As cordas entrelaçadas, que atraem pelo colorido e originalidade, contam histórias muito além dos nós. Elas representam a concentração de energia criativa que dá origem a bijuterias e objetos de decoração carregados de simbolismo. Assim são conhecidos os trabalhos das “Mulheres Camélias” que podem ser encontrados em feiras de artesanato, como as realizadas no Espaço Cultural da Avenida Sampaio Vidal, às quintas-feiras, em Marília.
Laís Batista Santana |
“A ideia do projeto partiu de uma necessidade pessoal na qual percebi que as mulheres ao meu redor estavam saindo de casa para completarem a renda mensal. Aí fiquei pensando na forças que essas mulheres tinham pra enfrentarem as labutas diárias e me ocorreu a pergunta na mente: de onde elas tiram forças em meio a esta sociedade caótica que fazem elas saírem de casa, muitas da vezes sacrificando a vida junto aos filhos, em prol de sustento?”, recordou Mariana.
Mariana, fundadora das Camélias |
Moradora do Jardim Cavallari, zona oeste, ela explicou que convidou uma amiga para uma sessão de fotos, “onde eu buscava inspiração tanto nas fotos como na história de vida. E foi através desta sensibilidade que me encontrei na mesma posição destas mulheres, muitas das vezes passando pela mesma situação. Surgiu, então, a ideia do Camélias, colares de corda a preço popular”.
Sobre a nome do projeto, Mariana contou que “Camélias é o nome de uma flor que foi símbolo do movimento abolicionista no Quilombo do Leblon (RJ). Elas aparecem como comunicação simbólica. Seu uso, na lapela do paletó ou no vestido, conscientemente identificava uma espécie de código secreto aos adeptos do abolicionismo. Não era uma flor comum, solta na natureza. Era uma flor em processo de adaptação, delicada e estrangeira”.
SOBREVIVÊNCIA
Como todo começo, o projeto se desenvolve em etapas: “Ainda estamos no início do ‘Mulheres Camélias’, caminhando aos poucos para não perdermos o passo e realmente fazer vingar. A correria do dia-a-dia nos faz perder a vaidade e o poder de ser mulher e nos sentir maravilhosas para enfrentarmos o dia e matarmos todos os leões que vierem”.
Bruna Marques Santana e Laura Alves na barraca de artes |
Peças coloridas carregam simbolismo |
Tainá Pedroso |
Quanto ao futuro, Mariana disse esperar que “a rede de mulheres continue se formando. Inconscientemente, nós nos juntamos para sempre ajudarmos alguém colocando mais afazeres nas labutas diárias e darmos conta! Que um dia essa ajuda seja consciente para todas”.
Mariana falou do entusiasmo com o retorno recebido: “Os resultados deste trabalho são notórios. É sobre uma mensagem que recebo de alguém feliz, alguém agradecendo o carinho e atenção nas sessões de fotos, as clientes que tiram fotos durante o dia com as peças e me mandam. A ajuda mental é exatamente isso, precisamos nos enxergar”.
Desde o início do “Camélias”, a estudante experimentou mudanças internas e externas: “O projeto começou há pouco tempo e, neste processo, mudei de casa. Meu Deus, nunca achei que seria desta forma: amigas me mandando mensagem de todos os lados perguntando se eu queria ajuda, se já estava tudo certo. Tenho endometriose e estou em tratamento. Certo dia comentei com uma amiga que estava sem dinheiro para comprar um remédio e ela se prontificou a fazer uma ‘vaquinha’ das mulheres para comprar. Percebi, então, que o projeto funciona na prática, sim. Não tem problema ser sensível, forte e bonita”.
O colorido está presente em todos os trabalhos |
*Reportagem publicada na edição de 02.06.2019 do Jornal da Manhã
o melhor trabalho jornalistico da imprensa...sem dúvida, sou fã e apreciador da sua criatividade, do seu bom texto e de sua capacidade impar, sempre se renovando, mostrando sua sabedoria fora do comum, aproveito para dizer que sempre que posso republico no portalmariliense.com suas grandes reportagens...escreva um livro...
ResponderExcluirObrigada, amigo Zaparolli, pelo incentivo e carinho de sempre. Abraço
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