domingo, 24 de novembro de 2019

SOLIDARIEDADE: A ORIGEM DO GRUPO QUE ORGANIZOU EVENTO DA CANNABIS MEDICINAL

Por Célia Ribeiro

O que um cirurgião-dentista, uma assistente social, uma docente, uma psicóloga e um advogado têm em comum? A pergunta pode ser estendida a um grupo de quase 40 pessoas que inclui jornalista, publicitário, comerciante, donas de casa, estudantes, produtora rural, enfermeira, filósofo, sociólogo, farmacêutica e muitas outras profissões. Em comum, eles têm a vontade de contribuir com a difusão de informações que levem esperança a milhares de pessoas que se beneficiarão do uso da Cannabis Medicinal.
Última reunião geral, na quarta-feira (20/11)
Esse exército de voluntários, muitos deles ligados a Organizações Não Governamentais (ONGs), formou a linha de frente do 1º Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista realizado ontem, no anfiteatro da Universidade de Marília. Com a presença de quase 400 pessoas de várias regiões do Brasil, o evento trouxe juristas e médicos para debaterem sobre os vários aspectos do uso da cannabis no tratamento de um sem número de doenças.

Entre os primeiros voluntários estava o advogado Pedro Luís Fracaroli Pereira. Ele foi impetrante do Habeas Corpus que concedeu a ordem de salvo conduto para as mães Cláudia Marin e Nayara Mazini cultivarem cannabis e produzirem o óleo medicinal para o tratamento de seus filhos, Mateus e Letícia, respectivamente.
Mateus observa a cannabis
O advogado contou que quando foi procurado pelas mães ficou sensibilizado com a luta “pela saúde de seus filhos bem como a vulnerabilidade destes pequenos. E, por vislumbrar com outros colegas, possibilidade jurídica de ajudá-las com o tratamento dos filhos, decidiu abraçar a causa nos limites profissionais com elas ajustados”.

Já a assistente social Sueli Farias disse que é voluntária da Associação Anjos Guerreiros, uma das entidades promotoras do Seminário, desde 2017: “O que me cativou na associação foi constatar que o trabalho que ela se propõe vem ao encontro  da importância que tem numa sociedade, de estimular o protagonismo das pessoas através das lutas coletivas. Quando nos reconhecemos parte de algo maior, além do "meu problema", eu ganho mais força e ajudo o outro a seguir em frente”.

Ela destacou a união do grupo: “Estar junto com mães tão guerreiras, que incansáveis seguem dia a dia buscando o melhor para todos os filhos é um privilégio, é aprendizado, é descobrir cada dia motivos para sermos pessoas melhores”.

EXEMPLO FAMILIAR

Sempre disposto a colaborar com as tarefas em grupo, o cirurgião-dentista Cezar A. Carvalhal Altafim revelou que o exemplo veio do berço: “O voluntariado em minha vida surge como um preceito moral passado por meus pais ao demonstrarem que solidariedade, respeito e compaixão são sentimentos necessários a todas as pessoas e virtudes cívicas”.
Sueli e Cezar: solidariedade em comum

Conforme disse, “hoje atuando como profissional na saúde coletiva e como diretor da Associação Paulista de Saúde Pública venho me dedicado à defesa da saúde e da vida com dignidade como direito de todos, e isso me levou a conhecer a realidade das famílias que necessitam do uso desta medicação para casos de epilepsia, autismo, tratamento da dor e Alzheimer, podendo perceber o alívio do sofrimento e o impacto positivo na qualidade de vida não só do paciente mas também de seus familiares e amigos. E esta melhora coletiva das relações, do cuidado e da saúde das pessoas é a motivação para ser voluntário”.

