domingo, 5 de dezembro de 2021

ARTESÃ DO “CLUBE DO BORDADO” CANALIZOU SUA CRIATIVIDADE PARA A PRODUÇÃO DE PEÇAS REUNIDAS EM BAZAR.

Por Célia Ribeiro

O poder transformador da arte, incluindo os benefícios à saúde física e mental, vem sendo cada vez mais estudado por pesquisadores no mundo todo. Não raras vezes se vê uma verdadeira explosão artística, através da revelação de talentos, emergindo de situações negativas envolvendo perdas e dor. Parece o caso da artesã, voluntária de ONGs e agente de viagens aposentada, Nelice Rojo.

 

 Nelice recebeu amigas no bazar de casa

Aos 73 anos, ela descobriu o bordado resgatando memórias de infância quando, alguns anos atrás, uma fratura no pé a deixou de molho sem poder se locomover. Como retratado em reportagem nesta coluna, em março de 2019, ela criou o “Clube do Bordado”, em que reunia amigas para passarem horas agradáveis entre tecidos, linhas e agulhas.

 Na época, Nelice disse que lembrou dos trabalhos manuais de sua mãe que usava a técnica de “Patch Apliquê”, ou remendo bordado, para se inspirar. Assim, na base da tentativa e erro, ela aprendeu a bordar inaugurando uma nova fase em sua vida que incluiu transmitir o que sabia a outras mulheres que tivessem vontade de aprender. 

Veio a pandemia que virou tudo de cabeça para baixo. O “Clube do Bordado” precisou ser desativado e as deliciosas tardes no “Espaço Pitanga”, com direito a cafezinho e guloseimas na hora do lanche, ficaram na saudade. Desde março de 2020, as atividades foram suspensas e cada uma se recolheu em casa à espera da volta à normalidade.

 Ela aproveitou o tempo livre para confeccionar máscaras de tecido para doação a entidades filantrópicas, beneficiando asilos e diversas ONGs da cidade. Nesta empreitada, contou com a ajuda da amiga Sueli Félix, docente aposentada da Unesp e entusiasta de trabalhos sociais.

 PARADA FORÇADA

 Muito criativa e dinâmica, Nelice nunca parou de produzir seus artesanatos. De panos de prato, bordados em bastidores a quadros, qualquer retalho e pedaço de linha ganham vida. Por isso, em plena pandemia, quando uma queda lhe ocasionou sérios problemas de saúde, que incluíram uma cirurgia delicada, ela temeu o pior.

 

Nelice e o marido, arquiteto Laerte Rojo Rosseto

“Eu tinha dificuldade de andar. De repente, fui parando, parando. Quando vi, estava de andador, de cadeira de rodas”, recordou em entrevista à coluna. Foi quando a artesã se agarrou à arte, pela segunda vez: “Foi para enfrentar o medo”, afirmou, ao explicar a inacreditável produção de dezenas de peças que reuniu em um bazar na zona leste de Marília.

Na semana passada, Nelice abriu as portas da confortável residência que divide com o marido, o arquiteto Laerte Rojo Rosseto, para receber amigas, conhecidas, além de pessoas que se interessam por artesanato e ficaram sabendo do bazar na base do “boca a boca”. Em apenas um sábado ela expôs a produção de um ano inteiro.

 Já caminhando, mas com muito cuidado, a artesã ficou a maior parte do tempo sentada e quando se levantava para mostrar uma peça ou outra e explicar o trabalho a quem chegava, o andador, fiel companheiro, estava ali para lhe dar o suporte necessário.

 “Eu nunca parei de bordar. Isso me acalma”, disse, assinalando que o fato de ter ficado em casa, obrigatoriamente por causa do Covid, e sem poder andar devido à cirurgia, lhe abriu as portas da criatividade aonde canalizou a energia acumulada durante meses.

 O “Bazar na Casa da Vó Ne” foi mais um marco em sua trajetória. “Foram uns quatro meses bordando para poder disfarçar a dificuldade para caminhar. Foi uma forma de não me entregar e talvez até entrar em depressão”, assinalou.

 

Artesanato exposto na residência

Com tanta produção, como voluntária da ACC (Associação de Combate ao Câncer), Nelice também doou vários bordados para os bazares da entidade que utiliza esses eventos como geração de renda a fim de manter a assistência aos portadores de câncer e apoiar suas famílias.

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“Clube do Bordado” de 2019

E enquanto a reabilitação avança, Nelice Rojo celebra cada passada, equilibrando corpo e mente. Ao contrário dos pontos dos bordados que encantam pela beleza e delicadeza, o resultado de sua dedicação à arte não é visível aos olhos, mas pode ser mensurado na melhoria da qualidade de vida.

 

Nelice com Maria Cecília Paiva
e o andador inseparável


LEIA SOBRE O CLUBE DO BORDADO AQUI


*Reportagem publicada na edição de 05/12/2021 do Jornal da Manha

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