ACOLHENDO DESDE BEBÊS, O CACAM PRECISA DE AJUDA PARA SE MANTER
Por Célia Ribeiro
Na manhã de quarta-feira (08), quando os termômetros marcavam inacreditáveis 16 graus, o silêncio da entidade só era quebrado pelo chiado das panelas, cujo aroma dos temperos dava uma ideia da comida saborosa do almoço. A poucos metros, dois pequenos hóspedes não podiam aguardar a chegada dos coleguinhas da escola para a refeição conjunta e eram alimentados, com muito carinho, por suas cuidadoras.
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Com 4 meses, Yuri toma seu tetê |
Foi no amplo refeitório, com suas mesas forradas por toalhas coloridas, que um garotinho de quatro meses, rechonchudo e com olhos azuis muito brilhantes, tomava a mamadeira no colo de uma das colaboradoras. Com calma, ela o segurava como se fosse algo frágil. Sentindo-se protegido, ele a olhava fixamente e estabeleciam uma comunicação que só o coração seria capaz de traduzir.
Sala de convivência da entidade
Poucos metros adiante, no berçário, era a vez de uma menininha de apenas 40 dias de vida ser alimentada. Outra cuidadora, sentada em uma poltrona confortável, dedicava toda a atenção à recém-nascida. Nesta semana, a instituição contava com 18 crianças, sendo 06 bebês que exigem cuidados especiais, 24 horas.
No berçário, menina de 40 dias de vida
Enquanto
os meninos e meninas de até 12 anos não chegavam da escola, o presidente do
CACAM, Hederaldo Benetti, concedeu esta
entrevista narrando o momento difícil pelo qual passa a instituição. No final
da gestão do ex-prefeito Daniel Alonso, a Prefeitura determinou a intervenção
na instituição após o presidente denunciar a superlotação e falta de recursos
públicos.
Na época, relembrou, havia 45 crianças abrigadas enquanto a subvenção municipal era suficiente para apenas 20 crianças. Administrado pelo Rotary Club de Marília de Dirceu, o CACAM goza de muito prestígio e credibilidade junto à comunidade e às empresas que contribuem com sua manutenção. Mas, mesmo assim, não estava sendo possível manter a estrutura com os altos gastos e verbas insuficientes.
Hederaldo e parte da equipe administrativa
Hederaldo
Benetti procurou a Prefeitura para pedir ajuda e foi informado que, se
quisesse, denunciasse a superlotação à Justiça. Para eximir a entidade de
qualquer problema futuro, foi o que fez. Como represália, segundo ele, foi
determinada a intervenção municipal na instituição, que durou 10 meses, até o
início da atual gestão de Vinicius Camarinha.
TERRA ARRASADA
Ao retomar a direção da entidade, Hederaldo se surpreendeu com a falta de manutenção e a demissão de muitos funcionários, cujas rescisões trabalhistas consumiram milhares de reais. Apenas uma colaboradora custou quase 50 mil à entidade em verbas rescisórias.
Refeitório vazio enquanto as crianças estão em aula
“Encontramos os armários e colchões em péssimo estado. Tivemos que mandar arrumar tudo e estamos pagando 40 mil reais, em 10 parcelas de 4 mil reais pelos armários dos dormitórios. Gastamos 20 mil com colchões novos e, para piorar, tivemos que renovar o AVCB – Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros que custou mais 17 mil reais”, revelou.
Colchões novos no dormitório climatizado
Conforme disse, houve necessidade de compra e manutenções em aparelhos de ar condicionado e as adequações que a Justiça determinou em uma das vistorias, como construção de um muro de dois metros de altura, não têm prazo para serem executadas: “Até a cerca elétrica daqui sumiu”, pontuou.
Quarto reservado para os bebês
Hederaldo
Benetti destacou o apoio expressivo de parceiros como o Tauste Ação Social que “sem
ele, não sei como a gente estaria”, bem como da comunidade que participa dos
eventos de geração de renda, seja comprando pizzas solidárias ou convites para
jantares como a recente “Noite Italiana” realizada pelo Rotary Clube de Marília
de Dirceu.
