domingo, 23 de dezembro de 2018

LAÇOS QUE ENFEITAM E ABRAÇAM: COMO A ARTE DE DONA SARAH AJUDA OS IDOSOS.

Por Célia Ribeiro

Como os ciclos da vida e os desafios seguidos de vitória, retrocesso e recomeço, a arte se manifesta de diferentes maneiras. Ela emociona, cura e transforma: tudo depende de quem faz e de quem a reconhece. Em Marília, uma professora aposentada coloca sua criatividade e talento na confecção de laços coloridos que adornam os cabelos das meninas. O que torna esse trabalho tão especial não é apenas a beleza do acessório, mas sua finalidade: a renda é 100 por cento revertida ao Asilo São Vicente de Paulo.
Netinha Isabela
Sarah Nilma K. Lovato abre a porta de sua residência, no Jardim Maria Izabel, exibindo um sorriso doce. Um pouco tímida, ela concordou em contar sobre esse trabalho que é mais conhecido entre familiares, amigos e os voluntários do asilo. Embora dedique muitas horas à atividade, arque com todos os custos da matéria prima (a maioria importada), ela classifica a ação como “uma pequena colaboração”.
Laços usam materiais delicados
Na verdade, as doações são da ordem de quatro dígitos, a cada dois meses, mas dona Sarah preferiu não mencionar valores na reportagem, realizada em meio à decoração natalina de bom gosto presente pela casa toda. Apenas frisou que o esposo, Renato Lovato, voluntário há 20 anos na entidade, é quem leva o dinheiro nas reuniões da entidade e depois lhe entrega o recibo da doação que guarda com carinho.
Sr. Renato e dona Sarah: solidariedade
Dona Sarah e o marido, ex-auditor do Banco do Brasil, mudaram-se de Brasília para Marília quando se aposentaram para ficarem mais perto dos pais, já idosos, e criarem os dois filhos com a qualidade de vida do interior. O contato com o asilo foi por meio de um Vicentino que frequentava a Igreja Nossa Senhora de Fátima e convidou o Senhor Renato para conhecer a entidade.

Grife “Laços da Bela”
“Meu marido dizia que só trabalhou a vida toda e, com a aposentadoria, queria fazer alguma coisa para o idoso porque a criança tem esperança. O idoso não tem”, comentou dona Sarah relatando o início do trabalho voluntário. “Ele foi lá conhecer e não saiu mais. Foi presidente, secretário e continua atuando como voluntário nestes quase 20 anos”.
As tiaras são muito concorridas
Como uma coisa leva à outra, os laços que dona Sarah fazia para a netinha Isabela tornaram-se inspiração para um trabalho em larga escala. O gosto pelo artesanato, despertado há alguns anos, quando bordava em ponto-cruz para a APAE, aliado ao seu bom gosto e criatividade, resultaram em uma coleção impressionante de laços.
Variedade de peças
São confeccionados a partir de fitas importadas, usando acessórios, apliques, rendas, pérolas e pedrarias, e até plástico transparente no caso dos enfeites à prova d’água (para o mar ou piscina). Com o nome de “Laços da Bela”, a grife informal cresce com a propaganda boca a boca que destaca o acabamento primoroso das peças e o teor social.

“Minha única netinha menina, a Isabela, mora em Porto Alegre e adora laços. Ela levanta, escolhe o uniforme e já separa o laço para combinar”, contou com aquele sorriso que só as vovós-corujas têm. Ela disse que, no começo, os trabalhos não saíam tão bons, mas que foi aprimorando e hoje lhe proporcionam uma grande satisfação a cada peça concluída.

EXPANSÃO

Os trabalhos voltados para o asilo tiveram início há um ano e, diante dos pedidos que chegam também para flores de cabelo e laços para jovens e mulheres adultas, a tendência é aumentar e diversificar a produção. “Até deixei meu cabelo crescer um pouco e faço laços pra mim, também. Tenho de todas as cores”, revelou.

Dona Sarah reclamou do alto custo do frete que encarece muito a matéria-prima. Ela faz questão de pagar todo o material explicando que “se descontasse o custo das fitas, por exemplo, não seria doação. Eu compro tudo, tenho fornecedores de Belém e até de Araguari. Cada vez, gasto em torno de 200 reais porque tem o preço do Correio que anda muito caro”.
Laços usam acessórios diversos
Recentemente, ela teve a ajuda da loja Florescer, localizada na Avenida Vicente Ferreira, 770, ao lado do asilo, em que a proprietária Adriana Caliman “se ofereceu para vender meus laços. Ela repassa todo o dinheiro para mim, sem comissão de venda, e eu junto com o que vendo para doar ao asilo. A Adriana também ajuda o asilo e no fim do ano fez um evento lindo de arrecadação de fraldas em que os doadores receberam uma lembrancinha da loja”.
Laço à prova d’água para praia e piscina
A professora aposentada afirmou que gostaria de contar com mais pontos de venda para ampliar a geração de renda ao asilo. “Hoje, vendo para as amigas, as pessoas que vão indicando, e até para minhas cunhadas e sobrinhas que pagam certinho porque esse dinheiro já tem destino certo”, observou sorrindo.
Dona Sarah e a neta Isabela
A renda dos “Laços da Bela” representa uma “importante ajuda para nosso asilo”, afirmou o presidente Luiz Sardi. Ele elogiou a iniciativa de dona Sarah destacando “a importância que os voluntários têm para a entidade. É uma coisa muito linda ver uma atitude dessas”, frisou.
Na loja Florescer há laços e tiaras à pronta entrega

Para entrar em contato com dona Sarah e conhecer os laços, o telefone é: (14) 99729-4321. A loja Florescer, onde há laços à pronta entrega, está localizada à Avenida Vicente Ferreira, 770, ao lado do Asilo São Vicente de Paulo, em Marília.

O LAÇO E O ABRAÇO

De Mário Quintana

Maria Medeiros Gonçalves e sua tiara personalizada
“Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço.
Uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e
Pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração,
Tudo cercado de braço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando...
Devagarinho, desmancha, desfaz o abraço.
E saem as duas partes, iguais meus pedaços de fita,
Sem perder nenhum pedaço.
Então, o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!”

*Reportagem publicada na Edição Impressa de 23.12.2018 do Jornal da Manhã

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