domingo, 16 de julho de 2023

REFUGIADOS ENCONTRAM APOIO E ORIENTAÇÃO PARA O RECOMEÇO DA VIDA EM MARÍLIA

Por Célia Ribeiro

Não foi preciso superar desertos ou rios a caminho de Canaã, a terra prometida relatada na Bíblia. Mas, para chegar ao interior paulista fugindo da guerra, da fome ou da perseguição política, centenas de refugiados precisaram vencer muitos obstáculos em pleno século XXI. Só em Marília, nos últimos três anos, a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos atendeu 717 pessoas vindas de 20 países. 

Sala de atendimento aos migrantes

De acordo com a secretária Wânia Lombardi, o Núcleo de Apoio Humanitário atende os migrantes internos e externos oferecendo suporte: “A gente faz todo o atendimento e também uma triagem, identificando o que a pessoa precisa”. Ela explicou que o núcleo trabalha em sintonia com entidades governamentais do Brasil e do exterior e com a Polícia Federal, responsável pela documentação dos cidadãos. 

Wânia e as boas-vindas
em vários idiomas
Wânia Lombardi, que realizou uma gestão profissional durante os seis anos à frente da Secretaria Municipal da Assistência Social, recentemente, assumiu a pasta de Direitos Humanos que era comandada pelo ex-vereador Wilson Damasceno que, por sua vez, foi alçado à área da Assistência Social na reforma administrativa do prefeito Daniel Alonso.

Apesar de pouca estrutura e de recursos limitados, a gestora conseguiu imprimir sua marca, a exemplo do que fez na Secretaria da Assistência Social. Em entrevista ao JM, ela informou que a equipe  atua em várias frentes, além do apoio aos migrantes: Centro de Referência da Mulher, Procon, Disque 100 voltado ao atendimento de denúncias de violação de direitos humanos (criança, mulher, idoso) e apoio às entidades beneficentes.

 VIDA NOVA

“O migrante é aquele que saiu de um lugar de bastante vulnerabilidade, dentro ou fora do Brasil. Se saiu contra a vontade é considerado refugiado”, observou a secretária. Neste sentido, acrescentou que “a guerra, a fome e a perseguição política fizeram com que milhares de pessoas deixassem tudo para trás”. No caso de Marília, os venezuelanos são a maioria esmagadora: 568 pessoas.

Refugiados pelo mundo (Foto: Getty Images/iStockphoto)

No ranking de atendimento, nos últimos três anos, estão ainda os países: Colômbia (36), Haiti (25), Guiné Bissau (12), Bolívia (12), Portugal (10),  Síria (08), Argentina (08),  República Dominicana (06), Egito (06), Peru (03), Itália (03), Líbia (03), República do Congo (02), China (02), Alemanha (01), Irã (01), Irlanda (01), Paraguai (01) e Tunísia (01). 

Wânia Lombardi e a assessora Zileide Bernardo
Wânia Lombardi informou que os principais problemas enfrentados pelos refugiados são  o idioma e a burocracia para validação dos diplomas universitários necessários para a recolocação no mercado de trabalho: “Imagine sair da Síria, por exemplo, onde era um engenheiro, um professor, ou tinha uma empresa e vir com a roupa do corpo, fugindo com a família, atravessando deserto, mar até chegar ao Brasil?”, assinalou.

Conforme disse, o Núcleo de Apoio Humanitário faz o possível para acolher e dar o respaldo que essas pessoas necessitam, desde a disponibilidade de tradutores para orientarem com a documentação, até o encaminhamento para o mercado de trabalho. 

Parede na Secretaria com fotos dos países
Através de parceria com universidades, a Secretaria de Direitos Humanos oferece aulas de português para os migrantes, além de apoio psicológico para crianças e adultos que chegam de países distantes. Um dos convênios é com a UNESP, campus de Marília. Há uma sala reservada para os estrangeiros receberem aulas de portugues online com os tradutores da universidade que falam vários idiomas.

