quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CANNABIS MEDICINAL: EVENTO REUNIRÁ MÉDICOS E JURISTAS EM MARÍLIA


Célia Ribeiro

No próximo sábado, 23 de novembro, Marília sediará o 1º Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista reunindo médicos, juristas, representantes de ONGs e de familiares de pacientes que buscam informação sobre o tema. Promovido pela Escola da Defensoria Pública, Associação Anjos Guerreiros e MALELI-Associação Canábica de Marília, o evento acontecerá das 8 às 18h, no auditório da UNIMAR que apoia o seminário juntamente com o HC-FAMEMA, FAMEMA e EPI-Brasil (Federação Brasileira de Epilepsia).
 Mateus observa planta em ponto de colheita


Diante do grande interesse que o tema desperta, o seminário contará com a participação de pessoas de várias regiões do Brasil, com quase 600 inscritos antecipadamente, segundo informaram a enfermeira Nayara de Fátima Mazini Ferrari e Cláudia Marin Pereira Castelazi, fundadoras da MALELI e mães de duas crianças que utilizam a cannabis medicinal. Elas conseguiram habeas corpus na Justiça para cultivarem a planta a fim de extraírem o óleo empregado no tratamento dos pequenos Mateus e Letícia.

A necessidade de difundir informações corretas sobre a cannabis motivou a promoção do seminário. Cláudia Marin afirmou que “a gente não poderia ficar sentado olhando as pessoas sofrerem, precisando de uma luz, precisando de qualidade de vida, e a gente ficar sem fazer nada”. Conforme disse, a ideia era trazer um grande evento ao interior paulista porque congressos, simpósios e seminários da área normalmente ocorrem apenas nas grandes capitais.

Ela prosseguiu explicando como foi o processo que angariou apoio de dezenas de voluntários e de instituições idôneas: “Entramos em contato com médicos e juristas exatamente para trazermos essa informação que é de muita importância na vida de muita gente. Para os que conhecem vai somar. Para os que não conhecem vai trazer a informação. A falta de conhecimento é pelo tabu. A cultura é que a maconha é uma droga e que nunca foi vista como medicinal”.
Nayara e Cláudia em busca de qualidade de vida para os filhos
Claudia Marin relatou sua experiência familiar: “Eu posso dizer, mais do que ninguém, que vejo meu filho que tinha 80 crises convulsivas por dia e que junto com a dieta cetogênica e a cannabis fez com que hoje o Mateus estivesse praticamente zerado em crises convulsivas. É uma criança que teve Síndrome de West, lesão cerebral, que retirou 25 por cento da massa encefálica. Hoje ele consegue fazer coisas que não fazia, a parte motora e a imunidade dele melhoraram, ele está mais feliz e demonstra mais sentimento. Tudo devido à cannabis”.

Ela concluiu frisando que há muita confusão sobre a cannabis medicinal e a liberação das drogas: “Não estamos trazendo nada sobre a liberação da maconha para uso recreativo. Estamos na luta para trazer informação sobre o uso da cannabis medicinal para tratamento. Estamos falando do óleo da cannabis com princípios terapêuticos e não do fumo. Não podemos prometer a cura para ninguém. A gente está em busca de qualidade de vida”.

ESPERANÇA

Por sua vez, a enfermeira Nayara Mazini, mãe da pequena Letícia, afirmou que “na ciência, quando se descobre algo que pode salvar a vida de alguém não é justo que esta descoberta seja restrita ou proibida, ou mesmo que seus avanços se tornem inatingíveis em razão de interesses adversos. Nós, mães, sentimos na pele cada dor, cada lágrima de nossos filhos. Vivemos junto com eles todo o sofrimento, o desespero pela ausência de respostas que nunca chegam”.

Ela assinalou que “a Medicina Canabinóide entrou em nossas vidas quando já não restavam opções oportunas num uso compassivo para epilepsia refratária. Hoje me pergunto quantas lesões poderiam ter sido evitadas se eu tivesse tentado antes. Enquanto enfermeira saí em busca de conhecimento, desbravando um mundo totalmente desconhecido, longe de alcance e repleto de preconceito que hoje vejo como um desrespeito já que priva quem precisa de poder ter uma vida com esperança, qualidade e sonhos”.
 
