“Era uma
vez...” Desde tempos imemoriais, basta essa frase inicial para aguçar a curiosidade
e prender a atenção do ouvinte ou leitor para o que virá a seguir. Nada supera a
sedução de uma história bem contada. Pode ser uma simples leitura ou uma
dramatização com os elementos que alcançam todos os sentidos abrindo os portais
do invisível e sensorial mundo da imaginação.
Maria Cristina em ação: crianças ficam encantadas com suas histórias |
Em Marília,
a professora e pedagoga aposentada Maria Cristina Cruz de Rezende Paoliello é
referência na arte da contação de história. De sorriso largo e brilhantes olhos
azuis, ela hipnotiza plateias inteiras, de crianças na fase pré-escolar aos
idosos acolhidos nos asilos. Ninguém consegue fugir ao seu magnetismo pessoal e
ao encantamento das histórias que conta capturando os espectadores para o
universo paralelo.
No escritório de casa, os livros amarelados que a acompanham desde a infância. |
Para saber
como tudo começou, é preciso voltar à infância de Maria Cristina, casada com o
médico Hélio Paoliello. Na sua família, os pais professores sempre estimularam
a leitura e “havia livros por toda parte”, recordou a orgulhosa vovó de quatro
netos. Além disso, os encontros familiares incluíam declamação de poesias,
canto e música instrumental em que se valorizavam as manifestações culturais.
Estudantes se divertem com marionetes na Feira de Troca de Livros do Senac |
Aos 14 anos,
Maria Cristina descobriu seu dom de ensinar. Foi dar aula de catecismo na
Paróquia Santo Antônio e desenvolveu o gosto pelo contato com o público
infantil. Na adolescência, fez o curso Normal formando-se professora primária
aos 17 anos, quando conheceu seu grande amor e futuro esposo.
Contando histórias para idosos no asilo, com alunos do Senac. |
Estudiosa, partiu para o magistério e frequentou outras duas faculdades: Pedagogia e Letras (português, inglês e alemão). Intercalando cargos de assistente e direção de escolas com as aulas (para crianças, jovens e adultos), a professora foi aprimorando suas técnicas de contação de história. Para os alunos ou treinamento de professores, ela nunca perdia uma oportunidade de conduzir os ouvintes ao interior das histórias que narrava.
Bonecos e marionetes acompanham a contadora de história |
“Contar
história é uma arte. Tem que ter entonação de voz, postura, espaço para
circular etc”, comentou Maria Cristina que nos últimos anos, após a
aposentadoria, tem se dedicado a contar histórias em feiras literárias, eventos
culturais ou para públicos carentes que não têm como se deslocar como, por
exemplo, os idosos e pacientes acamados.
Público variado: aqui jovens estudantes do SENAC |
Detentora de
uma energia contagiante, a contadora de história só teme uma coisa: que esse
trabalho se perca. Por isso, quer colocar em prática um projeto antigo, de formar
contadores de história. “Já pensou uma pessoa, mesmo que analfabeta, que saiba
contar uma história se apresentando numa praça pública, num ponto de ônibus?
Não precisa saber ler. Não precisa contar história dos livros. Pode contar
histórias da vida, histórias da infância. Vale tudo”, assinalou.
Um dos netos no "Recanto João e Maria" de sua casa |
Maria
Cristina Paoliello enviou à Secretaria Municipal da Cultura, há dois anos, um
projeto para que o poder público apoie a iniciativa de formação de contadores.
Com tempo livre, sólida formação de educadora e muita história para contar, ela
quer dividir seus conhecimentos com todos que tiverem interesse.
“As pessoas
têm medo de ser feliz e sorrir. É preciso tira-las dessa vida fechada. Ninguém
pode viver dentro de um quadrado”, pontuou a contadora de história que se
prepara para mais uma apresentação. No próximo sábado, dia 18, na Escola da
Família de Jafa (Distrito de Garça), ela estará com sua mala cheia de bonecos,
almofadas e acessórios. E também as velas com que inicia a “Cerimônia da Luz”,
de preparação para o mergulho no surpreendente mundo da imaginação!
* Reportagem publicada na edição de 12.05.2013 do Correio Mariliense
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