domingo, 31 de maio de 2020

LIVES QUE ABORDAM O DESENVOLVIMENTO PESSOAL ATRAEM ATENÇÃO DE PROFISSIONAIS.

 Por Célia Ribeiro

“Enquanto uns choram, outros vendem lenços”. A frase é antiga e muito utilizada em treinamentos de vendas. Mas, nunca foi tão verdadeira como nestes tempos bicudos em que o desemprego é uma ameaça real e as empresas lutam para manterem as portas abertas. Por isso, usar as lives para abordar temas relacionados ao desenvolvimento pessoal e profissional, acabou sendo uma solução criativa por quem trabalha com treinamentos corporativos e espera contribuir para aliviar a carga de estresse nesta fase.
Sonia leva informações em lives no Instagram, toda 4a feira.
Um exemplo é o da palestrante e docente Sonia Santos: ex-gerente comercial, ela é especialista em Gestão de Pessoas, Marketing e Gestão Estratégica de Negócios. Seu treinamento, tanto para grupos, como em ambientes corporativos, sempre foi presencial, embora a ideia de lançar-se no meio digital estivesse sendo amadurecida.

Com a quarentena e o isolamento social, ela decidiu aderir às lives pelas redes sociais, como grande parte dos artistas têm feito. Só que ao invés de cantar ou tocar um instrumento, Sonia apresenta um tema, que anuncia previamente, deixando os participantes à vontade para interagirem, fazendo perguntas e compartilhando suas experiências. Até a última quarta-feira, ela realizou 10 edições, sempre às quartas-feiras, às 20 horas, no perfil http://www.instagram.com/sonia.transformese
Antes da pandemia, treinamentos em grupos e para empresas
Ela contou, em entrevista ao JM, sobre esse trabalho que tem ajudado pessoas a se descobrirem em vários aspectos: “Meu treinamento consiste em apoiar pessoas a identificarem e desenvolverem o próprio potencial. Nós focamos em quatro áreas principais: autoconfiança, comunicação, relações humanas e o controle do estresse. Entendemos que são as quatro áreas propulsoras do sucesso. Essas áreas também podem impedir, como se fossem barreiras, que as pessoas alcalcem o que desejam”.

Sonia observou que “a gente trabalha o desenvolvimento pessoal para que as pessoas alcancem resultados na vida profissional e também pessoal. Ela se destina a pessoas que realmente querem se desenvolver”. E explicou que, após trabalhar como gerente de loja, por 20 anos, deu uma guinada na carreira ao participar de um treinamento que a impactou profundamente.
Sonia Santos

Conforme disse, “conheci um treinamento que realmente mudou a minha vida. Que me deu algumas respostas com relação a autoconhecimento, à autoconfiança e melhores decisões. E eu queria levar isso para outras pessoas que é algo que realmente fez a mudança na minha vida. Que é possível usar ferramentas diferentes de comunicação, de lidar com pessoas e de estresse, que realmente pode nos apoiar em resultados”.

Como docente e palestrante, Sonia afirmou que “não conseguia ver isso em livros.
Entendi que eu poderia incluir isso nas minhas palestras, nas minhas aulas, porque sou docente. A frase que eu uso quando resolvi mudar totalmente minha área de atuação é que eu quis apoiar pessoas a reconhecer e desenvolver o próprio potencial. Essa frase que eu usei para entender que eu teria que fazer mudanças e sair da minha área de conforto para entrar em uma área nova de atuação.”

OPORTUNIDADE

Com a pandemia, Sonia decidiu focar em um dos pontos dos seus treinamentos: o controle do estresse. “Lidar com ansiedades, lidar com situações adversas, tem tudo a ver com a pandemia. Nós temos alguns pequenos princípios de estresse que nos ajudam em pequenas coisas; às vezes é uma palavra que alguém fala e acaba com seu dia, mas que a gente se treina. É o mesmo processo com as coisas grandes. Essa é a ideia: a gente treina em pequenos movimentos porque, quando vêm as coisas grandes, a gente já sabe lidar”.
Profissionais procuram o treinamento para se desenvolverem
Ela explicou que na live desta semana, abordou aspectos como “aceitar o que não pode mudar. Mas é um treino de verdade e não achar que é só uma teoria. A gente se treina a reagir de forma diferente. Entendi que quando a gente se treina em coisas pequenas, quando vem o grande fica um pouco mais fácil. A gente está mais com o autocontrole, não do que acontece mas como a gente reage, que pode fazer diferente”.

Sonia comentou que a cada live observa o retorno dos participantes que a procuram para contar suas experiências e como o tema abordado foi importante em suas vidas. Por isso, as lives terão lugar em seu trabalho mesmo quando tudo voltar à normalidade: “Eu já tinha planos de entrar na parte de mídia digital, mas para mim estava confortável na parte física dos presenciais. A gente sabe que, às vezes, precisa de um empurrãozinho. E esse empurrãozinho da pandemia me fez migrar para o digital. A ideia é trabalhar os dois. Cada um tem a sua entrega. Eu trago temas que levam para os ganhos profissionais, mas que também nos ajudam demais no pessoal.”
Evento no Univem: Sonia também profere palestras
Finalizando, Sonia afirmou que trabalhar as potencialidades de cada um tem ganhos em várias áreas: “Hoje, estou percebendo que essas habilidades, tão importantes no ambiente presencial, são igualmente essenciais no mundo virtual. Fazer um bom marketing pessoal, despertar interesse nas pessoas, para comprarem seu produto ou serviço, depende da sua autoconfiança, do seu network e comunicação adequada.  Cada vez mais se confirma a frase:" Faça o seu melhor para ter resultados melhores."



