Por Célia Ribeiro
Uma área pública de 122 mil metros quadrados, foco de frequentes queimadas e depósito de lixo e entulho, tem se transformado em um bolsão de produção de alimentos orgânicos que não têm preço. Afinal, sua destinação é para as famílias em situação de vulnerabilidade social, que recebem cestas verdes toda vez que os voluntários da Associação Doce Futuro e Agrofloresta se reúnem para a colheita.
A terra retribui o cuidado gerando frutos |
Localizado na zona oeste de Marília, atrás da Unidade de Saúde do Jardim Maracá, o projeto Agrofloresta tem por objetivo recuperar a área degradada com o plantio de árvores, trazendo de volta os pássaros e animais que foram expulsos pela urbanização. Além disso, visa promover a educação ambiental das crianças e aproveitar a extensão territorial para o cultivo de alimentos, consorciando com as espécies de árvores nativas e frutíferas.
João Tramarim ao lado de uma nasccente recuperada |
À frente do projeto estão João Carlos Tramarim e Johnny Tiago Santana. Em comum, eles têm a profissão: ambos são pintores. Mas, em todo o tempo livre e, sobretudo, nos finais de semana, eles deixam tintas e pinceis de lado para colorirem com vários tons de verde a natureza maltratada.
Tomates orgânicos |
Nesta semana, ele recebeu a reportagem em meio às plantações viçosas que retribuem o cuidado recebido com uma farta produção de legumes, raízes, verduras e ervas aromáticas, ao lado de nascentes de água cristalina que foram recuperadas no início do projeto.
João Tramarim contou que sua ligação com a terra vem de
longe. No Paraná, desde pequeno viu a família lidar com as plantações. Foi
aprendendo com eles que, ao conhecer a área abandonada, um ano atrás, juntou-se
a um grupo de voluntários para obter autorização do poder público e iniciar o
sonhado projeto.
TRABALHO PESADO
Colocando dinheiro do bolso, eles adquirem sementes, além de
palha de amendoim e esterco para melhorarem a terra. Também compraram com
recursos próprios as ferramentas utilizadas no local e construíram uma pequena
sede em que haverá cozinha, sanitários e depósito de sementes e ferramentas.
Arar a terra exige esforço |
“Antigamente, essa área estava degradada, com animais de grande porte soltos, não tinha nascente e aconteciam muitas queimadas aqui”, lembrou, assinalando que o estado de abandono levava a população do entorno a também descartar lixo e objetos inservíveis. Tudo começou pela recuperação de algumas nascentes cuja água deu vida ao lugar.
Enquanto o município, através de
uma empresa terceirizada, já havia plantado 7 mil mudas de árvores nativas, o
projeto Agrofloresta cuida de uma grande parte da área dando prosseguimento ao
plantio de espécies frutíferas e de alimentos: mandioca, batata doce, quiabo,
jiló, berinjela, abóbora, abobrinha, feijão guandu, feijão de corda, feijão
carioquinha e bolinha, cravo da índia, canela, maçã, banana, pitanga, acerola,
colorau, manga, nêspera, carambola, tamarindo, pera, goiaba, lichia, espécies
de limão galego, taiti, rosa e siciliano e até 30 pés de café.
Uma horta também oferece verduras, legumes e ervas que reforçam a cesta verde que já beneficiou uma clínica de dependentes químicos e, por quatro vezes, atendeu famílias cadastradas na Associação Amigos Solidários de Marília (Amigos do Bar), presidida por Tadau Tachibana.
“As famílias ficam muito felizes
porque, junto com a cesta básica que nós entregamos, elas levam a cesta verde
com legumes e verduras que não têm agrotóxico”, destacou Tadau. Conforme disse,
“tem gente que não tem condições de comprar nem um pé de alface e recebe esses
alimentos saudáveis que servem como mistura”.
Ele finalizou afirmando que “fazemos por amor, porque gostamos da natureza, do meio-ambiente e das pessoas. Afinal, se cuidamos do meio-ambiente também cuidamos das pessoas”. E foi com esse espírito solidário que João ajudou a colher sete caixas de alimentos entregues no começo da semana às famílias na ONG Amigos do Bar, já programando os próximos plantios sabendo que a terra responde quando é bem cuidada.
Colheita da semana passada: família alimentadas
Quem quiser contribuir com a
Associação, doando ferramentas e insumos, pode entrar em contato com Johnny
Tiago pelo celular (14) 998649192.
Conheça o projeto "Doce Futuro" acessando a reportagem AQUI
*Reportagem publicada na edição de 21.08.2022 do Jornal da Manhã
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