A psicóloga forense e professora Berenice de Lara Silva lembrou a importância da informação: “Senti que era importante, nesse momento, fazer com que as pessoas tivessem conhecimento de uma maneira científica, correta, das possibilidades da cannabis sativa como uso medicamentoso. Por outro lado, me sensibilizei com a questão das mães porque ver o filho sofrer, sem muita perspectiva de resolução dentro do que se conhece no tratamento convencional, saber que existe uma possibilidade e deixar de lado é inviável para uma mãe”.
Regiane e Fernanda guardando itens para o coffee break
Ela acrescentou que “isso sensibiliza para uma luta porque sabemos de mães que já alcançaram esse benefício. Como a Cláudia e a Nayara colocaram, queriam que outras mães tivessem conhecimento de maneira embasada cientificamente e juridicamente correta. Assim, mais pessoas se beneficiarão. Um dos trabalhos da humanidade é procurar disseminar o bem. Então, me dispus a fazer isso porque valia a pena. São trabalhos gratificantes que a gente vê resultados positivos”, concluiu.
Os voluntários se dividiram em grupos para executarem suas tarefas
Na última reunião geral, quarta-feira (20), na Faculdade de Medicina, após vários encontros realizados desde julho, Cláudia Marin fez um agradecimento especial lembrando a importância de cada um que doou seu tempo, conhecimento e suas redes de contato, para que o evento se tornasse realidade.
Voluntários na recepção do evento
“Somos multiplicadores de ideias, do que faz bem e do que faz mal. Se a gente conseguir colocar tudo de bom que a gente está vendo com relação à Cannabis Medicinal, uma pessoa fala para 10 e essas colocam para mais 10 pessoas”, assinalou. Ela falou sobre o sentimento de gratidão a todos que se dedicaram, agradecendo pelo apoio à causa “que não é a causa do Mateus e da Letícia. A causa é das pessoas que precisam se tratar e que precisam, não digo da cura, mas da qualidade de vida que a cannabis pode proporcionar”.
Nicklas fez a entrega dos uniformes da MALELI
A docente Sílvia Helena Almeida disse que nenhuma teoria superaria o que aprendeu nas últimas semanas: “Quando você se envolve, você pode estudar. Agora, essa prática que nós estamos vivenciando é como se fosse um projeto educacional”, observou.

Ao encerrar a reunião geral, Cláudia Marin anunciou que juntamente com Nayara Mazini e Fernanda Peixoto, que possui cursos realizados em Israel e no Canadá sobre extração do óleo da cannabis para fins medicinais, promoverá uma roda de conversa para os voluntários da comissão organizadora. A ideia é fornecer a informação precisa para ser difundida como antídoto ao preconceito e à desinformação que cercam o assunto.
Solenidade de aberturta do seminário
* Reportagem publicada na edição de 24.11.2019 do Jornal da Manhã

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CANNABIS MEDICINAL: EVENTO REUNIRÁ MÉDICOS E JURISTAS EM MARÍLIA


Célia Ribeiro

No próximo sábado, 23 de novembro, Marília sediará o 1º Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista reunindo médicos, juristas, representantes de ONGs e de familiares de pacientes que buscam informação sobre o tema. Promovido pela Escola da Defensoria Pública, Associação Anjos Guerreiros e MALELI-Associação Canábica de Marília, o evento acontecerá das 8 às 18h, no auditório da UNIMAR que apoia o seminário juntamente com o HC-FAMEMA, FAMEMA e EPI-Brasil (Federação Brasileira de Epilepsia).
 Mateus observa planta em ponto de colheita


Diante do grande interesse que o tema desperta, o seminário contará com a participação de pessoas de várias regiões do Brasil, com quase 600 inscritos antecipadamente, segundo informaram a enfermeira Nayara de Fátima Mazini Ferrari e Cláudia Marin Pereira Castelazi, fundadoras da MALELI e mães de duas crianças que utilizam a cannabis medicinal. Elas conseguiram habeas corpus na Justiça para cultivarem a planta a fim de extraírem o óleo empregado no tratamento dos pequenos Mateus e Letícia.

