domingo, 1 de março de 2020

AGROECOLOGIA: ASSENTADOS ENTREGAM ALIMENTOS ORGÂNICOS EM MARÍLIA.

Por Célia Ribeiro

Produzidos pelo sistema agroecológico, alimentos orgânicos cultivados no Assentamento “Luiz Beltrame”, em Gália, percorrem pouco mais de 50 quilômetros até chegarem à mesa de famílias marilienses, a cada 15 dias. Sem intermediários, legumes, verduras, frutas, ervas aromáticas, além de queijos, pães, bolos, doces, pó de café, sucos, licores, cachaças e geleias são entregues em cestas encomendadas através de um grupo de WhatsApp.


Produtos frescos do campo para a cidade, sem intermediários.
Verduras cultivadas no
sistema agroflorestal
Muito organizados, os agricultores separam as encomendas em cestas de dois tamanhos que são retiradas na sede da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), na avenida Santo Antônio: a pequena com 06 itens custa 30 reais e a grande com 11 itens sai por 50 reais. Mas, também oferecem outros produtos fabricados pelas mulheres que não podem trabalhar na roça, seja pela idade avançada ou por estarem com filhos pequenos, segundo explicou a facilitadora Luci de Oliveira Milreu.

No fim da tarde de quarta-feira (26), a reportagem do JM acompanhou a retirada das cestas. Nem a forte chuva impediu que todos buscassem as encomendas e, assim, não houve sobra. Segundo Luci, uma servidora pública aposentada, há menos de um ano teve início a venda direta dos produtos em Marília após alguns professores tomarem conhecimento da parceria do assentamento com a APEOESP de Bauru.

“Começou com um grupo de professores interessados. E a lista foi crescendo, entrando outras pessoas”, explicou a facilitadora. Conforme disse, são dois pontos de entrega na cidade: no campus da UNESP (será retomada com a volta às aulas) e na APEOESP, quinzenalmente. Pelo WhatsApp, são informados os produtos disponíveis e respectivos valores. Nesta semana, a cesta menor era composta por alface, couve, abóbora madura, cheiro verde, mandioca, batata doce e abacate. Já a cesta maior ofereceu alface, rúcula, couve, abóbora madura, quiabo, limão, cheiro verde, mandioca, milho verde, banana e abacate.
Produtos orgânicos separados em caixas
Luci destacou a importância da iniciativa não apenas por oferecer produtos orgânicos, a preços acessíveis, como também por apoiar a agricultura familiar e o sistema de produção agroecológico, que é o cultivo no meio da floresta, contribuindo para o equilíbrio do meio-ambiente.

Assentamento Luiz Beltrame está localizado em Gália/SP
CLIENTELA

Entre os clientes desta semana, a nutricionista Tania Correia Miller elogiou o fato dos alimentos “serem mais saudáveis, livres de agrotóxicos”. Por sua vez, a funcionária pública aposentada Carmen Sílvia Maurício Zidron contou que, normalmente, é sua filha quem retira as encomendas e também recomendou os alimentos frescos.
Luci organiza a entrega das encomendas
Ao entrarem pela lateral da sede da APEOESP, com suas sacolas retornáveis, as pessoas foram recebidas com uma farta mesa de degustação em que café, sucos, pães, bolos e geleias deram as boas-vindas a quem chegava, como a professora Maria Angélica Pereira Matos. Ela disse que “a durabilidade dos produtos é muito maior que o que a gente compra no supermercado. A cesta dura quinze dias porque consumimos primeiro o que dura menos e depois os outros itens. Não se compara”, frisou.
Noeli e Abel cultivam a terra
Além de legumes, verduras e frutas ela levou leite fresco e queijos: “É uma delícia. A mozarela é sem igual”, afirmou. Ela acrescentou que “a qualidade é um ponto forte. Nunca comprei uma mandioca mais macia. Nunca vem nada ruim, a mandioca vem descascada e limpa demonstrando um cuidado que eles têm com os alimentos”. Por fim, ela disse que, ao adquirir os produtos diretamente, os consumidores incentivam a agricultura familiar.
Gilberto Pereira

Aos 60 anos, o agricultor Gilberto Afonso Pereira contou que há 08 anos está no assentamento em que vivem 70 famílias. Sobre o trabalho no campo, ele falou com entusiasmo: “É a coisa mais gostosa do mundo. A gente acorda bem cedo, limpa, carpe e planta. Quando chega no ponto a gente colhe e vende”. A renda de toda a produção é dividida entre as famílias assentadas, como o casal Noeli Batista Silva e Abel Barreto que ajudava a organizar a retirada das cestas. Eles contaram que trabalham no assentamento com ajuda dos filhos.

AMBIENTALISTA

"O propósito de participar dessa relação direta entre os consumidores e os produtores dos itens destas cestas não é apenas o de ter acesso a um alimento fresco, de boa qualidade e principalmente sem agrotóxico. É também o apoio, na prática, ao sistema de produção agroecológica, à agricultura familiar, ao fim do desperdício que resulta do modelo comercial vigente”, afirmou o ambientalista Antônio Luiz Carvalho Leme, enquanto retirava seus produtos.
O ambientalista Leme experimentou bolo de milho
Ele prosseguiu assinalando que é “importante considerar que este modelo vigente faz com que os alimentos produzidos em uma região sejam transportados para um centro de distribuição, a centenas de quilômetros, para de novo voltar à região em que foi originalmente produzido.
Como os produtos da cesta são, na sua maioria, perecíveis, esse contato direto entre o produtor e consumidor permite que não haja desperdício, pois vem para a cidade a quantidade exata do que foi encomendado pelo consumidor – isso é sustentabilidade real, na prática e não só no discurso”.
Maria Angélica elogiou os queijos
Leme finalizou, observando que “além de todas essas variáveis importantes para a segurança alimentar, destaco a importância das relações humanas de solidariedade criadas entre os companheiros da cidade e do campo que permite a existência de novas relações de amizade que os grandes centros de compras não permitem."

Para saber mais e entrar em contato com Luci de Oliveira Milreu, o telefone celular é (14) 997367056.

*Reportagem publicada na edição de 01.03.2020 do Jornal da Manhã

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