sábado, 6 de outubro de 2018

HÁ VIDA APÓS O CÂNCER DE MAMA: OUTUBRO ROSA ALERTA SOBRE A DOENÇA

Por Célia Ribeiro

As histórias são muito parecidas: a surpresa, seguida do medo ao se depararem com o nódulo nas mamas, a negação e a sensação de impotência diante de um inimigo terrível e assustador. O turbilhão de sentimentos que acomete as mulheres portadoras do câncer de mama se repete em maior ou menor grau, independente da idade, credo ou classe social. Quando ele aparece, passado o choque inicial, é preciso escolher suas armas, vestir a armadura e partir para a guerra. Literalmente.
Florescer: projeto do fotógrafo Pedro Coércio com pacientes
Na noite de terça-feira (02), durante a abertura do “Outubro Rosa” promovido pela ONG “Amigos do COM” (Centro Oncológico de Marília), a plateia que lotou o teatro municipal se emocionou com tantas histórias de superação. O evento atraiu pacientes, ex-pacientes, familiares e amigos para celebrarem a luta e a vitória, felizmente em muitos casos, contra uma das doenças que mais acomete as mulheres provocando milhares de mortes, anualmente, no Brasil e no mundo.

Logo na entrada, os convidados foram brindados pela bela exposição do fotógrafo Pedro Henrique Marques Coércio. Ele fotografou 12 mulheres com os seios cobertos pelas mãos e o rosto emoldurado por diferentes espécies de flores. O Projeto Florescer nasceu para contribuir na divulgação sobre o câncer de mama não só em outubro, mas em todos os meses do ano. A informação é uma das armas mais eficazes para se chegar ao diagnóstico precoce.
O Teatro Municipal ficou lotado 
“Flor é vida”, comentou o fotógrafo, explicando que sempre quis se dedicar a uma causa e que quando teve problemas de saúde também recebeu apoio de muitas pessoas. O Projeto Florescer foi a forma que encontrou para contribuir com o “Amigos do COM” que conhece há cinco anos. Ele disse ter sido “muito gratificante registrar as imagens das pacientes porque a gente aprende  muito. Vê o valor da vida de uma forma diferente”.

No saguão do teatro, voluntários da ONG receberam o público oferecendo as camisetas da campanha cuja renda é utilizada nas atividades da entidade e na ajuda do caixa para construção do futuro Centro de Diagnóstico  que “Marília Sustentável” mostrou em reportagem na edição de 16 de setembro.
Fotógrafo com as imagens que registrou
Entre eles, estava a educadora física Romilda Luzia de Maio Gianini, 57 anos. Em 2.009 ela descobriu o câncer de mama e, como a maioria, foi tomada de surpresa e medo. Muito ativa, ela trabalhava no CAOIM (Centro de Atendimento à Obesidade Infantil de Marília),  praticava vôlei e levava uma vida saudável. Ou seja, uma mulher que se cuidava, estava no peso adequado e ainda praticava atividade física periódica.

Com determinação e o suporte da família e amigos, Romilda venceu o câncer de mama e voltou à vida normal. “Sou movida a desafios. Disseram que eu não conseguiria levantar o braço depois da cirurgia. Mas, me recuperei bem e até vôlei voltei a jogar”, afirmou confiante. Como centenas de mulheres, ela encontrou apoio no “Amigos do COM” onde passou a atuar como voluntária ajudando outras mulheres e seus familiares a atravessarem este período tão difícil.

CELEBRAÇÃO

Com o Teatro Municipal completamente lotado, a solenidade de abertura do “Outubro Rosa” teve início com show musical, seguido da exibição de um vídeo com depoimentos emocionantes das 12 mulheres que enfrentaram o câncer de mama e foram fotografadas para o Projeto Florescer. Logo após, houve a palestra do cirurgião plástico e presidente da ONG “Amigos do COM”, Dr. Léo Pastori Filho, e do médico mastologista, Dr. Carlos Giandon, membro do COM e coordenador do Programa de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer de Mama de Marília.
(Esq) Dr. Giandon e Dr. Léo Pastori
“Uma em cada 08 mulheres vai ter câncer de mama. É muito difícil não termos alguém do nosso convívio familiar ou pessoal que não seja portadora da doença. Ela representa 23% de todos os tipos de câncer, e é a principal causa de mortalidade por câncer”, iniciou o Dr. Léo Pastori falando sobre o aumento do número de casos desde a década de 60.