A necessidade de difundir informações corretas sobre a cannabis motivou a promoção do seminário. Cláudia Marin afirmou que “a gente não poderia ficar sentado olhando as pessoas sofrerem, precisando de uma luz, precisando de qualidade de vida, e a gente ficar sem fazer nada”. Conforme disse, a ideia era trazer um grande evento ao interior paulista porque congressos, simpósios e seminários da área normalmente ocorrem apenas nas grandes capitais.

Ela prosseguiu explicando como foi o processo que angariou apoio de dezenas de voluntários e de instituições idôneas: “Entramos em contato com médicos e juristas exatamente para trazermos essa informação que é de muita importância na vida de muita gente. Para os que conhecem vai somar. Para os que não conhecem vai trazer a informação. A falta de conhecimento é pelo tabu. A cultura é que a maconha é uma droga e que nunca foi vista como medicinal”.
Nayara e Cláudia em busca de qualidade de vida para os filhos
Claudia Marin relatou sua experiência familiar: “Eu posso dizer, mais do que ninguém, que vejo meu filho que tinha 80 crises convulsivas por dia e que junto com a dieta cetogênica e a cannabis fez com que hoje o Mateus estivesse praticamente zerado em crises convulsivas. É uma criança que teve Síndrome de West, lesão cerebral, que retirou 25 por cento da massa encefálica. Hoje ele consegue fazer coisas que não fazia, a parte motora e a imunidade dele melhoraram, ele está mais feliz e demonstra mais sentimento. Tudo devido à cannabis”.

Ela concluiu frisando que há muita confusão sobre a cannabis medicinal e a liberação das drogas: “Não estamos trazendo nada sobre a liberação da maconha para uso recreativo. Estamos na luta para trazer informação sobre o uso da cannabis medicinal para tratamento. Estamos falando do óleo da cannabis com princípios terapêuticos e não do fumo. Não podemos prometer a cura para ninguém. A gente está em busca de qualidade de vida”.

ESPERANÇA

Por sua vez, a enfermeira Nayara Mazini, mãe da pequena Letícia, afirmou que “na ciência, quando se descobre algo que pode salvar a vida de alguém não é justo que esta descoberta seja restrita ou proibida, ou mesmo que seus avanços se tornem inatingíveis em razão de interesses adversos. Nós, mães, sentimos na pele cada dor, cada lágrima de nossos filhos. Vivemos junto com eles todo o sofrimento, o desespero pela ausência de respostas que nunca chegam”.

Ela assinalou que “a Medicina Canabinóide entrou em nossas vidas quando já não restavam opções oportunas num uso compassivo para epilepsia refratária. Hoje me pergunto quantas lesões poderiam ter sido evitadas se eu tivesse tentado antes. Enquanto enfermeira saí em busca de conhecimento, desbravando um mundo totalmente desconhecido, longe de alcance e repleto de preconceito que hoje vejo como um desrespeito já que priva quem precisa de poder ter uma vida com esperança, qualidade e sonhos”.
 
Nayara e a pequena Letícia
Nayara contou que “Lelê nasceu com a Síndrome 1p36, uma alteração genética com várias implicações como má formação cerebral, lábio leporino, cardiopatia, sistema imunológico comprometido e as várias complicações derivadas desse quadro. A rotina era terapias intensivas, consultas nas diversas especialidades, pronto socorro, sucessivas internações inclusive em UTI, medicações para tudo, antibiótico contínuo, enquanto deveria apenas comer, brincar, dormir e sorrir como qualquer outra criança”.

Com a introdução da cannabis, tudo mudou: “Ter a maconha como a última chance não foi uma decisão simples, mas foi a mais assertiva. A busca por conhecimento sobre uma alternativa terapêutica que propõe revisão de conceitos, quebra de tabus e paradigmas me levou à descoberta de pessoas incríveis, que enfrentam o mundo para mostrar que é possível, que precisamos ser pró ativos e temos direito ao cuidado apoiado e de ser vistos na integralidade, como seres únicos e indivisíveis”.

