domingo, 30 de junho de 2019

COSTURINHA: CRIANÇAS EXPLORAM UM NOVO MUNDO DESENVOLVENDO A CRIATIVIDADE.

Por Célia Ribeiro

As mãozinhas delicadas seguram o tecido com cuidado. Puxam aqui, esticam ali, até conseguirem posicionar a tesoura para o acabamento no trabalho. Meninas a partir de quatro anos de idade aprendem a costurar à mão e, aos oito anos, já estão prontas para a costura à máquina aonde um novo mundo se apresentará sem cerimônia.
Juliana faz lindos trabalhos à máquina
Enquanto a tecnologia alcança os pequenos cada vez mais cedo, com a oferta de smartphones e tablets até para bebês, na contramão está a crescente valorização dos trabalhos manuais que contribuem para o desenvolvimento infantil, segundo educadores. Em contato com o artesanato, meninas e meninos registram ganhos em concentração, criatividade, coordenação motora, disciplina etc.

Na Vila das Artes, que reúne escola de arte, ateliê e lojinha de artesanato, fundada pela artista plástica Patrícia Muller, há 15 anos, a monotonia passa longe. De manhã e à tarde, as crianças têm várias opções de cursos. Mas, a costurinha, que atrai meninas e alguns meninos, é uma das mais concorridas.
Patrícia acompanha as crianças na aula de artes
Segundo a artista plástica, as crianças começam com as aulas de artes. O ambiente colorido e a grande quantidade de materiais à disposição, a maior parte reciclados, desperta a curiosidade. Com o acompanhamento de uma professora para cada três alunos, os pequenos trabalham várias técnicas.
Aluna finaliza trabalhinho na costura à mão
E como não há barreiras para a imaginação, eles confeccionam os próprios brinquedos. Uma embalagem de pizza pintada com cores chamativas vira a base para o “jogo da velha” em que as pedras desiguais ganham leveza com uma pintura alegre, por exemplo.
As professoras estão sempre atentas para ajudar as alunas
LINHAS E AGULHAS

Patrícia Muller justificou a separação por faixa etária: “Para a costura à mão, pode criança a partir dos quatro anos. Para a costura à máquina tem que ter pelo menos 08 anos, que a gente considera uma idade um pouquinho mais responsável. Também deve estar um pouquinho mais madura porque o trabalho de costura requer mais atenção e dedicação. É diferente da pintura e das outras atividades que são mais tranquilas”.

Além disso, prosseguiu, “a costurinha à mão pode desmanchar, é mais fácil. Já à máquina, não. Tem que ter um comando, uma destreza, uma maturidade. Com 08 anos, fizemos essa tentativa e deu certo”. Aliás, a filha de Patrícia, hoje com 19 anos, foi uma das primeiras alunas quando a Vila iniciou as aulas de costurinha, há 10 anos.

Sobre os requisitos, ela explicou que “tem que ter muita vontade de aprender. Ficar um pouco antes na aulinha de artes, no ateliê, dá uma noção para elas. O processo é muito importante pra gente, da criança escolher e ter o domínio daquilo que ela gosta. Ajudamos a criança a chegar nisso. No curso de artes, as meninas ganham noção de como montar, como juntar os moldes e a gente faz um passo a passo”.

O divertido é que nenhum dia é como o outro: enquanto uma aluna confecciona uma bolsinha, a outra prepara um jogo americano para presentear a mãe ou a avó, e outra se aplica na criação de um estojo escolar. Na Vila tem a lojinha com estoque variado de tecidos e aviamentos que os alunos podem escolher para as aulas semanais, com duração de duas horas.
A Vila é sempre muito colorida
Patrícia Muller destacou que as crianças ficam livres para criarem seus projetos e desenvolverem os trabalhos: “Elas escolhem como querem: o formato, que tipo de tecido e os aviamentos.  A gente vai respeitando, individualmente, as facilidades e dificuldades de cada criança. Temos que ficar atentas”, frisou. À frente das aulas estão as professoras Amanda Morro e Silvana Ribeiro (Costura) e Ana Lucia Coelho (Aula de Artes).

