domingo, 10 de março de 2019

NO CLUBE DO BORDADO, A IMAGINAÇÃO É COMPANHEIRA DE LINHAS E AGULHAS.

Por Célia Ribeiro

A jovem cosmopolita aproveita a liquidação em Nova York, enquanto a garotinha de chapéu enfeitado atrai a atenção de uma borboleta colhendo flores perfumadas no jardim. Em comum, ambas saltaram da imaginação mergulhando em tecidos de algodão, devidamente fixados em bastidores, onde agulhas envoltas em fios coloridos executam movimentos ritmados dando forma às personagens.
A menina e a borboleta
A artesã por trás dessas criações é a agente de viagens aposentada, Nelice Rojo, mais conhecida por seus trabalhos voluntários em entidades filantrópicas, como a ACC (Associação de Combate ao Câncer de Marília). Naturalmente, sem muito planejar, ela criou o “Clube do Bordado” no Espaço Pitanga onde um grupo de mulheres se reúne para bordar, uma vez por semana. E, como explica Nelice, “nem é preciso saber. Basta ter vontade de fazer”.

Na semana em que se comemora o “Dia Internacional da Mulher”, 08 de março, falar do Clube do Bordado remete a algumas características do sexo feminino, como a vontade de aprender coisas novas, a determinação e a persistência. No caso do bordado, são vários os motivos que levam ao clubinho: desde recém-aposentadas que querem aproveitar o tempo livre; mães e avós que gostariam de presentear os familiares e amigos com seus trabalhos; até as que veem no artesanato uma forma de afastar a depressão.

CAFÉ COM RISADA

Localizado na Rua Amazonas, 397, o Espaço Pitanga se consolidou como um ponto de encontro da arte. No ano passado, foram promovidos o “Arraiá Feito à Mão”, aproveitando as festas juninas, e o “Natal feito à mão”. As duas feiras reuniram dezenas de artesãos e atraíram muitos visitantes. No local, são frequentes as oficinas como a de saboaria que Renata Genta promove, periodicamente, além de disponibilizar venda de produtos à pronta entrega e aceitar encomendas.
Nelice e os bordados em bastidores: miniaturas nos colares à esquerda
Com uma vistosa pitangueira no quintal, o local atrai pelo ambiente alegre e acolhedor. Nas tardes dedicadas aos bordados, tem cafezinho e muita troca de informação. Como explicou Nelice, “algumas chegam preocupadas porque mal sabem passar a linha na agulha. Eu digo que isso não é problema. A gente vai aos poucos fazendo os pontos básicos, os mostruários e quando elas percebem já estão bordando”.
Clube do Bordado: uma tarde dedicada ao artesanato
Aos 70 anos, mãe de três filhos e avó orgulhosa de três netos, Nelice é esposa do arquiteto Laerte Rojo Rosseto e tem um olhar atento às manifestações artísticas. Modestamente, ela conta que nunca soube bordar, mas guardou na memória doces lembranças de sua mãe que, entre outros feitos, encapou e bordou casinhas, montanhas e todo um cenário bucólico em um caderno de recordações que costumava levar na escola, no fim do ano, para professores e colegas deixarem registrados desenhos e mensagens.
Desenhos delicados em tampas de pote e panos de prato

O COMEÇO DE TUDO

“Como voluntária da ACC eu ajudava na cozinha, na venda de convites para os eventos, enfim, no que fosse necessário”, recordou, explicando como se enroscou nos novelos de linha pela primeira vez: “Comecei a bordar por causa da ACC. Eu não sabia nem pregar um botão. A minha mãe nunca deixou a gente costurar porque ela foi escrava da máquina de costura. Na época, só bordavam ponto-cruz e quem fazia e ainda faz isso com perfeição é a Claudine Simões (ex-presidente da entidade). Fui à casa dela que me ensinou e bordei ponto-cruz até enjoar”.
(Esq.) Eneida Genta e Maristela Ursulino no “Arraiá Feito à Mão”
Nelice observou que a técnica exige muita concentração, “não pode nem conversar para não perder um buraquinho. Um dia, me vi em uma cadeira de rodas porque quebrei o pé e comecei a inventar. Foi quando me vieram aqueles bordados da minha mãe, era casinha, montanhinha, laguinho, e na internet começaram a aparecer algumas sugestões que hoje chamam de “Patch Apliquê” (remendo aplicado) que minha mãe já fazia e eu não sabia o nome”, contou rindo.
O bordado em papel ganhou até um galho seco
Curiosa e sem poder se locomover enquanto se recuperava, ela começou a pesquisar e criar os primeiros trabalhos na base da força de vontade. “Descobri depois o papel termocolante que é uma maravilha. Mas, no começo, eu fazia tudo na mão, recortava os tecidos, colocava alfinete, alinhavava e só depois fazia o bordado na peça”.

Trabalhos usados para inspirar
E assim foram surgindo os primeiros trabalhos, dos panos de prato à cartonagem, passando pelos bastidores onde motivos delicados ganham vida e decoram as paredes de diferentes ambientes. Mais recentemente, Nelice começou a bordar em mini-bastidores confeccionando colares com desenhos muito pequenos que chamam a atenção pela delicadeza e capricho.

Sem pressa para iniciar e concluir a peça, ela aproveita mesmo o processo e conta, apontando para um pano de prato: “O bordado já fiz e desmanchei não sei quantas vezes. Vai mudando a cor até chegar onde acho lindo. Vai da pessoa e cada um tem um jeito. Essas flores já foram lilás, já foram cor de rosa e talvez fiquem laranja”, pontuou revelando que a finalização está bem longe.
Nelice Rojo e um de seus trabalhos

Ela destacou que o companheirismo que cerca o grupo, “é uma das melhores coisas. A gente ri, toma cafezinho, conversa de tudo e ajudamos umas às outras. Tem a Eneida Genta, que trabalha com artesanato faz tempo, sabe muito e sempre nos ajuda. É uma troca. Com a turma do ano passado fizemos uma amostra, desenhei e cada uma bordou no seu estilo. E ficou uma lembrança do grupo”.

Finalizando, Nelice disse que cada pessoa tem uma relação diferente com o bordado, mas que seus benefícios são inegáveis: “No meu caso, o bordado foi busca, mesmo. Aquele ponto cruz estava me judiando e eu entediada na cadeira de rodas, quando me ocorreu a visão de minha mãe bordando que, sem saber, era precursora do ‘Patch apliquê’. Se não fosse o bordado eu tinha enlouquecido porque sempre fui de trabalhar muito. Com o Clube do Bordado tenho a oportunidade de passar o que aprendi para outras mulheres” que, dessa forma, podem desenvolver sua criatividade e, à sua moda, colorir como quiserem tudo o que a imaginação conceber.

Informações sobre o Clube do Bordado: (14) 991677514. No dia 12, terça-feira, terá início um novo grupo. Nas redes sociais, acesse: https://pt-br.facebook.com/espacopitanga/


COMO FAZER UM AGULHEIRO 

Com poucos materiais é possível confeccionar um porta-agulhas original. Siga as instruções de  Nelice Rojo:


* Reportagem publicada na edição de 10.03.2019 do Jornal da Manhã 

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