Ela destacou que “a idealização do Seminário partiu da inquietude de ver pessoas sofrendo, por diversas condições de doenças e sem esta mesma oportunidade. Fazer o Seminário em Marília é um sonho que está sendo realizado em coletivo com muito amor, muita união e dedicação. Letícia é a prova viva de todos os benefícios que a Cannabis Medicinal pode proporcionar. Muitas crianças, adultos e idosos precisam da terapêutica com canabinóides, assim como os profissionais precisam conhecê-la para poder ofertar ao paciente essa alternativa de tratamento”.

Finalizando, Nayara disse que “é preciso que as pessoas conheçam que há uma possibilidade para o alívio do sofrimento. É urgente que deixemos o preconceito de lado para que muitos tenham esperança de qualidade de vida e possam voltar a sonhar. O desejo de nosso coração é muito simples: ajudar àqueles que precisam”.

PROGRAMAÇÃO

A partir das 8 horas, estão confirmadas as palestras com os juristas: Dr. Amilton Bueno de Carvalho (CESUSC/TJRS-Desembargador) que abordará o tema “Não seria criminosa a criminalização do uso de drogas?”, Dr. Benedito Cerezzo Pereira Filho (UFPR/UnB) com o tema “Do Estado Legislativo ao Estado Constitucional: a responsabilidade do Judiciário na concretização dos direitos fundamentais” e Dr. Flávio de Almeida Pontinha (Defensor Público/SP) com o tema “A Construção de Estereótipos: A criminalização de grupos como instrumento de controle social”.
Quase 600 inscrições antecipadas

Em seguida haverá a Roda de Conversa com o tema “Cenário nacional da Cannabis medicinal: percursos e desafios para a Regulamentação de que precisamos”. A farmacêutica Dra. Caroline Marroni Cremonez (USP/NEA.TOX/ABHU) abordará o tema “Farmacologia da Cannabis Medicinal e o Sistema Endocanabinoide”.

Quanto à palestras médicas, a Dra. Eliane Lima Guerra Nunes (USP/SBEC) falará sobre “Cannabis Medicinal: Desafios no Brasil para tratamento da Epilepsia, Autismo e Transtornos Psiquiátricos”; o Dr. Paulo Tomaz Fleury Teixeira (UFMG/UNASUS) abordará o tema “Cannabis Medicinal: terapêutica canábica na dor crônica, nas doenças inflamatórias, autoimunes e degenerativas”. E o Dr. Leandro Cruz Ramires da Silva (UFMG/AMA+ME) fará exposição sobre “Cannabis Medicinal: abordagem terapêutica em Geriatria e Oncologia”.











sábado, 16 de novembro de 2019

HORTA ORGÂNICA: RECICLADORES APROVEITAM ÁREA PÚBLICA PARA GERAR RENDA.

Por Célia Ribeiro

De um lado, uma grande quantidade de materiais amontoados em pilhas à espera da correta separação: metais, vidros, papel e papelão, plásticos, latas, entre outros. Na outra extremidade do terreno, canteiros muito bem cuidados exibem verduras e legumes em ponto de colheita. Trata-se da horta orgânica que a Cooperativa de Reciclagem “Recicla Marília” iniciou para gerar renda e também melhorar a alimentação dos cooperados, a maioria ex-catadores de recicláveis.
Horta: qualquer produto por três reais
Localizada na zona norte, ao lado da Unidade de Saúde Jânio Quadros, a cooperativa começou tímida, em 2014, relatou o presidente Márcio Cleber Eurinídio. Ele explicou que a coleta seletiva de lixo tem crescido em várias regiões da cidade graças a um trabalho de formiguinha. Determinado, ele está em busca de parceiros para ampliar a área atendida dando destinação correta a toneladas de recicláveis que se juntariam ao lixo orgânico com grave impacto ao meio-ambiente.