A diretora da Vila afirmou que “a gente gosta muito da ideia do coletivo porque uma estimula a outra, uma olha e dá ideia para a outra. É muito bonitinho. Vão na lojinha pegar o tecidinho e uma ajuda a outra. É uma troca muito boa, um convívio saudável. Elas começam com almofadas, daí fazem bolsinhas, que é o universo delas, fazem projeto para a mãe, para a avó, para presentear. A criança fica o tempo todo exercitando sua criatividade”.
Jogo da velha usa pedras coloridas

DESENVOLVIMENTO

A artista plástica falou sobre alguns benefícios da atividade: “Acho que é uma brincadeira saudável porque elas vão levar para o resto da vida que elas vencem os desafios. Para uma criança que nunca costurou aprender a costurar é o máximo. Quantos adultos dizem que nunca pegaram em uma agulha e perderam a oportunidade de aprenderem em um momento em que tinham muita facilidade?”, indagou.

Conforme disse, “neste momento de tanta tecnologia, parar para exercitar a criatividade, fazendo manualmente, é uma possibilidade incrível, uma paixão que se implanta na vida da criança e que ela pode carregar para o resto da vida. Não ficar só na tecnologia pode abrir seu caminho, ter olhares para outras atividades manuais e perceber prazeres que nem sempre são oferecidos para uma criança”.

A Vila recebe várias crianças especiais cujos pais relatam mudanças positivad: “Aqui, as crianças trabalham com as cores, com as formas e com as ideias, que é o melhor de tudo. Temos muitas crianças especiais e é muito bacana ver a felicidade, o prazer delas. Acho que o maior ganho dessas atividades é o fortalecimento do ‘eu’. Eu posso, eu sou capaz, eu faço as minhas escolhas, é autonomia total, liberdade de expressão. Isso só pode fazer bem”.
Clara Caluz

Patrícia relatou um caso de criança encaminhada para o artesanato por orientação do neurologista: “Em questão de três semanas, a professora veio perguntar para a mãe o que estava acontecendo com aquela criança porque ela tinha se transformado totalmente dentro de sala de aula: de dedicação, de organização, de atenção dentro de sala de aula. Na época, ele fazia aula de artes comigo e desenhava muito. Hoje, ele tem 19 anos, mas eu lembro muito desse caso porque a mãe veio falar pra mim, emocionada, que já tinha feito tantas coisas tentando melhorar”.

A artista plástica disse que “essas atividades, como pra mim, acho que preenchem o que você está buscando e que vem te sossegar. Tem criança que nasce com esse desejo. A gente percebe no jeito que a criança vem pra ela. Tem criança que vem tranquilamente, porque é uma atividade a mais, que a amiguinha faz, que a avó gosta. Mas, tem criança que quando a gente abre o portão, sente no seu olhar que estava precisando chegar”.
Cerâmicas na lojinha da Vila: vagas esgotadas para o curso
A Vila das Artes oferece ainda cursos de desenho artístico e mangá, desenho e pintura, e para adultos crochê em fio de malha e Amigurumi, Patchwork, costura criativa, tear, entre outros. O curso de cerâmica não tem mais vagas porque a turma é formada por alunas de muitos anos, algumas com mais de 10 anos de atividade.
Patrícia Muller

Finalizando, Patrícia Muller falou sobre a evolução da Vila: “Eu sou muito orgulhosa desse trabalho porque ele começou tão despretensioso. Acho que no fundo, no fundo, eu carregava esse sonho comigo desde a faculdade. Estudei na UEL, onde tinha a cerâmica, o teatro, tudo muito junto. E aqui em Marília a gente sente que dá. É uma cidade muito grande. A coisa foi acontecendo, foi chegando gente com um curso aqui e outro ali. Eu tenho muito prazer neste trabalho e vejo que as pessoas ficam muito felizes aqui. E eu tenho muito prazer de ver as pessoas felizes aqui dentro”.

Na semana passada, entre as meninas que participavam da aula de costurinha, Juliana K. Azevedo Vieira era uma das mais animadas. Contou que faz “lindos trabalhinhos para presentear” e que adora costurar. Ao seu lado, Clara Caluz, 9 anos, disse que frequenta a Vila desde os 05 anos porque “sempre gostei de costurar e tinha vontade de aprender”. Com muito capricho, ela estava preparando uma nécessaire para presentear uma amiga de seus pais.

A Vila das Artes está localizada à Rua Atílio Gomes de Melo, 64, perto da Praça Athos Fragata. Telefone (14) 34547345.

Leia outras reportagens anteriores deste blog sobre a Vila das Artes acessando AQUI, AQUI e AQUI

Reportagem publicada na edição de 30.06.2019 do Jornal da Manhã

Um comentário:

  1. A Vila realmente é fantastica. La a tristeza nao tem lugar.❤💗💖💚💙💛💜

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