domingo, 8 de agosto de 2021

AURORA BOREAL: COM BAIXA PROCURA, ENTIDADE ACOLHE EX-DEPENDENTES QUÍMICAS EM PROJETO DE REINSERÇÃO SOCIAL.

 Por Célia Ribeiro

A dependência química, que atinge homens e mulheres cada vez mais jovens, é um dos grandes problemas sociais da atualidade. Se por um lado é difícil encontrar uma vaga em comunidades terapêuticas, após o tratamento, o desafio é reinserir o ex-dependente no seio da família e da sociedade. Por isso, o trabalho das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima, que acolhem mulheres na fase de transição, merece ser acompanhado e apoiado.

Mudas de morango geram renda

Iniciado em 2011, a princípio voltado ao público masculino, o projeto localizado na zona oeste de Marília abrigou 57 ex-dependentes químicos, informou a presidente da obra, Irmã Santa Mendes da Silva, que falou com entusiasmo sobre a missão da instituição que, desde 2017, passou a acolher somente mulheres.

Irmã Santa Mendes

“Comunidade terapêutica para os homens tem diversas. E suporte quando saem, também. Mas, para as mulheres é mais complicado. São pouquíssimas existentes e, na fase de transição, quando precisam se preparar para voltarem ao convívio da família havia essa necessidade”, assinalou. 

Com o apoio da Diocese de Marília e muita ajuda das paróquias, como as de São Miguel e de Nossa Senhora de Guadalupe, a Aurora Boreal possui uma boa infraestrutura para acolher as mulheres que, por incrível que pareça, resistem à ideia. Na época dos homens, era possível abrigar 06 ao mesmo tempo, com 02 em cada quarto. Com as mulheres, isso não é possível, observou Irmã Santa.

Vista do amplo quintal

Ela disse que só consegue colocar uma mulher em cada quarto porque, ao contrário dos homens, surgem mais problemas de relacionamento na casa que se parece com uma residência familiar convencional. Apesar da retaguarda oferecida em um momento crítico de saída das comunidades terapêuticas, muitas mulheres não aceitam a ajuda.

O local impressiona pela limpeza e organização. Tudo muito simples, mas funcional. A alimentação, que tem o respaldo da Secretaria Municipal da Assistência Social com fornecimento de cestas básicas, é reforçada com verduras e legumes frescos cultivados na imensa horta que serve para atividades terapêuticas.

Quarto simples e bem arrumado

“Tenho muito contato com a secretária Vânia Lombardi, que muito nos ajuda, e também com as assistentes sociais da Casa Cidadã e do Centro Pop, abrindo as portas para que encaminhem mulheres que desejem receber ajuda e deixarem as ruas. Mas, muitas chegam, ficam um tempo e vão embora”, contou.

RESISTÊNCIA

Graduada em Serviço Social com pós-graduação em Saúde Mental, Irmã Santa coloca neste projeto social toda a vivência de muitos anos em trabalhos com dependentes químicos. De fala mansa e sorriso fácil, ela disse que vai insistir enquanto puder para manter as portas abertas para as mulheres porque já existe pressão para que a casa volte a atender apenas os homens.

Maquinário para produção de massas

A religiosa, que morou muitos anos na Itália, Dinamarca e Israel, acredita que o trabalho de apoio às ex-dependentes químicas é fundamental para que elas se fortaleçam e voltem à sociedade com menor risco de recaírem. Das 16 que passaram pela casa, nos últimos quatro anos, a maioria voltou para a família, conseguiu trabalho e teve até um casal homoafetivo que se casou e conquistou a casa própria. 

Ao fundo, horta usada na alimentação da casa

São os bons resultados que a inspiram, assim como as outras religiosas que colaboram na casa (Irmãs Ângela, Regina e Marina) a não jogarem a toalha e insistirem na ideia de abrigo para mulheres. Além disso, os projetos de geração de renda lhe dão um sopro de esperança.

Balainho pronto para entrega

Atualmente, a produção de mudas de morango é comercializada junto a viveiros. Com a renda, a casa paga as contas de água e energia elétrica, principalmente. “A horta e os morangos também servem de terapia porque, todo dia, temos que lidar com as plantas. Já teve caso de uma delas não conseguir colocar terra no balainho de tanto que tremia. A coordenação motora foi embora junto com as drogas”, explicou.

Sala de refeições

O outro projeto ainda está no papel, apesar do maquinário guardado na cozinha: a fabricação de massas. “Com a pandemia, tivemos que parar tudo. Essa é uma ideia e precisaremos de voluntários. Mas, se Deus quiser, logo colocaremos em prática”, assinalou.

Capela: apoio espiritual

Durante a reportagem do JM, nesta semana, havia apenas uma interna na casa. Ela perdeu o dedo em um acidente de trabalho, no Sul do País, e precisava de um porto seguro temporário que encontrou na Aurora Boreal. Irmã Santa imediatamente a acolheu e celebra a oportunidade de oferecer abrigo, segurança e paz a quem tanto precisa. 

Para entrar em contato com o Centro de Apoio Aurora Boreal da Associação das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima, o e-mail é: auroraborealmf@gmail.com e telefone (14) 33064354. A entidade está localizada à Rua Antônio Dantas, 135, Jardim América. A maior necessidade de apoio, no momento, é doação de terra para ampliação da horta.

Em 2017, esta coluna publicou a primeira reportagem sobre a Aurora Boreal. Acesse AQUI

*Reportagem publicada na edição de 08.08.2021 do Jornal da Manhã

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