sábado, 8 de dezembro de 2018

ENCLAUSURADAS, IRMÃS CLARISSAS FAZEM ARTE SACRA REAPROVEITANDO MATERIAIS.

Por Célia Ribeiro

Na tranquila Alameda Santa Carolina, na Zona Leste de Marília, o silêncio é total. Às 4h40, ainda não amanheceu. Mas as Irmãs Clarissas do Mosteiro Maria Imaculada já despertaram iniciando o dia em orações pela humanidade seguidas de muito trabalho. Enclausuradas, elas só saem para consultas médicas e mantém contato com o mundo exterior através de grades, onde é possível apreciar o belo trabalho artesanal que lhes garante o complemento da subsistência.
O trabalho atrás das grades: opções de presentes com significado
Na última quarta-feira, as Irmãs Clara e Nicole atenderam a reportagem e concordaram em mostrar a arte sacra confeccionada com delicadeza por uma grupo de religiosas. São presépios, imagens de santos e muitas velas esculpidas com faca que depois são pintadas e recebem imagens, flores e todo tipo de adereços.
Velas esculpidas com faca recebem imagens pintadas à mão
A maioria da matéria prima é doada pela comunidade, mas as Irmãs Clarissas reaproveitam tudo o que conseguem a fim de criarem os trabalhos: vidros de azeite, porta-retratos quebrados, folhas de coqueiro, forminhas plásticas de gelo e até suporte de panelas. As imagens de santos são adquiridas na fábrica e pintadas cuidadosamente, da mesma forma que as velas de tamanhos variados e que são vendidas o ano inteiro, inclusive personalizadas para batizados, bodas etc.
Irmã Nicole
Das 17 irmãs que vivem atualmente no Mosteiro, um grupo de quatro ou cinco se reveza nos trabalhos manuais. E por falar em trabalho, elas cuidam de tudo sozinhas na imensa construção que ocupa meio quarteirão incluindo a capela onde são celebradas missas diariamente. Em rodízio, elas trabalham na cozinha, lavanderia, costura e no jardim repleto de flores e árvores exuberantes.
O  Mosteiro está localizado na Zona Leste
Na entrada do Mosteiro, o visitante precisa se identificar pelo interfone onde uma câmera está acoplada. Após autorizado, pode acessar a entrada principal onde um cilindro giratório de madeira recebe as doações que são retiradas pelo outro lado pelas religiosas. Não há contato algum, como as tristes rodas oficializadas no fim do século XVIII em que se colocavam bebês rejeitados pelas mães e que eram acolhidos pelas freiras.
Sem contato: doações são colocadas no cilindro e recolhidas pelas Irmãs

PROVIDÊNCIA DIVINA

“Vivemos pela providência divina. E depois pela bondade das pessoas através das doações. Noventa por cento do nosso sustento é da bondade dos outros, da caridade e da providência de Deus”, afirmou Irmã Nicole. Ela explicou que o trabalho de artesanato começou há 10 anos e foi incrementado nos últimos quatro anos, não apenas como geração de renda mas, principalmente, para evangelização.
Presentes com significado
A religiosa prosseguiu destacando que investiram na arte natalina “porque do Natal só se conhece o Papai Noel. Então, a gente faz os presentes religiosos para evangelizar, mesmo. Nosso evangelizar está aqui também. Quando se presenteia um Menino Jesus é diferente, tem um sentido”. Ela ressaltou que não aceitam qualquer encomenda: “Nosso trabalho não é nada além de coisas sagradas. Já trouxeram imagens de Papai Noel para pintar. Isso a gente não faz”.
As Irmãs Clarissas cuidam de tudo, incluindo o amplo jardim

O presépio foi confeccionado com cuidado
A maioria dos clientes da lojinha de arte sacra aparece após as missas. Fora disso, quem quiser pode telefonar para encomendar algum presente ou marcar para escolher um dos itens à pronta-entrega. Para o Natal, havia opções de lembrancinhas a partir de cinco reais, e muitos presentes a 15, 20, 50 reais. As velas entalhadas com presépios estavam na faixa de 100 reais, valor muito pequeno diante da qualidade do trabalho que leva dias para ficar pronto.
As missas diárias são abertas ao público
Irmã Nicole falou da alegria em produzir as peças: “A gente se sente feliz por poder contribuir com a graça de Deus na vida dos outros porque um presente desses está levando o próprio Cristo, a presença de Jesus na família que é o verdadeiro sentido do Natal. É como se a gente estivesse levando a presença de Jesus nos nossos trabalhos”.
Vela esculpida com faca


E finalizou: “Algumas irmãs, além das orações, do trabalho na casa, se dedicam a este trabalho para podermos evangelizar. A nossa necessidade maior é essa partilha do amor de Deus. Nossa vocação é no silêncio. A gente não tem obras sociais. Evangelizamos através do nosso trabalho no silêncio, tocando o coração das pessoas”.

Para saber mais sobre o Mosteiro, acesse: http://www.clarissas.net.br/ O endereço em Marília é Alameda Santa Carolina, 150, Jardim Novo Horizonte. Telefone (14) 34548758 e e-mail: clarissasmarilia@gmail.com. As missas diárias são abertas ao público, de segunda a sexta-feira às 7h, aos sábados às 8h e aos domingos às 17h. Quem desejar contribuir, pode levar as doações após as missas.
* Reportagem publicada na edição de 09.12.2018 do Jornal da Manhã

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