domingo, 29 de dezembro de 2019

RETROSPECTIVA: UM ANO MARCADO POR BOAS INICIATIVAS NAS ÁREAS SOCIAL E AMBIENTAL

Por Célia Ribeiro

Em 56 reportagens publicadas de janeiro a dezembro, o ano de 2019 termina com um balanço muito positivo nas áreas social e ambiental de Marília. Dezenas de personagens, alguns conhecidos, mas a grande parte de anônimos, fizeram a diferença em pequenas ações que contribuíram para melhorar o meio-ambiente e amenizar o sofrimento de quem mais precisa.
Legumes, verduras e frutas: tudo fresquinho
Nesta coluna, publicada no Jornal da Manhã e também disponível neste blog, passaram dezenas de voluntários de entidades beneficentes e cidadãos preocupados em tornar o planeta melhor cuidando de seu entorno.

Em janeiro, destaque para o professor universitário Paulo Medeiros que, ao se aposentar, concretizou o sonho de trabalhar com agricultura orgânica. Do seu sítio, em Vera Cruz, saem legumes, verduras, frutas e ervas para a lojinha “Orgânicos Bela Vista”, localizada no jardim Maria Izabel.  No mesmo mês, uma reportagem mostrou a artista multifacetada Carol Alaby com sua escola de educação musical. Pianista, bailarina, cantora, sapateadora, acrobata, atriz e contadora de história, ela recebe de bebês até crianças de oito anos.
Café da manhã servido a pessoas em situação de rua
No mês de fevereiro, Mary Kaneji foi retratada como a artesã que faz arte pensando no meio ambiente. Inspirada pela avó, que costurava muito bem e não desperdiçava um fiapo de tecido, ela começou costurando à mão lindas colchas de patchwork. Hoje, também ensina suas alunas a criarem peças praticamente sem gerar resíduos. É a verdadeira arte sustentável.

A reportagem de março mostrou um dia no “Circo”, criado há 50 anos por Valdyr Cezar e sua esposa Marina, de saudosa memória. Com quase 100 associados, além das animadas partidas de Futebol Society disputadas aos domingos, a turma do Circo promove concorridos eventos beneficentes que atendem dezenas de instituições filantrópicas de Marília, sem falar no tradicional baile de carnaval.

Em abril, o destaque foi a ação dos voluntários da Pastoral da Solidariedade da Igreja Nossa Senhora da Glória. Com ajuda dos fiéis, são adquiridos alimentos para o café da manhã (pães, frios, leite, café e açúcar) oferecido às pessoas em situação de rua, aos domingos. Em média, 200 pessoas são atendidas.
O Circo: 50 anos de esporte, cultura e filantropia
A Associação de Combate ao Câncer (ACC) divulgou, em maio, a criação do Ambulatório de Práticas Integrativas e Complementares disponibilizado aos pacientes em tratamento oncológico, bem como seus familiares e cuidadores. Isso foi possível graças ao patrocínio do Instituto Cooperforte que apoiou a capacitação de 30 profissionais. Entre as práticas integrativas, a ACC está oferecendo: aromaterapia, florais, Reiki, auriculoterapia e massoterapia.

Em junho, uma reportagem mostrou o impacto do projeto “Apolônias do Bem”, da ONG Turma do Bem. Através de cirurgiões-dentistas voluntários, são atendidas mulheres vítimas de violência que perderam os dentes em função de agressões físicas e maus tratos. Trata-se de um projeto nacional que também foi disponibilizado pela ONG em Marília.
Resgate da autoestima

No mês de julho, ampla reportagem mostrou a luta de duas mães, Cláudia Marin e Nayara Mazini, que obtiveram na Justiça o salvo conduto para o cultivo da cannabis medicinal para tratamento de seus filhos, respectivamente Mateus e Letícia. Durante o ano, foram várias matérias sobre o uso de medicamentos à base de canabidiol e THC.

A tradicional campanha dos lacres de latinhas de alumínio, que resultou na doação de centenas de cadeiras de rodas pela Metalúrgica Marcon, ganhou um reforço. Em agosto, foi apresentada a campanha que arrecada tampinhas de plástico duro junto à população. O material é vendido e os recursos servem para aquisição de fraldas geriátricas doadas aos asilos da cidade.

Na área ambiental, outra iniciativa foi mostrada em setembro: a Recicloteca criada pelo Centro de Educação Ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Limpeza Pública. Refrigeradores velhos são restaurados para armazenarem livros de acesso gratuito à população. A leitura está garantida no Terminal Rodoviário, na UBS São Miguel, no GACCH, entre outros pontos.

No mês de outubro, reportagem mostrou o trabalho da arquiteta Mary Motta, que se dedica às construções sustentáveis que geram o mínimo de resíduo para o meio-ambiente. Em novembro, o destaque foi a empresária Marina Galhardo, ex-faxineira e babá, que cursou faculdade e empreendeu no setor de limpeza.
Óleo de cannabis:
esperança!


E o ano terminou com uma ótima notícia Cláudia Marin conseguiu fazer a primeira extração de óleo de cannabis medicinal para tratamento de seu filho. Ela cultiva a planta, popularmente conhecida por maconha, com autorização judicial, e conseguiu óleo suficiente para sete meses de tratamento do filho portador da Síndrome de West.

Que em 2020, possamos registrar muitas notícias positivas como as 56 mostradas ao longo do ano que se encerra. Após um breve recesso, voltaremos com reportagens inéditas no dia 12 de janeiro. 
Feliz Ano Novo!

Coluna publicada no Jornal da Manhã em 29.12.2019. Clique nos hiperlinks do texto para ler a reportagem completa de cada mês.

domingo, 22 de dezembro de 2019

EMPREENDEDORISMO: EM SEMINÁRIO MULHERES COMPARTILHAM HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO.

Por Célia Ribeiro

Início da noite do dia 11 de dezembro: sem trégua da chuva torrencial que caiu durante toda a tarde, dezenas de mulheres se dirigiam ao Centro Universitário Eurípedes de Marília (Univem) cheias de expectativa. Em alguns minutos, seria aberto o Seminário Mulher Empreendedora promovido pela Sicredi Centro Oeste Paulista aonde relatos surpreendentes acenderiam a fagulha motivacional capaz de transformar vidas.
Myria, Alyne e Sandra: inspiração
De Jaú veio um ônibus lotado, tendo à frente a vereadora e jornalista Cléo Furquim. De outros municípios da região também vieram representantes em pequenos grupos, além da maciça presença das marilienses. Enquanto ocupavam seus lugares, as convidadas aproveitavam para fazer contatos, trocar cartões, enfim, o bom e velho networking que costura parcerias e facilita a troca de experiências.

