sábado, 21 de março de 2020

SEM EVENTOS DE GERAÇÃO DE RENDA, ONGS SOFREM PARA MANTEREM OS ATENDIMENTOS.

Por Célia Ribeiro

Como se não bastassem a onda de medo e o isolamento social provocados pela pandemia do Coronavírus, o terceiro setor recebeu um golpe certeiro, quase indefensável. Obrigadas a cancelarem os eventos de geração de renda, as instituições filantrópicas não sabem como manterão os atendimentos nos mais diferentes setores em que atuam.
Padaria da ONG "Amor de Mãe": sem clientes
A reportagem do JM conversou, por WhatsApp e telefone, com dirigentes da Associação de Combate ao Câncer (ACC), Associação “Amor de Mãe” e Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente de Marília (CACAM), que foram unânimes em confirmarem a suspensão de eventos e manifestarem preocupação com o futuro.

Na ACC, a presidente Maria Antônia Antonelle disse que os atendimentos não serão interrompidos: “Não podemos fechar porque os pacientes com câncer têm direito à vida. A gente está tomando precauções e, além de atender os pacientes, estamos fazendo um papel de orientação junto aos familiares para que os pacientes não tomem ônibus, não saiam de casa porque eles estão no maior grupo de risco que existe, por causa da imunidade muito baixa”, assinalou.
Maria Antônia, Silvia Mendonça e Arnaldo Stroppa, diretores da ACC
Os bingos, bazares, bolachinhas, campanhas de venda de pizza, roscas, tortas, entre outros, são importantes fontes de renda para a ACC. Tudo suspenso. Do município, a entidade recebe uma subvenção de 3.600 reais por mês, mas mantém 15 funcionários e uma grande estrutura de suporte aos pacientes portadores de câncer.

“A postura da Diretoria é de manter todo o quadro de funcionários porque todo mundo tem família e depende disso. Nós só suspendemos as práticas integrativas, por enquanto, porque o contato é muito grande com o paciente e a vulnerabilidade acaba ficando bem grande tanto para o paciente quanto para o terapeuta. Nós alocamos os terapeutas para fazer esse trabalho de prevenção: estão medindo febre, pressão de quem chega, orientando a lavar as mãos”, explicou.
Terapeuta em atendimento na ACC, antes da pandemia.
Maria Antônia Antonelle disse que a ACC está orientando os familiares e cuidadores a agendarem a ida à entidade onde buscam remédios, suplementos, cesta básica etc. Conforme disse, “estamos fazendo nosso papel que faz parte da Missão da ACC, que é acolher e orientar pacientes, familiares e cuidadores e a gente não vai parar com a nossa Missão. Se Deus quiser, vamos encontrar força e verba para continuarmos abertos porque não sabemos o quanto vai durar isso”.

No entanto, ela lamentou a falta de apoio do poder público municipal: “Estou vendo as pessoas se oferecendo para ajudar grandes hospitais e eu acho válido. Mas, e as entidades? Ficam como? Houve uma reunião na Prefeitura com os hospitais e a Secretaria da Saúde e as entidades não puderam sequer sentar à mesa”, assinalou.
Crianças assistidas na Associação Amor de Mãe

Em contato com a Diretoria de Comunicação da Prefeitura, na quarta-feira, a reportagem solicitou posicionamento sobre apoio às ONGs. Até o fechamento dessa matéria, na sexta-feira no final da tarde, não foi enviada nenhuma resposta.

Tammy Gripa: padaria para gerar renda
A presidente da ACC fez um apelo à comunidade: “Para sobreviver, dependemos de eventos e ações voluntárias que foram todos cancelados de acordo com as orientações do Ministério da Saúde. Para que possamos honrar com nossos pacientes, que muitas vezes vêm a óbito sem remédios, suplementos, atendimento na casa apoio, entre outros serviços, e com os nossos colaboradores, que recebem salários, vimos por meio deste fazer o seguinte apelo: Doe para salvar vidas”.