VENEZUELA

 

Angeli e a pequena Hanna Caballero

Angeli Palma, 25 anos, é um dos quase 600 venezuelanos cadastrados em Marília. Sua mãe e alguns familiares vieram há quatro anos. A partir daí, ela começou a se preparar para também fugir da situação de vulnerabilidade que enfrentava em seu país. Para começar, fez um curso online de português e, com um bebê no colo, cruzou a fronteira em 2021.

Em entrevista à coluna, Angeli disse que passou maus momentos quando chegou porque não conseguia trabalho. Através da Secretaria de Direitos Humanos de Marília, no entanto, surgiu a grande oportunidade, após nove meses: por falar bem o português, ela  foi contratada em uma empresa de tecnologia de Garça, onde se comunica com clientes em espanhol.

Lilian Cunha - Coletivo de
 Mulheres Indígenas (centro)

Embora trabalhando na cidade vizinha, a venezuelana se estabeleceu em Marília, cidade que a acolheu de braços abertos. “Tenho um bom trabalho em Garça e minha filhinha está na escola em Marília, onde tenho família. O que mais gosto do Brasil é como as pessoas gostam de ajudar as outras e de podermos trabalhar”.

 Dados do ACNUR (Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados) de  2.022, apontam que o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) recebeu 5.795 pessoas, sendo 56 por cento de homens, 44 por cento mulheres e 46,8 por cento crianças, adolescentes e jovens até 24 anos. No entanto, há 50.355 solicitações de refugiados vindos de 139 países para o Brasil.

 Venezuela (67%), Cuba (10,9%) e Angola (6,8%) são os países que mais têm refugiados no País. A principal alegação para o pedido de asilo é “grave e generalizada violação de direitos humanos” com 82,4 por cento, seguida de opinião política com 10,9 por cento das alegações.

 POVOS ORIGINÁRIOS

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Marília integra o Comitê Estadual de Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo, acrescentou a secretária, destacando que se trata de uma área que exige muita atenção. Ela observou que “quando se fala em trabalho escravo, a gente pode pensar em alguém com correntes nos pés, trabalhando em uma mina de carvão. Mas, tem o caso da senhorinha que pega uma mocinha na fazenda para trabalhar em casa onde ela passa a vida toda, cuidando dos filhos e depois dos netos desta família”. 

Artesanato das indígenas de Tamarana

Wânia Lombardi disse que isso é mais comum do que se imagina. Ela lamentou a situação degradante que muitas jovens passam, sem salário ou direitos trabalhistas, sem assistência médica e odontológica: “Essa mocinha dorme no quartinho dos fundos. Não é membro da família”. Quando recebe denúncias, a secretaria também atua para preservar a dignidade dessas pessoas.

Outra frente de atuação da pasta é com relação aos chamados povos originários. Os indígenas, por exemplo, são protegidos por lei. E a Secretaria tem que ter todo cuidado ao lidar com os grupos que chegam, de tempos em tempos, para venderem artesanato. Wânia Lombardi citou as mulheres de Tamarana (Paraná) que costumam vender cestos na Avenida das Esmeraldas: “Uma coisa é preservar sua identidade de povos originários”, observou, acrescentando que sua pasta está atenta para que as crianças estejam em segurança, com alimentação e local adequado para dormir.

Ela explicou que o mesmo ocorre com grupos nômades, de ciganos, que não aceitam ajuda. “Se entregar um marmitex de almoço eles jogam fora porque têm o hábito de preparar as suas refeições, de dormir em barracas”. No entanto, a secretária assinalou que a equipe está atenta para que os direitos sejam preservados sem colocar crianças em situação de vulnerabilidade.

Para saber mais sobre os refugiados no Brasil, acesse: https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/dados-sobre-refugio-no-brasil/

Leia outras reportagens sobre o trabalho de Wania Lombardi AQUI e AQUI

*Reportagem publicada na edição de 16.07.2023 do Jornal da Manhã

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