E por falar nisso, as palestrantes da noite foram escolhidas a dedo. Com histórias de superação, elas transmitiram mensagens de otimismo e confiança: Myria Tokmaji que viveu os horrores da guerra na Síria e, aos 29 anos, continua dando lições de determinação; Alyne Moreira Lemes, assessora de Desenvolvimento do Cooperativismo da Central Sicredi PR, SP, RJ, integra a Rede Global de Mulheres Líderes e a vice-presidente do Conselho da Mulher Empreendedora de Marília e empresária da S.O.S Alergia, Sandra Fumie Matunoshita.

A VIDA POR UM FIO 

Comunicando-se em bom português, Myria Tokmaji iniciou a apresentação timidamente. Caminhando com desenvoltura à frente do auditório lotado, enquanto exibia uma profusão de imagens da terra natal, aos poucos ela cresceu diante do olhar hipnotizado da plateia. Contou sobre os horrores da guerra sem carregar nas tintas e, com sorriso amigável, fez um relato que nenhuma reportagem foi capaz de mostrar daqueles anos difíceis.
Myria: de ex-refugiada a empreendedora de sucesso
Enquanto bombas caíam perto de casa, e a energia elétrica era raridade, ela desenvolveu um lado artístico ensinando dança para crianças e se dedicando ao artesanato. Nem quando recordou o dia em que uma bomba explodiu a poucos metros do seu prédio, e todos se jogaram ao chão, Myria mudou o semblante. Mais uma vez a vida venceu.

Junto com familiares, ela deixou tudo para trás  em Aleppo e recomeçou no Brasil aonde é design gráfica e de joias. Desde os oito anos toca Qanún, tradicional instrumento de corda do século X, e se apresenta em eventos gastronômicos promovidos pela família. Com a síria que vive em Curitiba e continua se reinventando, as mulheres puderam ver ao vivo e a cores um exemplo de determinação e resiliência.
No auditório lotado, mulheres de Marília e região
COMEÇAR DE NOVO 

Difícil imaginar a trajetória de Alyne Moreira Lemes: no interior do Paraná graduou-se em Letras, mas sonhando com o jornalismo que veio cursar anos mais tarde. Com um currículo que demandaria muitas linhas desta reportagem, ela entrou para o Sistema Sicredi como assessora de Programas Sociais da Cooperativa Sicredi Campos Gerais PR, SP. E hoje é referência internacional tendo sido reconhecida como uma World Young Credit Union Professional (WYCUP) no Congresso Mundial da WOCCU em Singapura.
Alyne Lemes é referência internacional
Com filho pequeno para criar sozinha, Alyne encarou o mundo ignorando solenemente a palavra derrota. Ela teve altos e baixos, recomeços, mudanças de carreira, mas sempre acreditando nos seus sonhos. E adivinhem? Além de conquista-los, hoje ela trabalha para empoderar as mulheres. Seu exemplo de vida dispensa legendas.

Na Sicredi, Alyne “trabalha no desenvolvimento das lideranças femininas dentro do sistema com foco no atendimento às 31 cooperativas da Central; e na consolidação da principal iniciativa de responsabilidade social do Sistema – Programa ‘A União Faz a Vida’ que trabalha em parceria com as escolas por uma educação mais cidadã e colaborativa. Com isso, em 2019 participou da comitiva que levou a metodologia do Programa para professores no Haiti”, informou Natã Crivari, assessor de Comunicação e Marketing da Sicredi Centro Oeste Paulista.

COLOCAR-SE NO LUGAR DO OUTRO

Conviver com um problema de saúde desde a mais tenra idade poderia ter transformado a jovem empresária em uma pessoa triste e resignada. Com uma força interior descomunal, ela vislumbrou a possibilidade de ajudar outras pessoas a terem qualidade de vida sem abrir mão de pequenos prazeres que a alergia alimentar impossibilitava.
Sandra Matunoshita, vencedora de prêmio Sebrae
Vencedora do prêmio “Mulher de Negócios do Sebrae/SP 2013”, concorrendo com 1200 participantes, Sandra Fumie Matunoshita é o nome por trás da empresa SOS Alergia que é um exemplo de negócio bem-sucedido criado em 2004, em Marília. Não à toa, por onde passa suas apresentações atraem um grande público.

Sandra que é formada em Teologia, Serviço Social e Tecnologia de Alimentos, coordena com alguns amigos o grupo de empresários empretecos de Marília e região. Empreendedorismo, mulheres empreendedoras, propósitos, liderança e responsabilidade social são temas que estão permanentemente no seu radar.

Na apresentação do seminário, ela contou sua trajetória, os altos e baixos e, sem disfarçar a emoção, falou da alegria de poder proporcionar às pessoas, sobretudo às crianças, com alergias e intolerância alimentar produtos de qualidade que ela sonhava encontrar quando menina.

ALCANCE REGIONAL

O Seminário “Mulher Empreendedora” foi concebido com o objetivo de fomentar “uma cultura de valorização do papel da mulher na área de atuação da Cooperativa, capacitando novas lideranças e contribuindo para que haja o desenvolvimento pessoal e profissional do público feminino”, explicou a assessoria de Comunicação e Marketing da Sicredi.
Dr. João Salvi, presidente da Sicredi
Na oportunidade, estiveram presentes o presidente da Sicredi Centro Oeste Paulista Dr. João Salvi, que abriu o seminário, o Sr. Ildo Wilde, Diretor Executivo da cooperativa, e a Pró-Reitora da Univem, Raquel Sanches, que também é coordenadora do Comitê Mulher na agência Rio Branco de Marília.
Diante do grande interesse que o seminário despertou, a Sicredi avaliou positivamente o resultado.

 “A presença maciça das mulheres da região Centro Oeste Paulista mostra que o público feminino está voltado a assumir sua posição de protagonista na sociedade, seja na parte empresarial ou social. E é justamente a visão empreendedora da mulher que faz com que ela assuma os postos de liderança tão almejados pela sociedade. Portanto, quando vemos as distâncias percorridas para a participação no evento, notamos que muito se tem de garra para movimentar as comunidades na área de atuação, especialmente gerando desenvolvimento econômico e social”, finalizou Dr. João Salvi.

(Fotos Sicredi)

* Reportagem publicada na edição de 22.12.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 15 de dezembro de 2019

ESCOLINHA DE FUTEBOL QUE REVELOU CRAQUES PRECISA DE APOIO PARA PROJETO SOCIAL

Por Célia Ribeiro

Entre um drible e outro que termina com o chute em direção ao gol, balançar a rede sempre é motivo de comemoração. No entanto, o que antecede esse momento é mais valioso e seu aprendizado acompanhará os meninos por toda a vida: mais que ensinar futebol para 120 garotos do Jardim Califórnia e adjacências, o professor Rui Vieira de Souza ajuda a formar cidadãos responsáveis em um projeto social que sobrevive graças à ajuda da comunidade.
Treino na quinta-feira (12) na Vila Coimbra
No mesmo local de uma tragédia, no dia 29 de dezembro de 2011, quando um temporal derrubou a cobertura metálica da quadra esportiva atingindo João Victor Silva Medeiros, de 8 anos, ao lado da Casa do Pequeno Cidadão, seu irmão, Juan Cesar Silva Medeiros, de 14 anos, hoje treina na escolinha UNIEBRAS (Universidade dos Esportes Educacional Unidos Brasil Social).