Saiba mais em: http://www.instagram.com/sonia.transformese

* Reportagem publicada na edição de 31.05.2020 do Jornal da Manhã


domingo, 24 de maio de 2020

GENÉTICA DO AMOR: CINCO IRMÃS PRODUZEM E DOAM PÃES PARA FAMÍLIAS CARENTES.

Por Célia Ribeiro

Quando a ONG Projeto Semear inaugurou a sede própria, em fevereiro deste ano, Sandra Mara Luiz Ribeiro voltou a ter sua residência apenas para a família. Afinal, desde 2011, ela recebia as crianças do Jardim Cavalari e adjacências, aos domingos de manhã, oferecendo-lhes lanche e recreação. No entanto, preocupada com a quarentena, ela começou a produzir pães e doar às famílias mais necessitadas e a casa voltou a sediar um trabalho social.
Entrega de pães com todo cuidado por causa da pandemia
Com a ajuda de quatro irmãs --- Mary Rose, Ana Cláudia, Ana Paula e Vanessa--- e do pai Sr. Osmar, Sandra transformou a residência novamente em fábrica de solidariedade, produzindo “pão solidário” para as 125 famílias cadastradas na ONG. “As crianças estavam acostumadas a lanchar na ONG. A gente comprava bisnaguinha para ajudar a padaria da ‘Amor de Mãe’ e também fazia bolos. Com a quarentena, as crianças ficam em casa e nem sempre têm o que comer”, justificou.
Sandra e os pães solidários

Para entender a generosidade de Sandra Ribeiro, é preciso lembrar o início do Projeto Semear. Ela pediu doações de livros no trabalho e a ajuda veio na forma de vários interessados em ampliar o projeto social que ela começou despretensiosamente. Com o tempo, a ONG foi se estruturando e hoje conta com 200 voluntários, conforme registrado na reportagem de domingo passado. E Sandra se tornou funcionária da instituição.

Voltando ao pão: ao contar sua ideia, de pronto Sandra recebeu o apoio dos familiares. “A gente fez escala copiando o que a ONG faz com os voluntários. Por exemplo, meu pai cuida do forno para não queimar os pães”, disse gargalhando. Enquanto uma irmã cuida da massa, outra se ocupa da limpeza e até uma sobrinha vai levar pães para quem não consegue buscar.

Com isso, a residência que abrigou o Projeto Semear, localizada à Rua Mario de Albuquerque Lima, 54, no Jardim Universitário, voltou a registrar movimento. De um lado, chegam doações de matéria prima (leite, ovos, trigo e fermento), geralmente de voluntários da ONG e de outro, pessoas da comunidade, previamente cadastradas, vão retirar os pães.

INICIATIVA

Em pé: Sandra, Mary Rose e Ana Cláudia.
Sentadas, Ana Paula e Vanessa
Sandra contou que produziu as primeiras fornadas com o que tinha de matéria prima disponível. E que, ao contar para as irmãs, recebeu ajuda para aumentar a produção. Já quando a informação chegou ao grupo de WhatsApp dos voluntários da ONG, começaram a chegar doações de todo lado o que fez com que a produção ganhasse escala.
Sr. Osmar cuida do forno

“Tem os que vêm buscar. Mas, a gente também doa pães para uma pessoa que conhece as famílias mais necessitadas da favela e ela distribui lá”, explicou. Conforme disse, assim que os pães ficam prontos, são enviadas mensagens no grupo de mães da ONG e rapidamente tudo é entregue.

Sandra comentou que ficou “angustiada na quarentena pensando que as crianças não tinham mais lanche. Por isso, decidi fazer alguma coisa para ajudar”. Agora, a família toda está envolvida: “Tem serviço para todo mundo e até meus filhos e sobrinhos ajudam. Acho importante ocupar o tempo”, frisou.

Sandra disse que todas as doações são bem-vindas e “não fazemos questão de marca. Mas, gostamos muito de farinha de trigo Nitta e Venturelli porque o nosso pão fica muito gostoso”. Quem quiser, pode doar também ovos, leite e fermento biológico seco. Para entrar em contato com ela, o telefone é (14) 996604977.
Atividade da ONG no quintal de Sandra antes da sede ficar pronta
Enquanto a pandemia pelo Covid-19 continua provocando tantas perdas, o exemplo da Sandra e familiares faz lembrar o milagre da multiplicação de pães e peixes (Mateus, 14: 13-21). Com boa vontade e o amor ao próximo desses voluntários, dezenas de famílias podem contar com o pão nosso de cada dia.

Reportagem publicada na edição de 24.05.2020 do Jornal da Manhã

Leia sobre o início da ONG acessando AQUI

domingo, 17 de maio de 2020

NA QUARENTENA, SEMENTES DA SOLIDARIEDADE BROTAM EM SOLO FÉRTIL DE ENTIDADE.


