristela. Elas são admiráveis, mesmo. Beijão

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