Na época da morte do irmão, Juan tinha seis anos e por pouco ele e outros meninos não foram atingidos. Ao final do treino que o JM acompanhou, ele brincava de bola com alguns amigos quando revelou o desejo de ser um craque como tantos que passaram pelas mãos do professor Rui.

Formado em Educação Física e em Farmácia, o treinador fala com orgulho dos 32 anos de atividades do seu projeto social: “É a escolinha de futebol mais antiga. Por aqui já passaram muitos craques que jogam em grandes clubes no Brasil e no exterior”, contou. Um deles é Diogo Pereira, 29 anos, que joga no Vietnã.
Diogo acima e à direita, ao lado do goleiro
Em entrevista ao Jornal da Manhã, Diogo disse que treinou na escolinha de Marília até os 13 anos quando foi para o Palmeiras, onde permaneceu por cinco anos. Ao se profissionalizar, teve passagens pelo Palmeiras, Guarani, Noroeste, Bragantino, Novo Hamburgo etc, até que, em 2016, assinou com uma equipe no Vietnã onde é um dos ídolos.

“É uma escolinha que ajuda as crianças a saírem das ruas, forma homens capazes de seguirem seu futuro. Nem todos se tornam profissionais. Mas, tem alguns que continuam no esporte, em outras áreas”, frisou. O atleta afirmou que a oportunidade dos meninos frequentarem a escolinha, que tem disciplina e exige frequência no colégio e boas notas, contribui para a formação de verdadeiros cidadãos.

LUTA DIÁRIA

Com 120 garotos que frequentam os treinos às terças, quartas e quintas no horário do contra turno escolar, o professor Rui disse que poderia receber um número muito maior de alunos se tivesse patrocinadores. Para manter a estrutura, que inclui uniforme e inscrições para competições, o treinador está sempre de chapéu na mão pedindo ajuda.
Diogo Pereira é ídolo no Vietnã
São realizados bingos, rifas e outras promoções em que muitos ex-alunos, atualmente jogando profissionalmente, costumam contribuir. “Se cada ex-atleta doasse só 10 reais, teríamos 10 mil reais por mês. Temos custos altos. Para se ter uma ideia, vai ter a Copa Sul Americana. Foram convidadas oito equipes de Sub 11 até Sub 18 e precisamos de 14 mil reais só para as inscrições”, explicou.

Segundo o treinador, os pais ajudam quando podem. Dos 120 garotos que frequentam a escolinha de futebol, regularmente, apenas 20 têm uniforme. Falta para os outros 100 meninos. Uma camisa custa 89 reais e ainda precisam de calção, meião etc. Por isso, toda ajuda é bem-vinda.

“Fazemos das tripas o coração pela sobrevivência e manutenção da escolinha pois enquanto estiver uma criança na rua desassistida, estaremos aqui prestando o nosso serviço de resgate da cidadania voluntariamente”, frisou. Neste sentido, o treinador fez um apelo a que profissionais liberais, empresários, comerciantes e qualquer pessoa que se sensibilizar apoie o projeto contribuindo com qualquer valor.

O professor Rui explicou que “nosso projeto era pra ser mais abrangente desde o início, há 32 anos, mas por falta de recursos até hoje não conseguimos implantá-lo totalmente. Hoje, desenvolvemos o futebol em todas as categorias de Base: Sub 7,9,11,13,15,17 e 18 anos no masculino”. O projeto previa Sub 20, 23, sênior e super sênior, e esportes adaptados para terceira idade e deficientes físicos e intelectuais.
Juan, Robson e Lucas com o professor Rui
De acordo com o treinador, periodicamente, são promovidas palestras, os garotos são orientados a seguirem os estudos, seja em Escola Técnica, seja na Universidade. Os treinamentos são realizados com muito critério, os pequenos atletas passam por avaliações e “encaminhamento dos mais aptos, em todas as categorias, para grandes clubes profissionais do Brasil e exterior”.

Finalizando, o treinador lembrou das despesas necessárias a enviar os meninos para testes, além dos materiais utilizados no dia a dia (uniformes, bolas, chuteiras, redes, traves etc). Para colaborar com o projeto social, podem ser feitos depósitos para: Bradesco, Agência 0002, Conta 1014318-7 em nome de Rui Vieira de Souza. A escolinha funciona no Poliesportivo da Vila Coimbra e o telefone de contato é (14) 998600020.

SONHOS
Professor Rui mostra fotos de ex-alunos
Alheios às dificuldades do projeto social, garotos como Lucas Rian Balbino e Robson Junior dos Santos, ambos de 14 anos, olhavam fotografias de jogadores profissionais que começaram na escolinha de Marília enquanto o professor Rui organizava seus arquivos históricos. Para esses meninos, às vésperas do Natal, o sonho de chegar a um grande clube não depende do Papai Noel, mas do seu próprio empenho, dia após dia.

*Reportagem publicada na edição de 15.12.2019 do Jornal da Manhã



sábado, 7 de dezembro de 2019

CANNABIS MEDICINAL: COM HABEAS CORPUS, MÃE REALIZOU PRIMEIRA EXTRAÇÃO DE ÓLEO

Por Célia Ribeiro

Óleo da cannabis
A jornada de uma mãe em busca de qualidade de vida para o filho registrou uma das maiores vitórias, em Marília, interior de São Paulo. Cláudia Marin realizou, nesta semana, a primeira extração de óleo da cannabis medicinal, cultivada com autorização da Justiça, que lhe permitirá oferecer ao filho Mateus o medicamento por até sete meses, sem depender da longa fila de espera para importar o produto ou obtê-lo de fornecedores certificados no Brasil.

Como já registrado pelo Jornal da Manhã, Cláudia Marin e Nayara Mazini ingressaram com uma ação conjunta na Justiça obtendo o salvo conduto para cultivarem a planta, popularmente conhecida como maconha, para fins medicinais. Elas só podem plantar e extrair o óleo para tratamento de seus respectivos filhos, no caso, Mateus e Letícia.

Existem muitas maneiras de cultivar a Cannabis que possui diferentes percentuais de Tetrahydrocannabidiol (THC) e Canabidiol (CBD). No caso de Cláudia, a opção foi pelo cultivo “in door”, isto é, em estrutura controlada com equipamentos orçados em torno de cinco mil reais.
Cláudia e Mateus

Segundo ela, no método de cultivo “in door”, é possível controlar as pragas, regular umidade, temperatura, luz etc, que refletem na evolução das plantas até o ponto de colheita para extração do óleo. “A maior dificuldade é o cultivo de algo desconhecido e culturalmente negativo”, afirmou Cláudia, citando a desinformação em relação à utilização da maconha para fins estritamente medicinais e o uso recreativo.

