sábado, 24 de dezembro de 2022

CRIANÇAS QUE VIVEM EM REGIÃO VULNERÁVEL, NA ZONA SUL, LANÇAM LIVRO SOBRE BULLYING.

Por Célia Ribeiro

Um grupo de crianças e adolescentes da zona sul de Marília celebrará o Natal de um modo diferente. Bem antes da chegada do Papai Noel, meninos e meninas de 12 a 16 anos se cansaram das brincadeiras pejorativas e, tomados de coragem, resolveram relatar em um livro suas experiências sobre o bullying escolar. Para eles, esta data tão simbólica que marca o nascimento de Jesus, terá mais um significado: a certeza de que podem correr atrás de seus sonhos.

 

Livro escrito pelas crianças
A ideia do livro “O Adeus ao Monstro Bull” nasceu da sensibilidade de uma cuidadora social. Ela parou para ouvir as crianças no Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) Rosa Modeli, do CDHU, uma região de vulnerabilidade social e que costuma frequentar as manchetes na imprensa pelos embates do tráfico de drogas.

Shirlei Onoel de Jesus passou a anotar os inúmeros relatos sobre bullying dando liberdade para que os alunos colocassem para fora a angústia e o temor que os acompanhavam em diferentes situações no ambiente escolar. Dos depoimentos para a criação do texto, produção das ilustrações e edição final, foi um pulo.

Sem disfarçar a emoção, a secretária municipal da Assistência e Desenvolvimento Social, Wania Lombardi, contou como tudo começou. Ela explicou que há alguns meses foram contratados 60 cuidadores sociais, “mas a maioria fez a ponte para outro concurso e foi embora. E os que ficaram são pessoas que têm muita afinidade com a assistência social. Não é qualquer pessoa que vem”.

Entre esses dedicados profissionais, Shirlei se destacou, prosseguiu a secretária. Conforme disse, os relatos das crianças se transformaram em um projeto de combate ao bullying que frutificou, culminando com o lançamento do livro assinado pela “Liga da Bondade”, com direito à noite de autógrafos na presença da família e da comunidade. 

Autores do livro sobre o bullying escolar

Wania Lombardi disse que “o livro faz uma analogia do bullying com o monstro. Conta toda a história do monstro que fazia maldade. No fim, as crianças se reúnem e acabam com o monstro do bullying”. Ela assinalou que no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (antiga Casa do Pequeno Cidadão), “a gente trabalha muito a diversidade. A gente fez oficina de turbantes com as meninas para achar as raízes negras. Tem um projeto que vai trabalhar a prevenção da gravidez precoce, por exemplo”. 

Secretária Wania Lombardi

De acordo com a secretária, há muitos projetos saindo do forno: “Uma educadora está preparando um projeto para a prevenção da violência no namoro porque a gente descobriu que a violência começa no namoro e acaba matando quando casa ou quando junta. Vamos fazer ela se sentir bonita, ela se amar, fazer o encaminhamento dessas meninas para capacitação e inclusão produtiva, para o empreendedorismo”. 

Noite de autógrafos

Nos CRAS, acrescentou, “tem o espaço onde os educadores, os cuidadores que recebem as crianças, trabalham os percursos: contra a droga, de empoderamento, de sexualidade. São vários temas”. Todas as atividades são realizadas no contra turno escolar e os assistidos almoçam no local.

SOLENIDADE

Os familiares prestigiaram o lançamento

Wania Lombardi lamentou não ter tido tempo para fazer uma edição profissional do livro: “Quando fiquei sabendo, já era o convite para a noite de autógrafos”, contou. Ela lembrou que as famílias estavam presentes e os autores se posicionaram em uma grande mesa onde, orgulhosos, davam autógrafo em cada exemplar. 

Lista de autores

Conforme a secretária afirmou em publicação no site da Prefeitura, “crianças e adolescentes que passam por humilhações podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer traumas de diversas espécies. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio”.

 

Shirei Onoel
Em entrevista ao JM no início da semana, a secretária elogiou os profissionais da sua equipe destacando o alcance de trabalhos como esse: “Tenho um sentimento de que as nossas crianças, principalmente as vulneráveis, são subestimadas e quando a gente está muito próximo delas, percebe o potencial que elas têm”.

Ela finalizou lamentando o engessamento do sistema que não permite contratações de profissionais com perfil para atuar na área já que o concurso público é obrigatório: “Apesar de termos pessoas maravilhosas na nossa Secretaria, não posso contratar uma pessoa para trazer. Só quero isso, possibilidades legais de contratar projetos maravilhosos para essas crianças que merecem, que tenham um futuro além daquele futuro que é trabalhar no tráfico de drogas.”

Se depender da dedicada equipe da Secretaria e dos planos que a secretária esboçou para os próximos dois anos, as crianças e jovens das regiões mais vulneráveis, na periferia da zona urbana e nos distritos, podem dar asas à imaginação porque há muito o que transformar para os próximos Natais.

 *Reportagem publicada na edição de 24.12.2022 do Jornal da Manhã

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.