domingo, 2 de junho de 2019

EMPREENDEDORISMO FEMININO: MULHERES CAMÉLIAS GERAM RENDA ATRAVÉS DA ARTE.

Por Célia Ribeiro

As cordas entrelaçadas, que atraem pelo colorido e originalidade, contam histórias muito além dos nós. Elas representam a concentração de energia criativa que dá origem a bijuterias e objetos de decoração carregados de simbolismo. Assim são conhecidos os trabalhos das “Mulheres Camélias” que podem ser encontrados em feiras de artesanato, como as realizadas no Espaço Cultural da Avenida Sampaio Vidal, às quintas-feiras, em Marília.
Laís Batista Santana
O nome na retaguarda do “Mulheres Camélias” atende por Mariana Batista Silva. Estudante de psicologia e agente cultural, aos 24 anos, ela ousou pensar fora da caixa, como dizem os empreendedores, ao imaginar um projeto que mesclasse a geração de renda à valorização das mulheres.

“A ideia do projeto partiu de uma necessidade pessoal na qual percebi que as mulheres ao meu redor estavam saindo de casa para completarem a renda mensal. Aí fiquei pensando na forças que essas mulheres tinham pra enfrentarem as labutas diárias e  me ocorreu a pergunta na mente: de onde elas tiram forças em meio a esta sociedade caótica que fazem elas saírem de casa, muitas da vezes sacrificando a vida junto aos filhos, em prol de sustento?”, recordou Mariana.
Mariana, fundadora das Camélias

Moradora do Jardim Cavallari, zona oeste, ela explicou que convidou uma amiga para uma sessão de fotos, “onde eu buscava inspiração tanto nas fotos como na história de vida.  E foi através  desta sensibilidade que  me encontrei na mesma posição destas mulheres, muitas das vezes passando pela mesma situação. Surgiu, então, a ideia do Camélias, colares de corda a preço popular”.

Sobre a nome do projeto, Mariana contou que “Camélias é o nome de uma flor que foi símbolo do movimento abolicionista no Quilombo do Leblon (RJ). Elas  aparecem como comunicação simbólica. Seu uso, na lapela do paletó ou no vestido, conscientemente identificava uma espécie de código secreto aos adeptos do abolicionismo. Não era uma flor comum, solta na natureza. Era uma flor em processo de adaptação, delicada e estrangeira”.

SOBREVIVÊNCIA

Como todo começo, o projeto se desenvolve em etapas: “Ainda estamos no início do ‘Mulheres Camélias’, caminhando aos poucos para não perdermos o passo e realmente fazer vingar.  A correria do dia-a-dia nos faz perder a vaidade e o poder de ser mulher e nos sentir maravilhosas para enfrentarmos o dia e matarmos todos os  leões que vierem”.
Bruna Marques Santana e Laura Alves na barraca de artes
Mariana disse que não teve dificuldade em encontrar parceiras para o projeto: “Elas estavam do meu lado. A história de vida de cada uma, as labutas diárias e a força estavam ali mostrando para mim mesma que, se eu seguisse a ideia, elas estariam comigo”, frisou a estudante.
Peças coloridas carregam simbolismo
Ela explicou que começou fotografando amigas usando as peças: “Nesta sessão, sempre peço para elas ficarem em paz. Não precisa ter uma pose certinha. Eu capturo o sorriso delas com as peças. O que elas sentem quando conto o que me inspira neste projeto, e é sempre mágico, inspirador, é que a partir deste momento elas se soltam e o elo da força vem. É a sensibilidade que temos, as angústias que dividimos em um curto espaço que fazem a força para aquela semana”.
Tainá Pedroso

Quanto ao futuro, Mariana disse esperar que “a rede de mulheres continue se formando. Inconscientemente, nós nos juntamos para sempre ajudarmos alguém colocando mais afazeres nas labutas diárias e darmos conta! Que um dia essa ajuda seja consciente para todas”.

Mariana falou do entusiasmo com o retorno recebido: “Os resultados deste trabalho são notórios. É sobre uma mensagem que recebo de alguém feliz, alguém agradecendo o carinho e atenção nas sessões de fotos, as clientes que tiram fotos durante o dia com as peças e me mandam. A ajuda mental é exatamente isso, precisamos nos enxergar”.

Desde o início do “Camélias”, a estudante experimentou mudanças internas e externas: “O projeto começou há pouco tempo e, neste processo, mudei de casa. Meu Deus, nunca achei que seria desta forma: amigas me mandando mensagem de todos os lados perguntando se eu queria ajuda, se já estava tudo certo. Tenho endometriose e estou em tratamento. Certo dia comentei com uma amiga que estava sem dinheiro para comprar um remédio e ela se prontificou a fazer uma ‘vaquinha’ das mulheres para comprar. Percebi, então, que o projeto funciona na prática, sim. Não tem problema ser sensível, forte e bonita”.
O colorido está presente em todos os trabalhos
Mariana explicou que participam do projeto mulheres de todas as idades que fazem os trabalhos em casa, como complemento da renda, e se reúnem para as sessões de fotos. As peças, com preços variando entre 12 e 25 reais, são vendidas pela internet, através de postagens nas redes sociais (Instagram: @mulherescamelias e Facebook: Camélias). Outra opção é conhecer e adquirir as peças na Exposição Cultural Artesanato e Artes, toda quinta-feira, das 18 às 22 horas no Espaço Cultural.

*Reportagem publicada na edição de 02.06.2019 do Jornal da Manhã

2 comentários:

  1. o melhor trabalho jornalistico da imprensa...sem dúvida, sou fã e apreciador da sua criatividade, do seu bom texto e de sua capacidade impar, sempre se renovando, mostrando sua sabedoria fora do comum, aproveito para dizer que sempre que posso republico no portalmariliense.com suas grandes reportagens...escreva um livro...

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    1. Obrigada, amigo Zaparolli, pelo incentivo e carinho de sempre. Abraço

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