“Coletamos um pouco de tudo: alumínio, PVC, papelão, PET, plástico duro, papel, livro, caderno, todo tipo de embalagem, sacolinha plástica etc”, informou Márcio Eurinídio, acrescentando que ainda não foi possível atingir a meta de remunerar os 12 cooperados com um salário mínimo, pelo menos. “Estamos entre 700 e 800 reais. Mas, queremos chegar a um salário, em breve”, frisou.
A cooperativa tem uma prensa para facilitar o trabalho
O caminhão da “Recicla Marília”, cedido por um parceiro, realiza coleta seletiva nos bairros Jânio Quadros, Alcides Matiuzzi, Leonel Brizola, J.K. e Lavínia. No entanto, com as novas parcerias em andamento, a meta é atingir outros bairros. “Não podemos recolher só de uma casa, por exemplo, porque o caminhão é grande e difícil estacionar. Mas, se os vizinhos do quarteirão se organizarem e nos chamarem, nós iremos buscar”, afirmou.
Os carrinheiros também serão beneficiados
Da mesma forma, os condomínios residenciais podem entrar em contato com a “Recicla Marília” para aderirem à coleta seletiva. Na última segunda-feira, Wagner Peres, da Administradora Calcular, foi conhecer a cooperativa e fechar uma parceria para que os condomínios atendidos pela empresa possam ser atendidos em uma nova rota de coleta seletiva.

HORTA

O terreno em que funciona a “Recicla Marília” é área pública cedida pela Prefeitura Municipal. Com tanta área disponível, Márcio e seus cooperados resolveram aproveita-la com a produção de hortaliças e legumes. Ao preço único de três reais, por qualquer produto, os vizinhos da cooperativa têm aproveitado os alimentos frescos e livres de agrotóxicos.
Márcio e Wagner Peres da Calcular: administradora de
condomínios fará parceria com a Recicla Marilia
“Temos alface imperial, alface crespa, couve, almeirão, coentro,  jiló e quiabo, por enquanto. Mas, vamos plantar outras variedades”, explicou Agnaldo Paulo da Silva, 42 anos. Na segunda-feira passada, ele estava irrigando os canteiros quando falou com entusiasmo sobre o trabalho: “A gente vende baratinho, três reais qualquer produto, e os vizinhos têm vindo comprar direto”, disse. Já os cooperados levam tudo de graça para casa no fim do dia.
(Esq) Márcio e Sr. Agnaldo que cuida da horta
Márcio Eurinídio destacou que o espírito do cooperativismo deve prevalecer na atividade. A exemplo da horta, em que todos se beneficiam, a coleta, separação e venda dos recicláveis devem gerar renda para os cooperados. Mas, não vão parar por aí: “A ideia é agregar os carrinheiros, que recolhem os materiais avulsos na rua. Aqui, a gente espera poder pagar um valor justo, pesando e já informando o quanto vale a carga, quantas bags ele trouxe”, anunciou.

O presidente da “Recicla Marília” disse que “dos 12 cooperados, pelo menos três não eram catadores, não eram do ramo. Eram pessoas desempregadas que, com essa crise, não encontravam uma ocupação. Vieram para a cooperativa e estamos lutando juntos”, finalizou.

Para entrar em contato com a Cooperativa, o endereço é: Rua Francisco Chaves de Moraes, 821, telefone celular: (14) 998789034

*Reportagem publicada no Jornal da Manhã, Edição de 17.11.2019




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sábado, 9 de novembro de 2019