Cláudia e o marido Rafael Castelazi obtiveram sementes de variedades adequadas para produzir THC e CBD de acordo com as necessidades do Mateus e a prescrição médica. O garoto de 12 anos, ainda bebê, foi diagnosticado com a “Síndrome de West”, Epilepsia de difícil controle advinda de uma microdeleção do braço longo do cromossomo 9, chegando a ter 80 convulsões por dia. “Com a dieta Cetogênica e o uso de cannabis medicinal integral, as convulsões zeraram parcialmente, aumentou a imunidade e melhorou a parte motora, cognitivo, entre outros”, relatou a mãe.

GRATIDÃO

Ao relatar o processo de extração do óleo, Cláudia não conseguia esconder a emoção por chegar ao fim de mais uma etapa da luta pela saúde do filho: “O processo pode ser complicado ou não. Mas, a sensação de alívio e de gratidão por conseguir fazer acaba descomplicando tudo. É uma manipulação muito fácil”, assegurou.

Ela contou que muitas pessoas autorizadas a cultivarem a cannabis optam pelo plantio outdoor, a céu aberto, mas podem enfrentar dificuldades para conseguirem que as plantas se desenvolvam a contento, sem contar o ataque de pragas.
O óleo foi armazenado com cuidado
O processo de obtenção do óleo, ministrado a conta-gotas aos pacientes, leva em torno de cinco dias para finalizar as etapas. Segundo Cláudia Marin, ao chegar ao óleo pronto para consumo, na sua cor esverdeada característica, um misto de sentimentos tomou conta do casal: “É uma sensação de alegria, de gratidão, de saber que vou dar qualidade de vida para o Mateus, que eu e meu marido pudemos estar juntos, vendo tudo ali e saber que é para a melhoria do Mateus, é indescritível. É uma sensação plena”.

Quanto à qualidade do óleo artesanal, ela explicou que será enviada uma amostra para análise no Paraná, embora esteja convencida de suas propriedades medicinais porque as sementes foram escolhidas para produzir as plantas que dariam óleo com os compostos sob medida para as necessidades do filho.
Uma das plantas cultivadas

Para Cláudia, “o óleo representa qualidade de vida, representa a vida, gratidão a Deus e a todas as pessoas que estiveram envolvidas até hoje com relação ao que foi proposto para o Mateus”. Ela contou como o filho reagiu: “Quando estava colocando nos vidrinhos, ele sorria. Eu acredito que ele sabe que era para ele aquilo. Ele sabe quantas vezes esse remédio o tirou de crise convulsiva”.

ANVISA

Sobre a recente autorização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para registro e produção nacional de medicamentos à base de cannabis e que poderão ser vendidos em farmácias, sob prescrição médica, Cláudia Marin observou que a população de baixa renda será a mais afetada diante dos altos preços, que podem chegar a três mil reais.

“O auto cultivo estaria aí para ajudar essas famílias. Aparentemente, essa liberação da ANVISA facilitou para a indústria farmacêutica e para as empresas que fabricam o produto rico em CBD e quase nada de THC”, assinalou. Por isso, afirmou que “a luta continua. Vamos continuar levando informações para a população, o conhecimento do que é a cannabis medicinal”. A agência proibiu o cultivo da cannabis no Brasil, que só é autorizado caso a caso por ingresso de ações na Justiça.
Estoque para 07 meses

Finalizando, ela deixou uma mensagem para as famílias que tentam acesso ao medicamento: “Diagnóstico não é sentença. Qualidade de vida não é a busca da cura, é a busca do prazer, da sensação de alegria de ver um sorriso no rosto do seu filho”. E agradeceu “a Deus, à minha família, aos meus amigos e aos novos amigos que fizemos neste caminhar”.

Na quarta-feira (04), Cláudia e Nayara Mazini participaram da reunião da MALELI (Associação Cannabica em Defesa da Vida), no auditório da Faculdade de Medicina (Famema) para uma avaliação sobre o I Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista realizado no dia 23 de novembro em Marília. Estiveram presentes alguns voluntários da entidade que traçarão os planos para atuação a partir de 2020.

Alguns dos voluntários da MALELI: a luta continua

Cláudia durante reunião na Famema

*Reportagem publicada na edição de 08.12.2019 do Jornal da Manhã


domingo, 1 de dezembro de 2019

ACOLHIMENTO: HEUREKA RECEBE CRIANÇAS CARENTES COM DÉFICIT DE APRENDIZAGEM.

Por Célia Ribeiro

Segundo o IBGE, existem no Brasil 45,6 milhões de pessoas com deficiências, sendo 3,5 milhões de crianças até 14 anos. Se no passado os casos de autismo, déficit de atenção, hiperatividade etc, raramente eram diagnosticados precocemente, hoje é possível acolher, diagnosticar e acompanhar as crianças desde cedo quando os resultados mostram-se animadores. Um dos trabalhos iniciados em Marília é o do Espaço Integrado Heureka, da neuropsicopedagoga clínica Rita de Cássia de Campos Andery.
Maria Clara realiza atividades

Após vários anos atuando em Minas Gerais, ela trouxe a proposta do Heureka para a cidade adotando uma tabela social de modo a oferecer a famílias de baixa renda a oportunidade de seus filhos também receberem o tratamento multidisciplinar adequado. Ela explicou que realiza atendimento particular, “mas nenhuma mãe que vem me procurar fica sem atendimento. Nem que seja um valor simbólico”, frisou.

Rita no Heureka de Marília
Rita Andery disse que o “Heureka é um projeto de amor”, antes de tudo. Ela se emocionou ao relatar casos de crianças e jovens que passaram pelo Centro com ganhos significativos em qualidade de vida. Para tanto, ela mantém parcerias com profissionais de várias áreas como neurologista, psiquiatra, fonoaudióloga, psicóloga, terapeuta ocupacional, nutricionista etc.

“Encontramos uma forma de humanizar, cada vez mais, o trabalho desenvolvido com crianças, jovens e adultos que apresentavam dificuldades de aprendizagem, transtornos, distúrbios, superdotação ou necessitavam de reforço escolar de forma abrangente e equitativa através do carinho, afetividade, dedicação, preparação técnica, conhecimento científico e compromisso contínuo”, destaca o portal do Heureka.

Segundo Rita Andery, “a neuropsicopedagogia trabalha de forma mais profunda com a dificuldade de aprendizagem. Quando a criança vem sem laudo, sem estar diagnosticada, eu faço o processo de diagnóstico. Como neuropsicopedagoga clínica eu posso diagnosticar. Não posso laudar porque só o médico pode laudar uma criança com autismo, um tipo de transtorno biológico”.
Garoto realiza atividades com acompanhamento
Conforme disse, “essa criança é trabalhada junto comigo no seu desenvolvimento. Eu a encaminho a uma neurologista que trabalha em parceria comigo. Dependendo do caso, a criança precisa ser medicada ou é um caso para psiquiatria. E aí, depois de medicada, se for o caso, essa criança continua comigo, semanalmente, e eu vou trabalhar onde está detectado o problema”.

