Na noite da última segunda-feira, as baixas temperaturas transformaram em deserto a maioria das ruas. Com os termômetros atingindo quatro graus, quem tem casa e comida sentiu muito a onda repentina de frio. Agora, o que dizer dos sem-teto espalhados pela cidade? Graças a uma rede de proteção social, Marília se tornou exceção ao acolher, alimentar e oferecer cama quente aos que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Sem preconceito.
Severino veio de Catanduva em busca de emprego |
Dormitório masculino |
A entrada ocorre entre 17h e 19h30: quem tem cadastro deixa seus pertences no guarda-volumes e se dirige aos banheiros, também separados para homens e mulheres, com chuveiros quentes e área para quem deseja se barbear. Os que chegam pela primeira vez passam pela triagem, segundo o coordenador da Casa, Rafael Alvarez.
Arroz, feijão, carne com batata e salada: refeição quente à vontade |
“Preenchemos um cadastro para saber de onde a pessoa vem, por que está na rua, se pretende ficar na cidade etc”, assinalou o funcionário, aprovado no último concurso público como cuidador social. Depois do cadastro, os assistidos recebem o kit de higiene com sabonete, escova de dentes e creme dental, além de toalha de banho que, assim como a roupa de cama, é higienizada diariamente na lavanderia do local.
Uma sala de TV com cadeiras simples, mas em bom estado, serve de área de convivência enquanto as pessoas aguardam o jantar ser servido. Na lateral interna do prédio há um fumódromo, bem longe da área comum, e na noite fria de segunda-feira havia alguns homens encolhidos enfrentando o vento entre um cigarro e outro.
O colorido e as mensagens de otimismo estão por toda parte na Casa Cidadã, dando um toque de humanização. Há muitos quadros, vasos e pneus reciclados, que fazem as vezes de banquetas, confeccionados pelos frequentadores do Centro POP, outra estrutura da Secretaria da Assistência Social que atende a população em situação de rua.
TRABALHO ESCRAVO
Respeitando o pedido para que não fossem fotografados de frente, o JM conversou com algumas pessoas. Histórias de tristeza, perdas e desalento misturaram-se à gratidão pela forma como foram recebidos e à esperança de superarem essa fase difícil de suas vidas, como Margarida Silva, 42 anos, que frequenta o lugar desde que ficou desabrigada, junto com o marido.
Margarida quer recomeçar |
Quando Margarida e o marido foram reclamar com o patrão, foram expulsos com a roupa do corpo: “Ele estava bêbado e colocou uns homens armados lá, dizendo que a gente tinha invadido a chácara. Não deu tempo de pegar nada. A gente foi para a rua. Se não fosse a Casa de Passagem e depois aqui, não sei o que a gente ia fazer”, contou, emocionada.
Ela disse que, como todos que passam a noite na Casa Cidadã, depois do café da manhã, servido às 6h30, deixa o local. Ela e o marido não ficam na rua. Voltam para o Centro POP onde podem lavar as poucas roupas, fazem atividades artesanais, passam por assistentes sociais e psicólogas e recebem um ticket para almoçarem no Restaurante Bom Prato, mantido pela Prefeitura em convênio com o governo do Estado. Depois, saem em busca de trabalho.
Mulheres acomodam seus pertences após o banho |
RESISTÊNCIA
A secretária da Assistência Social, Wania Lombardi, explicou que nem todos os moradores de rua abordados pela equipe aceitam ir para a Casa Cidadã: “A maioria das pessoas que ficam na rua tem casa. Ficam na rua para consumir drogas. A gente vai conversar e sabe que é do Argolo Ferrão, da Vila Barros. Muitos preferem ficar na rua passando frio porque tem a bebida, tem a droga. E aqui não pode. Se estiver alcoolizado não entra”.
Secretária Wania Lombardi |
Refeitório: limpeza e organização chamam a atenção |
Há mensagens por toda parte, como no guarda-volumes |
São atendidas 50 pessoas por noite |
Ela elogiou os servidores da pasta, em especial os que estão na Casa Cidadã e têm se dedicado bastante. Só de sentir o aroma do jantar de segunda-feira, no amplo refeitório, à base de arroz, feijão, salada e carne de panela com batata, deu para perceber o capricho. Embora não tenha conseguido tudo o que planejou, Wania chegou perto: “Eu queria ter todos os lençóis brancos, como os de hotel. Não deu. Mas, viabilizamos de um jeito diferente”.
A secretária explicou que alguns alunos do curso de costura do CEPROM não tinham dinheiro para comprar material e praticar o que aprenderam. A Secretaria da Assistência Social providenciou os tecidos e os alunos confeccionaram fronhas, lençóis e até almofadas que decoram o local. E assim, das mãos que receberam ajuda para se profissionalizar saíram as roupas de cama que tornam mais humanas e confortáveis as noites no abrigo.
*Reportagem publicada na edição impressa de 14.07.2019 do Jornal da Manhã
Fantastico!!!! Sao pessoas que realmente precisam de todo o acolhimento possivel
ResponderExcluirOlha, parabenizo e espero que seja mantido no futuro.
ResponderExcluirFaz um tempo enorme que fui convidada a planejar e implantar uma Secretaria para o atendimento social...não foi fácil e a cidade ganhou a Secretaria de Bem Estar Social... atualmente Secretaria de Assistência Social...meu carinho e parabéns pelo bom trabalho a todos os funcionários...Deus os abençoe!!!
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