TATADRAMA: PSICÓLOGA UTILIZA BONECAS DE PANO EM MÉTODO INOVADOR DE PSICOTERAPIA

Por Célia Ribeiro

Ao fim de um corredor verde, onde flores, plantas ornamentais e frutíferas de várias especiais remetem a um santuário, do lado esquerdo localiza-se o espaço guardião de centenas de objetos cuidadosamente armazenados ao longo dos últimos anos. São bonecas de pano, retalhos de tecidos, acessórios em miniatura, pistolas de cola quente, linhas, agulhas e uma infinidade de materiais que serão empregados em vivências de uma nova ferramenta da área de psicologia: o Tatadrama.
Bonecas confeccionadas em Crato
Criado há 18 anos pela psicóloga clínica e psicodramatista didata Elisete Leite Garcia, o Tatadrama “é um método psicoterapêutico de auxílio aos seus participantes à tentativa de atingir uma melhor percepção de suas inquietações pessoais e coletivas”, explicou a psicóloga clínica mariliense Maristela Colombo que tem difundido essa abordagem em cidades do interior de São Paulo.
Maristela Colombo


Ela teve o primeiro contato com o método durante um congresso em Cartagena das Índias (Colômbia), em que Elisete Garcia havia sido convidada a apresentar o Tatadrama. De volta ao Brasil, as psicólogas se reencontraram em outro evento e Maristela resolveu participar de uma vivência, como são chamadas as sessões coletivas.

Segundo Maristela, o Tatadrama “nasceu do ato de brincar, em 2002, e já foi aplicado a mais de 5.800 pessoas em diversos grupos operativos e terapêuticos”. Utiliza bonecos de pano confeccionados por mulheres de Crato (CE) que resgataram a cultura popular e se dedicam a produzir os diferentes modelos usados nas vivências.

Conforme disse, “os bonecos trazem a simplicidade da estética popular, simbolizando uma imagem e identidade relacionada à vivência de cada participante. No mecanismo de ação do Tatadrama os participantes são convidados a fazer uma transformação estética, visual e corporal na boneca de pano. E é nesse momento mais íntimo com a boneca de pano que se origina um espaço de reflexão onde os papeis individuais, o corpo e os sentidos (visão, olfato, tato, paladar e audição) são evidenciados, permitindo a livre expressão da criatividade e possibilidade de olhar-se numa nova perspectiva”.
Vivência no TJ-SP
DO PRINCÍPIO AO FIM

Com um vasto currículo que inclui formação em Psicologia Clínica (Unimar), Mestrado em Ciências Sociais (UNESP), Especialização em Orientação Vocacional, Especialização em Psicologia Clínica e Jurídica pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Especialização em Violência Doméstica contra a Criança e Adolescente (USP), Maristela Colombo é psicodramatista e tatadramista terapeuta EMDR.
Mandala de bonecas 
Ela tem utilizado o Tatadrama não apenas no trabalho no Tribunal de Justiça de São Paulo onde é chefe da Seção Técnica do Serviço Psicossocial Clínico do TJ – Unidade de Marília. Recentemente, participou de uma vivência com um grupo de São Paulo de servidores do TJ próximos à aposentadoria que se preparam para a nova fase. Na outra ponta, atuou com grupo de jovens em orientação vocacional utilizando os bonecos de pano na vivência do Tatadrama em uma experiência que considerou muito valiosa.

“Imagine um grupo de jovens concentrados, costurando bonecos de pano, durante horas. É difícil ver os jovens sem o celular, sem estarem conectados com a tecnologia. Mas, nesse grupo em que trabalhamos a orientação vocacional eles se desligaram de tudo e se concentraram no que estavam fazendo”, comentou ao citar uma vivência de Tatadrama com 35 alunos do ensino médio em Camboriú (SC).