Ela prosseguiu, explicando que “são realizados exercícios e testes montados para cada necessidade, de acordo com todas as normas existentes”. As ocorrências mais comuns são de dislexia, disortografia e dislalia (distúrbios na fala). Entre as disfunções de aprendizagem encontram-se o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDH), Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD).

DESCOBERTA TARDIA

Em São Sebastião da Bela Vista (MG), o Heureka chegou a atender 100 crianças e adolescentes. Da longa vivência na área, Rita que tem vários títulos no currículo, incluindo Mestrado e leciona no EAD de Gestão Educacional da UNIMAR, coleciona muitas histórias. Entre elas, uma chama a atenção por envolver mãe e filha autistas.
Foto de arquivo do centro em MG

Rita Andery contou que “o último diagnóstico que fiz foi em um adulto. A pessoa viveu a vida inteira com isso e sofreu. Eu cuidava da filha dela, que é autista. E ela foi minha aluna de Psicopedagogia. Ela começou a olhar para a filha e para ela e depois de um ano e meio me procurou para atendê-la. Ficamos três horas em atendimento. Ela contou sua história e tudo o que viveu”, recordou a profissional.

Após concluir o relatório e encaminhar a aluna, de 30 anos, para o neurologista, teve a confirmação de que era portadora de Transtorno de Espectro Autista. Atualmente, a ex-aluna encontra-se em acompanhamento em Minas e a professora demonstra orgulho ao afirmar que “ela será uma psicopedagoga espetacular” quando se formar.

A profissional observou que sempre houve casos de deficiências. O que faltava era diagnóstico precoce. “No meu tempo isso já existia. Não tinha neuropsicopedagogo clínico. A gente escutava que fulano não batia bem, eram comentários negativos”, destacou citando o preconceito movido pela falta de informação.

Ela acrescentou que “antes se colocava tudo em uma cumbuca só. Provavelmente, uma criança podia ser arteira, mesmo, mas muitas vezes podia ser autista, hiperativa ou ter outro transtorno. A criança, muitas vezes, era rotulada como péssimo aluno que não gostava de estudar”. Conforme disse, o problema é mais comum do que se pensa e afeta alunos das redes pública e privada. O que diferencia é a procura mais rápida por encaminhamento adequado.

O Espaço Integrado Heureka funciona na Rua Alfeu Cesar Pedrosa, 96, Bairro Fragata. Informações: anderyrita@gmail.com Fotos: Arquivo do Heureka  com autorização de uso de imagem.

* Reportagem publicada na edição de 01.12.2019 do Jornal da Manhã

domingo, 24 de novembro de 2019

SOLIDARIEDADE: A ORIGEM DO GRUPO QUE ORGANIZOU EVENTO DA CANNABIS MEDICINAL

Por Célia Ribeiro

O que um cirurgião-dentista, uma assistente social, uma docente, uma psicóloga e um advogado têm em comum? A pergunta pode ser estendida a um grupo de quase 40 pessoas que inclui jornalista, publicitário, comerciante, donas de casa, estudantes, produtora rural, enfermeira, filósofo, sociólogo, farmacêutica e muitas outras profissões. Em comum, eles têm a vontade de contribuir com a difusão de informações que levem esperança a milhares de pessoas que se beneficiarão do uso da Cannabis Medicinal.
Última reunião geral, na quarta-feira (20/11)
Esse exército de voluntários, muitos deles ligados a Organizações Não Governamentais (ONGs), formou a linha de frente do 1º Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista realizado ontem, no anfiteatro da Universidade de Marília. Com a presença de quase 400 pessoas de várias regiões do Brasil, o evento trouxe juristas e médicos para debaterem sobre os vários aspectos do uso da cannabis no tratamento de um sem número de doenças.

Entre os primeiros voluntários estava o advogado Pedro Luís Fracaroli Pereira. Ele foi impetrante do Habeas Corpus que concedeu a ordem de salvo conduto para as mães Cláudia Marin e Nayara Mazini cultivarem cannabis e produzirem o óleo medicinal para o tratamento de seus filhos, Mateus e Letícia, respectivamente.
Mateus observa a cannabis
O advogado contou que quando foi procurado pelas mães ficou sensibilizado com a luta “pela saúde de seus filhos bem como a vulnerabilidade destes pequenos. E, por vislumbrar com outros colegas, possibilidade jurídica de ajudá-las com o tratamento dos filhos, decidiu abraçar a causa nos limites profissionais com elas ajustados”.

Já a assistente social Sueli Farias disse que é voluntária da Associação Anjos Guerreiros, uma das entidades promotoras do Seminário, desde 2017: “O que me cativou na associação foi constatar que o trabalho que ela se propõe vem ao encontro  da importância que tem numa sociedade, de estimular o protagonismo das pessoas através das lutas coletivas. Quando nos reconhecemos parte de algo maior, além do "meu problema", eu ganho mais força e ajudo o outro a seguir em frente”.

Ela destacou a união do grupo: “Estar junto com mães tão guerreiras, que incansáveis seguem dia a dia buscando o melhor para todos os filhos é um privilégio, é aprendizado, é descobrir cada dia motivos para sermos pessoas melhores”.

EXEMPLO FAMILIAR

Sempre disposto a colaborar com as tarefas em grupo, o cirurgião-dentista Cezar A. Carvalhal Altafim revelou que o exemplo veio do berço: “O voluntariado em minha vida surge como um preceito moral passado por meus pais ao demonstrarem que solidariedade, respeito e compaixão são sentimentos necessários a todas as pessoas e virtudes cívicas”.
Sueli e Cezar: solidariedade em comum

Conforme disse, “hoje atuando como profissional na saúde coletiva e como diretor da Associação Paulista de Saúde Pública venho me dedicado à defesa da saúde e da vida com dignidade como direito de todos, e isso me levou a conhecer a realidade das famílias que necessitam do uso desta medicação para casos de epilepsia, autismo, tratamento da dor e Alzheimer, podendo perceber o alívio do sofrimento e o impacto positivo na qualidade de vida não só do paciente mas também de seus familiares e amigos. E esta melhora coletiva das relações, do cuidado e da saúde das pessoas é a motivação para ser voluntário”.