Por Célia Ribeiro

Desde o início da pandemia, o maior impacto da quarentena recaiu sobre as famílias de baixa renda em que predominam trabalhadores informais e desempregados. Para essa expressiva parcela da população, a mão estendida da sociedade pode ser a diferença entre ter ou não ter o que colocar no prato. Por isso, a atuação de ONGs como o Projeto Semear, em Marília, está contribuindo para socorrer as famílias em um momento aterrador da história mundial.
Marmitas do SESI para as famílias

Com cerca de 200 voluntários, o Projeto Semear é referência em organização e transparência. Em seu SITE, a prestação de contas detalha tudo o que recebe e como investe os recursos doados pela comunidade. Não é à toa que a entidade conta com a adesão de empresas, clubes de serviço e cidadãos comuns que querem ajudar de alguma maneira.

O Projeto Semear possui 125 famílias cadastradas e atende 173 crianças e adolescentes na zona oeste, com o desenvolvimento de inúmeras atividades educacionais, culturais (veja vídeo de Eloisa nesta página) e esportivas. Com a sede própria inaugurada em fevereiro, foi preciso pensar em alternativas.

Em entrevista por WhatsApp, a diretoria informou que, “nos adaptamos a esta nova realidade e tomamos as precauções necessárias. Suspendemos de imediato as atividades com a participação de crianças e adolescentes fazendo o devido resguardo e isolamento. Porém é importante não perder os vínculos com os atendidos, vínculo social, afetivo e emocional, sendo este último o mais importante neste momento de fragilidade coletiva em que a solidão, na suas variadas formas de expressão, pode causar mais problemas”.
125 famílias contam com o cartão abastecido para comprar comida
Utilizando mensagens por aplicativo de celular, dirigentes, voluntários e as mães e famílias atendidas, estão em contato permanente, o que facilita na hora de socorrer quando surge uma situação emergencial: “Muitas famílias precisam da continuidade no trabalho de conjunto de orientação que fazemos e toda vez que surge uma necessidade maior, mesmo material, procuramos sanar de imediato”, explicou a nota.

Bugga: a cada pizza comprada, outra é doada às famílias cadastradas
Um dos grandes parceiros da ONG é o Tauste Ação Social. Dos 125 cartões recarregáveis doados às famílias, com crédito de 70 reais, a empresa doou 10 reais. Por três meses, as famílias contarão com esse reforço que não permite compra de cigarros ou bebidas alcoólicas. Através da conta do Semear em que a comunidade e empresários têm feito doações da campanha “Marília Contra o Covid-19”, foram carregados 350 cartões com 70 reais e doados a entidades para distribuição a famílias carentes cadastradas, além de adquiridos dois respiradores doados ao Hospital de Clínicas de Marília.

ORIENTAÇÃO

“A ONG Semear só está com as portas físicas fechadas, porém os trabalhos continuam e todo o dia tem novas situações que demandam nossa atenção e soluções. São muitas famílias com histórico e realidades diferentes. Educar para que tenham mais autonomia, para que aprendam a utilizar os recursos assistenciais oferecidos pelos governos, contribuir para a formação de um núcleo familiar mais integrado, entre si, e com a sociedade em que estão inseridos é trabalho contínuo”, informou a direção.
 
O Fundo de Solidariedade doou 200 cestas para a ONG
Segundo a presidente Sônia Mara Mattar, “apesar de estarmos sem atividades, não poderíamos deixar as crianças sem chocolate na Páscoa. Prezamos muito na ONG em fazer para as crianças e adolescentes o mesmo que fazemos para os nossos filhos. No mesmo dia que entregamos os chocolates, foram entregues sabonetes arrecadados pelo Projeto Semeando Amor formado por jovens”.
 
Na Páscoa teve chocolate
Além disso, com a queda da temperatura, a ONG está doando 180 cobertores para crianças e adolescente assistidos. E, através de ação solidária do Bugga Pizzaria, semanalmente, as famílias estão recebendo uma pizza quentinha: de segunda a quinta-feira, a cada pizza vendida ao público, outra é destinada à ONG. Na primeira semana, foram sorteadas 50 famílias entre as 125. E, assim, a cada semana, quem não recebeu a pizza entra no sorteio da sexta-feira seguinte.

A parceria com o SESI é outro reforço: “Recebemos as marmitas e por iniciativa de uma das funcionárias, que conhece bem a realidade de cada célula familiar, conseguimos direcionar um número de marmitas por residência que satisfaça a fome do grupo, e não enviar apenas uma por família, o que seria incoerente da nossa parte. Fazemos assim um rodízio das famílias que recebem, em determinado dia, as marmitas prontas e nos dias em que não contam com as marmitas podem se socorrer da cesta básica recebida”, explicou a diretoria.

A ONG recebeu a doação de 200 cestas básicas do Fundo Social de Solidariedade, além de doações da live do Programa “Arena de Ouro” junto com a loja JJ Ranch. Por sua vez, uma voluntária confeccionou e doou 200 máscaras de tecido para as famílias.