Maristela Colombo observou que a nova ferramenta pode ser empregada em inúmeras situações. No caso do Tribunal de Justiça “a gente trabalhou o empoderamento feminino, o empreendedorismo pós-aposentadoria. Houve várias palestras e, no último dia, nosso material estava todo coberto com panos pretos naquele ambiente rígido. Quando levantamos o pano foi aquela surpresa. Todos trabalharam os bonecos, por uma hora e meia, depois se sentaram na roda e compartilharam”.
Orientação vocacional: jovens atentos no Tatadrama
Ela acrescentou que “o boneco de pano é usado como objeto intermediário, recurso utilizado para o favorecimento do aquecimento dos participantes, pra tratar as emoções (memórias afetivas). A prática acontece em atividades com duração de três a quatro horas. E a vivência do método favorece aos participantes uma oportunidade de enfrentar suavemente o medo do desconhecido, da vergonha, da desconfiança e da curiosidade”.
Acessórios para o Tatadrama em pleno Tribunal de Justiça
A psicóloga assinalou que o Tatadrama “é terapêutico na medida em que a pessoa vai trabalhando sozinha com as coisas”. E diante dos resultados positivos já alcançados, Maristela Colombo pretende fazer uma vivência em Marília justamente no espaço lúdico que criou em sua residência. É lá que ela pretende se aprofundar no estudo do método assim que se aposentar do serviço público, o que deve ocorrer em breve.
Maristela utilizará esse
espaço na residência

Para entrar em contato com a psicóloga, que também é coordenadora do Núcleo de Psicologia e Estudos Socio jurídicos que organiza o Grupo de Estudos de Psicologia Jurídica, o endereço é: Rua das Esmeraldas, 3895 – Praça Capital, Torre Tóquio, Sala 313. Telefone (14) 981215881


*Reportagem publicada na edição de 10.11.2019 do Jornal da Manhã





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sábado, 2 de novembro de 2019

EX-FAXINEIRA CONCLUI FACULDADE E EMPREENDE NO SETOR DE LIMPEZA.

Por Célia Ribeiro

Quando começarem os Jogos Abertos do Interior, no próximo dia 11, em Marília, uma capoeirista que conquistou medalhas de ouro, prata e bronze em inúmeras competições pela cidade vai recordar, com saudade, o tempo em que conciliava os treinos de capoeira, o estágio de Pedagogia e as faxinas que fazia para sobreviver. Aos 36 anos, Marina Galhardo não aparenta a força que concentra no físico de “peso pena” e que inspira muitas mulheres.
Marina: da roça para a empresa própria
Natural do Paraná, Marina veio para Vera Cruz, a 15 quilômetros de Marília, aos três anos de idade. A família foi trabalhar nas lavouras de café e, desde cedo, ela aprendeu que teria que lutar muito se quisesse conquistar seus sonhos. E assim o fez!

Até a adolescência, ela trabalhava na roça e também fazendo faxinas em casas de família. Aos 15 anos, viu a oportunidade de concluir o segundo grau em uma escola rural. Era o começo da trajetória que a levou, anos depois, para o curso de Administração de Empresas e em seguida para o de Pedagogia.
Capoeira: muitos troféus e medalhas
De Vera Cruz para Marília, a moça ingênua, acostumada à vida simples do campo, teve que aprender como era o ritmo da cidade. No começo, trabalhou como babá para uma conhecida família e, anos depois, mudou-se para outra residência onde cuidava de tudo, da limpeza à cozinha, sempre morando no emprego.

Na época, conta Marina, não podia estudar porque trabalhava até tarde e não podia ficar saindo da casa dos patrões. Por isso, adiou o sonho da faculdade. Aos 22 anos, engravidou e foi demitida sem receber o que tinha direito porque nunca trabalhou com carteira assinada. O casamento não deu certo e ela precisou recomeçar.
Se precisar, ela ainda põe a mão na massa e encara o trabalho
“Voltei para a roça com o filho nos braços”, recorda. A saída foi pegar o máximo de faxina que conseguisse: “Eu tinha meu filho para alimentar. Então, eu aceitava qualquer 20 reais para passar umas roupas ou 50 reais por uma faxina. Tinha dias de trabalhar até tarde da noite de medo de não me pagarem por não gostarem do trabalho”.

