domingo, 7 de julho de 2019

APÓS RECUPERAR ÁREA DEGRADADA, UNIVEM IMPLANTOU RESERVA FLORESTAL.

Por Célia Ribeiro

A cidade de Marília é reconhecida como importante polo educacional no interior paulista, atraindo estudantes de todo o País. Na zona oeste, a região do Campus Universitário também chama a atenção pelo paisagismo dos três campi ali instalados. No entanto, ao adentrar no espaço do Centro Universitário Eurípedes de Marília (UNIVEM), após passar pelo conjunto de prédios, os visitantes são surpreendidos pela reserva natural, berço de animais silvestres e rica em diversidade de espécies nativas.
Vista aérea do imponente jardim
O desafio de recuperar cinco alqueires de área degradada, tomada por erosões de grandes proporções, foi encarado por duas entusiastas, há quase 30 anos: a artista plástica Neusa Martins Macedo de Soares e a ambientalista e paisagista Liliam Aparecida Marques de Oliveira. São elas que relatam, em entrevista ao JM, como a instituição conseguiu formar um bosque com mais de 3.000 árvores em plena zona urbana.

“A Liliam sempre colaborava conosco. Ela dava aula no SESI e vivia ganhando prêmios pelo seu trabalho. Na parte da tarde, vinha para o UNIVEM e me ajudava com o jardim. Foi assim que começamos”, recordou a artista plástica, que é esposa do reitor Luiz Carlos de Macedo Soares e atua voluntariamente na instituição.
 (Esq.) Liliam Oliveira e Neusa Macedo Soares
A princípio, o desafio da dupla era recuperar os jardins da universidade: “Quando o Dr. Luiz Carlos assumiu como reitor do UNIVEM, a dona Neusa veio para cuidar dos jardins, que estavam um pouco acabados. As árvores estavam muito velhas porque tinham sido plantadas 40 anos atrás e a dona Neusa me convidou para dar uma repaginada nas plantas. E eu vim com um trabalho voluntário, naquela época”, recordou Liliam.
Escultura de Neusa Macedo no jardim florido (Foto Ivan Evangelista)
Diante do desafio que era remodelar o paisagismo da instituição, elas recorreram ao ambientalista e técnico agrícola Emilio Peres a quem fazem questão de agradecer pelo apoio. “Ele trabalhava no viveiro da Prefeitura e  nos ajudou muito. A Prefeitura nos doou muitas mudas, também”, explicou Liliam.

AVENTURA

Neusa e Liliam contaram que as mudanças no paisagismo não foram bem recebidas por todos. Houve resistência por parte de alguns alunos que consideravam supérflua a substituição das plantas. A paisagista contou que havia muitas árvores condenadas pela ação de cupins e formigas, cujos galhos caíam quando ventava mais forte, colocando em risco as pessoas e, por isso, precisavam ser removidas.
Jardineiro cuida da área, repondo plantas
Outro empecilho foram os preços das plantas: “Começamos derrubando as árvores e plantando as palmeiras. Em Marília não tinha palmeiras baratas. A gente pegava o caminhãozinho e passava a noite viajando até São Paulo. A gente chegava à meia-noite, levava rede, colchão e esperava o CEASA abrir. Dormíamos de meia-noite até quatro da manhã na carroceria do caminhão, nós duas e o motorista”, recordou, entre risos, a artista plástica.

Liliam disse que “era uma aventura que fizemos por muitos anos. E, ainda hoje, se for preciso, a gente faz de novo”. As duas guardam muitas lembranças daquela época, ano de 1993, em que tomavam café com os feirantes no CEASA: “Quando amanhecia, nós nos separávamos. Cada uma ia para um lado atrás das plantas. Depois, a gente pegava o carregador e lotava o caminhão. Chegamos a vir com quase mil mudas, entre pequenas, médias e grandes, em cada viagem”, comentou Neusa Macedo.
Neusa à frente de uma de suas esculturas de ferro
Após almoçar no próprio entreposto, elas retornavam para Marília: “A gente chegava no fim da tarde e no dia seguinte já estávamos plantando tudo o que trouxemos de São Paulo”, lembrou a artista plástica que, aliás, confeccionou várias esculturas em ferro que se destacam nos jardins da universidade.

O trabalho da dupla começou a ter visibilidade. Dos jardins na entrada do campus, passaram para as laterais e a parte de trás. Depois, foi a vez de colocar um pouco de verde no interior dos prédios. Hoje, são mais de 350 vasos de plantas espalhados nas áreas administrativa, educacional e espaço de convivência.
 Crianças plantam mudas em evento ambiental
Segundo Liliam, “as pessoas não tinham o hábito de ter um vaso de flor. Hoje, quando tem uma planta doente, uma planta que morreu ou vai ter que ser substituída, as pessoas já falam pra não esquecermos do vaso. E em nova sala é obrigatório. Nós mudamos a cultura dentro da escola”.