A psicóloga forense e professora Berenice de Lara Silva lembrou a importância da informação: “Senti que era importante, nesse momento, fazer com que as pessoas tivessem conhecimento de uma maneira científica, correta, das possibilidades da cannabis sativa como uso medicamentoso. Por outro lado, me sensibilizei com a questão das mães porque ver o filho sofrer, sem muita perspectiva de resolução dentro do que se conhece no tratamento convencional, saber que existe uma possibilidade e deixar de lado é inviável para uma mãe”.
Regiane e Fernanda guardando itens para o coffee break
Ela acrescentou que “isso sensibiliza para uma luta porque sabemos de mães que já alcançaram esse benefício. Como a Cláudia e a Nayara colocaram, queriam que outras mães tivessem conhecimento de maneira embasada cientificamente e juridicamente correta. Assim, mais pessoas se beneficiarão. Um dos trabalhos da humanidade é procurar disseminar o bem. Então, me dispus a fazer isso porque valia a pena. São trabalhos gratificantes que a gente vê resultados positivos”, concluiu.
Os voluntários se dividiram em grupos para executarem suas tarefas
Na última reunião geral, quarta-feira (20), na Faculdade de Medicina, após vários encontros realizados desde julho, Cláudia Marin fez um agradecimento especial lembrando a importância de cada um que doou seu tempo, conhecimento e suas redes de contato, para que o evento se tornasse realidade.
Voluntários na recepção do evento
“Somos multiplicadores de ideias, do que faz bem e do que faz mal. Se a gente conseguir colocar tudo de bom que a gente está vendo com relação à Cannabis Medicinal, uma pessoa fala para 10 e essas colocam para mais 10 pessoas”, assinalou. Ela falou sobre o sentimento de gratidão a todos que se dedicaram, agradecendo pelo apoio à causa “que não é a causa do Mateus e da Letícia. A causa é das pessoas que precisam se tratar e que precisam, não digo da cura, mas da qualidade de vida que a cannabis pode proporcionar”.
Nicklas fez a entrega dos uniformes da MALELI
A docente Sílvia Helena Almeida disse que nenhuma teoria superaria o que aprendeu nas últimas semanas: “Quando você se envolve, você pode estudar. Agora, essa prática que nós estamos vivenciando é como se fosse um projeto educacional”, observou.

Ao encerrar a reunião geral, Cláudia Marin anunciou que juntamente com Nayara Mazini e Fernanda Peixoto, que possui cursos realizados em Israel e no Canadá sobre extração do óleo da cannabis para fins medicinais, promoverá uma roda de conversa para os voluntários da comissão organizadora. A ideia é fornecer a informação precisa para ser difundida como antídoto ao preconceito e à desinformação que cercam o assunto.
Solenidade de aberturta do seminário
* Reportagem publicada na edição de 24.11.2019 do Jornal da Manhã

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CANNABIS MEDICINAL: EVENTO REUNIRÁ MÉDICOS E JURISTAS EM MARÍLIA


Célia Ribeiro

No próximo sábado, 23 de novembro, Marília sediará o 1º Seminário de Cannabis Medicinal do Centro Oeste Paulista reunindo médicos, juristas, representantes de ONGs e de familiares de pacientes que buscam informação sobre o tema. Promovido pela Escola da Defensoria Pública, Associação Anjos Guerreiros e MALELI-Associação Canábica de Marília, o evento acontecerá das 8 às 18h, no auditório da UNIMAR que apoia o seminário juntamente com o HC-FAMEMA, FAMEMA e EPI-Brasil (Federação Brasileira de Epilepsia).
 Mateus observa planta em ponto de colheita


Diante do grande interesse que o tema desperta, o seminário contará com a participação de pessoas de várias regiões do Brasil, com quase 600 inscritos antecipadamente, segundo informaram a enfermeira Nayara de Fátima Mazini Ferrari e Cláudia Marin Pereira Castelazi, fundadoras da MALELI e mães de duas crianças que utilizam a cannabis medicinal. Elas conseguiram habeas corpus na Justiça para cultivarem a planta a fim de extraírem o óleo empregado no tratamento dos pequenos Mateus e Letícia.

A necessidade de difundir informações corretas sobre a cannabis motivou a promoção do seminário. Cláudia Marin afirmou que “a gente não poderia ficar sentado olhando as pessoas sofrerem, precisando de uma luz, precisando de qualidade de vida, e a gente ficar sem fazer nada”. Conforme disse, a ideia era trazer um grande evento ao interior paulista porque congressos, simpósios e seminários da área normalmente ocorrem apenas nas grandes capitais.

Ela prosseguiu explicando como foi o processo que angariou apoio de dezenas de voluntários e de instituições idôneas: “Entramos em contato com médicos e juristas exatamente para trazermos essa informação que é de muita importância na vida de muita gente. Para os que conhecem vai somar. Para os que não conhecem vai trazer a informação. A falta de conhecimento é pelo tabu. A cultura é que a maconha é uma droga e que nunca foi vista como medicinal”.
Nayara e Cláudia em busca de qualidade de vida para os filhos
Claudia Marin relatou sua experiência familiar: “Eu posso dizer, mais do que ninguém, que vejo meu filho que tinha 80 crises convulsivas por dia e que junto com a dieta cetogênica e a cannabis fez com que hoje o Mateus estivesse praticamente zerado em crises convulsivas. É uma criança que teve Síndrome de West, lesão cerebral, que retirou 25 por cento da massa encefálica. Hoje ele consegue fazer coisas que não fazia, a parte motora e a imunidade dele melhoraram, ele está mais feliz e demonstra mais sentimento. Tudo devido à cannabis”.

Ela concluiu frisando que há muita confusão sobre a cannabis medicinal e a liberação das drogas: “Não estamos trazendo nada sobre a liberação da maconha para uso recreativo. Estamos na luta para trazer informação sobre o uso da cannabis medicinal para tratamento. Estamos falando do óleo da cannabis com princípios terapêuticos e não do fumo. Não podemos prometer a cura para ninguém. A gente está em busca de qualidade de vida”.

ESPERANÇA

Por sua vez, a enfermeira Nayara Mazini, mãe da pequena Letícia, afirmou que “na ciência, quando se descobre algo que pode salvar a vida de alguém não é justo que esta descoberta seja restrita ou proibida, ou mesmo que seus avanços se tornem inatingíveis em razão de interesses adversos. Nós, mães, sentimos na pele cada dor, cada lágrima de nossos filhos. Vivemos junto com eles todo o sofrimento, o desespero pela ausência de respostas que nunca chegam”.

Ela assinalou que “a Medicina Canabinóide entrou em nossas vidas quando já não restavam opções oportunas num uso compassivo para epilepsia refratária. Hoje me pergunto quantas lesões poderiam ter sido evitadas se eu tivesse tentado antes. Enquanto enfermeira saí em busca de conhecimento, desbravando um mundo totalmente desconhecido, longe de alcance e repleto de preconceito que hoje vejo como um desrespeito já que priva quem precisa de poder ter uma vida com esperança, qualidade e sonhos”.
 
Nayara e a pequena Letícia
Nayara contou que “Lelê nasceu com a Síndrome 1p36, uma alteração genética com várias implicações como má formação cerebral, lábio leporino, cardiopatia, sistema imunológico comprometido e as várias complicações derivadas desse quadro. A rotina era terapias intensivas, consultas nas diversas especialidades, pronto socorro, sucessivas internações inclusive em UTI, medicações para tudo, antibiótico contínuo, enquanto deveria apenas comer, brincar, dormir e sorrir como qualquer outra criança”.