A VIRADA

A capoeira surgiu na vida de Marina como transformação. Ela procurou uma academia e pediu informações sobre alguém disposto a treina-la. Foi assim que ela foi descoberta pelo mestre Edvaldo Pereira que, vendo seu empenho, propôs que treinasse pra valer para competir por Marília, na categoria peso pena. Em troca, teria uma bolsa de estudos integral para cursar Pedagogia.
Colaboradoras: todas com direitos trabalhistas garantidos
Antes, ela tinha conseguido cursar Administração de Empresas por três anos, mas perdeu a bolsa em outra faculdade por conta dos horários das faxinas que continuava a fazer para sobreviver. Nos anos de UNIMAR, Marina conquistou muitos troféus como capoeirista e se virava para dar conta da rotina pesada: treinos, estágio de Pedagogia e as faxinas.
Marina sempre participa de eventos de empreendedorismo
“Foi uma fase difícil e de muita luta. Às vezes, eu saía do Clube dos Bancários e tinha que faxinar uma casa no Aeroporto. Pegava ônibus até a metade do caminho e ia a pé ou pegava carona para chegar ao trabalho”, recorda. No entanto, ao fim do curso veio outra decepção. Em busca de trabalho em escolas particulares, viu que o salário era inferior ao que ela recebia fazendo limpeza nas casas.

Com muita determinação, Marina encarou o desafio de fazer do limão uma limonada. Era 2016 e com a nova lei dos empregados domésticos, muitas famílias não podiam mais manter funcionárias sem registro por conta da fiscalização mais rigorosa. Ela viu a oportunidade de empreender usando seu conhecimento prático sobre a faxina.
Com o marido e o filho: família completa
Foi quando Marina abriu uma microempresa de limpeza, a “Amigas do Lar”. O sonho era ter um negócio em que as colaboradoras fossem tratadas com respeito, tivessem seus direitos respeitados e pudessem ganhar seu sustento dignamente. No começo, ela conta que foi difícil porque “ninguém trabalhava como eu”. Aos poucos, entendeu que teria que treinar as funcionárias para que tivessem o mesmo padrão de qualidade nos serviços de limpeza.

Hoje, a “Amigas do Lar”, que funciona perto da Santa Casa, conta com 08 funcionárias e, em breve, entrará a nona colaboradora. Marina tem um carinho imenso pela equipe e não permite que as funcionárias sejam destratadas. “Já deixei de atender cliente que desrespeitou minhas funcionárias. Tivemos problemas de assédio pelos homens e até discriminação”, revela.

DETERMINAÇÃO

 Perguntada sobre a fórmula do sucesso, Marina diz que “tem que ter coragem, perseverança e fé. Quando abri minha MEI o Brasil estava falido. Se aparecer uma oportunidade, tem que pegar, agarrar e levar com você”, pontua. A empresária que se orgulha do passado de lutas faz questão de acompanhar de perto seu negócio e, se for preciso, coloca a mão na massa.
Voluntárias no bazar de Vera Cruz


“Até hoje, se tem um guarda-roupa para arrumar ou um quintal para passar máquina, vou lá e faço”, afirma, acrescentando que poder criar seu filho com dignidade e dar oportunidade de trabalho para outras mulheres são as maiores vitórias. Atualmente casada e com o filho adolescente, Marina que é devota de Nossa Senhora ainda tem tempo de se dedicar a um projeto social em Vera Cruz.

Recebendo doações de roupas e calçados que são vendidos em um bazar realizado aos sábados, ela lidera um grupo de voluntárias que auxilia famílias carentes com medicamentos: “O foco são as mulheres, mas já ajudamos um homem que fazia tratamento para depressão e o medicamento, que custava 170 reais, não tinha na rede básica. A gente pega a receita, compra e entrega os remédios”, revela.

E assim, multiplicando o tempo e dividindo os resultados, Marina segue no pódio da vida. Com medalha de ouro, certamente!

A empresa “Amigas do Lar” está localizada à Rua Bartolomeu Bueno, 144, Sala 06 – próxima à Santa Casa. Contato: (14) 997686062

* Reportagem publicada na edição de 02.11.2019 do Jornal da Manhã
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