RECURSOS HUMANOS
Atualmente, o CACAM possui 29 colaboradores. A Prefeitura repassa uma subvenção mensal de 65 mil reais, mas três funcionários não estão nesta lista custeada com recursos públicos, como a balconista do Bazar da Pechincha, a enfermeira e uma auxiliar administrativa. “Essas pessoas não entram na folha da Prefeitura e temos que pagar salários e encargos com recursos próprios”, assinalou o presidente.
Brinquedos doados para uso coletivo
Hederaldo Benetti disse que uma das maiores despesas se refere aos recursos humanos: “Quando o funcionário está doente e pega atestado, temos que contratar alguém no lugar. Aqui funciona 24 horas”. Ele citou, ainda, os gastos com farmácia, entre 4 e 5 mil reais por mês, também pagos com recursos próprios.
Cássia Maria Peloso Barros Fukugawa, psicóloga
Se a situação já não fosse complexa o bastante, o CACAM teve que arcar com mais de 20 mil reais de despesas com uma adolescente de 17 anos. Ela chegou à instituição quando tinha 09 anos, é cadeirante e exige cuidados permanentes tomando medicação de alto custo.
Jéssica Micheletti Franchini, assistente social
Um pouco antes da pandemia, o CACAM conseguiu localizar um familiar e ela foi entregue ao avô. Por ação da ONG Amigos Solidários de Marília (Amigos do Bar), foi reformada e adaptada a parte da residência para abrigá-la em segurança. Também foi cedido o guindaste para ela ser colocada e retirada da cama e doada uma cadeira de roda elétrica.
No entanto, ela sofreu um acidente de trânsito no início do ano e passou 30 dias internada no Hospital de Clínicas: “Ao olhar a documentação dela, a única referência era o CACAM. Fomos procurados e tivemos que arcar com uma cuidadora 24 horas no hospital porque, sendo menor de 18 anos, a garota não poderia ficar sem acompanhante. Isso custou 150 reais a cada turno de 12 horas, durante toda a internação”, contou.
Laboratório de Informática: quando deputado,
Vinicius Camarinha doou 14 notebooks
De acordo com o presidente, os medicamentos de alto custo também eram comprados pela instituição e entregues ao HC: “A responsabilidade voltou para o CACAM”. Como mudou a faixa etária da entidade, que agora atende crianças até 12 anos, por determinação da Justiça, a jovem foi encaminhada para a Associação Filantrópica e, nesta semana, seis meses após o acidente e todo o processo de mudança, ela deixou o CACAM.
Muito espaço ao ar livre para as brincadeiras
Atualmente,
a instituição sobrevive com a subvenção da Prefeitura, a ajuda do Tauste Ação
Social, eventos e o bazar da pechincha que rende entre 3 e 4 mil reais por mês.
Por isso, quem quiser contribuir, pode fazer doações de roupas, brinquedos e
eletrodomésticos.
“As roupas de bebês e crianças nós aproveitamos. As roupas de adulto e eletrodomésticos, nós vendemos no bazar e revertemos em renda para a entidade. Também, quem puder contribuir, pode doar qualquer valor pelo PIX, chaves: CNPJ 599911330001-10 ou 14997008227”, informou.
Bazar gera até 4 mil reais por mês
Para
2026, a expectativa é de obtenção de emendas parlamentares dos vereadores de
Marília: “Estamos enviando ofícios, fazendo contatos e pedindo ajuda. Qualquer
recurso que vier será bem empregado porque, realmente, estamos em um período de
muitas dificuldades”, assinalou o presidente.
DIA DAS CRIANÇAS
Neste domingo, quando se comemora, além do Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, também o “Dia das Crianças”, os meninos e meninas abrigados no CACAM terão momentos especiais recebendo brinquedos e lanches que 04 grupos de voluntários organizaram. Para a semana que vem, será a vez do Rotary Maria de Dirceu programar um pequeno evento interno: “Não está sendo fácil este ‘Dia das Crianças’. Mas, mantemos o nosso compromisso com o CACAM porque nossas crianças precisam e merecem ser bem cuidadas”, finalizou.
Espaço de convivência para as datas comemorativas
O
CACAM foi fundado em 1992 e quatro anos depois passou para a gestão do Rotary Club
de Marília de Dirceu que mobiliza a comunidade por esta nobre causa. A ONG está
localizada à Rua Vidal Negreiros, 367, Bairro Palmital, em Marília. Telefone:
Para ler outras reportagens sobre o CACAM já publicadas neste blog, acesse: 2010 e 2017
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