ECONOMIA

Neusa Macedo lembrou que fizeram opção por “plantas que davam flores porque, como tem evento o ano inteiro na universidade, se gastava muito com a decoração. No passado, mandavam a floricultura fazer os arranjos e era caríssimo. Depois disso, em todos os eventos não gastamos um tostão. É uma economia. Toda decoração interna vem do jardim”.
As flores estão por toda parte, inclusive nos eventos
E por falar em economia, passada a fase da remodelação do paisagismo, iniciaram a recuperação da área degradada. Dos 07 alqueires da instituição, em 05 deles havia muitos problemas. Aos poucos, foram realizados plantios de mudas até atingir as três mil que compõem a reserva onde um lago foi formado a partir da canalização de minas e que serve para irrigar as plantas no período de seca.

Os galhos, folhas e raízes secos da floresta são aproveitados na produção de adubo. Na reserva natural, todo o material orgânico é decomposto e depois utilizado na nutrição dos jardins que também recebem mistura de resíduos de pó de café e chá, muito úteis para fortalecer as plantas.
Represa formada por minas canalizadas
A recuperação da grande área nos fundos da universidade exigiu planejamento e trabalho duro. Após a canalização das minas, foi construído o lago mediante autorização dos órgãos ambientais que exigiram o plantio das árvores. No entanto, à época, a instituição já havia plantado grande parte delas com a ajuda dos funcionários e também por alunos e professores em eventos dedicados ao meio-ambiente.
Reitor Luiz Carlos (esq.) no início do plantio do bosque
“Fizemos curvas de nível e fomos avançando devagar, usando nossos próprios funcionários”, explicou Liliam. Ela observou que “plantamos sempre na época certa porque tem muita gente que planta em época errada. Se em junho forem fazer o plantio não sei aonde, não adianta me chamar porque não vou. Vai morrer tudo porque vem a seca, vem a formiga, vem a queimada e ninguém presta atenção nisso. Agora, se planta em setembro, que começa o período das chuvas, até chegar a outra seca a planta já enraizou. Por conta desses acompanhamentos a gente teve muita sorte no que a gente fez”, frisou.

Outra preocupação refere-se aos aceiros para impedir a propagação de fogo das queimadas, comuns no período de estiagem: “Fora tudo o que a gente renovou na parte de cima, com palmeiras, com coqueiros e muito verde, na parte de baixo, com o plantio de 3.000 árvores, a gente contribuiu para a recuperação da área. Lá não tem mais erosão e sim característica de floresta com animais silvestres, macacos, quatis, borboletas etc”, afirmou Liliam.
Eventos voltados ao meio ambiente
recebem  crianças no Univem

Por sua vez, Neusa observou um efeito colateral positivo: “A gente contribuiu para recuperação de uma área da UNESP onde tinham plantado 10 mil mudas, veio o fogo e levou tudo embora. As sementes que os passarinhos comem aqui, jogam lá. Então, a mata da UNESP está se refazendo sozinha. A natureza se regenera. Se não colocar fogo, ela vai sozinha pra frente”. Por isso, no UNIVEM, nesta época do ano há um cuidado em fazer aceiros para conter eventuais focos de incêndio na mata.

RECICLAGEM

Para manutenção da imensa área verde, uma solução ambientalmente correta mostrou ser a escolha acertada: a universidade conta com um programa de reciclagem. Todo material que pode ser reaproveitado é recolhido e vendido com renda para a manutenção do paisagismo e da reserva florestal. Além de reduzir o descarte de lixo, a prática serve para estimular os colaboradores que levam para a instituição tudo o que pode ser reciclado, como papéis, papelão, garrafas, latas etc.

Fechando o ciclo, o que anos atrás era descartado, agora rende um bom dinheiro: “Tudo é vendido e o dinheiro utilizado na manutenção do jardim, com adubo, reposição de plantas e ração para os peixes da represa que combatem os pernilongos. É autossustentável”, frisou a artista plástica.
Bags armazenam os recicláveis: lucro mantém jardins, reserva florestal e represa
Ao fim da entrevista, no meio do jardim, com o vento do inverno balançando palmeiras e coqueiros imponentes, Neusa Macedo e Liliam Oliveira só tinham um desejo: chuva. “Quando as plantas estão assim, tristinhas, sem chuva, a gente fica triste também”, comentou a paisagista. Já a artista plástica disse que ao ver “tudo florido, colorido, penso como a natureza é linda e Deus é tão maravilhoso”.

** Fotos: Arquivo Univem

*Reportagem publicada na edição de 07.07.2019 do Jornal da Manhã

Um comentário:

  1. Que maravilha de trabalho, podiam montar também um criadouro de abelhas sem ferrão.

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