Com a introdução da cannabis, tudo mudou: “Ter a maconha como a última chance não foi uma decisão simples, mas foi a mais assertiva. A busca por conhecimento sobre uma alternativa terapêutica que propõe revisão de conceitos, quebra de tabus e paradigmas me levou à descoberta de pessoas incríveis, que enfrentam o mundo para mostrar que é possível, que precisamos ser pró ativos e temos direito ao cuidado apoiado e de ser vistos na integralidade, como seres únicos e indivisíveis”.

Ela destacou que “a idealização do Seminário partiu da inquietude de ver pessoas sofrendo, por diversas condições de doenças e sem esta mesma oportunidade. Fazer o Seminário em Marília é um sonho que está sendo realizado em coletivo com muito amor, muita união e dedicação. Letícia é a prova viva de todos os benefícios que a Cannabis Medicinal pode proporcionar. Muitas crianças, adultos e idosos precisam da terapêutica com canabinóides, assim como os profissionais precisam conhecê-la para poder ofertar ao paciente essa alternativa de tratamento”.

Finalizando, Nayara disse que “é preciso que as pessoas conheçam que há uma possibilidade para o alívio do sofrimento. É urgente que deixemos o preconceito de lado para que muitos tenham esperança de qualidade de vida e possam voltar a sonhar. O desejo de nosso coração é muito simples: ajudar àqueles que precisam”.

PROGRAMAÇÃO

A partir das 8 horas, estão confirmadas as palestras com os juristas: Dr. Amilton Bueno de Carvalho (CESUSC/TJRS-Desembargador) que abordará o tema “Não seria criminosa a criminalização do uso de drogas?”, Dr. Benedito Cerezzo Pereira Filho (UFPR/UnB) com o tema “Do Estado Legislativo ao Estado Constitucional: a responsabilidade do Judiciário na concretização dos direitos fundamentais” e Dr. Flávio de Almeida Pontinha (Defensor Público/SP) com o tema “A Construção de Estereótipos: A criminalização de grupos como instrumento de controle social”.
Quase 600 inscrições antecipadas

Em seguida haverá a Roda de Conversa com o tema “Cenário nacional da Cannabis medicinal: percursos e desafios para a Regulamentação de que precisamos”. A farmacêutica Dra. Caroline Marroni Cremonez (USP/NEA.TOX/ABHU) abordará o tema “Farmacologia da Cannabis Medicinal e o Sistema Endocanabinoide”.

Quanto à palestras médicas, a Dra. Eliane Lima Guerra Nunes (USP/SBEC) falará sobre “Cannabis Medicinal: Desafios no Brasil para tratamento da Epilepsia, Autismo e Transtornos Psiquiátricos”; o Dr. Paulo Tomaz Fleury Teixeira (UFMG/UNASUS) abordará o tema “Cannabis Medicinal: terapêutica canábica na dor crônica, nas doenças inflamatórias, autoimunes e degenerativas”. E o Dr. Leandro Cruz Ramires da Silva (UFMG/AMA+ME) fará exposição sobre “Cannabis Medicinal: abordagem terapêutica em Geriatria e Oncologia”.











sábado, 16 de novembro de 2019

HORTA ORGÂNICA: RECICLADORES APROVEITAM ÁREA PÚBLICA PARA GERAR RENDA.

Por Célia Ribeiro

De um lado, uma grande quantidade de materiais amontoados em pilhas à espera da correta separação: metais, vidros, papel e papelão, plásticos, latas, entre outros. Na outra extremidade do terreno, canteiros muito bem cuidados exibem verduras e legumes em ponto de colheita. Trata-se da horta orgânica que a Cooperativa de Reciclagem “Recicla Marília” iniciou para gerar renda e também melhorar a alimentação dos cooperados, a maioria ex-catadores de recicláveis.
Horta: qualquer produto por três reais
Localizada na zona norte, ao lado da Unidade de Saúde Jânio Quadros, a cooperativa começou tímida, em 2014, relatou o presidente Márcio Cleber Eurinídio. Ele explicou que a coleta seletiva de lixo tem crescido em várias regiões da cidade graças a um trabalho de formiguinha. Determinado, ele está em busca de parceiros para ampliar a área atendida dando destinação correta a toneladas de recicláveis que se juntariam ao lixo orgânico com grave impacto ao meio-ambiente.

“Coletamos um pouco de tudo: alumínio, PVC, papelão, PET, plástico duro, papel, livro, caderno, todo tipo de embalagem, sacolinha plástica etc”, informou Márcio Eurinídio, acrescentando que ainda não foi possível atingir a meta de remunerar os 12 cooperados com um salário mínimo, pelo menos. “Estamos entre 700 e 800 reais. Mas, queremos chegar a um salário, em breve”, frisou.
A cooperativa tem uma prensa para facilitar o trabalho
O caminhão da “Recicla Marília”, cedido por um parceiro, realiza coleta seletiva nos bairros Jânio Quadros, Alcides Matiuzzi, Leonel Brizola, J.K. e Lavínia. No entanto, com as novas parcerias em andamento, a meta é atingir outros bairros. “Não podemos recolher só de uma casa, por exemplo, porque o caminhão é grande e difícil estacionar. Mas, se os vizinhos do quarteirão se organizarem e nos chamarem, nós iremos buscar”, afirmou.
Os carrinheiros também serão beneficiados
Da mesma forma, os condomínios residenciais podem entrar em contato com a “Recicla Marília” para aderirem à coleta seletiva. Na última segunda-feira, Wagner Peres, da Administradora Calcular, foi conhecer a cooperativa e fechar uma parceria para que os condomínios atendidos pela empresa possam ser atendidos em uma nova rota de coleta seletiva.

HORTA

O terreno em que funciona a “Recicla Marília” é área pública cedida pela Prefeitura Municipal. Com tanta área disponível, Márcio e seus cooperados resolveram aproveita-la com a produção de hortaliças e legumes. Ao preço único de três reais, por qualquer produto, os vizinhos da cooperativa têm aproveitado os alimentos frescos e livres de agrotóxicos.
Márcio e Wagner Peres da Calcular: administradora de
condomínios fará parceria com a Recicla Marilia
“Temos alface imperial, alface crespa, couve, almeirão, coentro,  jiló e quiabo, por enquanto. Mas, vamos plantar outras variedades”, explicou Agnaldo Paulo da Silva, 42 anos. Na segunda-feira passada, ele estava irrigando os canteiros quando falou com entusiasmo sobre o trabalho: “A gente vende baratinho, três reais qualquer produto, e os vizinhos têm vindo comprar direto”, disse. Já os cooperados levam tudo de graça para casa no fim do dia.
(Esq) Márcio e Sr. Agnaldo que cuida da horta
Márcio Eurinídio destacou que o espírito do cooperativismo deve prevalecer na atividade. A exemplo da horta, em que todos se beneficiam, a coleta, separação e venda dos recicláveis devem gerar renda para os cooperados. Mas, não vão parar por aí: “A ideia é agregar os carrinheiros, que recolhem os materiais avulsos na rua. Aqui, a gente espera poder pagar um valor justo, pesando e já informando o quanto vale a carga, quantas bags ele trouxe”, anunciou.

