domingo, 3 de junho de 2018

TRÁFICO DE ANIMAIS: VETERINÁRIO DEFENDE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ESTRUTURA

Por Célia Ribeiro

As estatísticas são alarmantes: anualmente, o tráfico de animais movimenta 1,5 bilhão de dólares no mundo e o Brasil responde por nada menos que 15 por cento desse negócio ilegal, segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres. Para o médico veterinário mariliense, Ricardo Cavicchioli Scaglion faltam estrutura pública para receber e tratar os animais apreendidos antes de devolvê-los ao seu habitat e investimentos na educação ambiental desde a infância.
Os viveiros foram construídos segundo normas do IBAMA
Durante 12 anos, o profissional participou de um projeto que reuniu um condomínio de alto padrão e a Polícia Ambiental com o objetivo de abrigar os animais apreendidos com os traficantes, recuperá-los de ferimentos e doenças e depois devolvê-los à natureza. Foi construída uma estrutura modelo com viveiros que recebeu, no período, cerca de 2.000 animais entre espécies exóticas e silvestres.

“Foram construídos viveiros com padrão acima do exigido pelo IBAMA, com área de isolamento em alvenaria e laje, parte de solário e espaço para que pudessem tomar sol, voar e se exercitarem”, disse, acrescentando que “95 por cento eram Passeriformes, popularmente conhecidos como passarinhos como pintassilgo, passo-preto” e aves como papagaio, tucanos, arara e maritaca, além de primatas e répteis.
Ricardo soltando pássaros  apreendidos

O médico veterinário contou que os animais capturados há menos tempo eram soltos em seguida. Já os que estavam em poder dos traficantes há mais tempo, com ferimentos, asas cortadas etc, permaneciam no local mantido pelos moradores do condomínio para serem curados, alimentados e só então eram devolvidos à natureza.

Ricardo Cavichioli lamentou a exploração comercial dos animais, citando que dos 1.897 apreendidos pela Polícia Ambiental de 2005 até o início de 2018, havia 49 espécies silvestres e 29 exóticas: “É preciso despertar para a questão do tráfico que é medonha. Precisa ter uma consciência ambiental porque isso vai levar ao empobrecimento da fauna e trazer sérias consequências porque muitos animais estão ameaçados e outros estão na lista de extinção”.

O profissional observou que a rigidez na aplicação da lei e o trabalho sério da Polícia Ambiental provocou uma redução no negócio, mas que ainda é expressivo na região. Ele comentou que esta exploração “é um negócio fácil porque tem quem compra”, alertando que a predação “provoca um desequilíbrio ao ecossistema. Fauna e flora têm que trabalhar equilibradas e se erradicar uma espécie de uma região quebra a cadeia alimentar, causando um prejuízo que levará décadas para reverter”.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ricardo Cavicchioli defendeu a importância de a educação ambiental merecer um lugar de destaque na grade curricular, desde os primeiros anos das crianças. No entanto, destacou que “não adianta ensinar com foto e cartilhas apenas. Se for falar de lixo, tem que levar as crianças no aterro onde vão sentir o odor, ver o chorume borbulhando, os insetos e roedores, sabendo que se chover aquilo vai para o rio e a água vai acabar na sua torneira”.

Com relação à estrutura oficial de cuidados, ele afirmou que o governo municipal deveria dar bastante atenção para que os animais apreendidos possam ser cuidados e devolvidos à natureza em uma tentativa de minimizar os prejuízos causados pelo tráfico de animais.
Adaptação e cuidados antes de voltar ao habitat natural
Procurada sobre o assunto, a Prefeitura de Marília, através da Diretoria de Divulgação e Comunicação informou que o Bosque Municipal “possui uma estrutura para acolher e abrigar temporariamente os animais capturados pela Polícia Ambiental. Eles ficam em um Centro de Ressocialização, passam por um mini hospital e têm atendimento médico veterinário com um profissional”.
Apesar da fiscalização, há um grande mercado para os animais silvestres e exóticos.
A nota acrescentou que após o período de cuidados, os animais “voltam para o seu habitat natural conforme orientação da polícia”. A assessoria adiantou que existem “planos de restruturação do bosque, com a recuperação da pista interna, manutenção de viveiros existentes e inserção de mais programas educacionais voltados às crianças”.

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