VOLUNTÁRIOS

A diretoria destacou a importância do trabalho voluntário: “Sem ele não se faz nada, as atividades correm o risco de não se realizarem porque um, ou outro, deixou de fazer a parte que lhe cabia, deixou por exemplo de enviar aquele ofício na data prevista, deixou de comparecer no horário combinado, deixou seu posto, sua missão. Ser voluntário é algo que requer disponibilidade, organização do tempo e disciplina, para com você mesmo e para com os outros”.
(Esq.) Sônia Mattar com Dra. Paloma Libanio Nunes
Superintendente do HC-Famema
E prosseguiu: “Na ONG Semear ninguém é dono de nada, não tem chefe, porém temos a consciência da formação de lideranças para garantir a continuidade do projeto e a sua ampliação quando assim for possível. Lembramos sempre da parábola dos voo dos gansos em que os líderes do grupo se revezam continuamente na ponta e emitem sons que entusiasmam os que estão atrás a continuar batendo as asas e voando mais alto e mais longe”.
Cobertor doado neste
fim de semana

Para ajudar, acesse: http://www.projetosemearmarilia.org.br/como-ajudar/ São bem-vindos: alimentos, ingredientes para compor as cestas básicas, material de limpeza, material de higiene pessoal, fraldas geriátricas, temperos, farinha de trigo, leite, pães, achocolatados e sucos, entre outros.  

Reportagem publicada na edição de 17.05.2020 do Jornal da Manhã

Neste blog há outras reportagens sobre o Projeto Semear.
Acesse AQUI  e AQUI








LEIA A ENTREVISTA COMPLETA:

A ONG tinha inaugurado, há pouco tempo, sua sede própria quando fomos surpreendidos pela pandemia. Como a instituição está atuando no período de quarentena?

“Nos adaptamos a esta nova realidade e tomamos as precauções necessárias. Suspendemos de imediato as atividades com a participação de crianças e adolescentes fazendo o devido resguardo e isolamento. Porém é importante não perder os vínculos com os atendidos, vínculo social, afetivo e emocional, sendo este último o mais importante neste momento de fragilidade coletiva em que a solidão, na suas variadas formas de expressão, pode causar mais problemas.
Temos vários grupos de watSapp, dos dirigentes, dos dirigentes e voluntários e o das mães/famílias que é muito ativo.Estamos sempre à disposição, ouvir é uma atitude que gera mais resultados muitas vezes do que servir uma cesta básica ou dar algo material. Muitas famílias precisam da continuidade no trabalho de conjunto de orientação que fazemos e toda vez que surge uma necessidade maior, mesmo material, procuramos sanar de imediato. 
Ser presente na vida das pessoas é algo muito importante, sabemos disso e cultivamos relacionamentos com vistas a passar este mesmo sentimento e atitude a todos que compartilham do Semear”. 

As crianças e adolescentes atendidos realizavam uma série de atividades no contra turno. Como vocês equacionaram essa situação?

“Não há como resolver tudo de imediato. Eleger prioridades é uma decisão que ajuda a administrar situações inesperadas e é isto que temos feito. Suspendemos as atividades presenciais porque requerem contato físico. Como dito, procuramos estar presentes de outras formas.”

Está acontecendo algum tipo de atividade na nova sede?

“Sim. Cumprindo os requisitos de segurança e saúde prescrita na quarentena está com dois funcionários que fazem o “meio de campo” com as famílias atendidas e com os devidos equipamentos de proteção quando se faz necessário o contato mínimo pessoal. Diretores e voluntários ficam atentos a qualquer possibilidade de arrecadação de doações de alimentos e outros itens, e quando conseguem já procedemos a distribuição imediata do que recebemos, sempre com muito critério. Nossa principal ferramenta de apoio neste e em outros momentos das atividades é o cadastro sempre atualizado que mantemos das famílias assistidas.
Saber e conhecer a realidade de cada célula social atendida faz a diferença no momento de separar e distribuir alimentos e montar as cestas básicas, em outro aspecto, de manter uma constante atenção para a questão psicossocial e encaminhar pessoas para profissionais voluntários que estão se dispondo a trabalhar em conjunto.
A ONG Semear só está com as portas físicas fechadas, porém os trabalhos continuam e todo o dia tem novas situações que demandam nossa atenção e soluções. São muitas famílias com histórico e realidades diferentes. Educar para que tenham mais autonomia, para que aprendam a utilizar os recursos assistenciais oferecidos pelos governos, contribuir para a formação de um núcleo familiar mais integrado, entre si, e com a sociedade em que estão inseridos é trabalho contínuo.
Saber buscar direitos, por exemplo, é uma orientação que fazemos rotineiramente com vistas a formar cidadãos e cidadãs mais autônomos e menos dependentes de uma sociedade cada vez mais individualista”.

As famílias assistidas são de baixíssima renda. A ONG está apoiando essas pessoas? De que forma?

“Como dito, por meio de transferência de doações que são encaminhadas para a ONG por empresas, pessoas ou grupos que se organizam para prestar alguma assistência. Temos a parceria com o SESI, por exemplo, recebemos as marmitas e por iniciativa de uma das funcionárias que conhece bem a realidade de cada célula familiar conseguimos direcionar um número de marmitas por residência que satisfaça a fome do grupo, e não enviar apenas uma por família, o que seria incoerente da nossa parte.
Fazemos assim um rodízio das famílias que recém em determinado dia as marmitas prontas, e nos dias em que não contam com as marmitas podem se socorrer da cesta básica recebida.
Outra ajuda é o pão solidário. A Sandra, hoje funcionária da ONG, tomou a iniciativa de confeccionar pães e distribuir para as famílias. Pão caseiro, feitos com ingredientes de qualidade e embalados para transporte. Atuando de forma consciente ficou decidido que as crianças não podem comparecer na ONG para retirar as doações, apenas adultos, e mais, adultos que estejam utilizando máscara caso contrário não serão atendidos. 
Tudo é informado previamente pelo grupo do watSapp, ferramenta que se tornou extremamente eficaz no relacionamento com as famílias atendidas. Tudo funciona com um relógio e assim vamos contribuindo para outro fator que reputamos da maior importância – A integração das famílias. Ordem, organização, respeito ao próximo, solidariedade, responsabilidade civil e comunitária são assuntos trabalhados de forma subliminar em cada ação que desenvolvemos.
Desta forma queremos e esperamos que num futuro não muito distante estas mesmas famílias, e não somente as crianças atendidas, se tornem parceiras e fomentadoras de outras ações e células que visam a promoção humana.Já temos história de crianças/jovens atendidos pela ONG no passado que hoje se tornaram tutores de atividades desenvolvidas na própria ONG. Contamos sempre com a imprescindível parceria das universidades, dos clubes de serviço, de entidades autônomas, das empresas e de pessoas que se disponham a dar um pouco do seu tempo, ou mesmo do seu talento profissional em prol de outras pessoas. É uma corrente do bem.”