O presidente da “Recicla Marília” disse que “dos 12 cooperados, pelo menos três não eram catadores, não eram do ramo. Eram pessoas desempregadas que, com essa crise, não encontravam uma ocupação. Vieram para a cooperativa e estamos lutando juntos”, finalizou.

Para entrar em contato com a Cooperativa, o endereço é: Rua Francisco Chaves de Moraes, 821, telefone celular: (14) 998789034

*Reportagem publicada no Jornal da Manhã, Edição de 17.11.2019




CURSO DE ORATÓRIA E MEDIA TRAINING
ÚLTIMA TURMA DE 2019
AULAS: 25, 27 E 29/11 DAS 19 ÀS 22H
INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES:
FALEBEM2020@GMAIL.COM



sábado, 9 de novembro de 2019

TATADRAMA: PSICÓLOGA UTILIZA BONECAS DE PANO EM MÉTODO INOVADOR DE PSICOTERAPIA

Por Célia Ribeiro

Ao fim de um corredor verde, onde flores, plantas ornamentais e frutíferas de várias especiais remetem a um santuário, do lado esquerdo localiza-se o espaço guardião de centenas de objetos cuidadosamente armazenados ao longo dos últimos anos. São bonecas de pano, retalhos de tecidos, acessórios em miniatura, pistolas de cola quente, linhas, agulhas e uma infinidade de materiais que serão empregados em vivências de uma nova ferramenta da área de psicologia: o Tatadrama.
Bonecas confeccionadas em Crato
Criado há 18 anos pela psicóloga clínica e psicodramatista didata Elisete Leite Garcia, o Tatadrama “é um método psicoterapêutico de auxílio aos seus participantes à tentativa de atingir uma melhor percepção de suas inquietações pessoais e coletivas”, explicou a psicóloga clínica mariliense Maristela Colombo que tem difundido essa abordagem em cidades do interior de São Paulo.
Maristela Colombo


Ela teve o primeiro contato com o método durante um congresso em Cartagena das Índias (Colômbia), em que Elisete Garcia havia sido convidada a apresentar o Tatadrama. De volta ao Brasil, as psicólogas se reencontraram em outro evento e Maristela resolveu participar de uma vivência, como são chamadas as sessões coletivas.

Segundo Maristela, o Tatadrama “nasceu do ato de brincar, em 2002, e já foi aplicado a mais de 5.800 pessoas em diversos grupos operativos e terapêuticos”. Utiliza bonecos de pano confeccionados por mulheres de Crato (CE) que resgataram a cultura popular e se dedicam a produzir os diferentes modelos usados nas vivências.

Conforme disse, “os bonecos trazem a simplicidade da estética popular, simbolizando uma imagem e identidade relacionada à vivência de cada participante. No mecanismo de ação do Tatadrama os participantes são convidados a fazer uma transformação estética, visual e corporal na boneca de pano. E é nesse momento mais íntimo com a boneca de pano que se origina um espaço de reflexão onde os papeis individuais, o corpo e os sentidos (visão, olfato, tato, paladar e audição) são evidenciados, permitindo a livre expressão da criatividade e possibilidade de olhar-se numa nova perspectiva”.
Vivência no TJ-SP
DO PRINCÍPIO AO FIM

Com um vasto currículo que inclui formação em Psicologia Clínica (Unimar), Mestrado em Ciências Sociais (UNESP), Especialização em Orientação Vocacional, Especialização em Psicologia Clínica e Jurídica pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Especialização em Violência Doméstica contra a Criança e Adolescente (USP), Maristela Colombo é psicodramatista e tatadramista terapeuta EMDR.
Mandala de bonecas 
Ela tem utilizado o Tatadrama não apenas no trabalho no Tribunal de Justiça de São Paulo onde é chefe da Seção Técnica do Serviço Psicossocial Clínico do TJ – Unidade de Marília. Recentemente, participou de uma vivência com um grupo de São Paulo de servidores do TJ próximos à aposentadoria que se preparam para a nova fase. Na outra ponta, atuou com grupo de jovens em orientação vocacional utilizando os bonecos de pano na vivência do Tatadrama em uma experiência que considerou muito valiosa.

“Imagine um grupo de jovens concentrados, costurando bonecos de pano, durante horas. É difícil ver os jovens sem o celular, sem estarem conectados com a tecnologia. Mas, nesse grupo em que trabalhamos a orientação vocacional eles se desligaram de tudo e se concentraram no que estavam fazendo”, comentou ao citar uma vivência de Tatadrama com 35 alunos do ensino médio em Camboriú (SC).

Maristela Colombo observou que a nova ferramenta pode ser empregada em inúmeras situações. No caso do Tribunal de Justiça “a gente trabalhou o empoderamento feminino, o empreendedorismo pós-aposentadoria. Houve várias palestras e, no último dia, nosso material estava todo coberto com panos pretos naquele ambiente rígido. Quando levantamos o pano foi aquela surpresa. Todos trabalharam os bonecos, por uma hora e meia, depois se sentaram na roda e compartilharam”.
Orientação vocacional: jovens atentos no Tatadrama
Ela acrescentou que “o boneco de pano é usado como objeto intermediário, recurso utilizado para o favorecimento do aquecimento dos participantes, pra tratar as emoções (memórias afetivas). A prática acontece em atividades com duração de três a quatro horas. E a vivência do método favorece aos participantes uma oportunidade de enfrentar suavemente o medo do desconhecido, da vergonha, da desconfiança e da curiosidade”.
Acessórios para o Tatadrama em pleno Tribunal de Justiça
A psicóloga assinalou que o Tatadrama “é terapêutico na medida em que a pessoa vai trabalhando sozinha com as coisas”. E diante dos resultados positivos já alcançados, Maristela Colombo pretende fazer uma vivência em Marília justamente no espaço lúdico que criou em sua residência. É lá que ela pretende se aprofundar no estudo do método assim que se aposentar do serviço público, o que deve ocorrer em breve.
Maristela utilizará esse
espaço na residência

Para entrar em contato com a psicóloga, que também é coordenadora do Núcleo de Psicologia e Estudos Socio jurídicos que organiza o Grupo de Estudos de Psicologia Jurídica, o endereço é: Rua das Esmeraldas, 3895 – Praça Capital, Torre Tóquio, Sala 313. Telefone (14) 981215881


*Reportagem publicada na edição de 10.11.2019 do Jornal da Manhã





3ª TURMA DO CURSO DE ORATÓRIA
E MEDIA TRAINING
DIAS 25, 27 E 29/11/2019
DAS 19 ÀS 22 HORAS
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:
FALEBEM2020@GMAIL.COM