Célia
Ribeiro
No próximo
sábado, 23 de novembro, Marília sediará o 1º Seminário de Cannabis Medicinal do
Centro Oeste Paulista reunindo médicos, juristas, representantes de ONGs e de
familiares de pacientes que buscam informação sobre o tema. Promovido pela
Escola da Defensoria Pública, Associação Anjos Guerreiros e MALELI-Associação
Canábica de Marília, o evento acontecerá das 8 às 18h, no auditório da UNIMAR
que apoia o seminário juntamente com o HC-FAMEMA, FAMEMA e EPI-Brasil
(Federação Brasileira de Epilepsia).
Mateus observa planta em ponto de colheita |
Diante do
grande interesse que o tema desperta, o seminário contará com a participação de
pessoas de várias regiões do Brasil, com quase 600 inscritos antecipadamente, segundo
informaram a enfermeira Nayara de Fátima Mazini Ferrari e Cláudia Marin Pereira
Castelazi, fundadoras da MALELI e mães de duas crianças que utilizam a cannabis
medicinal. Elas conseguiram habeas corpus na Justiça para cultivarem a planta a
fim de extraírem o óleo empregado no tratamento dos pequenos Mateus e Letícia.
A
necessidade de difundir informações corretas sobre a cannabis motivou a
promoção do seminário. Cláudia Marin afirmou que “a gente não poderia ficar
sentado olhando as pessoas sofrerem, precisando de uma luz, precisando de
qualidade de vida, e a gente ficar sem fazer nada”. Conforme disse, a ideia era
trazer um grande evento ao interior paulista porque congressos, simpósios e
seminários da área normalmente ocorrem apenas nas grandes capitais.
Ela
prosseguiu explicando como foi o processo que angariou apoio de dezenas de
voluntários e de instituições idôneas: “Entramos em contato com médicos e
juristas exatamente para trazermos essa informação que é de muita importância
na vida de muita gente. Para os que conhecem vai somar. Para os que não
conhecem vai trazer a informação. A falta de conhecimento é pelo tabu. A
cultura é que a maconha é uma droga e que nunca foi vista como medicinal”.
Nayara e Cláudia em busca de qualidade de vida para os filhos |
Claudia
Marin relatou sua experiência familiar: “Eu posso dizer, mais do que ninguém,
que vejo meu filho que tinha 80 crises convulsivas por dia e que junto com a
dieta cetogênica e a cannabis fez com que hoje o Mateus estivesse praticamente
zerado em crises convulsivas. É uma criança que teve Síndrome de West, lesão
cerebral, que retirou 25 por cento da massa encefálica. Hoje ele consegue fazer
coisas que não fazia, a parte motora e a imunidade dele melhoraram, ele está
mais feliz e demonstra mais sentimento. Tudo devido à cannabis”.
Ela concluiu
frisando que há muita confusão sobre a cannabis medicinal e a liberação das
drogas: “Não estamos trazendo nada sobre a liberação da maconha para uso
recreativo. Estamos na luta para trazer informação sobre o uso da cannabis
medicinal para tratamento. Estamos falando do óleo da cannabis com princípios
terapêuticos e não do fumo. Não podemos prometer a cura para ninguém. A gente
está em busca de qualidade de vida”.
ESPERANÇA
Por sua vez,
a enfermeira Nayara Mazini, mãe da pequena Letícia, afirmou que “na ciência,
quando se descobre algo que pode salvar a vida de alguém não é justo que esta
descoberta seja restrita ou proibida, ou mesmo que seus avanços se tornem
inatingíveis em razão de interesses adversos. Nós, mães, sentimos na pele cada
dor, cada lágrima de nossos filhos. Vivemos junto com eles todo o sofrimento, o
desespero pela ausência de respostas que nunca chegam”.
Ela
assinalou que “a Medicina Canabinóide entrou em nossas vidas quando já não
restavam opções oportunas num uso compassivo para epilepsia refratária. Hoje me
pergunto quantas lesões poderiam ter sido evitadas se eu tivesse tentado antes.
Enquanto enfermeira saí em busca de conhecimento, desbravando um mundo
totalmente desconhecido, longe de alcance e repleto de preconceito que hoje
vejo como um desrespeito já que priva quem precisa de poder ter uma vida com
esperança, qualidade e sonhos”.