Como a comunidade pode contribuir com a ONG neste momento?

“Aceitamos doações de qualquer natureza. Alimentos, ingredientes para compor as cestas básicas, material de limpeza, material de higiene pessoal, fraldas geriátricas, temperos, farinha de trigo, leite, pães, achocolatados e sucos, entre outros são bem vindos. Na dúvida sobre o que doar ou de que forma contribuir pode ligar que atenderemos com o maior carinho e gratidão.
Quando tudo voltar ao normal nós mantemos um programa de inscrição para novos voluntários e para propostas de novas atividades voluntárias, programas e projetos. Assim que recebidos são analisados e avaliados de que forma podem ser postos em prática, ou em que período podem acontecer, sempre respeitando um calendário de atividades, um plano de trabalho previamente organizado a cada início de ano”.

Outras considerações que achar importante.

“Toda Organização não Governamental depende de alguns fatores que são decisivos para sua criação, manutenção e perpetuação. Um deles é o comprometimento dos voluntários. Sem ele não se faz nada, as atividades correm o risco de não se realizarem porque um, ou outro, deixou de fazer a parte que lhe cabia, deixou por exemplo de enviar aquele ofício na data prevista, deixou de comparecer no horário cominado, deixou seu posto, sua missão. Ser voluntário é algo que requer disponibilidade, organização do tempo e disciplina, para com você mesmo e para com os outros. 
Isto posto é bom dizer que temos um grupo de voluntários que está em constante aperfeiçoamento porque é sabido que ninguém é perfeito.O ideal quando pensamos o futuro de qualquer entidade que atua no terceiro setor é formar além de colaboradores capacitados para as ações sócias, também formar novos líderes, gente que esteja pronta para tomar a frente de novos projetos ou mesmo dar continuidade em já existentes quando for necessário uma substituição. 
Na ONG Semear ninguém é dono de nada, não tem chefe, porém temos a consciência da formação de lideranças para garantir a continuidade do projeto e a sua ampliação quando assim for possível. Lembramos sempre da parábola dos vôo dos gansos em que os líderes do grupo se revezam continuamente na ponta e emitem sons que entusiasmam os que estão atrás a continuar batendo as asas e voando mais alto e mais longe. 
De uma forma poética dizemos que os sons por nós emitidos são as batidas dos corações fraternos, dos que estão dentro e atuantes no projeto, das famílias atendidas e de todos os cidadãos que e a comunidade que de alguma forma se faz presente. E o melhor de tudo isto é que percebemos que nossas crianças, as famílias atendidas, o bairro, as pessoas percebem isso e querem sempre colaborar mais e como podem.
Talvez seja esta a fórmula de uma sociedade mais justa e ideal para todos. A igualdade está no SER e não apenas no TER. Muito obrigado.”



sexta-feira, 8 de maio de 2020

FAMÍLIAS CONTAM SOBRE A VIDA NA PANDEMIA E PSICÓLOGA AVALIA IMPACTOS DA QUARENTENA.

Por Célia Ribeiro

A pandemia do Covid 19 dividiu a civilização entre AC e DC. O mundo jamais será como antes e, neste momento, no olho do furacão, qualquer previsão poderá cair por terra. Para falar sobre os impactos do novo coronavírus, o JM ouviu uma psicóloga clínica e duas famílias que enfrentam situações diferentes, mas igualmente aflitivas. A primeira com dois filhos pequenos e cheios de energia e a segunda formada pelo casal, com filhos crescidos e netos, que teve que abandonar os passeios e viagens para se isolar em casa.
Maristela colombo

A fonoaudióloga Regiane Pires de Matos, mãe de dois garotos de 07 e 12 anos, tinha uma vida movimentada até o início de março: além do trabalho e do cuidado com os filhos, aproveitava o tempo livre para malhar na academia, sair com o grupo de amigos do casal, visitar os pais que moram no mesmo condomínio e gerar conteúdo sobre vida saudável para suas redes sociais.

Asmática, ela trabalhou um tempo normalmente e depois teve que se render ao home office por estar no grupo de risco para o Covid 19. Para piorar, os pais idosos proibiram qualquer aproximação e ela decretou que os filhos e o marido Eduardo deveriam ficar trancados em casa. Isso durou uma semana. Apesar de seus apelos, os meninos foram, aos poucos, brincar na rua em frente à residência, distantes de outros garotos, mas ao ar livre. O marido começou a se encontrar com os vizinhos na calçada, mantendo distância, mas fazendo happy hour. É proibido um entrar na casa do outro.

