domingo, 31 de março de 2019

COM DÉFICIT ANUAL DE 750 MIL, APAE CONTA PARCEIROS E A SOLIDARIEDADE DA POPULAÇÃO.


Por Célia Ribeiro

À primeira vista, as diversas edificações impressionam pelo porte do conjunto arquitetônico e pela limpeza e organização evidenciando o zelo com o lugar. Exibindo números superlativos, como a imponente quadra poliesportiva no centro da área de 17 mil metros quadrados, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) trava uma batalha diária para zerar o déficit anual de quase 750 mil reais contando com a solidariedade da população.
Atividade regular para alunos da rede pública
 Muito além da educação formal, destinada aos alunos das redes municipal e estadual de ensino, a entidade é o porto seguro de crianças, jovens e adultos portadores de deficiências física e intelectual de média e alta complexidades. É um trabalho de fôlego que tem o reconhecimento público, via subvenções das três esferas (Município, Estado e Governo Federal), mas que não resistiria sem o trabalho voluntário e a generosidade da comunidade.
Mara e Marcos Carchedi: dedicação

Quem explica é o presidente, coronel Marcos Carchedi, ex-comandante do Corpo de Bombeiros. Ao lado esposa, Mara Carchedi, ele fala com indisfarçável orgulho sobre a instituição que completará 51 anos em maio. “A gente não faria nada sem os voluntários. Eles são muito importantes para nós. Desde as senhorinhas do artesanato, até quem doa roupas e calçados para nosso brechó, tudo é bem-vindo. Esse dinheiro ajuda a complementar nossos gastos. A APAE movimenta três milhões de reais por ano. A maior parte vem do governo, mas temos um déficit de quase 750 mil reais”, destacou.

Conforme disse, “temos que correr atrás de 700 a750 mil reais, todo ano. Temos o telemarketing que cobre 50 por cento do valor necessário através de contribuintes de Marília e região. O restante vem da Feira da Bondade, da Festa Junina e da Costelada”. São eventos que levam um grande público e só acontecem pelo envolvimento do voluntariado, dos clubes de serviço e de várias empresas parceiras, entre as quais o Tauste.
Atendimento individualizado 
Outra fonte de renda são os bazares de artesanato realizados em maio e dezembro: às quartas-feiras, no período da tarde, voluntárias se reúnem na APAE para produzirem as peças. Segundo Mara Carchedi, “temos senhorinhas que são voluntárias há quase 50 anos. Infelizmente, hoje em dia quase ninguém quer aprender artesanato, bordado e ponto-cruz. A gente está com uma dificuldade muito grande”.
Saúde: suporte a quem necessita
Ela afirmou que a APAE está de braços abertos para receber novas voluntárias que já fazem artesanato ou desejam se aprimorar: “Precisamos pegar esse pessoal de fora, colocar nesta sala junto com as senhorinhas na APAE. Aqui tem o cafezinho, o chazinho e o bate-papo. É uma terapia para elas. Levam o trabalho como lição de casa e trazem pronto na semana seguinte”. A novidade, em breve, será uma voluntária que ensinará tricô para o grupo: “Vamos fazer casaquinhos de bebê. Estamos tentando dar uma impulsionada nesta área”, frisou Mara Carchedi.
Atividades na horta
Os bazares de artesanato da APAE fazem sucesso e são uma importante fonte de renda. No evento de dezembro do ano passado o balanço registrou 12 mil reais líquidos. Em maio, no período de 26 a 28, no Esmeralda Shopping, acontecerá um bazar em homenagem ao mês das mães e a expectativa é de repetir o êxito dos anteriores pela qualidade dos trabalhos com preços acessíveis.

COSTELADA

Evento de 2018: os  pratos podem ser levados pra casa após o almoço
O principal evento da APAE, que já virou tradição, é a Festa da Costela no Chão. Em 2019, a quinta edição acontecerá no dia 05 de maio. Com 1.000 convites colocados à venda a 40 reais, a disputa é tão grande que algumas semanas antes costumam esgotar. Afinal, além da costela preparada por uma equipe de profissionais ligados à APAE de Assis, são servidos vários acompanhamentos (saladas, arroz,farofa,  feijão gordo, mandioca etc) a cargo dos voluntários de clubes de serviço e de ONGs como o “Amigos do Bar”.
Costelada reune 1.000 pessoas na APAE

Os convites começaram a ser vendidos nesta semana e podem ser encontrados nos seguintes locais: Posto Esmeralda, Café São Bento, APAE e com voluntários. Informações: (14) 34021400. E quem participa do almoço pode levar o prato para casa.

