domingo, 24 de novembro de 2019

SOLIDARIEDADE: A ORIGEM DO GRUPO QUE ORGANIZOU EVENTO DA CANNABIS MEDICINAL

Por Célia Ribeiro

O que um cirurgião-dentista, uma assistente social, uma docente, uma psicóloga e um advogado têm em comum? A pergunta pode ser estendida a um grupo de quase 40 pessoas que inclui jornalista, publicitário, comerciante, donas de casa, estudantes, produtora rural, enfermeira, filósofo, sociólogo, farmacêutica e muitas outras profissões. Em comum, eles têm a vontade de contribuir com a difusão de informações que levem esperança a milhares de pessoas que se beneficiarão do uso da Cannabis Medicinal.
Última reunião geral, na quarta-feira (20/11)
Esse exército de voluntários, muitos deles ligados a Organizações Não Governamentais (ONGs), formou a linha de frente do 1º Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista realizado ontem, no anfiteatro da Universidade de Marília. Com a presença de quase 400 pessoas de várias regiões do Brasil, o evento trouxe juristas e médicos para debaterem sobre os vários aspectos do uso da cannabis no tratamento de um sem número de doenças.

Entre os primeiros voluntários estava o advogado Pedro Luís Fracaroli Pereira. Ele foi impetrante do Habeas Corpus que concedeu a ordem de salvo conduto para as mães Cláudia Marin e Nayara Mazini cultivarem cannabis e produzirem o óleo medicinal para o tratamento de seus filhos, Mateus e Letícia, respectivamente.
Mateus observa a cannabis
O advogado contou que quando foi procurado pelas mães ficou sensibilizado com a luta “pela saúde de seus filhos bem como a vulnerabilidade destes pequenos. E, por vislumbrar com outros colegas, possibilidade jurídica de ajudá-las com o tratamento dos filhos, decidiu abraçar a causa nos limites profissionais com elas ajustados”.

Já a assistente social Sueli Farias disse que é voluntária da Associação Anjos Guerreiros, uma das entidades promotoras do Seminário, desde 2017: “O que me cativou na associação foi constatar que o trabalho que ela se propõe vem ao encontro  da importância que tem numa sociedade, de estimular o protagonismo das pessoas através das lutas coletivas. Quando nos reconhecemos parte de algo maior, além do "meu problema", eu ganho mais força e ajudo o outro a seguir em frente”.

Ela destacou a união do grupo: “Estar junto com mães tão guerreiras, que incansáveis seguem dia a dia buscando o melhor para todos os filhos é um privilégio, é aprendizado, é descobrir cada dia motivos para sermos pessoas melhores”.

EXEMPLO FAMILIAR

Sempre disposto a colaborar com as tarefas em grupo, o cirurgião-dentista Cezar A. Carvalhal Altafim revelou que o exemplo veio do berço: “O voluntariado em minha vida surge como um preceito moral passado por meus pais ao demonstrarem que solidariedade, respeito e compaixão são sentimentos necessários a todas as pessoas e virtudes cívicas”.
Sueli e Cezar: solidariedade em comum

Conforme disse, “hoje atuando como profissional na saúde coletiva e como diretor da Associação Paulista de Saúde Pública venho me dedicado à defesa da saúde e da vida com dignidade como direito de todos, e isso me levou a conhecer a realidade das famílias que necessitam do uso desta medicação para casos de epilepsia, autismo, tratamento da dor e Alzheimer, podendo perceber o alívio do sofrimento e o impacto positivo na qualidade de vida não só do paciente mas também de seus familiares e amigos. E esta melhora coletiva das relações, do cuidado e da saúde das pessoas é a motivação para ser voluntário”.

A psicóloga forense e professora Berenice de Lara Silva lembrou a importância da informação: “Senti que era importante, nesse momento, fazer com que as pessoas tivessem conhecimento de uma maneira científica, correta, das possibilidades da cannabis sativa como uso medicamentoso. Por outro lado, me sensibilizei com a questão das mães porque ver o filho sofrer, sem muita perspectiva de resolução dentro do que se conhece no tratamento convencional, saber que existe uma possibilidade e deixar de lado é inviável para uma mãe”.
Regiane e Fernanda guardando itens para o coffee break
Ela acrescentou que “isso sensibiliza para uma luta porque sabemos de mães que já alcançaram esse benefício. Como a Cláudia e a Nayara colocaram, queriam que outras mães tivessem conhecimento de maneira embasada cientificamente e juridicamente correta. Assim, mais pessoas se beneficiarão. Um dos trabalhos da humanidade é procurar disseminar o bem. Então, me dispus a fazer isso porque valia a pena. São trabalhos gratificantes que a gente vê resultados positivos”, concluiu.
Os voluntários se dividiram em grupos para executarem suas tarefas
Na última reunião geral, quarta-feira (20), na Faculdade de Medicina, após vários encontros realizados desde julho, Cláudia Marin fez um agradecimento especial lembrando a importância de cada um que doou seu tempo, conhecimento e suas redes de contato, para que o evento se tornasse realidade.
Voluntários na recepção do evento
“Somos multiplicadores de ideias, do que faz bem e do que faz mal. Se a gente conseguir colocar tudo de bom que a gente está vendo com relação à Cannabis Medicinal, uma pessoa fala para 10 e essas colocam para mais 10 pessoas”, assinalou. Ela falou sobre o sentimento de gratidão a todos que se dedicaram, agradecendo pelo apoio à causa “que não é a causa do Mateus e da Letícia. A causa é das pessoas que precisam se tratar e que precisam, não digo da cura, mas da qualidade de vida que a cannabis pode proporcionar”.
Nicklas fez a entrega dos uniformes da MALELI
A docente Sílvia Helena Almeida disse que nenhuma teoria superaria o que aprendeu nas últimas semanas: “Quando você se envolve, você pode estudar. Agora, essa prática que nós estamos vivenciando é como se fosse um projeto educacional”, observou.

Ao encerrar a reunião geral, Cláudia Marin anunciou que juntamente com Nayara Mazini e Fernanda Peixoto, que possui cursos realizados em Israel e no Canadá sobre extração do óleo da cannabis para fins medicinais, promoverá uma roda de conversa para os voluntários da comissão organizadora. A ideia é fornecer a informação precisa para ser difundida como antídoto ao preconceito e à desinformação que cercam o assunto.
Solenidade de aberturta do seminário
* Reportagem publicada na edição de 24.11.2019 do Jornal da Manhã

6 comentários:

  1. Parabéns Célia por tanta sensibilidade e respeito transmitida no seu trabalho!!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada, querida Sueli. Parabéns pelo seu engajamento no grupo. bjs

      Excluir
  2. Parabens a todos os envolvidos. Só confirma a maxima de que a uniao faz toda a diferença.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, minha querida. Muita união em torno de um objetivo comum. Beijão

      Excluir
  3. Sensacional !!! Celinha Ribeiro muito bom trabalhar com você !!! Parabéns pela delicadeza e agilidade em transmitir os fatos !!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, querida Silvia. Foi uma benção conhecê-la e ao grupo todo de voluntários. Nunca vi tanto engajamento e união. Beijão

      Excluir

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.