domingo, 25 de setembro de 2022

“ENTRE LAÇOS”, BATUKEDOPÉ SAPATEIA EM CIMA DA TRISTEZA INAUGURANDO NOVA FASE.

Por Célia Ribeiro

O som inconfundível do sapato tocando o tablado de madeira está de volta. Com o espetáculo “Entre Laços”, a escola de sapateado Batukedopé inaugura nova fase após quase dois anos fechada. Nos dias 30 de setembro e 01 de outubro, no Teatro Municipal de Marília, a sapateadora premiada Valéria Sanches dirigirá os alunos que resistiram em tempos de isolamento praticando online até que pudessem voltar às aulas presenciais.

Detalhe do sapato especial

A história de superação do Batukedopé merece ser contada para inspirar quem pensa em desistir dos seus sonhos. Em entrevista ao JM, Valéria Sanches falou sobre os meses de incerteza e medo. Além do número de alunos ter sido drasticamente reduzido, passando de 48 para apenas 12, a dificuldade em manter a conexão com os alunos, ainda que virtualmente, por pouco não colocou um ponto final em um dos projetos sociais da cidade.

Um dos espetáculos no teatro

Como registrado em reportagem desta página, em 2.018, a escola de sapateado concede bolsas de estudo a crianças que não podem pagar pelas aulas de sapateado. “Adote um artista” sobreviveu e, para as crianças que não tinham acesso à internet para as aulas online, a professora pagou créditos para o celular e, assim, esses alunos não foram excluídos.

A escola ficou fechada por quase 02 anos

“Trabalhar com arte em tempos comuns já não é fácil. É matar um leão por dia”, afirmou Valéria Sanches, contando que “quando veio a pandemia, meu chão caiu. E caiu porque fui a primeira a fechar, no dia 16 de março de 2020, antes de fechar tudo”. Ela explicou que buscou opções para continuar o trabalho, como o envio de aulas gravadas para os alunos através do WhatsApp.

Interação online com os alunos

No entanto, sem a comunicação direta com os alunos, Valéria procurou outras alternativas, como a maior parte das escolas e empresas fizeram para manterem suas atividades remotamente. Do Google Meet veio a tábua de salvação porque todos podiam interagir e matar a saudade uns dos outros.

TRABALHO CONJUNTO

Com quase nenhuma receita das mensalidades, Valéria Sanches mal conseguia pagar o aluguel da escola, localizada à Rua Araraquara, 480. Por sorte, recursos públicos, da ordem de nove mil reais, chegaram em boa hora: “Depois de um tempo, veio a Lei Aldir Blanc e me inscrevi em vários editais”, lembrou, destacando que “a Secretaria da Cultura de Marília é muito comprometida e ajudou todo mundo que a procurou”.

Espetáculo marca nova fase

Sem saber como funcionavam as plataformas de videoconferências, como Zoom e Google Meet, Valéria foi aprender como aproveita-las. Assim, a professora mandou fazer um tablado para cada aluno que fez questão de entregar de casa em casa. Para os alunos do projeto social, que usavam sapatos da escola, ela também levou os calçados especiais para que eles pudessem participar online. 

São aceitos alunos a partir de 03 anos

Ela recordou, com indisfarçável orgulho, o apoio dos pais. “Quando resolvi montar um espetáculo, fiz as coreografias e as mães me ajudaram muito, com figurinos e nos ensaios. Cada um ensaiando em sua casa. Depois, elas gravaram os vídeos e um aluno que hoje mora em Londres ajudou na edição”. O mariliense Renan Teodoro, aliás, brilha em musicais na Europa e já foi entrevistado nesta página em novembro de 2018. 

Renan mora em Londres e ajudou na edição dos vídeos

O espetáculo “O que foi feito e nós” pode ser acessado no canal da escola no Youtube (Batukedope batuke) e mostra o resultado do esforço conjunto com os alunos sapateando em tablados de casa, usando roupas do dia a dia em uma sincronia que só mesmo a arte pode proporcionar.

O RETORNO

Valéria comemora a volta gradual à normalidade contando com um apoio especial: seu filho de 18 anos, Aurelio Sanches, sapateador que já participou de cursos e fez apresentações elogiadas nos Estados Unidos, atualmente cursa Educação Física e integra a orquestra do Projeto Guri. 

Aurélio em apresentação com a mãe

As aulas presenciais voltaram em março de 2021, mas os alunos continuam usando a máscara de proteção, assinalou a professora, que  no fim do ano passado, apesar de tudo, conseguiu montar e apresentar o sarau “Reencontro”: “Foi muito emocionante voltar ao palco após um turbilhão de coisas”, comentou, citando a perda de sua mãe para uma leucemia fulminante. 

Valéria cuida das flores também na escola

Além do amor ao sapateado, Valéria aproveitou o período de recolhimento para se dedicar às orquídeas que eram a paixão de sua mãe: “Virei a louca das plantas”, disse, divertindo-se ao contar que tem quase 100 delas em casa e na escola de sapateado onde as flores dividem espaço com os sapatinhos barulhentos em meio à atmosfera que exala arte pelas paredes.

 

Sapateado ao ar livre

Quem for ao Batukedopé pode ter a sorte de ser recebido pela assistente Pietra Isabele Garcia dos Santos. Aos 13 anos, ela chegou na escola de sapateado aos seis anos, dentro do projeto social. Atualmente, ela auxilia Valéria Sanches na escola e não esconde a alegria pelo recomeço: “Adoro o sapateado. Isso é tudo pra mim”, assinalou. 

Valéria e Aurelio com o Claudia Raia e Jarbas Homem de Melo

A escola de sapateado Batukedopé fica na Rua Araraquara, 480, perto da antiga Rodoviária. O telefone para agendar aulas experimentais, a partir dos três anos de idade, e conhecer o sapateado é: (14) 997042871. Os ingressos para o espetáculo “Entre Laços” estão á venda no site: Mega Bilheteria 

Assistente Pietra

*Reportagem publicada na edição de 25.09.2022 do Jornal da Manhã

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