TRABALHO

O presidente da APAE explicou que várias empresas contribuem com a Costelada e seus nomes são impressos nos pratos utilizados no almoço. “É um evento grande, que dá trabalho e envolve muita gente. Com o que arrecadamos, damos uma parte para a APAE de Assis que envia a equipe que prepara a carne, chegando de madrugada em Marília. Esse dinheiro nos ajuda a cobrir o déficit e manter o atendimento aos nossos atendidos”, assinalou.
Aula de informática na entidade
Marcos Carchedi observou que “como temos um prédio com quase 7.000 metros quadrados de área construída e, neste ano, completa 51 anos, para nós fica muito difícil a manutenção. Não temos recursos para isso. Os recursos oferecidos pelos governos federal, estadual e municipal são para pagar funcionários e professores e comprar material para a escola”.

Atualmente, a APAE tem 120 funcionários “para cuidar de 400 atendidos, todos os dias. São 210 alunos da escola regular pública municipal e estadual, 153 da assistência social e mais de 70 na área da saúde”, acrescentou. Ele destacou que além dos eventos tradicionais, são agendados outros extras, como um Festival de Prêmios, a fim de arrecadar mais recursos que serão utilizados “em melhorias na área dedicada à Assistência Social, como na reforma dos banheiros e proporcionar um pouco mais de acessibilidade para nossos atendidos. Por isso, as doações de todos os tipos são bem vindas”.
Apresentação da fanfarra: evolução 
E por falar em manutenção, apesar da grande área, a entidade tem 40 pessoas na fila de espera. O presidente explicou que não há verba para contratar mais profissionais: “A APAE atende a deficiência física e intelectual média e grave. Atende Marília e região na área da saúde. Alguns atendidos necessitam se alimentar por sondas gástricas e aí entra a saúde para fazer esse tipo de serviço. Os atendimentos de média e alta complexidade para deficiência física e intelectual são para pessoas com bastante necessidades especiais”.
Apresentação de capoeira no Marilia Shopping: emoção
Neste sentido, afirmou que “fisicamente podemos ter espaço, mas operacionalmente não tem. A gente precisa de pessoas para cuidar e pessoas para ensinar. Estamos empenhamos em melhorar a aparência da APAE. Queremos que fique mais apresentável em termos de escola, que pareça um lugar de prazer que a pessoa tenha vontade de vir aqui. Esse é um grande desafio”.

Mara Carchedi observou que “muita gente pensa que a APAE atende criança com Síndrome de Down. Mas, são pouquíssimos os atendimentos, menos de 10”. Ela acrescentou que “um professor não pode cuidar mais de 04 a 06 alunos. Na parte da educação temos atendidos de 03 até 29,5 anos. Após essa idade passa para a assistência social”. A entidade não tem limite de idade assistindo até a velhice as pessoas com deficiências física e intelectual.
Atividades esportivas na quadra externa
Marcos Carchedi se emocionou ao falar sobre os avanços que o atendimento da APAE proporciona. Do trabalho na horta, às aulas de informática, às apresentações de instrumentos musicais na fanfarra, passando pelos esportes, cada pequeno avanço é muito celebrado: “Imagine quando vimos uma apresentação de capoeira. Todo mundo chorou. É muito emocionante ver o resultado desse trabalho”.

HISTÓRIA

Criada em 11 de maio de 1968 com o objetivo de promover a prevenção e a inclusão da pessoa com deficiência intelectual e/ou múltiplas deficiências e transtornos globais de desenvolvimento,  a APAE está localizada à Rua Raul Torres, 70, Fragata C em Marília. www.apaemarilia.org.br

 Crédito das fotos: Arquivo APAE

Reportagem publicada na edição de 31.06.2019 do Jornal da Manhã

2 comentários:

  1. Posso imaginar o trabalho dessas pessoas. A muito tempo atras trabalhei em uma APAE, pequena, mas que ja naquela época era muito, muito dificil as contas fecharem no final do ano. Parabens pela reportagem e força para quem la trabalha

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    1. Que bacana, Maristela! Devemos apoiar entidades como a APAE. Bjs

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