Pouco antes do meio-dia, com o sol a pino amolecendo o asfalto irregular do pátio, mal dava para sentir a leve brisa envolvendo as roupas no varal. Em uma espécie de balé descompassado, dezenas de roupas coloridas balançavam nos varais espalhados pelo terreno. Traziam, ao menos naquele instante, um pouco de esperança: o tempo bom e o calor são amigos de quem depende do clima para sobreviver. Entretanto, escondiam a angústia de quem enfrenta perdas diárias e segue adiante.
Roupas secam sob sol forte |
Aparecida Fátima é uma das mais antigas |
Nos tanques, as roupas que serão lavadas manualmente |
Embora localizado em uma região populosa, que cresce a cada dia, o projeto iniciado na década de 80 sente o peso das adversidades. Além da queda no movimento, as três máquinas (lava e seca), doadas pelo Rotary Club de Marília Leste e Empresa Mariferro, em 2014, estão paradas esperando reparos.
Máquinas (lava e seca) paradas por falta de dinheiro para os reparos |
Ex-vereadores Capacete e Bássiga com o ex-presidente Nardi |
MUITAS PERDAS
Com os olhos marejados fitando ao longe, dona Laudite conta que muitas coisas mudaram em quatro anos. Vários diretores da Associação do Nova Marília faleceram, entre os quais o grande incentivador da lavanderia, Valmir Farias. Outra morte muito sentida foi da dona Ana, que liderava a equipe, sem falar na voluntária Carmen Jorente que, perto dos 80 anos, cozinhava no local e que também faleceu.
Dona Laudite e o cliente fiel Sr. Odair |
A rotina das sete mulheres é exaustiva: chegam com o amanhecer, por volta de 6 horas, tomam café, geralmente preparado pela dona Laudite, e iniciam o trabalho que só termina no fim da tarde. Lavam e passam roupas, edredons, cortinas e tapetes com preços acessíveis. O quilo da roupa comum sai por R$ 7,50 e de tapetes a R$ 9,00.
A clientela é eclética. Tem gente da redondeza, mas muitos percorrem muitos quilômetros vindos de outras regiões da cidade com o carro abarrotado de roupas que são pesadas e separadas, com muito cuidado, à vista do freguês.
E por falar nisso, enquanto faziam uma pausa para o almoço, preparado na cozinha anexa ao salão, chegou um cliente fiel: o aposentado Odair Pintan foi logo entrando para conferir o cardápio do dia. “Ele é de casa”, disse dona Laudite, abrindo um sorriso amigável. E o aposentado continuou o tom informal afirmando que “o serviço daqui é tão ruim que nunca parei de vir. E lá se vão nove anos”.
SOBREVIVENDO
Como a maior parte das famílias tem feito para equilibrar o orçamento, a coordenadora da lavanderia também se esforça para manter as contas em dia. Cada uma das mulheres participantes do projeto recebe um salário mínimo por mês. Meticulosa, dona Laudite ressalta que também é recolhido o INSS de todas para garantir a aposentadoria e o amparo da Previdência Social em uma emergência, como um problema de saúde.
Além da redução no volume de serviço, a lavanderia sofre os reflexos da interrupção da ajuda que vinha da Paróquia Santa Rita de Cássia. Parte do dízimo doado pela comunidade à igreja era revertida para o projeto. “Cortaram tudo, cortaram o vínculo”, contou, sem esconder a tristeza.
Dona Carmen Jorente: voluntária que faleceu e deixou saudade |
“Hoje, temos quatro voluntárias na panificadora. Continuamos fazendo e vendendo os pães e o dinheiro ajuda a mantermos a lavanderia. Tem época em que a lavanderia vai melhor e daí ajudamos na panificação. E assim nós vamos levando”, explicou.
Ela reclamou do aumento de preços de uma maneira geral: apesar da lavagem manual, por falta das máquinas que estão paradas, ainda se gasta muito com energia elétrica para passar roupa. Também é preciso repor os ferros a vapor que, com o tempo, não resistem ao volume de trabalho. “Tem mês que dá para comprar um ferro. Tem mês que não sobra nada”, acrescentou.
Os pães são vendidos às sextas-feiras e geram renda para o projeto |
Uma das integrantes mais antigas do projeto, Aparecida Fátima Ferreira, mãe de três filhos, sente-se grata por ter uma oportunidade que muitas mulheres do bairro não conseguiram. A fila de espera é grande e novas vagas somente são abertas quando o movimento aumenta e se consolida. “Gosto muito daqui porque com esse trabalho sustento minha família”, disse.
A lavanderia depende do tempo: porque não tem secadoras em funcionamento |
Sem as secadoras em funcionamento, uma nova preocupação da coordenadora da lavanderia é com a aproximação do outono/inverno. “No tempo frio fica muito difícil secar as roupas. Temos que estender tudo aqui dentro do salão quando chove. Por isso, vamos fazer de tudo para consertar pelo menos uma das máquinas”, observou.
Católica fervorosa, dona Laudite tem fé em que as coisas melhorem: “Acredito que tudo que você faz confiando em Deus Ele te dá uma resposta. Ele nunca desampara seus filhos. Então, nós estamos de pé pela fé e pela graça”.
Área de trabalho na lavanderia: preocupação com o futuro |
Para entrar em contato com a Lavanderia Comunitária do Nova Marília, ligue para: (14) 34176928. O endereço é Rua Nair Rosilio Gutierrez,65, em frente à Paróquia de Santa Rita de Cássia, no Nova Marília.
Clique AQUI para ler a reportagem feita em 2011 na Lavaderia e AQUI para a reportagem de 2013
Poxa vida, um projeto tão importante como este indo por água abaixo. Alguma coisa precisa ser feita para se consertar essas máquinas.
ResponderExcluirÉ uma pena, mesmo. Vamos ver se com a divulgação, as pessoas se sensibilizam. Abraço, Maristela. Volte sempre. (Celinha)
Excluirbelissima reportagem emocionado
ResponderExcluirObrigada, Zapa. Abração
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