Ele afirmou que, “pela nossa população, eram esperados 234 casos novos a cada ano. Existe uma quantidade enorme de casos passando sem diagnóstico e perdendo a oportunidade de ter uma terapia curativa porque, em Marília, são 70 casos diagnosticados, em média”. Conforme disse, “o diagnóstico precoce tem uma sobrevida de 97%. É isso que a gente está lutando”.

O médico exibiu uma série de imagens com estágios variados do câncer de mama mostrando desde mulheres muito jovens, a partir dos 15 anos, até idosas com a doença. Ele afirmou que “O câncer tem uma jornada: o diagnóstico, a mastectomia, a cirurgia reconstrutiva ou não” e que, em Marília, as mulheres têm acesso a um serviço de primeiro mundo.
Romilda superou o câncer de mama e voltou a jogar volei
Conforme disse, na Santa Casa “é um serviço de porta aberta para a população que procura a gente. É com grande orgulho que podemos falar isso. A paciente nas nossas mãos, minhas e do Dr. Carlos, com o diagnóstico de câncer de mama, em 30 dias ela está mastectomizada e reconstruída começando a quimioterapia. Esse é um número que muito país de primeiro mundo ainda não tem”.

O médico destacou que “no SUS se faz, sim, serviço de qualidade e nós somos a prova disso, dando dignidade para a paciente. Ao longo desses anos, a gente conseguiu montar uma equipe multidisciplinar que faz tudo que precisa ser feito e não devemos absolutamente nada para nenhum serviço grande”, mostrando slides de casos iniciais e avançados, comparando os resultados.

Ele finalizou falando sobre a ONG “Amigos do COM” que se reúne quinzenalmente na Santa Casa em que as voluntárias, ex-pacientes de câncer, acolhem as mulheres com diagnóstico ou em tratamento da doença em uma corrente de amor e apoio mútuo.

INFORMAÇÃO

Em seguida, o médico mastologista Dr. Carlos Giandon, coordenador do Programa de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer de Mama de Marília e membro do COM (Centro Oncológico de Marília), destacou a importância das campanhas informativas, como o “Outubro Rosa”, cuja primeira ação foi registrada nos Estados Unidos, em 1.990.

Em Marília, o primeiro evento foi realizado através de parceria da Santa Casa de Misericórdia e Secretaria Municipal da Saúde, em 2.007, após a implantação do programa patrocinado pelo Instituto Avon que possibilitou a aquisição de um aparelho de ultrassom e pistolas para biópsias utilizados no Ambulatório de Saúde Mamária da UBS Alto Cafezal, que recebe casos suspeitos de câncer de mama.
O público pode visitar a exposição

Em 11 anos, o Programa de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer de Mama de Marília promoveu a capacitação de 40 médicos, 66 enfermeiros, 75 auxiliares, realizou 8.439 atendimentos, 5.191 exames de ultrassom de mama, 102 biópsias e 258 PAAF (Punção Aspirativa com Agulha Fina). Foram confirmados 67 casos de câncer de mama, pelo programa, cujas pacientes foram encaminhadas para tratamento na Santa Casa, pelo SUS.

O médico observou que, anualmente, são registrados 60 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. No entanto, em Marília, são diagnosticados entre 50 e 60 casos novos por ano, número considerado pequeno porque a maioria das pacientes descobre o nódulo no autoexame, ao invés da doença ser detectada, precocemente, pelo exame periódico de imagem.
Lucia Peraccini Carrero


Conforme disse, “o que faz o diagnóstico precoce é a mamografia. Consequentemente, se consegue fazer um tratamento mais adequado, diminuir a necessidade de retirada da mama, o tratamento complementar com quimio e radioterapia. Quando faz o diagnóstico precoce, a chance de cura pode chegar até a 80 ou 90 por cento dos casos”. Neste sentido, destacou a importância das ações focadas na difusão de informações sobre a doença e a proposta de construção do Centro de Diagnóstico do COM para agilizar o atendimento às pacientes contribuindo para a cura do câncer de mama.

Ele concluiu lembrando que a ONG “Amigos do COM” começou quase há 12 anos, “dentro da Santa Casa, e é um ambiente onde se fala de câncer de mama, onde se fala também para os familiares. Lá tem mulheres que estão começando o tratamento, tem mulheres que já se curaram do câncer de mama e tem mulheres que estão passando pelos procedimentos de quimioterapia e radioterapia. É um local onde são acolhidas. Vocês estão de parabéns”, finalizou.

*Reportagem publicada na edição impressa do Jornal da Manhã de 07.10.2018

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