domingo, 7 de agosto de 2011

MULHERES SUSTENTAM OS FILHOS COM LAVAGEM ARTESANAL DE ROUPAS EM LAVANDERIA COMUNITÁRIA

Por Célia Ribeiro

Roupas "quarando" ao sol, como antigamente

Na manhã gelada de quarta-feira, os varais cheios de roupas coloridas e um quarador próximo ao alambrado não deixam dúvida: chegamos à lavanderia comunitária da zona sul. Instalado estrategicamente em frente à Paróquia Santa Rita de Cássia, no bairro Nova Marília, o sistema de lavagem manual de roupas vem de longos anos e garante o sustento para inúmeras mulheres de baixa renda que tiram dali, pelo menos, um salário mínimo por mês.

Elas chegam bem cedo --- antes das 6h30 --- e só vão embora ao final da tarde porque o trabalho, totalmente artesanal, exige atenção constante para que nenhuma roupa saia manchada do molho, explica a vice-presidente da Associação de Moradores do Nova Marília e coordenadora do grupo, Laudite Ferreira Gaia Vieira.

As peças são lavadas manualmente
Casada e mãe orgulhosa de três filhas, a mais velha formada em Psicologia, a líder comunitária faz parte da associação há mais de 20 anos. Católica fervorosa, ela irradia otimismo ao falar da obra iniciada pela Irmã Dilma, religiosa falecida há cinco anos: “Ela plantou uma semente e nós continuamos a sua luta”.

Laudite conta que a lavanderia comunitária surgiu pelas mãos da freira que viu ali uma oportunidade de geração de renda para as mulheres pobres do bairro. Tudo é feito manualmente e com muito cuidado: “Não temos maquinário nenhum, só a centrífuga que ganhamos da primeira dama (Fátima Bulgareli). A gente faz todo aquele processo que a mãe da gente fazia antigamente, de separar as roupas, de colocar para quarar no sol e quando a gente passa, fica tudo branquinho”.

Salão lotado: clientes aprovaram o serviço
O salão da lavanderia, abarrotado de roupas, cortinas e tapetes, é bem organizado e, a julgar pelo movimento, o trabalho caiu no gosto dos fregueses. “A gente tem uma tabela de preços e recebe roupa da cidade inteira”, comenta a coordenadora, citando que o quilo da roupa comum, lavada e passada, sai a 4 reais; só para lavar ou passar, fica em R$ 3,50; e cortinas, tapetes e edredons custam R$ 5,50 o quilo. Calça ou camisa social sai por R$ 2,90 a peça.

REFÉM DO CLIMA

O  frio e a chuva atrapalham
A renda da lavanderia comunitária, onde oito mulheres trabalhavam nesta semana, é dividida em três partes: um terço vai para as trabalhadoras, um terço para aquisição de material de limpeza e um terço para manutenção da lavanderia, como custeio da conta de energia elétrica e o pagamento de um vigia, uma vez que o local exige segurança pelo grande volume de roupas dos clientes.

Mesmo assim, cada lavadeira consegue levar para casa, no fim do mês, pelo menos um salário mínimo. Além disso, a associação paga o INSS das mulheres para que estejam asseguradas contra qualquer adversidade.
Com 73 anos, dona Carmem é voluntária na cozinha

As mulheres passam o dia na lavanderia onde fazem as refeições bem temperadas pelas mãos da voluntária Carmem Martinez Jorente, de 73 anos. Todos os dias ela prepara o almoço para as lavadeiras, com muito carinho. Na quarta-feira, o cardápio era composto de arroz, feijão, macarronada e bife de fígado bovino. O aroma podia ser sentido ao longe.

Na lavanderia comunitária todas lavam e passam, explica Laudite Ferreira: “As mulheres do bairro chegam procurando uma vaga e sempre que temos, nós encaixamos. Depois, eu ensino a lavar e passar e todas trabalham da mesma forma”. No entanto, a falta de uma secadora complica em dias frios ou chuvosos porque a roupa seca nos varais ao ar livre.

Segundo a coordenadora, nem chegaram a levantar o preço da secadora industrial necessária porque há outras prioridades. Entretanto, ressalva que se a lavanderia recebesse uma doação dessas seria uma ajuda muito grande.

Uma das lavadeiras, Aparecida Fátima de Oliveira, 53 anos, divorciada e mãe de três filhos, passava roupa na quarta-feira com a maior disposição: “Acho ótimo estar aqui. É esse dinheiro que me ajuda a sustentar meus filhos”, justificou.

Aparecida sustenta os filhos com o trabalho


PROMOÇÕES

 A Associação de Moradores do Nova Marília tem a lavanderia comunitária como um de seus projetos. Há muitas outras ações que beneficiam a população carente do bairro. São promovidos bazares, quermesses e, às sextas-feiras, voluntárias trabalham na panificadora da entidade produzindo pães, roscas, beliscões etc, vendidos ali mesmo. Toda a renda das promoções serve para financiar a ajuda aos mais necessitados.

 De um botijão de gás, ao remédio para doenças cardíacas, até fraldas e alimentos, cada caso é estudado e quase sempre as pessoas saem de lá socorridas. Parte do dízimo da igreja Santa Rita de Cássia também ajuda na manutenção dos atendimentos sociais, assinala a vice-presidente da entidade.

 Aos associados, a entidade oferece aulas de karatê e violão. Já houve aulas de bordado, mas uma das dificuldades é encontrar voluntários dispostos a colaborar: “A gente gostaria de ter aulas de ginástica, de yoga, no fim da tarde. Mas, faltam professores voluntários”, assinalou.

A ajuda da entidade aos moradores chega também no momento da dor: os associados do Fundo Mútuo contam com auxílio funeral para o enterro e aquisição do terreno no cemitério.

ESPERANÇA
Laudite mostra as camisas bem passadas

 Apesar de tanto trabalho, a líder comunitária mantém o sorriso iluminando o rosto quando fala das ações sociais: “Lutamos com muita dificuldade. Mas, estamos firmes porque a gente acredita que um dia será melhor que o outro”. Ao lado do oratório e do cartaz da Irmã Dilma, fonte inspiradora, ela conta que toda segunda-feira o grupo realiza uma oração com reflexão sobre a Bíblia para que a semana comece bem. E finaliza com a seguinte mensagem: “Gostaria de pedir que o povo tivesse mais fé em Deus porque é a coisa mais importante da nossa vida. É através de Jesus e de Maria que conseguimos tudo”.

* Reportagem publicada na edição de 07.08.2011 do Correio Mariliense


3 comentários:

  1. Adorei sua reportagem !!!E tbm de saber que muitas mulheres sustentam a casa neste tipo de trabalho, porque que hj a maioria das mulheres o que elas querem é ficar bem longe do tanque.Bjs e Parabens pela matéria!

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  2. Querida Rita, obrigada pelo comentário. Adorei fazer essa reportagem e tornar público um trabalho tão digno dessas lavadeiras. Beijo grande!

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  3. Parabéns pela matéria!
    Propositiva, mostra um outro lado da cidade,
    que livre das amarras políticas centra na cidadania suas forças.
    daniel pestana mota

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