Para ajudar, acesse: www.accmarilia.org.br para doação por cartão de crédito. Ou podem ser doados créditos da “Nota Fiscal Paulista, indicando no seu cadastro o CNPJ da ACC, 59.990.960.001/99, como beneficiária. É um jeito nobre de doar sem pôr a mão no bolso e ainda manter o direito de concorrer aos prêmios. Conscientizar seus familiares, parentes e amigos da importância desse ato de amor. Caso tenha dúvida, ligar para (14) 3454-5660 ou (14) 997265442, que você será auxiliado”, finalizou.

DISQUE BOLOS

Tammy Gripa, uma das fundadoras da Associação Amor de Mãe contou que a “situação está desesperadora”. A entidade, localizada na zona oeste, possui uma padaria cujos produtos são vendidos no bairro e na saída das missas. Agora, com a pandemia do novo Coronavírus, não tem onde escoar a produção.
Encomenda de bolos é a esperança da entidade
“Nós não sabemos o que fazer. Nossa padaria semanal depende do movimento dos pais das crianças. Não vai ter movimento, não vai ter nem sentido ficar aqui. E a gente vende no final de semana na missa. A gente começa com o Terço, às 15h, na Nossa Senhora de Fátima e depois fica até a missa da noite. O Terço foi cancelado e a missa não está indo quase ninguém. As pessoas estão assustadas e com medo”, disse.

Hederaldo Benetti: comunidade pode doar fraldas para os bebês
Nos últimos dias, a ONG mantém apenas um pequeno atendimento: “A maior parte da venda era para os pais das crianças que não estão nem aparecendo no ‘Amor de Mãe´’. Ainda estamos abertos, mas só têm vindo as crianças que têm fome em casa. Estão vindo pra tomar café, almoçar e café da tarde”, explicou.
Bazar no CACAM: com fechamento, mais prejuízo
A venda da pizza programada para outubro foi suspensa e a Associação espera decolar um projeto de encomenda de bolo por telefone e WhatsApp: o Disque Bolo. Nos sabores brigadeiro, cenoura, churros, laranja, limão, fubá, Leite Ninho e paçoca, os pedidos podem ser feitos pelo telefone (14) 991688852. A ONG está localizada à Rua João Francisco Nascimento, 320. O telefone é (14) 34225525.

Por sua vez, o presidente do CACAM, Hederaldo Benetti, relatou que a entidade deve perder uma das poucas fontes de renda garantidas: o bazar da pechincha que rende de 700 a 1.500 reais por semana, dependendo da época do mês. Devido à proibição de abertura do comércio e regras de controle da pandemia, a entidade está pensando no bem estar das crianças e funcionários.
Brinquedoteca do CACAM que atende crianças e adolescentes
A preocupação é ainda maior porque um evento que deveria reforçar o caixa do CACAM teve que ser suspenso: “A gente tem parceria com clubes de serviço, principalmente o Rotary Alto Cafezal, que ia fazer um baile dos anos 60. A gente teria uma parte da renda da venda dos convites e também foi cancelado. A população pode nos ajudar com fraldas para as crianças, medicamentos e leites especiais”, disse.

Para saber o que doar, entrar em contato pelo telefone (14) 34545660. O quadro só não é mais desanimador porque a ONG conseguiu adquirir três caixas de álcool em gel (para crianças e funcionários) e mais três caixas de álcool para higienização da instituição que, inclusive, proibiu as visitas, por tempo indeterminado.


Leia mais sobre a ACC, acessando AQUI e AQUI
Sobre a Associação Amor de Mãe, leia AQUI e AQUI  
Para saber mais sobre o CACAM, acesse: AQUI e AQUI 

*Reportagem publicada na edição de 22.03.2020 do Jornal da Manhã
Entrevistas realizadas por telefone e aplicativo WhatsApp. Fotos de arquivo deste blog.

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