domingo, 19 de abril de 2020

TRABALHADORES MADRUGAM NA LINHA DE FRENTE DO “BOM PRATO”, DURANTE A PANDEMIA.

Por Célia Ribeiro

Ainda está escuro e há pouco movimento na rua. Mas, um grupo de trabalhadores saiu de casa ainda mais cedo para iniciar a jornada, pontualmente, às 6 horas. São os funcionários do Restaurante Bom Prato, um dos projetos sociais mais impactantes do governo do Estado em parceria com o município. Com a pandemia do Covid-19, à clientela tradicional, formada por pessoas em vulnerabilidade social, somaram-se trabalhadores desempregados, autônomos que ficaram sem renda de um dia para o outro, e muitos idosos.
Dulce entrega o café da manhã: pão com margarina,
leite com achocolato e uma maçã
Se antes o “Bom Prato” funcionava somente de segunda a sexta-feira com café da manhã e almoço, foi preciso agir rápido e ampliar o atendimento a partir da quarentena: além do café da manhã a 50 centavos e do almoço a um real, foi disponibilizado o jantar, também ao preço simbólico de um real, todos os dias, incluindo finais de semana e feriados.
As filas são frequentes e poucos respeitam
a distância de um metro e meio
Aos 30 anos, casado e pai de um menino, Fabiano de Jesus mora na vizinha cidade de Oscar Bressane. Por isso, acorda por volta de 4 horas para se juntar à equipe formada por 16 funcionários da empresa terceirizada MR. Para ele, ter um trabalho já é motivo de comemoração, mas afirmou que se sente “muito bem sabendo que estamos ajudando o próximo”, como Marcelo de Oliveira que elogiou o “Bom Prato” onde faz as três refeições diariamente.
Nutricionista mede a temperatura dos funcionários
Já Silvana Bispo, de 32 anos, mora no Jardim Califórnia e levanta antes das 5 horas para chegar a tempo ao trabalho onde permanece até às 14h20. Ela explicou que os trabalhadores se revezam em turnos para prepararem as três refeições do dia. Assim como Fabiano, ela passou pelo controle de temperatura e fez a higienização das mãos antes de entrar no local onde todos estavam paramentados e com máscaras.

ORGANIZAÇÃO

A reportagem do JM acompanhou a manhã do dia 15, desde a chegada dos trabalhadores. No interior do “Bom Prato”, muito limpo e organizado, chamou a atenção a montanha de embalagens descartáveis. Segundo a gerente Edna Macedo, há um rigoroso controle por parte do governo do Estado e as vistorias são frequentes. Ela relatou que a Fumares (Fundação Mariliense de Recuperação Social), da qual é contadora, é responsável pelo “Bom Prato”.
Foi preciso adequirir milhares de embalagens
Acompanhada da secretária adjunta da Secretaria Municipal da Assistência e Desenvolvimento Social e vice-presidente da Fumares, Zileide dos Santos Bernardo, a gerente do restaurante disse que houve uma operação de guerra para as mudanças: anteriormente, os clientes faziam as refeições ali mesmo (1.200 almoços e 100 cafés da manhã), mas tiveram que receber as refeições embaladas para consumirem fora do local. No jantar, são 300 marmitex por dia.
Funcionários têm o mínimo contato com o público
e estão protegidos por luvas e máscaras
Houve mudança na forma de atendimento, também. Agora, quem se dirige ao restaurante aguarda sua vez nas filas em que há orientação para manter a distância de um metro e meio, que raramente é obedecida. Os trabalhadores com máscaras e luvas têm o mínimo contato com os clientes, mas temem os riscos da exposição ao coronavírus.
Marília, Edna e Zileide 
Segundo Edna Macedo, o custo do almoço é de R$ 5,70 sendo que R$ 3,70 são pagos pelo governo do Estado, R$ 1,00 pelo cliente e R$ 1,00 pela Prefeitura que ainda paga o aluguel e despesas com água e energia elétrica. Quando a Fumares consegue produzir excedentes de legumes e verduras, os alimentos orgânicos também são destinados ao “Bom Prato”.
Feijoada era o cardápio do almoço de quarta-feira 
A nutricionista responsável, Marília Gabriela Colombo Gabaldi, informou que as refeições, com 1.200 calorias, são preparadas a partir de 03 cardápios diários disponibilizados pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, responsável pelos 59 restaurantes da rede. Na quarta-feira, por exemplo, o almoço teve feijoada.

“Uma das maiores mudanças foi que tivemos que porcionar as refeições em marmitas. Também houve mudanças na parte de limpeza e higienização do local. Nós tentamos fazer o máximo possível para proteger nossos funcionários que estão expostos”, frisou.

GOVERNO DO ESTADO

Em entrevista exclusiva ao JM, por telefone, a secretária estadual de Desenvolvimento Social, Célia Parnes, afirmou que o maior desafio foi organizar, em um prazo de 24 horas, a nova forma de servir as refeições, incluir o jantar e manter o serviço nos finais de semana e feriados. Conforme disse, são 59 restaurantes no Estado de São Paulo operados por instituições diferentes.
Secretária Célia Parnes

Os números impressionam: o “Bom Prato” passou de 2 milhões para 3,2 milhões de refeições mensais, prosseguiu a secretária que falou da importância do projeto neste momento difícil de pandemia: “Nos dá muito trabalho, mas muita satisfação também. Isso não tem preço”, comentou, citando a “emoção dessas pessoas que pela primeira vez têm jantar”.

De acordo com a secretária, além das pessoas em situação de rua que continuam sendo atendidas, milhares de outras pessoas e famílias inteiras recorrem ao “Bom Prato” para se alimentarem com dignidade: “A gente sabe que está fornecendo refeições de qualidade e isso aquece o coração da gente”.

 Sobre o comprometimento dos trabalhadores dos restaurantes do projeto, Célia Parnes elogiou o empenho de cada um: “Fazem isso por amor ao público que atendem. Eles sabem que esse público é extremamente frágil e se não forem fazer, não terão o que comer. É uma causa”, pontuou.

Finalizando, a secretária disse que o governador João Dória abre as reuniões semanais da equipe pedindo empenho no atendimento à população menos favorecida. Especialmente neste momento difícil da contaminação pelo Covid-19 se espalhando, ela destacou o papel do governo na área social.

*Reportagem publicada na edição de 19.04.2020 do Jornal da Manhã

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