Nayara
contou que “Lelê nasceu com a Síndrome 1p36, uma alteração genética com várias
implicações como má formação cerebral, lábio leporino, cardiopatia, sistema imunológico
comprometido e as várias complicações derivadas desse quadro. A rotina era
terapias intensivas, consultas nas diversas especialidades, pronto socorro,
sucessivas internações inclusive em UTI, medicações para tudo, antibiótico
contínuo, enquanto deveria apenas comer, brincar, dormir e sorrir como qualquer
outra criança”.
Com a
introdução da cannabis, tudo mudou: “Ter a maconha como a última chance não foi
uma decisão simples, mas foi a mais assertiva. A busca por conhecimento sobre
uma alternativa terapêutica que propõe revisão de conceitos, quebra de tabus e
paradigmas me levou à descoberta de pessoas incríveis, que enfrentam o mundo
para mostrar que é possível, que precisamos ser pró ativos e temos direito ao
cuidado apoiado e de ser vistos na integralidade, como seres únicos e
indivisíveis”.
Ela destacou
que “a idealização do Seminário partiu da inquietude de ver pessoas sofrendo,
por diversas condições de doenças e sem esta mesma oportunidade. Fazer o
Seminário em Marília é um sonho que está sendo realizado em coletivo com muito
amor, muita união e dedicação. Letícia é a prova viva de todos os benefícios
que a Cannabis Medicinal pode proporcionar. Muitas crianças, adultos e idosos
precisam da terapêutica com canabinóides, assim como os profissionais precisam
conhecê-la para poder ofertar ao paciente essa alternativa de tratamento”.
Finalizando,
Nayara disse que “é preciso que as pessoas conheçam que há uma possibilidade
para o alívio do sofrimento. É urgente que deixemos o preconceito de lado para
que muitos tenham esperança de qualidade de vida e possam voltar a sonhar. O
desejo de nosso coração é muito simples: ajudar àqueles que precisam”.
PROGRAMAÇÃO
A partir das
8 horas, estão confirmadas as palestras com os juristas: Dr. Amilton Bueno de
Carvalho (CESUSC/TJRS-Desembargador) que abordará o tema “Não seria criminosa a
criminalização do uso de drogas?”, Dr. Benedito Cerezzo Pereira Filho (UFPR/UnB)
com o tema “Do Estado Legislativo ao Estado Constitucional: a responsabilidade
do Judiciário na concretização dos direitos fundamentais” e Dr. Flávio de
Almeida Pontinha (Defensor Público/SP) com o tema “A Construção de
Estereótipos: A criminalização de grupos como instrumento de controle social”.
Quase 600 inscrições antecipadas |
Em seguida
haverá a Roda de Conversa com o tema “Cenário nacional da Cannabis medicinal:
percursos e desafios para a Regulamentação de que precisamos”. A farmacêutica
Dra. Caroline Marroni Cremonez (USP/NEA.TOX/ABHU) abordará o tema “Farmacologia
da Cannabis Medicinal e o Sistema Endocanabinoide”.
Quanto à
palestras médicas, a Dra. Eliane Lima Guerra Nunes (USP/SBEC) falará sobre
“Cannabis Medicinal: Desafios no Brasil para tratamento da Epilepsia, Autismo e
Transtornos Psiquiátricos”; o Dr. Paulo Tomaz Fleury Teixeira (UFMG/UNASUS)
abordará o tema “Cannabis Medicinal: terapêutica canábica na dor crônica, nas
doenças inflamatórias, autoimunes e degenerativas”. E o Dr. Leandro Cruz
Ramires da Silva (UFMG/AMA+ME) fará exposição sobre “Cannabis Medicinal:
abordagem terapêutica em Geriatria e Oncologia”.
Parabéns Célia pela matéria e abordagem deste tema, um belo seminário sendo realizado por varias mãos e com muito carinho, pois "A Vida não espera!".
ResponderExcluirObrigada, Silvia querida. Ansiosa pelo nosso evento!!!
ExcluirCélia, excelente reflexão !!! A vida não espera !!!
ResponderExcluirObrigada, querida!
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