Regiane cozinha com caçula Eduardo
Regiane contou que estava apavorada com medo do contágio, mas conversando com outras pessoas, viu que estava radicalizando. Mesmo tomando todos os cuidados, notou que seria impossível manter a família completamente isolada do mundo. Neste tempo, ela aproveitou para colocar a leitura em dia, repaginou o jardim, contratou um plano de exercícios físicos com personal à distância e passou a malhar em casa. Além disso, resgatou receitas afetivas para cozinhar e entreter a família com histórias sobre os pratos.

Regiane e o marido Eduardo
Com a volta às aulas on line, os meninos ficaram mais ocupados e a nova rotina da casa, com menos tempo ocioso, contribuiu para amenizar as dificuldades iniciais. O que Regiane sente muito é não pode estar com seus pais que chegaram a chorar em uma videochamada na Páscoa, tamanha a saudade. Que tristeza estar a 100 metros dos netos e não poder abraça-los.

TRABALHO DOMÉSTICO

Renata Brandão e Eduardo Ramos são muito festeiros. Adoram reunir amigos e familiares em casa e estão sempre viajando. Com dois filhos adultos e dois netos, eles aproveitam para passear quase todos os finais de semana. Por isso, a quarentena teve um impacto muito grande na vida do casal.

Na primeira semana, refizeram os jardins de casa. Na segunda semana iniciaram uma horta com temperos em vasos e daí em diante a coisa complicou: “Aproveitamos para consertar tudo o que estava quebrado em casa” contaram dizendo que era uma maneira de ocupar o tempo livre que não tinham antes.
Renata e Eduardo: viagens
só na lembrança

Além disso, passaram a dividir as tarefas domésticas que é a parte que Eduardo não achou muito bacana. Rindo, ele disse que estar sempre em casa tinha esse inconveniente da esposa ficar dando trabalho para ele. Mas, em seguida, afirmou que o isolamento social fez com que tivessem mais tempo um com outro e passaram a aproveitar mais o relacionamento como casal e a namorar mais.

Renata contou que para ocupar o tempo, mandaram construir um fogão à lenha onde estão cozinhando bastante nos últimos dias. Ao ar livre, mesmo no quintal de casa, ainda é melhor que nos primeiros dias porque estão aproveitando a novidade.

MUDANÇA INTERIOR

Segundo a psicóloga clínica Maristela Colombo, “o Covid 19 mudou a forma de viver. O mundo não vai voltar a ser mais como era antes. Essa é a questão crucial que muitas pessoas não querem entender. Daqui pra frente, tudo será diferente e vai depender de cada um como será esse futuro. Estamos tendo que nos adaptar rapidamente a viver de um jeito que não sonhávamos e não imaginávamos”.  Chefe da Seção Técnica do Serviço Psicossocial Clínico do Tribunal de Justiça – Unidade Marília, ela é Mestre em Ciências Sociais, psicodramatista e tatadramatista terapeuta EMDR.

Conforme disse, as pessoas reclamavam da falta de tempo e agora se deparam com uma situação inusitada: “De repente o ser humano se vê privado da sua liberdade, tão cara a ele. Isolamento social, ficar em casa, higiene máxima. Evitar aglomerações. O ficar em casa, ao invés de ser visto como algo prazeroso, pois casa simboliza abrigo, virou prisão. Olhar para a casa tem o mesmo significado de olhar para dentro de si mesmo. O ficar em casa fez com que, inicialmente, as pessoas começassem a fazer limpezas, arrumar gavetas, cozinhar, varrer, lavar, etc. e isso passou a ser um castigo e não algo agradável”.
Fogão à Lenha é distração
A psicóloga observou que “as relações afetivas, sociais e familiares mudaram. Ter que reaprender a conviver com os membros da família, dividir espaços e tarefas ficou muito complicado. Reorganizar o mundo, entender o que está acontecendo, aceitar tantas mudanças em pouco tempo fica muito difícil para aquelas pessoas que não tinham espaços, internos e externos, para si mesmas”.

Muitos idosos estão com dificuldades para assimilar as mudanças que os obrigam a ficar resguardados. Mas, as crianças, sem poder ir à escola ou estar com os amiguinhos, também estão sentindo muito: “As crianças têm muita energia e precisam gastá-la. É o momento do adulto inventar brincadeiras e aproveitar para estar próximo às crianças e com isso próximo a sua criança interior”, sugeriu.
Regiane e o filho Leonardo
Para Maristela Colombo, a quarentena poderá ser utilizada para outras mudanças: “A casa pode oferecer um espaço de reconhecimento da nossa identidade, em especial para nós mesmos. Veja, temos a oportunidade de voltar a enxergar a casa, as pessoas que nela habitam. Voltar a olhar nos olhos daqueles que estão ao nosso lado. Brincar, pisar a terra, cozinhar, costurar, fazer com as mãos. Fazer com amor”.

Finalizando a psicóloga deixou uma mensagem aos leitores: “O poema ‘MUDE’ de Edson Marques que é muito válida para esse momento: ‘Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. {...} ‘O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!”    https://www.pensador.com/mude_mas_mude_devagar/




Leia sobre o trabalho de Maristela Colombo acessando AQUI

ENTREVISTA COMPLETA COM MARISTELA COLOMBO

Já estamos há quase 2 meses em quarentena. Vemos muitas pessoas reclamando do isolamento. O que essa mudança provoca no psicológico das pessoas?

