Por Célia Ribeiro
Inspirados no ciclo de
desenvolvimento das abelhas sem ferrão, que levam entre 40 e 45 dias para
saírem do ovo até a vida adulta, o projeto “Doce Futuro” experimenta um
crescimento surpreendente rumo ao objetivo de criação, multiplicação e
manutenção de abelhas nativas sem ferrão que serão devolvidas à natureza. O
último salto refere-se à parceria firmada com a Faculdade de Tecnologia de São
Paulo (Fatec), unidade de Marília, para o desenvolvimento de pesquisa
científica sobre o mel produzido no meliponário do Distrito de Padre Nóbrega.
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Fernando Garcia e Johnny Santana |
Para entender a importância desse
trabalho, é preciso lembrar que há menos de dois anos o que parecia um sonho
inatingível começou a tomar forma. No início de 2022, uma área pública
abandonada, de quase 60 mil metros quadrados, foco de queimadas e descarte de
lixo na zona oeste, foi adotada por um grupo de ambientalistas que obtiveram
autorização da Prefeitura para iniciarem dois projetos: o “Agrofloresta”, de
reflorestamento consorciando o cultivo de alimentos em meio às árvores nativas,
e o “Doce Futuro” de estudo e criação de abelhas sem ferrão, como divulgado em
reportagens desta página.
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Fernando
e Johnny com as docentes e aluno da Fatec |
Segundo o jornalista Fernando
Garcia, que junto com Johnny Thiago Santana coordena o “Doce Futuro”, “tudo o
que planejamos aconteceu. Com o Agrofloresta, temos quase 80 por cento da área
de 56 mil metros quadrados reflorestada com espécies nativas, frutíferas e
exóticas”. Ele contou que através do mutirão com a participação de voluntários
da concessionária Eixo, CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) da
Secretaria Estadual da Agricultura, alunos da EMEI Clara Luz e Polícia
Ambiental, foram plantadas 700 mudas em um único dia”.
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Fernando
Garcia é jornalista da TV Record |
Ele explicou que a parceria com a
Fatec foi articulada diante da necessidade de gerar dados científicos “porque o
mel da abelha nativa tem poucas pesquisas”. Conforme disse, há 49 espécies de
abelhas nativas “e cada mel tem sua particularidade com propriedades medicinais
reconhecidas”.
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Vista
da área reflorestada na Jardim Maracá |
Fernando Garcia destacou que “a
nossa criação sempre foi visando a ciência e a reintrodução das abelhas na
natureza. Conhecer o mel e suas propriedades ajuda a entender o papel da abelha
na natureza”. Ele afirmou que é preciso difundir conhecimento sobre o manejo,
“como a coleta deve ser feita, além da necessidade da análise microbiológica do
mel para identificar se tem patógeno contaminante, saber o prazo de validade do
mel, entre outros aspectos”.
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Visita
de alunos ao projeto “Doce Futuro” |
PESQUISA
Segundo a professora Flávia
Vasques Farinazzi Machado, “o acordo de colaboração entre a Fatec Marilia e o
Projeto Doce Futuro prevê a realização de atividades de pesquisa científica
sobre o mel produzido pelas abelhas nativas sem ferrão cultivadas no
meliponário do distrito de Padre Nóbrega. As atividades de pesquisa incluem
análises físicas, químicas e microbiológicas em amostras de mel recém coletado
e ao longo do processo de maturação e
provenientes de diferentes espécies de abelhas sem ferrão”
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Mel
é fonte de pesquisas |
Ela acrescentou que “tais
análises, conduzidas nas dependências dos laboratórios de pesquisas da Fatec Marília, servirão como
requisitos de identidade e padrões importantes para a garantia de segurança de
consumo do mel e como base referencial para sua inspeção, permitindo sua
comercialização oficial”.
A professora destacou que “os
dados coletados servirão para a estruturação de ensaios e outros projetos de
pesquisa acadêmica, além da publicação
em eventos e revistas científicas, com o intuito de promover e validar o
conhecimento e de torná-lo público, expandindo as descobertas encontradas e oferecendo,
dessa forma, benefícios à comunidade acadêmica e à sociedade no âmbito da saúde
global”.
Além da professora doutora Flávia
Farinazzi, nutricionista de formação, participarão do acordo de cooperação as
docentes Renata Bonini Pardo, veterinária e Juliana Audi Giannoni, engenheira
agrônoma, e os alunos do curso Superior de Tecnologia em Alimentos da Fatec
Marília: Ana Valeria Brazini, José Vitor Silva, Luana Quirino Gonçalves e
Tatiele Mayara da Silva Oliveira.
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Alimentos
do Agrofloresta são doados a ONGs |
Em contrapartida, “os voluntários
da Associação Doce Futuro oferecerão ao grupo de pesquisa cursos teóricos e
práticos sobre a criação de abelhas nativas, técnicas de produção e extração do
mel, bem como a importância da
conscientização ambiental e da preservação de abelhas nativas sem ferrão,
oferecendo aos estudantes participantes a oportunidade de ocuparem um espaço
social de maneira responsável, formando-se e entendendo-se como multiplicadores
de informação”, finalizou.
DESAFIO
Fernando Garcia disse que o maior
desafio do projeto é o apoio técnico, “ter quantidade de colônia e nós vamos
fazer essa parte. Vamos fornecer mel maturado e o mel in natura. O mel da
abelha nativa sem ferrão tem 60 por cento de umidade. Se extrair sem passar
pela maturação e deixar in natura vai azedar, fermentar. Nós desenvolvemos um
processo de maturação este mês e são poucos os que dominam o processo de
maturação do mel”.
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Produção agrícola em área recuperada |
Sobre o trabalho com os alunos,
ele informou que a ideia é abrir cinco vagas, anualmente, e ministrar um curso
teórico e prático de meliponicultura e apicultura. “Eles serão introduzidos no
mundo das abelhas e, a partir daí, vão
desenvolver a pesquisa deles”, explicou Fernando que será responsável pela
parte teórica, enquanto Johnny se encarregará da parte prática do curso.
O Projeto “Doce Futuro” conta com
50 colônias de 20 espécies dentre as 49 espécies de abelhas sem ferrão conhecidas.
Por isso, ainda há muito o que fazer: “O próximo passo é buscar parceiros junto
a universidades públicas e privadas para desenvolver pesquisa sobre agricultura
e polinização, mostrar o benefício da polinização, que a introdução das abelhas
nas lavouras resultando em maior produção com menos uso de agrotóxico e
fertilizantes químicos”.
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Nascente recuperada |
Se pensar que tanto Johnny
Santana, que é pintor, e Fernando Garcia, jornalista da TV Record, participam
do projeto no tempo livre, quando trocam tintas e o microfone pelas botas e
ferramentas, o que já conquistaram no meliponário do Jardim Maracá sinaliza o
quanto ainda podem evoluir. O futuro, com toda certeza, será mais doce.
Leia mais sobre o "Doce Futuro" e o Agrofloresta AQUI e AQUI
*Reportagem publicada na edição de 23.04.2023 do Jornal da Manhã
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