Nayara e a pequena Letícia
Nayara contou que “Lelê nasceu com a Síndrome 1p36, uma alteração genética com várias implicações como má formação cerebral, lábio leporino, cardiopatia, sistema imunológico comprometido e as várias complicações derivadas desse quadro. A rotina era terapias intensivas, consultas nas diversas especialidades, pronto socorro, sucessivas internações inclusive em UTI, medicações para tudo, antibiótico contínuo, enquanto deveria apenas comer, brincar, dormir e sorrir como qualquer outra criança”.

Com a introdução da cannabis, tudo mudou: “Ter a maconha como a última chance não foi uma decisão simples, mas foi a mais assertiva. A busca por conhecimento sobre uma alternativa terapêutica que propõe revisão de conceitos, quebra de tabus e paradigmas me levou à descoberta de pessoas incríveis, que enfrentam o mundo para mostrar que é possível, que precisamos ser pró ativos e temos direito ao cuidado apoiado e de ser vistos na integralidade, como seres únicos e indivisíveis”.

Ela destacou que “a idealização do Seminário partiu da inquietude de ver pessoas sofrendo, por diversas condições de doenças e sem esta mesma oportunidade. Fazer o Seminário em Marília é um sonho que está sendo realizado em coletivo com muito amor, muita união e dedicação. Letícia é a prova viva de todos os benefícios que a Cannabis Medicinal pode proporcionar. Muitas crianças, adultos e idosos precisam da terapêutica com canabinóides, assim como os profissionais precisam conhecê-la para poder ofertar ao paciente essa alternativa de tratamento”.

Finalizando, Nayara disse que “é preciso que as pessoas conheçam que há uma possibilidade para o alívio do sofrimento. É urgente que deixemos o preconceito de lado para que muitos tenham esperança de qualidade de vida e possam voltar a sonhar. O desejo de nosso coração é muito simples: ajudar àqueles que precisam”.

PROGRAMAÇÃO

A partir das 8 horas, estão confirmadas as palestras com os juristas: Dr. Amilton Bueno de Carvalho (CESUSC/TJRS-Desembargador) que abordará o tema “Não seria criminosa a criminalização do uso de drogas?”, Dr. Benedito Cerezzo Pereira Filho (UFPR/UnB) com o tema “Do Estado Legislativo ao Estado Constitucional: a responsabilidade do Judiciário na concretização dos direitos fundamentais” e Dr. Flávio de Almeida Pontinha (Defensor Público/SP) com o tema “A Construção de Estereótipos: A criminalização de grupos como instrumento de controle social”.
Quase 600 inscrições antecipadas

Em seguida haverá a Roda de Conversa com o tema “Cenário nacional da Cannabis medicinal: percursos e desafios para a Regulamentação de que precisamos”. A farmacêutica Dra. Caroline Marroni Cremonez (USP/NEA.TOX/ABHU) abordará o tema “Farmacologia da Cannabis Medicinal e o Sistema Endocanabinoide”.

Quanto à palestras médicas, a Dra. Eliane Lima Guerra Nunes (USP/SBEC) falará sobre “Cannabis Medicinal: Desafios no Brasil para tratamento da Epilepsia, Autismo e Transtornos Psiquiátricos”; o Dr. Paulo Tomaz Fleury Teixeira (UFMG/UNASUS) abordará o tema “Cannabis Medicinal: terapêutica canábica na dor crônica, nas doenças inflamatórias, autoimunes e degenerativas”. E o Dr. Leandro Cruz Ramires da Silva (UFMG/AMA+ME) fará exposição sobre “Cannabis Medicinal: abordagem terapêutica em Geriatria e Oncologia”.











4 comentários:

  1. Parabéns Célia pela matéria e abordagem deste tema, um belo seminário sendo realizado por varias mãos e com muito carinho, pois "A Vida não espera!".

    ResponderExcluir

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.