O termo Isolamento Social provoca insegurança, ansiedade e muito medo do que está por vir. O desrespeito a essa orientação tem a ver com a negação de algo tão devastador como é o coronavirus. O Covid 19 mudou a forma de viver, o mundo não vai voltar a ser mais como era antes. Essa é a questão crucial que muitas pessoas não querem entender. Daqui pra frente, tudo será diferente e vai depende de cada um como será esse futuro. Estamos tendo que nos adaptar rapidamente a viver de um jeito que não sonhávamos e não imaginávamos. 


Vivemos, atualmente, em um mundo que nos incentiva a todo o momento a vivermos fora de casa e fora de nós mesmos. Boa parte do nosso tempo passamos em lugares que não nos pertencem, que não são caracterizados pela marca da nossa identidade pessoal. O convívio social em espaços coletivos exige a supressão momentânea de boa parte do que somos, de como pensamos e sentimos.

A tecnologia e as redes sociais com seu mundo inovador, rápido e fluido, abriram as portas para que o ser humano pudesse ser visto e pudesse se expressar a partir das mídias de uma forma nunca vista. Passamos a querer falar e não mais ouvir. Falar coisas sem passar pelo crivo da boa educação e das regras sociais de convivência. Essa forma de se comunicar acentuou ainda mais a questão do ser humano não lidar com seu sofrimento e suas frustrações, dando vazão a se criar muitas imagens fantasiosa de si mesmo para colocar nos seus perfis e assim obter muitos likes.

O Coronavirus - Covid 19 trouxe uma mudança dos valores estabelecidos pela sociedade até então. De repente o ser humano se vê privado da sua liberdade, tão cara a ele. Isolamento social, ficar em casa, higiene máxima. Evitar aglomerações. 

O ficar em casa, ao invés de ser visto como algo prazeroso, pois casa simboliza abrigo, virou prisão. Olhar para a casa tem o mesmo significado de olhar para dentro de si mesmo. 
O ficar em casa fez com que, inicialmente, as pessoas começassem a fazer limpezas, arrumar gavetas, cozinhar, varrer, lavar, etc. e isso passou a ser um castigo e não algo agradável. 

Todo mundo reclamava de não ter tempo, mas, porem quando algo da natureza do Covid acontece, as pessoas se perdem de si mesmas. As relações afetivas, sociais e familiares mudaram. Ter que reaprender a conviver com os membros da família, dividir espaços e tarefas ficou muito complicado. Reorganizar o mundo, entender o que está acontecendo, aceitar tantas mudanças em pouco tempo fica muito difícil para aquelas pessoas que não tinham espaços, internos e externos, para si mesmas.

2. Quem sofre mais? Crianças, adultos ou idosos. E por que?

A pandemia traz muita dor tanto para crianças quanto para adultos e idosos. Porém, o adulto e o idoso podem entender, cognitivamente falando, melhor todas essas situações de isolamento. Os não abraços, os não beijos e os não toques. O uso de máscaras, o tirar sapatos para entrar em casa, o lavar as mãos. Isso nos assusta. Tem idoso que não aceita bem o limite imposto para protegê-los e se irrita por não poder sair. Mas para acriança que precisa se adaptar a essas mudanças isto pode causar uma certa irritabilidade, uma dificuldade de expressas sentimentos que ela mesma ainda não entende. Uma dificuldade de entender que não pode mais brincar com o amigo, ir ao parque, ir à escola. As crianças têm muita energia e precisam gastá-la. É o momento do adulto inventar brincadeiras e aproveitar para estar próximo às crianças e com isso próximo a sua criança interior.

3. Como amenizar os efeitos do isolamento? 

Pensar um pouco sobre o s caminhos que fazemos, sobre as decisões que tomamos. Precisamos nos conhecer para conhecer o outro. Estamos tendo a oportunidade de aprender a empatia, a espontaneidade, a criatividade. Estamos tendo que fazer diferente. Transformar essa situação é o melhor caminho para os efeitos contra o isolamento. 
Olhar para o seu coração, olhar para o que está sentindo, se permitir ser sem as máscaras que criamos para nós mesmos a fim de suportar a realidade, apesar das máscaras que temos que usar em função da pandemia.

Olhar de uma forma diferente para nossa casa, o nosso abrigo. Olhar para dentro de nós como se fôssemos o nosso templo. Mudar a forma como organizamos nossa casa. A casa é um espelho da percepção que temos de nós e do mundo num determinado momento da nossa vida. A casa oferece pistas valiosas dos valores e crenças que nos caracterizam num nível mais profundo, ela espelha tanto nossos comportamentos atuais quanto traços mais permanentes da nossa personalidade. A casa pode oferecer um espaço de reconhecimento da nossa identidade, em especial para nós mesmos. Veja, temos a oportunidade de voltar a enxergar a casa, as pessoas que nela habitam. Voltar a olhar nos olhos daqueles que estão ao nosso lado. Brincar, pisar a terra, cozinhar, costurar, fazer com as mãos. Fazer com amor.

4. Outras considerações.

Quero deixar uma reflexão por meio do poema “MUDE” de Edson Marques que é muito válida para esse momento  
 “Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. {...}  “O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!”    




domingo, 3 de maio de 2020

VOLUNTÁRIAS DOAM SEU TEMPO E TALENTO PARA PRODUÇÃO DE MÁSCARAS E CAPOTES

Por Célia Ribeiro

Com o agravamento da pandemia pelo novo coronavírus, as notícias negativas contribuem para amplificar o clima de desânimo que se instalou na sociedade. No entanto, um grupo muito especial de pessoas tem aproveitado o recolhimento para se sentir útil, doando seu tempo e talento em prol de uma causa nobre: a confecção de máscaras e capotes destinados aos profissionais de saúde.
Maria Amélia confecciona capotes (aventais)
Maria Amélia Teixeira Ortega é uma delas. Atendendo as recomendações das autoridades sanitárias, ela tem seguido à risca a quarentena; porém, aproveita o tempo para produzir capotes que são utilizados pelos trabalhadores na linha de frente da saúde. “As peças chegam cortadas e eu costuro. O dia passa tão rápido que nem percebo”, comentou, assinalando que se sente recompensada por poder ajudar quem precisa.

Sueli: tempo voa
Após quase dois meses de recolhimento, muitas pessoas acostumadas a uma vida ativa, seja no trabalho ou outras atividades ligadas às entidades filantrópicas, estão sentindo muito a reclusão. No caso de voluntárias de ONGs, algumas com idades acima dos 60 anos e, portanto, no grupo de risco, a sensação de aprisionamento se torna quase insuportável.

Nelice Rojo, aposentada, artesã e voluntária da ACC (Associação de Combate ao Câncer), teve a ideia de confeccionar máscaras para doação e convidou a amiga, Sueli Félix, docente aposentada da UNESP para a empreitada. “Ela topou na hora”, contou Nelice, afirmando que a produção de máscaras de tecido deu um certo alívio aos dias quase sempre iguais. A dupla doou centenas de máscaras a hospitais, asilos, ONGs etc, até que ela tivesse uma complicação por problemas circulatórios que a impediram de continuar.

A companheira de empreitada, Sueli Félix, deu prosseguimento à produção. Funcionária pública estadual aposentada, ela relutou em divulgar a ação por conta do clima nas redes sociais em que algumas postagens têm criticado ações de solidariedade como se fosse vergonha fazer o bem.
Andreia conta com a ajuda de amigos
Aliás, esse é um grande problema relatado por muitos que estão à frente de campanhas de apoio a quem sofre os reflexos da pandemia. Ao postarem fotos nas redes sociais, alguns são alvo de críticas. Na verdade, essas ações deveriam estimular outras em uma corrente do bem em que cada um, na medida do possível, ajuda como pode.
Asilo beneficiado com máscaras doadas
Em entrevista ao JM, por telefone, Sueli Félix contou que, inicialmente, pediu às vizinhas no condomínio em que reside para doarem lençóis em bom estado para a produção das primeiras máscaras, já que não tinha como adquirir os tecidos. Assim, conseguiu a matéria prima inicial que resultou na produção e doação de mais de 400 máscaras.

EXPLORAÇÃO

Por incrível que pareça, tem gente explorando a pandemia. A servidora aposentada contou que antes pagava 15 centavos pelo metro de elástico que agora sai por R$ 2,20. Quase 1.500 por cento de aumento, numa demonstração de insensibilidade em um momento aonde as máscaras são essenciais para proteção diante da ameaça do Convid-19.
Máscaras de Sueli prontas para doação
Sueli Félix falou sobre a sensação de bem estar que essa ação lhe proporciona: “Eu não estou nem sentindo o isolamento. Não sinto os efeitos porque a cada demanda que tenho, a gente se empenha e curte o resultado. Fico imaginando a pessoa na outra ponta que vai usar, que não tem condições de pagar 5 a 10 reais em uma máscara simples. Nunca achei que fosse passar um período desse de forma tão leve”.
Máscaras azuis lisas para PM

Por sua vez, a terapeuta ocupacional  Andreia Rizzo dos Santos, docente do curso de Terapia Ocupacional da UNESP, reuniu um grupo de amigos que tem a solidariedade em comum: em uma verdadeira força tarefa, já foram doados 1.400 máscaras à Polícia Militar além de outras para os servidores da Emdurb que trabalham no cemitério.

Ela explicou que havia procurado Tadau Tachibana, da ONG Amigos do Bar retratada na reportagem de domingo passado, para doar cestas básicas. Soube, então, da necessidade de máscaras e conversando com amigos reuniu um grupo grande em que cada um contribui um pouco para que as máscaras cheguem a quem precisa.

No próximo dia 10 deverão ser doadas máscaras a algumas famílias carentes da periferia. Para Andreia, a união faz a força: “Uns doam tecidos, elásticos, outros cortam e outros costuram”. Ela agradeceu o apoio do grupo e as doações de matéria prima: “Foi um movimento bonito de solidariedade dos amigos que se prontificaram a ajudar”.

Ela finalizou afirmando que agora “é o momento de um ajudar o outro. Tem que prevalecer o amor de todos nós. Precisamos amar e respeitar o nosso irmão. Se cada um fizer a sua parte, unidos, a gente consegue vencer, cada vez mais, essa doença que é devastadora”.

 * Reportagem publicada na edição de 03.05.2020 do Jornal da Manhã